Menino e Menina
Quando menino, mal podia divagar nas nuvens sem ser derrubado pela realidade.Hoje, sou velho, posso divagar livremente, mas não há nuvens.(Walter Sasso)
Saudade do moço
De rosto sem face
Saudade da fala
Daquela imagem
Menino dengoso de porte brilhoso
Moço bondoso te gosto seu bobo
A dias que sei que já cheguei por este mundo como velho e que não nasci como a maioria, menino. Por isto, talvez, que tenham me colocado por nome de batismo, Abdias. O nascimento, a vida e a partida, ocorre bem diferente para certas pessoas.
povoa, povoa o meu olhar
a índia na lagoa
o menino na canoa
um barco nos conduz
a luz vermelha cor de telha nos cabelos ,
laranja nas unhas,
quantas testemunhas,
parece uma coisa à toa
mas há paz,
há paz...
a paz na turbulência
comportada do meu peito,
é um semi-leito,
é uma canoa,
eu não sei...não sei o que é isso
amo Messejana com suas mangueiras
e viadutos, José de Alencar e todos os seus índios
amo Messejana....
A escravização da alma errante. Quando o menino pobre acredita que venceu sem se dar conta da corrupção de si mesmo que roubou sua criticidade.
O que mais dói no menino agora vacinado, e o faz chorar, não é simplesmente a vacina. É a certeza de que tudo isso estava planejado e de nada valeu seu pranto... Sua birra.
Dói também o cinismo da promessa de que a picada não dói. A promessa, por si só, fere seu brio pela constatação da mentira. Mesmo que a mentira seja verdadeira, como no fundo não é. Não será em tempo algum.
Ao reclamar dos espinhos nos meus rumos difíceis, e do velho espinho na carne por um conflito qualquer, sei que o menino já sabe do que falo. Tem experiência. Certamente o magoa bem mais do que a fisgada, ver que foi atraído para ser traído por todos. Dói demais, doendo ou não, é não ter contado com clemência.
Tanto quanto a criança, entendo bem de ser traído. Porém, o que o menino ainda saberá é que as traições crescem. Ficam muito mais sórdidas e desnecessárias à medida que se vive. É desumano saber, mas é real.
No fim de tudo, a vacina é um aperitivo. É a simulação de um contexto que se agravará em tempos vindouros. Pobre menino... Só está começando a conhecer as pessoas.
PETER PAN
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Um menino passado a lutar contra os anos,
uma vida enguiçada em balneário impróprio,
sob as perdas e os danos que o tempo confirma
sem acesso aos apelos do mundo irreal...
A criança que teima num corpo de adulto
é um vulto esquecido numa solitária;
um assombro que brinca de brincar de fato;
um retrato que pensa que pensa e que vive...
Tenho dó do menino que jamais cresceu,
distorceu a passagem do tempo na pele
sobre a gasta estrutura de puro tamanho...
Perguntar não constrange, se faço ao meu fundo;
em que rua do mundo acabou a saída;
a que horas da vida ele vai acordar...
MENINO POETA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Fui moleque de lua...
passava noites na rua,
me declarando pro céu.
ERAM SEUS OLHOS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Fui menino menino; jovem; meia idade,
porque tive um regaço que não viu limite,
faixa etária, censura, classificação
nem artrite na alma; o coração; a mente...
Fiz-me homem, senhor e dei asas aos passos,
construí meu caminho, fiz a minha história,
mas os braços de amor que mantinham meu ninho
não me viram além desse amor extremado...
Sempre tive seus olhos, cuidado irrestrito,
seu sussurro e seu grito de apelo por mim,
a canção de ninar do seu dom infalível...
Tenho muitas saudades de ser o menino
que o destino não tinha como envelhecer
nesse olhar de me ver que só seus olhos tinham...
A NOVA DIMENSÃO DO MENINO POETA
Demétrio Sena - Magé
O menino que seduzia corações terráqueos com sua poesia foi roubado de nós, em um passado ainda recente. Seres de outras dimensões o quiseram e foram mais fortes. Até porque, poetas apenas na escrita, como eu, são comuns, mas poetas na escrita, no olhar, nas atitudes e no afeto cotidiano, isso é raro. Eu mesmo, só conheci o Gerson. Qual dimensão não quer alguém assim? Tenho mágoa dos seres que o levaram, mas entendo quem faz de tudo, até de formas arbitrárias, para ter um Gerson Monteiro só para si.
A nós, terráqueos mortais, restam a saudade, as lembranças inesquecíveis e as homenagens que tomam como empréstimo, pelo menos um pouquinho da sua presença sensorial. Nosso amor pelo menino poeta, que partiu aos 26 anos de idade, será sempre um portal entre a nossa dimensão e aquela que tem o privilégio de contar com sua proximidade mais densa, mais intensa e talvez definitiva. Mas não conhecemos os mistérios do universo. Pode ser que um dia o menino poeta volte a ser nosso, por aqui...
... ou a dimensão que agora é sua casa promova lá, o nosso reencontro.
TRILHA SONORA
Demétrio Sena
Quando a chuva tocava no telhado,
eu menino, dançava em pensamento,
num encanto infantil inexplicado
que fazia esquecer qualquer lamento...
Muitas vezes cantava junto ao vento
a canção do silêncio e do segredo;
era quando enxotava o sentimento
de tristeza, solidão ou de medo...
Passarada nos galhos do arvoredo
me deixavam contente pra valer;
gibis velhos rangiam no meu dedo;
nem sabiam que eu nem sabia ler...
E a lenha estalando logo cedo
no fogão embolsado a barro branco,
meu avô de semblante sempre azedo
arrastando na casa o seu tamanco...
Os cachorros latindo do barranco,
pros meninos apostando corrida,
o Gordini que pegava no tranco,
entre gritos iguais aos de torcida...
Cantorias de galos, seresteiros,
o apito do trem ao dar partida
e tambores distantes de terreiros,
são a trilha de sons da minha vida...
... ... ...
Respeite autorias. É lei
Como os Reis Magos
visitaram o Senhor Menino
na abençoada Belém,
Que minha letras visitem
os corações de todos vocês.
Peço e insisto pela liberdade
da tropa e do General
que por todos eles persisto,
e como poeta jamais
desisto da História recordar.
O ouro do encontro,
do diálogo e da reconciliação,
é o quê desejo que haja
com os presos de consciência
de todo o meu coração.
O incenso da pacificação
seja renovado e perene
como oferta ao Pai
com os presos de consciência
em verdade e liberdade.
A mirra venha perfumar
as vossas mãos ao decidirem
libertar os presos de consciência
e a voltar a pensar no melhor
destino para si e para toda a Nação.
O menino virou
a serpente do Tanque,
Da memória deste
susto nunca mais
saiu da cabeça
nem por um instante,
Só sei que desta lenda
o quê ficou virou poema.
O Menino de Belém
O meu coração pulsa
ao som eterno do Catumbi,
a minha pluma é a lança
de vários Guerreiros,
O meu giro acompanha
o Bumba-meu-boi
e de todas as Pastorinhas
sempre sou a cigana.
Não posso me esquecer
jamais da delicadeza
e da coragem que foi escrita
a "Morte e vida severina",
O meu coração sempre
ofertei durante a Lapinha.
No Reisado sempre tive
o meu destino e sempre
honro cada um de nossos
folguedos e autos natalinos.
Nos poéticos Pastoris,
nas Cavalhadas,
na Queimação de Palhinhas,
nas Caretas e nas Folias de Reis,
Lembro do Menino de Belém
que criou a mais simples das leis.
Trigueiro dos pés
a cabeça,
Tempero argênteo
inevitável,
Não desfez em ti
o menino cândido,
Inteiro te percebi.
Perfeitos em cena
nos prevejo,
Porque tens tudo
o quê fascina,
A mulher que em
mim se reserva,
Inteira para você,
e permanece poema.
Faceiro te segredo
em versos,
Desenhando rotas
alcançáveis,
Porque prevejo
o desidério escrito:
Amoroso desterro,
mesmo sem saber
Quem alcançará
primeiro o outro.
Afeitos da mesma
visão de mundo,
Captando como
satélites,
Orbitando sutis
fantasias,
Porque cientes
daquilo que vale
é a poesia muito
mais do que ouro.
Porque quando você chegar,
Você sabe que te quero,
Nu, indecoroso e descalço.
Haicai recém-nascido,
feliz como um menino
igual ao teu sorriso.
Haicai entardecido
aguardando a Lua
leve como uma pluma.
Esse vínculo místico de confiança que me prende, Aprecio esse desassossego menino me encanta - e me rende.
Nos preparar para a chegada do Menino Deus
vai além da data que se aproxima logo, logo:
é tornar a paz, a solidariedade e a fé possíveis
sempre na vida de todos, celebrar o Natal
é abraçar o irmão com o coração!
