Ricardo Maria Louro

376 - 400 do total de 1075 pensamentos de Ricardo Maria Louro

⁠ Verbo Amar -

EU AMO o que tu és
expresso p'lo teu corpo,
nascido da tua Alma...
TU AMAS o mundo naquilo que ele é
fugindo de nós ...
ELE AMA o que tu não és,
quando estando tão perto
está tão longe de ti.

NÓS AMAMOS, quando juntos,
envolvidos, nos tocamos, entregamos,

...instante... apenas isso ... breve instante!

VÓS AMAIS somente,
o que separados nós não somos,
quando longe nos situamos...
ELES AMAM sem sonhar
o desejo que os possui,
apenas querem outros corpos
não nos sabem AMAR!

Quem sabe um dia,
se aprenderei a conjugar
de forma mais Feliz
a Profundidade do Verbo AMAR

Inserida por Eliot

⁠A outra Face da Vida -

A Morte não existe,
somos Seres Imortais ...
Estamos vivos desde Sempre
e viveremos para sempre!

Fazemos parte de um Sistema Vivo
que Eternamente se Recicla ...
Somos Seres Reencarnantes,
a parte Humana de Deus
que habita a Eternidade.

A Consciência de "não-Morte"
é a percepção de que a Morte
é a outra Face da Vida.

Somos Almas e não corpos!

Inserida por Eliot

⁠Alentejo -

P'los prados verdejantes
do meu Alentejo
há rebanhos de solidão
que pastam horas solenes,
guiados p'lo cajado,
conduzidos ao bordão:

campos-de-silêncio
de lirios pintados
de roxo adornados
nas telas do Coração!

Oh Ceifeira do monte! ...

Ceifas ao relento
ceifas à calma,
deixa que te conte,
ouve este canto,
leva as minhas penas
a Saudade e o pranto!

E quando à sombra do montado
enfim descanso minhas culpas,
repouso meus pecados,
agradeço ao Universo
e deixo ali um Beijo:

serás sempre tão meu,
meu-doce-Alentejo!

Inserida por Eliot

⁠Nasci da estranha
noite dos Poetas
num mundo que nunca
me entendeu,
uma infância distante
onde minh'Alma arrefeceu!

Inserida por Eliot

⁠Nos românticos Poetas
a Lua perpetua
Amar, Amar de Terra em Terra,
Amar, Amar de Rua em Rua ...
E na loucura da Noite
esse Amor abrevia
até ao Nascer do Sol,
até ao romper do Dia.

Lua Pálida que vai tão alta
nas raias da morte,
frígida ou cálida
nas asas da solidão,
de face livida seráfica,
esquálida, perdida
que se esmalta e recorta
num infinito tão finito,
na imensidão do Coração!

Lua funda tão profunda
que m'inebria de Poesia,
rara calma suavidade
que meus lábios acarinha ...
Toma minha Alma tão sozinha,
será tua, sempre tua,
sê tu minha, sempre minha,

Pálida Lua!

Inserida por Eliot

⁠Erguido em alto monte
me encontro solitário ...
Permaneço em Oração, vigilante,
frente à Criação.

E eis:

Do alto dos Céus, pairando pelo
Éter, desceu em minhas mãos
a Espada-de-Luz de S. Miguel
e o Escudo-de-Paz de S. Jorge!

E eis-me, ungido, Cavaleiro-de-Cristo!

Inserida por Eliot

O Engano da morte -

⁠Certa vez,
aprouve à morte dizer por aí,
ainda sem morte ser,
que sem morte a Vida seria
sem Sentido!

E quando Deus assim o quis,
chamou a Vida e a morte
para lhes dar suas tarefas ...
A Criação estava prestes a Nascer!!!
E quando eleitos foram seus cargos,
a morte que antes de ser morte
já vinha de Escorpião,
do submundo de Plutão,
aceitou o cargo com uma condição.

E falou:

"Aceitarei tal tarefa
se fizerdes que o meu acto
traga sempre um motivo!"

E assim foi, a morte aceitou ser morte
por trazer sempre arreigada uma desculpa,
um mote!

Mas Deus, Omnisciente,
incutiu uma clausula
que ninguém viu:

"Não há Vida sem morte,
porém, não haverá morte
sem Nova Vida!"

E assim, a Vida prevaleceu sobre a morte!
E a morte, eternamente "condenada"
a Renascer numa Nova Vida ...

Inserida por Eliot

Hora Vil -

⁠Vai alta a madrugada
no raiar da solidão
batem tristes badaladas
no meu pobre Coração ...

Dobram sinos cansados
da minha desilusão,
horas mortas, veladas
guardadas num caixão.

Tumba em que me deito
leito que não mereço
Alma sem jeito
Sonho em que pereço.

Nada mais me resta
nesta hora vil,
poiso a pena de Poeta,
choro e adormeço!

Inserida por Eliot

⁠Morte das Ilusões -

Silêncio! Calem-se as vozes!
Perfilem vossos corpos
façam silêncio ... "chora" a ilusão!

"Acendam cirios que passa a minha dor!"

Dor-de-Amor nascida de esperanças vãs
num bulício de esperas infinitas!
Ilusão que gera ilusões de ilusões
prisioneiras na teia obliqua
de um Coração "frio".

Projecção limite sem limite
de um "vazio" interior...

Teia solitária, ofensiva, defensiva,
precária ... nascida do efémero,
iludida no Eterno, reduzida ao banal.
Teia por mim tecida onde a "presa mortal"
sou Eu. Assim é a dor que "promove" a morte
das ilusões.

Dor que "arrefece" a paixão que projecta
no outro uma ilusão de absoluto.
Não é Amor, é desejo, isso que manipula!
O desejo não Ama, possui!
Desejar o Amor e não Amar o desejo
é a percepção final da dor-de-"desamor"
nascida da ilusão precária de querer "agarrar"
alguém a quem se "perde".

Alguém que vai e não vem,
alguém que vai e não torna!

Apaguem os cirios! A ilusão morreu!
A dor já não é dor, é Consciência ...
E a Consciência de "desamor" é a percepção final
de que o Amor Renasce na iluminação de cada dor!

Inserida por Eliot

⁠Encanto -

Tu pensas meu Amor
que Eu não sei o que tu sentes
quando os olhos Teus tocam
nos Meus ... a que engano te entregas!

Sei que sentes as noites-de-Luar
em que me afogo quando não estas ...
Sei que ouves no silêncio palavras,
barcos perdidos, ancorados no cais da Saudade ...
Sei que olhas o mar e me embalas nu!
Meu berço de aromas, sanguíneos,
lilazes de odores perdidos na bruma.

Tu pensas meu Amor
que Eu não sei o que tu sentes
quando os olhos Teus
não tocam já nos Meus ... a que engano
te entregas, a que fantasia te despojas!

Sei que não me vês
nesse espelho em que te olhas ...
Sei que queres o meu corpo
e que o desejas com fervor nas noites de breu
em que te deitas ...
Sei que em Ti a noite não torna ao Dia
nem o Dia sai da noite ...

... e que o efémero fez de nós Eterno,
ainda que distante, louco, ofegante,
tão pouco ... mas Intemporal!

Óh meu Amor!
Tu pensas que Eu não sei ...
A que engano te entregas,
a que fantasia te despojas,
a que mentira tu te inclinas ... torna!
Não deixes que o nosso Reencontro
venha tarde!

Inserida por Eliot

⁠Dois Amantes -

Sem ti minh'Alma fez-se pranto,
escura, escusa como a Bruma,
e da esperança nasceu espuma
e a dor velou o Canto!

De repente chegou o vento
que levou o teu olhar,
apagou meu pensamento,
calou o meu cantar!

Distantes, assim nos situamos, ofegantes,
loucos, perdidos, dois Amantes ...

Inserida por Eliot

⁠Novo Amanhecer -

Que Astro se alevanta neste Céu tão fecundo?!
Que vontade tão forte, ansiosa,
será esta d'iluminr o Mundo?!
... Vida, fulgor, Consciência luminosa ...

Ergue-se Glorioso o Olho do Divino,
rasga a sombra que cercou Cristo,
essa Cruz que é destino,
traz um Novo-Céu, Nova-Esperança, o dia já visto ...

E essa umbra tão profunda que é a morte
foi por fim um caminho
que iniciou o Ser numa Nova-Sorte ...

E fica o corpo entre Cipestres
num repouso final e o Ser Renasce
à Luz d'um Novo-Sol sem falsas Vestes!

Inserida por Eliot

⁠De Repente -

De repente surgiu um gesto,
ouviu-se um grito, soprou o vento ...
E num ápice, correu veloz o Tempo
e fiquei sem saber se presto!

De repente, o Céu azul escureceu,
meu olhar ficou velado, marejado,
nasceu o medo, e o teu Amor, calado,
deixou meu Coração, que se perdeu!

De repente, ficámos a sós, sem nos ver,
perderam-se as aves, morreram as flores,
findou a Primavera, ficámos sem nos ter.

De repente, foi nesse de repente,
nesse tão frio e duro de repente que tudo ocorreu,
onde o Ser já nada sente ...

Inserida por Eliot

Lisboa Oculta -

⁠Caminhei p'la noite no silêncio
da Cidade oculta adormecida!

Lisboa sonhava com o Tejo,
e na Mouraria, um fadista,
cantava ainda à dor da despedida.

Ouviu-se então
o rumor dos passos d'um Poeta
que também chorava a desventura
do Amor ...

Ninguém passava!A noite velava!
Ninguém estava! Só eu restava!

E depois de muito ter andado, reparei então,
que a Cidade adormecia oculta sob o Tejo
abraçados num só Leito ...

Óh Lisboa, o Tejo, será sempre teu Amado!

Inserida por Eliot

⁠Soneto à Morte do Conde Orgaz -

Lá longe, mais além, onde não vejo ninguém,
existe um préstito funéreo
a que minh'Alma se prende, porque contém,
um profundo olhar etéreo ...

Vão muitos a sepultar, entre lúgubres caminhos,
D. Gonzallo de Tolledo, Senhor da Vila de Orgaz.
"Óh morte, quando é que também me vestes...?" Assim diz, o Poeta-Conde, Senhor da vila de Monsaraz!

E em hora derradeira ouve-se uma voz sem Paz:
Não há ninguém que me conforte,
oiço ainda o Vento chorar trágico e forte!

E tanta gente se vê nos funebres chorões do seu caminho
a abrir com lágrimas de morte, um qualquer destino,
para aquele que foi outrora o Conde de Orgaz!



(Soneto que nasce da belissima Tela do Pintor El Greco em que o tema principal é a morte e enterro do Conde Orgaz.)

Inserida por Eliot

⁠Pranto à Morte de Cristo -

Não haverá quem chore
dor mais funda ou maior
do que as contas do Rozário
choradas por Maria
a caminho do Calvário!

Vêde, ó gente inclemente,
gente pobre que não sente
esta Alma Divina,
ela arrasta por Terra
o que só o Amor ensina.

Olhai a mantilha de Maria
e vêde vós o que eu não via,
o branco já não é branco,
é vermelho cor-de-sangue,
tanta dor, amargura e agonia.

Onde'ides pecadores?!
Segui Cristo sem pudores,
segui Maria com ternura
nesta dura caminhada
onde cada passo é desventura.

Ó Senhor que tormentos
que dura caminhada:

Mais pura que o Cristal
é a vossa Santa Face
que na mão dos Judeus
foi como se quebrasse!

E o vosso olhar Divino
raso de lágrimas amargas,
são as lágrimas do Mundo
que carregas como Chagas!

É o peso da Cruz
aos meus pequenos ombros
é o peso do mundo
que me atira aos escombros!

E aquela mulher, que pena!
Quem é ela que tanto chora?!
Não é Maria tua Mãe?
Não, é Maria Madalena.

E essa outra da toalha
que vos foi a limpar?!
Ela correu para vós
ao ver-vos a chorar!

Guardiã da minha Face
é a jovem do Sudário,
deixo-lha estampada
a caminho do Calvário!

E lá vai Cristo ensanguentado,
cuspido, caido e julgado
pela Rua d'amargura!
Ó Homens que maldade,
não tendes ternura?
Senti a dor desses Passos,
tende Piedade!

E quando Deus rompeu o Céu
o Templo rasgou o véu,
nasceu o Graal!
E da veste dos Fariseus
coberta de sangue
nasceu este Pranto
no Seio de Portugal!!!


Inserida por Eliot

⁠Palavras: Exilio dos Poetas -

Quando da Pátria que somos,
nunca fomos, despatriados,
exilados no silêncio das Palavras,
Palavras nunca ditas mas escritas, sentidas,
vivemos na renúncia de famílias sem voz ...

E por lá, distante das raizes que nunca fomos,
até a rima das palavras nos engole nesse exílio!
E as gentes, grades ambulantes que nos cercam!

E fico só, porque só eu fico, só eu me resto,
só eu me vejo!

Inserida por Eliot

⁠No Martinho da Arcada -

Sentado no Martinho d'Arcada,
vejo passear-me entre os arcos
do Terreiro...

Fantasmas, Seres do meu Passado!

E fico calado!
Não quero que me vejam ...
Para que passem!
Já os fui, não serei mais!

Que passem ... passem ... e passem!
Ao largo, bem ao largo, se afastem ...
... e passem ... longe, bem longe...
... que passem ...

Inserida por Eliot

⁠Mutação -

Afinal havia além de mim
um outro que eu não via!

Alguém que ao sonho me prendia, sorria!
Alguém que eu não sabia mas sentia!

Não sei se falava em mim ou noutro além,
só sei que entre-gritos o escutei ... e um dia,
quis-me libertar, e consegui,
ao conjugar contigo o verbo Amar!

Inserida por Eliot

⁠Esquecimento -

E quando eu morrer?!
Que ocorrerá quando eu partir?!

Bem sei!!!

Ficarão vossas bocas caladas
porque nunca me sentiram!
Vossos olhos cerrados
porque nunca me viram!

Os muitos que me odiaram,
os poucos que me acolheram,
aqueles que nunca vi
e até os que perdi,
todos estes e tantos outros,
nunca mais de mim
alguém se lembrará ...

Porém, deixarei algures este Poema
onde minh'Alma ficará!

Inserida por Eliot

⁠Insónias Conscientes -

Trago no meu peito a imagem de mil espaços
a dor do paladar que a Vida deu,
sinto-os em mim num só abraço
e tudo o que de mim por lá morreu!

Julguei que eram seguros os meus passos
e que o firmamento era só meu,
caminhei nessa ilusão dos meus cansaços
verguei, caí, rasguei um denso véu!

De monsaraz fui mais além,
além ond'esses nunca chegarão,
e tudo o que lá vivi, ocorreu para meu bem ...

Minha Vida é hoje um de repente
cheia de insónias conscientes
que monsaraz ainda não sente.

Inserida por Eliot

⁠Clarissa foi à Fonte -

I
Clarissa foi à Fonte
levou na mão a cantarinha,
nasceram lírios pelo monte
nos passos que deu sozinha!

Clarissa foi à Fonte,
vai e vem à Fonte de manhãzinha ...

II

No regresso p'lo caminho
colheu os lirios que plantou,
pôs um passaro no ninho
rezou um Padre-nosso e chorou!

Clarissa foi à Fonte,
vai e vem à Fonte procurando
quem amou ...

III

Encheu a jarra da capela
com os lirios roxos da estrada,
seus passos adornam a capela
do Altar da Senhô, d'Orada!

Clarissa foi à Fonte,
vai e vem à Fonte com um balde
de lata ...

IV

Matou a sede dos canteiros
cobertos de rosas e açucenas,
a dos cravos com seus cheiros,
a dos gladiolos mais amena!

Clarissa foi à Fonte,
vai e vem à Fonte afogar
as suas Penas ...

V

É da Fonte das Zurreiras
que vem a água de Clarissa,
não é água turva de beiras
nem água benta de missa!

Clarissa foi à Fonte,
vai e vem à Fonte cantando
o Fado da Adiça ...

VI

Já se sabe nas aldeias
que Clarissa vai ao poço,
vai à Fonte das zurreiras
palmilhando o mesmo troço!

Clarissa foi à Fonte,
vai e vem à Fonte em procura
do seu moço...


(Dedico estes versos às idas que fiz à Fonte das Zurreiras em miudo com a avó Clarisse no Outeiro, monsaraz, um doce tempo que já lá vai ...)

Inserida por Eliot

⁠Cada Poesia está para o Poeta
como cada Consciência está para a Alma, por isso,
cada Poeta está na escrita ao seu nível de Consciência!

Inserida por Eliot

⁠Vida mais Além -

Quando a morte chegou,
impávida, serena ... gelou-se-me
o sangue nas veias ...

E na eternidade desse instante,
mais alto que todos os instantes,
mais profundo que todas as dores,
peguei-te na mão,
não deixei que partisses!

Chorei nesse instante, chorei de loucura!
Chorei ... chorei ... chorei perdidamente
porque pequei!

Mas tu partiste como quem sente
que a Vida é mais além!

Inserida por Eliot

⁠A Rainha Morreu -

A Rainha morreu!
Por Londres nevoeiro ...
Trombetas no Céu
o momento é derradeiro.

No Seu Leito Real
a Rainha morreu
nessa hora final
deu-se em tudo o que deu.

E caem do Céu
estrelas uma a uma
a Rainha morreu
desvaneceu-se na bruma ...

Ficou pelo Mundo
um silêncio tão seu
um vazio profundo
a Rainha morreu!

(Im memoriam de Sua Majestadade a Rainha Isabel II de Inglaterra - R.I.P.)

Inserida por Eliot