Ricardo Maria Louro

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⁠Alembradura -

Horas convulsas
da minha
aldeia!
Noites sem
Lua,
dias sem
Sol,
campos de
flores,
trigo e aveia,
tantas sementes
que o espaço
alteia ...

E um monte
de estevas,
ergue ao longe,
na umbra,
uma Terra audaz!

"- Ó menino,
tu não te
atrevas ir
sozinho a
Monsaraz!"

Dizia meu Avô!
Dizia minha Avó!

Montes e vales,
rochas traiçoeiras,
hortas e vinhedos,
cercas perturbantes,
bichos e cobras,
por aí, nas eiras,
onde eu andava
dantes ...

No Outeiro!
Na minha Aldeia!

Criança sem rumo,
pelo orvalho,
diziam meus Avós,
atormentados:

"- o menino
não levou
agasalho! ..."

E quando regressava
dessas voltas,
sempre, de meus Avós,
preocupados, escutava
um ralho!

E hoje, mais só,
que dura saudade!
Desse Tempo ...
Desse Espaço ...
De meu Avô ...
De minha Avó ...

Saudade que perdura,
nessa Casa da Infância,
nesta fria-alembradura ...

Inserida por Eliot

⁠O Leque Rendilhado da Infância -

Recordo um tempo que passou
da minha infância tão longínqua!
Quando vivia acompanhado mas tão só ...
E alembro o olhar doce de meu Avô
sobre o rosto de minha Avó!

Mas minha Alma fica amargurada
ao sabe-lo morto, tão distante,
e minha Avó, ao vê-la, tão velhinha,
em ultima jornada!

Que lúgubres caminhos!
Que solidões ardentes!
Vendaval de lívidos horrores
onde nem as orações já salvam
os seus crentes!

Que triste sonho o meu!
Vejo-me sozinho!
Sem ninguém que me conforte!
Nas tristes ilusões do meu caminho
só já pressinto as lágrimas da morte!

Que triste sorte!!!

Os anos vão passando ...
E essa branca Senhora, serena, minha Avó,
que sempre vi atrás de mim chorando,
no decorrer da minha curta Vida,
vai a cada dia, a Deus, sua Alma entregando ...

Recordo o leque preto, rendilhado,
que nas suas alvas mãos, tão delicadas,
lhe refrescava o colo, na Igreja!
Com ele, tapava as lágrimas choradas,
nas longas Orações, rezadas, tão sentidas,
que fazia à Senhora da Orada ...

Era branca, minha Avó,
como as esculturas
dos mármores Cristãos!
E em suas pálidas mãos,
tinha o leque preto, rendilhado,
sempre refrescando o Coração ...

Ai aquele leque!
O leque preto da Avó!
O leque rendilhado da infância!
Que ao recordar
me deixa menos só!

Inserida por Eliot

⁠Lord -

Nossos olhos se cruzaram
pelas ruas do Chiado em horas de temor
e em nossos Corações
logo soçobrou a expectativa d'um Amor!

Foi entre gentios que o nosso encontro
brotou! ... e ficamos a sós!

Alvo, esguio, sereno,
trazia charme nas mãos!
- um Lord -

Vivia nas recepções da embaixada
entre a Corte e a Diplomacia
mas era uma Alma atormentada,
quando só, tão só, se revia!
Culto, fino, bem-talhado,
mas só, tão só, se sentia! Dizia!

Mas quem acreditaria,
ante aquele encanto,
que o Cônsul do Consulado
vive-se num pranto
sem Amar nem ser amado?!

Depois de horas de Mistério,
olhares, ternuras e abraços,
num imenso desidério,
o Cônsul do Consulado,
saiu à pressa, muito sério ...

"- Até breve! Em breve regresso …"

Telefonou!

" -Perdão, mas tenho que voltar
àquele que me deixou!
Tenho que tentar ...
Teria sido para Nós um bom começo!
Adeus ..."

E não voltou!

Era o que temia!
Alguém a quem amava
mas que junto a mim não existia!

Tudo desfeito! Conta errada!
Eu de novo sem expectativa,
ele de volta à Embaixada!

Inserida por Eliot

⁠No Largo da Igreja -

Há neste recinto
uma Paz
consoladora
qu'invade
o Coração!

No altar da
capela,
a Senhora
da Orada
de branco
vestida
de flores
adornada
dá-nos a
bênção!

Alta, risonha,
de mãos postas,
cabelo a cair,
em ondas,
p'las costas!

Na fina incarnação
dos lábios seus,
descerrados,
há nenúfares
de Amor,
em seus olhos
constelados...

E Confundindo-nos
a razão frente
ao sentimento,
a Sra. da Orada
é a Luz no
Firmamento!

E segue a
Procissão
p'lo adro
da Igreja,
com tal
graça,
devoção,
qu'ilumina
as Estrelas
e engrandece
o Coração!

Tlão! Tlão! Tlão!
Soa o Sino
no torreão ...

E o Povo
com devoção
leva a Senhora
da Orada
em grande
Procissão!
Entre foguetes,
bombas, cantares
e oração ...

A Senhora
do Convento,
num andor
de madeira,
manto de seda
esvoaçando
ao vento,
brincos, anéis
de estimação,
rodeada de flores,
mãos postas
junto ao ventre,
véu branco
sobre as costas,
irradia p'la aldeia,
Amor, paz e unção ...

Inserida por Eliot

⁠Até aos 24 Anos -

Nasci póstumo!
Neto de Alguém…
Avô de mim mesmo…
Filho de Ninguém ...
E de onde vim?!
De parte incerta
- por certo! -
Vivi póstumo na Vida,
tão póstumo,
que da Vida me perdi ...
E o que de mim fiz?!
Alguém que longe,
de tão longe
chegou a Si!
Profunda sintonia,
estranha contradição...
Mui mal me senti ...
Aqui e ali ...
Sem Coração!
Aquém-de-mim !
Num Universo sem fim ...
Meu triste e pobre Universo!
Sem verso, nem reverso,
fui Poeta, Solidão, Fado e Asceta,
intima Espiral de profunda comunhão!

⁠Mágoas Intimas -

Quando recordo
a mocidade,
vem-me à
lembrança,
aquela triste
criança de
tenra idade
no tempo
da infância!
E recordo o
sonho que me
jazia
numa única
ganância.
Ver-me ao
longe,
bem distante
daquela
infância!
Gritos que
soltei em
desajustes
tão crueis,
coisas que
passaram
em casas
que desabei!
Tantos sonhos,
tanta gente
em mim matei!
Mas matei!!!
Juntei as mãos
e rezei!
Foi assim
que suportei!
Pobre criança!!!
Acreditei!
Senti-me
folha-de-pael,
não-escrito,
em branco,
sem linhas,
proscrito ...
Fui poema
inacabado,
passaro ferido,
morto, desgarrado!
Sem tino nem
destino!
Coração perdido,
sangrado,
rosto escondido,
marcado!
Ser distante,
infeliz,
magoado ...
Fantasma triste,
vindo do passado!
Arcanjo sem
asas, depenado!
Passaro caido,
alado!
Mas houve
um dia
que vooei!
Fui p'ra lá
daquela infância,
daquela mocidade,
e hoje, já não sou
a pobre criança
que outrora
sofreu a dor
daquela idade ...
E essa gente,
Seres tão castos,
ainda mente!
É gente
que ressente
e permanece,
fria e austera,
perto e distante ...
Coitados!!!
Coitados!!!

Inserida por Eliot

⁠Sonho Desmentido -

E porque
cheguei
de parte
alguma,
deitei-me
e adormeci!

Imaginei
que
o amanhã
era possível
e entrei
num Mundo
etéreo
e invisível!

Por lá
deambulei,
austero
e incompleto!
Um sonhador ...

... O que
procurava ...
... não sei!

Mas era tudo
tão real ...
...tão falsamente
verdade ...

... como tu!

Estranho
odor a
fantasia!

Tu
e Eu!

Um
sonho
desmentido!
Uma promessa
inacabada!

Um Nós
tão iludido,
um Eu
tão manchado,
um Só
tão perdido ...

E despertei!

O dia, real
e verdadeiro,
finalmente
acontecia!

Inserida por Eliot

⁠Quadra Ausente -

Ausente e triste perdido se ressente!
Assente-se perdido, ausente e triste!
E porque se assente tão ausente?!
Ausente e triste assente-se perdido ...

...........triste ......................
e............................ausente....
.....perdido............................
..................se......ressente......

E não é de ninguém! Infinita solidão ...
Ninguém lhe é ou pertencera!
Só quer Amar! Triste contradição ...

Ninguém o quer! Não há perdão!
Queimou na vela, derreteu na cera,
quadra ausente na cinza do chão!

Inserida por Eliot

⁠20 Anos -

Quando tinha 20 anos, triste-idade,
idade-triste, 20 anos penitentes!
Cardos me feriam, silvas no caminho, olhos crentes,
só eles me amparavam na saudade ...

Tão novo, pejado d'ansiedade.
20 anos - quanto falta p'ra morrer! -
E rezei ... rezei p'ra morte me envolver
no sofrer daquela mocidade ...

Meu corpo, esguio, de setas cravejado,
Coração ferido, pela Vida alvejado,
aos 20 anos, já não tinha Vida nova!

Nem eu sabia o que era Vida
nem ela se me via colorida!
Com 20 anos só me queria ir à cova ...

Inserida por Eliot

⁠Solidão a dois -

Perto de Ti são frios e espinhosos os caminhos,
longe de Ti as roseiras mansas não dão Rosas,
porém, juntas, nossas bocas silenciosas,
são como pássaros erráticos sem ninhos ...

Vejo um cão, perdido, triste, abandonado e só!
"- Cão vadio vem que te faça uma festa,
já que somos desta raça - que dó -
ser vadio é o que nos resta ..."

E que dor tão funda no meu peito!
Solidão-a-dois que nos ultrapassa,
juntos e tão sós, tudo desfeito ...

E sinto que há em mim algo que morre!
Do Amor que nos foge, nada fica, tudo passa ...
Adormece Solidão, que o Tempo corre ...

Inserida por Eliot

⁠Introito Final -

Dilacera-nos a dor das cicatrizes!
Ao perdermos uma esperança temos outra,
perdemos a essência das raizes
criamos pela Vida uma crosta!

Erguemos ódios, ráivas que bradamos,
somos atingidos, feridos pelas setas,
das coisas que sentimos e calamos
guardadas em versos de Poetas!

Tecemos orações, cantamos Fados,
vivemos das agruras e sem tino,
somos quadros pelo sangue mal-pintados!

E a Eternidade que nos parece tão impossível,
é Esperança que nos deixa sem destino,
mata a Vida, castra a Alma, parece inatingível ...

Inserida por Eliot

⁠Tricotar da Vida -

Abrem-se as Almas à Luz da Esperança
numa Esperança em que as Almas querem Vida,
dia-a-dia, hora-a-hora, quem espera sempre alcança,
porque a Verdade do Coração nos é devida ...

E o que temos como herança
além de tantas coisas proibidas?!
Vida-a-Vida, no caminho, quem avança,
procura a liberdade da Terra Prometida ...

E no Tricotar do Coração a raiva e o sarcasmo
alimentam ódio, roubam Vida
no gesto impulsivo de quem grita!

E ante a Vida que vivemos fico pasmo!
Passa o tempo que nos inventa e devora,
passa a Vida, morre a Esperança, hora-a-hora...

Inserida por Eliot

⁠Estigma -

Teus cabelos de negro carregado
são versos que me escreves e não sentes!
Tuas águas deixam-me afogado,
quando dizes - não te amo - sei que mentes!

Pois, teus olhos virados ao desespero,
correm montes, vales, planuras galopantes ...
Imersos em dolentes madrugadas, sem tempero,
teus olhos me destroem. E porque gritas?! Não me entendes?!

Teu corpo, estigma agridoce, eternas revoadas,
dolentes madrugadas, puro entardecer ...
Pombas brancas que voam tão aladas!

E no cimo do montado, tão frio, tão gelado,
há um Cristo de marfim numa cruz à apodrecer!
Ao vê-lo, resina a minha dor, meu peito fica calado...

Inserida por Eliot

⁠Transfiguração -

A morte chegou!
Bateu à porta - entrou -,
e como baralho de cartas
a Vida desmoronou ...
E mil vozes aladas
soaram pelos Céus,
ressoaram pela Vida ...
E abismos se alevantaram
ante os olhos meus!
Minh'Alma sofreu,
tão contida, tão contida! ...
Que o silêncio que páira
sobre a cinza da Infância,
intimo, veloz, me castiga,
me castiga!
Feito de ganância, Ele,
transfigura a minha Voz ...
E eu fico, tão só,
tão só ...

Inserida por Eliot

⁠A cada Jovem que morre -

Jaz morto e inerte
num campo de solidão ...
Tão novo!
Rodeado de lirios,
doces e brancos como Ele ...
Ele, um suspiro,
esperança-fria
que o Tempo alteia,
louco e apodrecido.

E grita o vento, destemido:

"-É morto! É morto!
Triste, só e absorto...
É morto! É morto!"

Seu corpo, agridoce-veneno,
jaz sepulto, em repouso,
num campo d'açucenas,
rodeado de pombas,
coroado de penas ...

"-É morto! É morto!
Triste, só e absorto...
É morto! É morto!"

Um jovem, tão novo,
Poeta, ignoto ...
Tão jovem, tão morto,
tão morto e tão jovem,
seu corpo, ignoto ...
É morto! É morto!

"-É morto! É morto!
Triste, só e absorto...
É morto! É morto!"

Sua Mãe, amarga e singela,
ferida, desgrenhada, assentida ...
É perdida, além-da-Vida,
tão pobre e tão sofrida.
É vencida! É vencida!
É Só! Tão Só! Tão contida ...

"-É morto! É morto!
Triste, só e absorto...
É morto! É morto!"

E em tudo, a cova que o recebe,
sua dor ignora - ó Deus,
que triste sina, desce à Terra!
A separação! É hora! ...

"-É morto! É morto!
Triste, só e absorto...
É morto! É morto!"

Inserida por Eliot

⁠Toada de Monsaraz -

Em Monsaraz,
Vila do Alentejo
profundo,
é onde em horas
sombrias e inquietas,
encontro Alma,
sinto Vida …

Foi lá que vim ao
Mundo,
numa casa risonha
d’um Outeiro jocundo …
Serras e vales,
prados e montes.
Um verde florido
que meus olhos
abarcam …

E tanta Vida em redor,
tanta Vida …
Em silêncios imersa,
em quimeras oculta.
Tão contida!
Tão contida!
Sinto quebranto,
um eterno suspense,
“isso” que a eleva
ao seu encanto,
à sua Eterna Primavera …

Ó Deus,
quem dera ser Eterno!
Quem dera …

Para eternamente
contemplar aquela Vila
que me devolve tanta Paz!
Que encanto!
Que perfil!
Quem dera não perder-te,
ai quem dera,
minha alada Monsaraz …

Tanto quis àquela Terra
e tanto lá sofri …
Tenho pudor de o contar,
horror de o recordar!
Passou … passou …
Agora quero, apenas,
Amar, Amar …
Como um pássaro
que voou
ou alguém que vai
abalar …
Nada mais!
E quem quer mais,
vai a pardais,
já dizia aquela gente,
que às vezes mente,
outras não!

E Tu, meu doce Alentejo,
minha Terra sombria,
meu velho destino,
sem verso
nem reverso.

Minha Eterna e
dolente madrugada,
onde sinto o ensejo,
d’onde me vem os
versos,
desperta, agora,
ouve esta Toada,
é hora,
esvai-se a noite,
acorda o dia …

Minha Terra,
tão doce e tão amarga,
tão quente e tão gelada …
… ouve esta Toada …
…. ouve esta Toada …
Minha Terra,
tão amada,
tão amada …

Inserida por Eliot

⁠Conde - Barão -

Quem é o Conde-Barão?!

Será o 2º Marquês d'Alvito,
camarista e Conselheiro
d'El-Rei D. José,
coroado ao serão
na Praça de Portugal
nas Caldas da Rainha,
após tourada Real?!...

Como se chama o Conde-Barão?!

O mariola
Marquês de Marialva
d'Alvito e d'Oriola
ou D. José da Palhavã,
distinto e gabarola
que no marmoto de Lisboa
deu bodo aos pobres
sem distinção
no seu Paço do Lumiar?! ...

MAS AFINAL QUEM É O CONDE-BARÃO?!...

Inserida por Eliot

⁠Ausência de Luz -

Caroço d'Alma,
duro, rijo, obscuro ...
O que dentro é Centro,
veneno, puro ...
Inconsciente em permanência,
incapaz de ser doado,
sem Vida nem ardência,
num corpo, fechado ...
Coração parado, louco de dor,
sem forma, banal,
intenso, breve, incolor,
preso, ao leito, afinal ...
Um peso, imenso, aninhado,
ao peito - sem jeito - sem jeito!
E a noite vem!
Lua pura, densa, escura,
luar d'Agosto, lâmina quente
em fogo posto!
E quem ousou este destino?!
Quem o fez, tão triste,
tão sensível?! ...
Sonhos presos, pousados,
na teia dos sentidos.
Só não entendo o que há em mim
de tão achado, tão perdido
e impossível ...

Inserida por Eliot

⁠Por onde ir -

Deixem-me passar por onde quero
que ali jamais alguém passou ...
Deixem-me ir que eu desespero
como um pássaro que não voou ...

Não quero que me digam aonde ir!!!
Por certo que ao dizerem, não irei,
não importa que m'implorem, podem pedir,
só por mim um dia me perderei ...

Não, não irei!!! Nem mãe, nem pai
me disseram aonde ir! Não deixei!
Só se conhece, quem só, sabe aonde vai...

Guerra, dor e espanto! Dizem que os matei!
Que encanto! Pois que morram todos os que castram
a Liberdade de quem a vive como Lei!!!

Inserida por Eliot

⁠Não quero ser Destino -

Eu não quero ser destino!

Coisa vaga, sem sentido,
perdida ao longe,
num latido.
Eu não quero ser aquele
que a Vida não abrange ...

Eu não quero ser destino!

Corpo velho,
Alma nova,
gente em desatino,
que fica ali esperando,
que ali fica a chorar,
ali também dançando ...

Eu não quero esse destino!

Tão pouco! Tão nada!
Um brilho quase felino...
D’olhos que apenas
vão fitando!
Fitando o desespero,
que aos poucos,
instalado,
destrói a expectativa,
deixa a amargura,
a triste sina,
o desespero
e a desilusão, perdura ....

Por isso não quero ser destino!

Eu sou um’ Alma rouca!
sem destino ...
Uma graça pouca!
Em desalinho ...
Uma cabeça louca!
Sem tino ...
Só não quero ser destino!
Só não quero esse fadário!

Mas não querendo sê-lo,
na verdade, sou-o já!
E sou-o de pequenino ...
Eu sou esse calvário!
Eu sou esse destino!

Inserida por Eliot

⁠Avó Amada -

Avó, não fique assim prostrada,
cheia de medos a rezar por mim!
Aos pés-de-Deus, permaneça sim, ajoelhada,
apenas numa entrega d'Amor sem-fim ...

Sem fim e sem começo, pela fria-madrugada,
sempre a vi rezando assim ...
Tristemente murmurando, Nada,
ó Deus, nada mais existe em mim!

E que dizer ao ouvi-la tão magoada?!
Entre penas, a chorar, aqui eu vim,
mostrar o quão foi por mim amada!

Pois sempre guardarei sem fim,
a imagem, junto à cruz, ajoelhada,
da Avó amada de oiro e de cetim ...


(À Avó Clarisse.
Esposa, mãe, amiga e Avó extremosa)

Inserida por Eliot

⁠Na Estrada de Monsaraz -


Ao volante da Vida
caminho na estrada
de Monsaraz ...
Ingreme, deserta, nocturna,
- como eu, sem Paz -,
em busca d'aconchego!

E que ternura me faz
ver Monsaraz iluminada ...
Meu velho-barco da infância,
sem porto nem estância!
Tão só, me sou, na sua estrada ...

E quem diz não viver só
é porque mente!
Nascer e viver
é caminhar p'ra morrer!
E isto toda a gente sente ...
Quem o diz, vive a sofrer!
Quem o não diz, é porque mente!

Há em mim esta inquietação
sem Vida nem sentido ...
Um desespero, uma infinita tentação,
que me tolhe a Vida sem perdão.
E fico perdido na estrada de Monsaraz,
sem vida nem sentido, alegria ou paz!

Inquietação antiga, ancestral,
já vivida por meus Pais,
já vivida por meus Avós ...
Entre o Bem e o mal,
ó Alma, aonde vais,
se viver a Vida é viver só!

E subo, subo a Monsaraz ...
Meio só, meio perdido,
sem saber aonde vou!
Só sei que busco Paz,
que meu Ser se vê vencido
e que já não sou quem sou!

E Monsaraz que me dirá?!
Interrogação sem propósito,
ângustia por nada!
Alguém, algures me esperará?!
Cheguei! Acabou o depósito ...
E sigo a pé, por Monsaraz, de Madrugada.

Na estrada de Monsaraz, à noite,
exausto de mim mesmo!
Na estrada de Monsaraz, ante a morte,
a tristeza enlouquece-me o desejo!
Na estrada de Monsaraz, tão perto de Monsaraz,
tão longe do Fim, minh'Alma perdida ...
Que a estrada de Monsaraz, é para mim,
a própria estrada da Vida! ...

Inserida por Eliot

⁠Estradas -


Estou só e só me vejo!
Só me sinto e caminho!
Tão só com meu destino,
esperança perdida,
vento suão,
por vezes vencida,
asa quebrada,
ilusão ardida
na cinza do chão ...

E não sei aonde vou!
Ai não! Ai não!
E porque não sei -
- sofri - pequei!
Perdão! Perdão!

Estrada deserta,
ao dia tão seca,
à noite tão fria.
Minha triste, pobre
e velha estrada!
Tão amada! Tão amada!

Não foi isto que sonhei!
Ai não! Ai não!
Senhor, se te não oiço,
perdão, perdão ...
Que de Ti me não vem
menor consolação!

Ai meu Coração!
Um grito! Soou!
Meu triste, pobre
e solitário Coração ...
... sem perdão, sem perdão …


E Vou:

da estrada do Outeiro
à estrada de Monsaraz,
de Monsaraz ao Telheiro,
do Telheiro ao Outeiro,
do Outeiro até Évora -
- e agora?! Aonde irei?! –

D'Évora a Lisboa,
de Lisboa ao Infinito
que minh'Alma voa ... voa...

Inserida por Eliot

⁠Do Peito -

Coração, Coração vê se repousas.
Que buscas em intenso galopar?!
Essa louca correria em que te lanças
onde queres que te vá levar?...

Mortos são os Lírios da Esperança
que tiveste a ventura de sonhar,
mortas são a graça e a bonança,
filhas do teu triste chorar …

Que procuras encontrar tão ansioso?!
Nada há que seja luminoso
nessa densa escuridão onde vagueias …

Repousa Coração, estanca o teu penar,
abre o teu destino e vai Amar, Amar,
sente o que é viver no calor das tuas veias.

Inserida por Eliot

⁠Além daqui -

Por vezes oiço ainda ao ouvido,
uma voz, densa, obstinada,
que sussurra, calma, uma toada,
desde quando era nascido …

Agora, longe dessa voz, vinda do além,
sinto calma, sinto Paz, porque é calada,
essa Alma, infeliz, intima, fechada,
que foi outrora, minha amada, também …

Quem era - não sei!!! Dizia coisas derradeiras!
Palavras intuídas que por vezes eram primeiras,
imersas em pouca claridade .

Por vezes, palavras-frias de Sol e harmonia,
outras, pesadelos-de-saudade, da morte qu’inicia
o místico caminho que dá vida à Eternidade.

Inserida por Eliot