Selecionamos para vocês 100 trechos de poemas de 20 grandes poetas do Brasil.
1. Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes (1913 — 1980) foi um poeta, cantor, compositor e dramaturgo carioca que também desempenhou as funções de diplomata e jornalista. Conhecido, carinhosamente, como "poetinha", se destacou principalmente no campo da poesia. As suas composições de amor continuam inspirando casais apaixonados de todas as idades.
Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfazVinicius de Moraes
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.Vinicius de Moraes
Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olharVinicius de Moraes
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamentoVinicius de Moraes
2. Cora Coralina
Anna Peixoto Bretas (1889 — 1985), conhecida pelo pseudônimo Cora Coralina, é apontada como uma das maiores escritoras nacionais de todos os tempos. Embora escrevesse desde a juventude, a autora trabalhava como doceira e apenas começou a publicar depois dos 70 anos de idade. Sua obra poética se foca no cotidiano do interior brasileiro, sobretudo Goiás.
Quebrando pedras
E plantando flores
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude dos meus versos.Cora Coralina
Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri.Cora Coralina
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.Cora Coralina
Não morre aquele
que deixou na terra
a melodia de seu cântico
na música de seus versos.Cora Coralina
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...Cora Coralina
3. Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade (1902 — 1987) é considerado o maior poeta nacional do século XX. Autor de obras de contos e crônicas, se destacou na poesia, integrando a segunda fase do Modernismo brasileiro. Suas composições refletem sobre questões sociais e emoções humanas, pensam o lugar do indivíduo no mundo, e se mantêm atuais com o passar dos anos.
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?Carlos Drummond de Andrade
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.Carlos Drummond de Andrade
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?Carlos Drummond de Andrade
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.Carlos Drummond de Andrade
Amor é bicho instruído.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.Carlos Drummond de Andrade
4. Manuel Bandeira
Manuel Bandeira (1886 — 1968) foi um poeta, crítico literário, tradutor e professor brasileiro que integrou a primeira fase do Modernismo nacional, que começou com a Semana de Arte Moderna de 1922. A sua obra é melancólica e quebra as tradições, utilizando formas que eram desvalorizadas até aí, como o "poema-piada".
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.Manuel Bandeira
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolhereiManuel Bandeira
Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.Manuel Bandeira
Encerra em ti tua tristeza inteira
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira...Manuel Bandeira
5. Castro Alves
Antônio Frederico de Castro Alves (1847 — 1871) foi um poeta nascido na Bahia, visto como o maior entre os seus contemporâneos. Castro Alves fez parte do movimento romântico brasileiro e ficou conhecido por ser um grande humanitário. Desde a juventude, o autor publicava poesias nas quais denunciava a barbárie da escravidão, se posicionando contra ela.
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano,
Beijar teus lábios em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante, amado
Como um anjo feliz... que pensamento!?Castro Alves
Eu já não tenho mais vida!
Tu já não tens mais amor!
Tu só vives para o riso,
eu só vivo para dor.Castro Alves
Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n'alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!Castro Alves
Prendi meus afetos, formosa Pepita...
mas, onde?
No tempo? No espaço? Nas névoas?
Não rias...
Prendi-me num laço de fita!Castro Alves
Na hora em que a terra dorme
enrolada em frios véus,
eu ouço uma reza enorme
enchendo o abismo dos céusCastro Alves
6. João Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo Neto (1920 — 1999) foi um poeta e diplomata brasileiro que nasceu no Recife, considerado um dos maiores nomes da literatura nacional. A sua obra poética é cerebral e marcada pelo rigor estético, com influências bastante diversificadas, como as composições populares e o surrealismo.
Saio de meu poema
como quem lava as mãos.João Cabral de Melo Neto
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e
minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu
silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.João Cabral de Melo Neto
Mesmo sem querer fala em verso
Quem fala a partir da emoçãoJoão Cabral de Melo Neto
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.João Cabral de Melo Neto
No fim de um mundo melancólico
os homens lêem jornais.
Homens indiferentes a comer laranjas
que ardem como o sol.João Cabral de Melo Neto
7. Hilda Hilst
Hilda Hilst (1930 — 2004) foi uma das maiores escritoras brasileiras, com uma vasta produção literária de vários gêneros: poesia, ficção, teatro e crônicas. Encarada pela sociedade do seu tempo como provocadora ou subversiva, é lembrada acima de tudo pelos seus versos apaixonados.
Como te amar, sem nunca merecer?
Amar o perecível,
o nada,
o pó,
é sempre despedir-se.Hilda Hilst
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.Hilda Hilst
Ama-me. Ainda é tempo. Interroga-me.
E eu te direi que nosso tempo é agora.Hilda Hilst
Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
Se à lucidez dos poucos
Te juntares.Hilda Hilst
Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.Hilda Hilst
8. Paulo Leminski
Paulo Leminski (1944 — 1989) foi um escritor, tradutor e crítico literário de Curitiba que escreveu obras de poesia e de prosa. A sua poesia se destacou pelas formas curtas, os jogos de palavras e a subversão de ditados populares, entre outras características. Leminski também era músico e letrista, tendo incorporado influências da MPB nos seus versos.
não discuto
com o destino
o que pintar
eu assinoPaulo Leminski
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar alémPaulo Leminski
o mar o azul o sábado
liguei pro céu
mas dava sempre ocupadoPaulo Leminski
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiantePaulo Leminski
Sinto muito,
sentir é muito lento.Paulo Leminski
9. Adélia Prado
Adélia Prado (1935) é uma escritora, filósofa e professora brasileira que publica obras de contos e poemas. Uma das autoras mais famosas da literatura nacional, Prado fez parte do movimento modernista e contribuiu para a valorização e a propagação das narrativas femininas na nossa cultura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.Adélia Prado
A vida é muito bonita,
basta um beijo
e a delicada engrenagem movimenta-se,
uma necessidade cósmica nos protege.Adélia Prado
Fui dormir umas vezes tão feliz, que, se
soubesse minha força, levitava.
Em outras, tanta foi a tristeza que fiz versosAdélia Prado
Súbito é bom ter um corpo pra rir
e sacudir a cabeça. A vida é mais tempo
alegre do que triste. Melhor é ser.Adélia Prado
Não quero faca, nem queijo. Quero a fome.
Adélia Prado
10. Cecília Meireles
Cecília Meireles (1901 – 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, professora e jornalista carioca. A sua obra poética é intimista, atravessada por reflexões profundas sobre temas como a solidão, a efemeridade da vida e a identidade. A autora ficou conhecida, contudo, pelos seus poemas escritos para o público infantil que continuam apaixonando adultos e crianças.
Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.Cecília Mereles
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.Cecília Meireles
Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.
Cecília Meireles
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!Cecília Meireles
A vida só é possível
reinventada.Cecília Meireles
11. Manoel de Barros
Manoel de Barros (1916 — 2014) foi um poeta nascido em Cuiabá que integrou o pós-modernismo brasileiro. Considerado pelo próprio Drummond "o maior poeta brasileiro vivo" (na época), Manoel escrevia composições focadas na natureza e nos sentidos, marcada por uma linguagem próxima da oralidade.
Ser menino aos trinta anos, que desgraça
Nesta borda de mar de Botafogo!
Que vontade de chorar pelos mendigos!
Que vontade de voltar para a fazenda!Manoel de Barros
A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.Manoel de Barros
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!Manoel de Barros
Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para poesiaManoel de Barros
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.Manoel de Barros
12. Mario Quintana
Mario Quintana (1906 — 1994) foi um poeta, jornalista e tradutor nascido no Rio Grande do Sul. Conhecido como "o poeta das coisas simples", Quintana escrevia composições com formas populares e linguagem acessível que carregavam grandes questionamentos e sábias lições de vida.
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!Mario Quintana
Não te irrites, por mais que te fizerem
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio.Mario Quintana
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.Mario Quintana
O mais feroz dos animais domésticos
é o relógio de parede:
conheço um que já devorou
três gerações da minha família.Mario Quintana
Eu agora — que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?Mario Quintana
13. Ferreira Gullar
José Ribamar Ferreira (1930 – 2016), mais conhecido pelo pseudônimo Ferreira Gullar, foi um escritor, crítico de arte e ensaísta nascido em São Luís, Maranhão. Conhecido pela sua militância pelo Partido Comunista Brasileiro, foi exilado na época da ditadura militar. Membro do movimento da poesia concreta, Ferreira Gullar é lembrado pela sua inovação.
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.Ferreira Gullar
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequenaFerreira Gullar
Meu povo e meu poema crescem juntos
como cresce no fruto
a árvore novaFerreira Gullar
Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento.Ferreira Gullar
O que passou passou.
Jamais acenderás de novo
o lume
do tempo que apagou.Ferreira Gullar
14. Ariano Suassuna
Ariano Suassuna (1927 — 2014) foi um escritor e professor nascido na Paraíba que escreveu, sobretudo, obras de poesia, romance e teatro, entre outros gêneros literários. Defensor e representante da cultura do Nordeste, Suassuna publicou clássicos dedicados a essa temática, como o Auto da Compadecida (1955).
bebendo o Sol de fogo e o Mundo oco,
meu coração é um Almirante louco
Que abandonou a profissão do Mar.Ariano Suassuna
Só o teu nome é o que importa!
Todos os outros são erros.
Tu tens a chave da porta
dos sonhos e pesadelos.Ariano Suassuna
Por isso, não vou nunca envelhecer:
com meu Cantar, supero o Desespero,
sou contra a Morte e nunca hei de morrer.Ariano Suassuna
Sopra o vento – o Sertão incendiário!
Andam monstros sombrios pela Estrada
e, pela Estrada, entre esses Monstros, ando!Ariano Suassuna
Ave Musa incandescente
do deserto do Sertão!
Forje, no Sol do meu Sangue,
o Trono do meu clarão:
cante as Pedras encantadas
e a Catedral Soterrada,
Castelo deste meu Chão!Ariano Suassuna
15. Ana Cristina Cesar
Ana Cristina Cesar (1952 — 1983) foi uma poeta, tradutora, crítica literária e professora carioca, também conhecida como Ana C. A autora foi um dos nomes mais importantes da geração mimeógrafo, movimento artístico marginal da década de 70. Os seus poemas se destacaram pelo seu intimismo e também pelo uso de uma linguagem coloquial.
Apaixonada,
saquei minha arma,
minha alma,
minha calma,
só você não sacou nada.Ana Cristina Cesar
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.Ana Cristina Cesar
Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.Ana Cristina Cesar
Angústia é fala entupida.
Ana Cristina Cesar
Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei...
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos.Ana Cristina Cesar
16. Conceição Evaristo
Conceição Evaristo (1946) é uma escritora e militante, nascida em Belo Horizonte, que escreve romances, poemas e contos. Suas obras refletem sobre questões raciais, de gênero e de classe, sublinhado as múltiplas opressões experienciadas pelas mulheres negras no Brasil.
Eu fêmea-matriz.
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo.Conceição Evaristo
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.Conceição Evaristo
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.Conceição Evaristo
Sim, eu trago o fogo,
o outro,
aquele que me faz,
e que molda a dura pena
de minha escrita.Conceição Evaristo
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
a lua fêmea, semelhante nossa,
em vigília atenta vigia
a nossa memória.Conceição Evaristo
17. Olavo Bilac
Olavo Bilac (1865 — 1918) foi um escritor e jornalista nascido no Rio de Janeiro. Autor de obras de poesia, contos e crônicas, Bilac é apontado como o maior representante do parnasianismo brasileiro.
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”Olavo Bilac
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.Olavo Bilac
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.Olavo Bilac
Pois sabei que é por isso que assim ando:
Que é dos loucos somente e dos amantes
Na maior alegria andar chorando.Olavo Bilac
Esta ansiedade absurda, esta corrida
Para fugir o que o meu sonho alcança,
Para querer o que não há na vida!Olavo Bilac
18. Alice Ruiz
Alice Ruiz (1946) é uma poetisa, tradutora e letrista nascida em Curitiba. Sua poesia se distingue pelo uso de formas breves, como os haicais (composições que seguem uma forma poética de origem japonesa).
A gaveta da alegria
já está cheia
de ficar vaziaAlice Ruiz
Neve ou não neve
onde há amigos
a vida é leveAlice Ruiz
Que viagem
assim que você chega
a abóbora vira carruagemAlice Ruiz
Você deixou tudo a tua cara
Só pra deixar tudo
Com cara de saudade.Alice Ruiz
Que tudo seja leve
de tal forma
que o tempo nunca leve.Alice Ruiz
19. Pagu
Patrícia Galvão (1910 — 1962), mais conhecida pelo pseudônimo de Pagu, foi uma escritora, tradutora, artista, diretora de teatro e militante nascida no estado de São Paulo. Integrante da causa comunista, foi presa mais de vinte vezes ao longo da vida. Sua obra literária contem poemas, contos policiais e romances.
Lê nos meus olhos todos os consentimentos,
Mata tua sede na pedra que se fez fonte,
E te encanta com a paisagem contraditória do meu ser.Pagu
Sonhe, tenha até pesadelo se necessário for, mas sonhe.
Pagu
Sou a única atriz.
É difícil para uma mulher
interpretar uma peça toda.
A peça é a minha vida,
meu ato solo.Pagu
Procurei acender de novo o cigarro.
Por que o poeta não morre?
Por que o coração engorda?Pagu
Nada mais sou que um canal
Seria verde se fosse o caso
Mas estão mortas todas as esperançasPagu
20. Angélica Freitas
Angélica Freitas (1973) é uma poeta e tradutora nascida em Pelotas, Rio Grande de Sul. A escritora contemporânea já está publicada em vários países, como Portugal, Alemanha, Espanha, Argentina e Estados Unidos. Sua obra poética tem pensado questões sociais de grande importância como os direitos das mulheres.
tenho sempre
para a Musa
um poema na traqueia
uma prosa
sob a blusaAngélica Freitas
Um útero é do tamanho de um punho.
Angélica Freitas
particularmente sou uma mulher
de tijolos à vista
nas reuniões sociais tendo a ser
a mais mal vestidadigo que sou jornalista
Angélica Freitas
uma mulher incomoda
é interditada
levada para o depósito
das mulheres que incomodamAngélica Freitas
meu avô não gostava de agosto
dizia agosto mês de desgosto
quando passava dizia agora não morro maisAngélica Freitas
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