Ricardo Maria Louro

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⁠Emoções Diárias -

Pela Estrada caminhamos ...
Tristes ou alegres,
seguros e imberbes
de Esperança nos fazemos!

E onde vamos?! Vamos simplesmente.
Caminhamos e amamos,
ignoramos, ultrapassamos,
construímos e ganhamos!

Mas perdemos também!
Odiamos, perdoamos
- tudo e nada - de onde vem?!

Vem simplesmente ...
E de que vale o que ganhamos
se morremos lentamente?...

Inserida por Eliot

⁠Amor e Saudade -

O Amor e a Saudade
são duas águas que nos turvam,
não importa tempo nem idade,
se todos, na verdade, se curvam ...

Pois que Vida sem Amor
é mar sem firmamento,
Verão, entardecer, sem calor,
Poeta sem Pensamento ...

E o Amor vivido sem saudade
que teria d'interesse ou de verdade?!
Seria apenas conta errada ...

Que na Vida, só Ama e é Amada,
a Alma que se entrega, na Verdade,
à Verdade do Amor e da Saudade ...

Inserida por Eliot

⁠Encontro desencontrado -

Não te via há tantos dias
quando tristes nos cruzámos,
passeando pela rua, noite fria,
nem tampouco nos falámos ...

Ao teu lado, outro Alguém,
acompanhava os passos teus!
E nessa hora, intensa, de desdém,
fixaste sem pudor os olhos meus ...

E abrandámos o passar ...
Em silêncio recordámos o Passado
e partimos sem falar ...

Recordei o meu tormento,
solidão que me deixaste
num falso juramento ...

Inserida por Eliot

⁠Impossiveis -

É tudo tão diferente ao que eu sonhei ...
Somos impossíveis, nocturnos,
Sol que anoiteceu, esmola que não dei,
rompido fio-de-prumo ...

É feroz o teu silêncio!
Em mim rasgada solidão!
Amplitude d'Agonia, sentimento
que separa, dois amantes sem perdão ...

E alguma vez sentiste o que disseste?!...
Ouviste alguma vez bater meu Coração?!...
Não! Fui eu nas asas da ilusão ...

Agora, separados, dois inúteis,
sem eira nem beira, à beira da solidão,
somos, afinal, dois tristes impossíveis ...

Inserida por Eliot

⁠Triste Desengano -

O pior Tempo que vivi foi a Juventude ...
Impasses de solidão, expectativas e desejos,
tudo informe, deformado, sem plenitude,
num Tempo de fantasia e ensejo!

Sou mais antigo que o meu corpo ...
Não encaixo nesta Vida, intensa, concebida
além de mim, tão perto e tão longe, morto
numa infância, juventude deprimida!

Sou cadáver exumado, pronto a sepultar,
num chão salgado, sem destino,
p'ra não correr o risco de tornar ...

Alma viva em corpo morto - triste desengano!
Ó Deus é tão triste o meu destino
que o meu destino só pode ser engano ...

Inserida por Eliot

⁠A Noite de Évora -

A Noite de Évora escorre-me os Sentidos!
Meu intimo Poema, meu corpo de Saudade,
meu jardim feito de cedros, eternos e perdidos,
minha Terra dolorosa, sem Tempo nem Idade ...

A Noite de Évora grita-me ao ouvido!
Quadras, versos, Sonetos de solidão ...
Mortos os Poetas, vagueando sem sentido,
buscam pelas ruas um singelo Coração ...

A Noite de Évora é feita de Silêncio,
pausa e Silêncio, mil aromas d'açucenas
que arrastam pela Vida muitas penas ...

A Praça, a Fonte, o Templo, a Sé,
tudo em mim, oculto e presente,
tão perto, tão longe e tão distante ...

Inserida por Eliot

⁠Meu Tormento -

Meu corpo sente a tua falta ...
Saudade imensa dos teus braços ...
Meu Sudário, meu punhal - de aço! -
Meu tormento em Maré Alta!

E choro em silêncio - triste penitência ...
Ninguém há que me acalente
em nocturno sofrimento! Persistência
a tua que nada diz ou sente!

Não é Verdade o teu silêncio!
Punhal que cresce e me trespassa ...
Meu pobre Coração cinzento ...

Não é verdade o teu afastamento!
Não passa com o vento - ó Deus - não passa!
É triste, rubro, eterno este tormento ..

Inserida por Eliot

⁠Sem Lugar -

Que encanto tem a Vida sem Amor?!
Que Verdade tem a Alma sem carinho?!
Que destino é o meu neste torpor,
Alma sem corpo, pássaro sem ninho ...

Efémero pedinte, faminto, à toa,
por ruas penitentes, sem nada,
navio ao cais, sem proa,
soluçando ondas amargas!

E quantas ondas tem o mar?!...
Tem tantas quantas penas
tem as aves ao voar ...

E quantas penas tem as aves?!...
São tantas quantas são as solidões
que envenenam a Alma dos audazes!

Inserida por Eliot

⁠Equivoco -

Meu sonho. Fantasia. Sem destino ...
Ironia. Sem tempo. Ou idade ...
Agonia. Loucura. Sem tino ...
Passou. Agora. É tarde ...

Falhei. Iludi. Errei ...
Menti. Enganei. Maldade ...
Mas sempre acreditei ...
Passou. E agora. Já é tarde ...

E a verdade?! Que verdade?! Qual ...
Se até Cristo padeceu.
Neste mundo. Pejado. De mal ...

Homens. Que matam. Sem piedade ...
Matam. Por Amor. A Deus!
Equívoco! Sem perdão! É tarde ...

Inserida por Eliot

⁠Queixas -

Sou de longe ... de tão longe me sou!
Incerteza de poeta - desespero!
Homem derradeiro que a Vida ensinou.
Ser eterno, fecundo, inteiro ...

A Vida é temporaria,
dois, três dias de hospedagem
que hora a hora é diária
nesta Eterna vigem ...

Fingir para quê?!
Se a Vida é curta ... de passagem ...
... tão curta que mal se vê!

Pesos que não são meus - não quero!
Verdades concebidas - são miragem!
Que eu sou eu - livre - primeiro!

Inserida por Eliot

⁠Velhice -

Quando a Vida já não tem sentido
que fazer, que procurar?!...
Quando a alegria se tiver perdido
porquê viver, porquê lutar?! ...

E que destino tem alguém desiludido?!
Sem esperança, força ou vontade ...
Que pena! Sobra apenas um gemido
devorado p'la idade ...

E que será depois? Que virá? Virá?! ...
É tarde ... tão tarde ... resta a morte!
Que o tempo seja breve. E que vá ... vá ...

A Vida já não é Vida é maldade!
Quando se for a minha sorte,
que me leve a morte, sem pena nem piedade!

Inserida por Eliot

⁠Voar Errado -

Há no desespero um não sei quê de glorioso!
Algo que me intriga, eleva, dinamiza ...
Há na solidão um não sei quê de atencioso
que me envolve, adormece, sintetiza ...

Há na Alma um não sei quê de precioso!
Uma Vida de viagem mundo fora
que nos leva. Leva onde?! Onde leva?! Turva agora,
água limpa, triste ser, silencioso ...

Eterna solidão d'um Poeta intemporal,
capaz de amar, amando a negritude,
escrevendo versos em seu próprio corporal!

Meu linho, meu tecido, meu brocado,
minha capa, meu sudário, eterna juventude,
cega, possuída, asa quebrada, voar errado ...

Inserida por Eliot

⁠Dor Ritmada -

Estou morto. Sou morto. Absorto ...
Sou nada. Serei nada. Ave. Calada ...
Ausente. Sem mim. Nem corpo ...
Morto. Absorto. Ave. Prostrada ...

Estou só. Tão só. Que dó ...
Aqui. Ali. Sem ti ...
Louco. Um louco. Tão só ...
Tão perto. Tão longe. De si ...

Nasci. Aqui. Sem Luz!
Alma. Triste. Cansada ...
Desgraça. Sem graça. Reluz...

Que farás. Ó Alma. Além. Daqui?!
Aplausos. Palco. Casa Cheia ...
Um mundo. Jucundo. De oiro. E cetim!

Inserida por Eliot

⁠Despojamento -

Ouve-me se é que ainda me podes ouvir
nestas palavras rasgadas das arestas da Vida!
Os desejos, os sonhos, nada te vou pedir,
apenas um momento (outro) do teu leve sorrir!

Falo-te sem amargura ou falsidade
de coisas da Alma que me são caras!
Coisas ditas e sentidas que são verdade
de um pobre e triste miserável ...

Ao teu Amor por mim ganhei amor!
Mas teu silêncio profundo, agora,
faz do meu caminho um deserto de calor!

Digo nestes versos que te amo sem pudor!
Vê se me queres (ainda) sem demora,
meu amor, meu amor ...

Inserida por Eliot

⁠Tarde demais -

Dizem não ser tarde demais!
Dizem não haver que desistir!
Mas que se pode querer mais,
por onde persistir,

se o amor não for verdade
ou a verdade não for amor?!
Há falta, ilusão, saudade ...
Que a memória seja breve, triste dor,

tão breve que desvaneça o recordar,
leve a mágoa, o vazio e a vaidade,
a tristeza desse amor que emana ao passar ...

Que não tem como passar,
que não tem como viver,
tarde demais, há que esquecer!

Inserida por Eliot

⁠Recordando -

À noite no jardim, avanço pelo crepúsculo,
esplendido, nocturno nas vagas rumorosas.
Parece a Vida morta, suspensa, num tumulo,
como pétalas caídas, desfolhadas de uma rosa ...

Que o Céu, angustiado e soberano,
estrelado manto de saudade,
encobre os versos que declamo,
nestes tempos dolorosos de vaidade ...

Ai pudera eu viver
no extinto e no porvir,
que o Amor sem Primavera,

traz espanto e quimera,
agonia e quebranto,
ao ser que nada espera!

Inserida por Eliot

⁠Poema Controverso -

Lá longe, tão longe, por ti clama a minha voz!
Cá perto, tão perto, em ti meu pensamento!
Pensar, quão triste, pensando em nós,
dor, tão funda, o teu afastamento ...

Um nós, tão longe, não existe ...
Existe, é fim, meu triste coração!
Eterno e vago, instante que persiste,
numa triste, eterna e vaga solidão!

Triste meu pobre coração - tão triste -
sem destino ou direcção,
esmorece, pobre e escassa ilusão!

Minha Pátria, minha casa, meu deserto,
minha asa, meu orgulho, meu chão,
meu desejo incontrolado, meu poema controverso ...

Inserida por Eliot

Intima Impotência -

(⁠Diálogo da Personalidade Com a Alma)


O dia triste e pesado amanheceu!
"- Onde foste Ricardo?!" Escutei e tremi ...
Fui ali pedir a Deus
que me deixasse morrer, respondi!

"- E porque vens tão triste,
absorto e solitário?! Vens a tremer!"
Porque Deus me disse
que tenho muito que viver! ...

"- E isso é mau?!"
Não. É triste. Perturbador ...
"- Porquê se és tão novo?!" Não há idade p'ra minha dor!

Para mim, viver é morrer e morrer é viver!
"- Ó Poeta sonhador, aos 20 anos,
tão confuso e sofredor ..."

Inserida por Eliot

⁠Dura Memória -

Estou cansado, triste e infeliz,
fim de dia cansado e triste ...
Diz-me que mal te fiz!
Diz-me porque partiste!

Às vezes penso em matar-me
p'ra matar em mim esta saudade ...
Mas se a matasse, não iria pois lembrar-me,
da única coisa que deixaste!

Hei-de lembrar-me até morrer
das horas doces que passámos,
feitas horas de penar, feitas horas de sofrer ...

Perder - perder - dura memória!
Hei-de viver, e sofrer tanto até morrer,
numa dor austera, permanente e irrisória ...

Inserida por Eliot

⁠Nós Somos Assim -

Sonhamos voar mas tememos cair!
É preciso coragem. Alento sem fim ...
O vazio, a miragem que é preciso sentir,
faz-nos fugir, nós somos assim!

E há dor e vazio em cada voar!
Mas é no vazio que a Vida diz "SIM" ...
Chorar e sofrer é aprender a amar,
fugimos da dor, nós somos assim!

Destino e coragem é saber de onde vim!
Mas vimos de onde?! Tememos saber!
Fugimos da Vida, nós somos assim!

E o que sei eu de mim?!...
Vivo escrevendo, ganhando a perder,
fugindo da vida, nós somos assim!

Inserida por Eliot

⁠Almas do meu Pais -

Chorai ó Almas do meu País!
Convulsionada estância, pesadelo
e distância. Aonde vais
ao som do violoncelo?! ...

De que vivem vossas esperanças?
Por onde passam vossos barcos?
A tristeza e a bonança
erguem praças, fazem arcos ...

Soluçam fundas as ruínas.
Caudais de desespero
de ilusão e choro - inteiro!

Dançam Astros no firmamento.
Solidões lacustres, urnas quebradas,
chorai arcadas, Almas do meu País - despedaçadas!

Inserida por Eliot

⁠Contrassenso -

Ai quem tem a Alma perdida
sobre espinhos vai no chão,
ai quem tem perdida a Vida
amargos sonhos lhes darão ...

Amargos sonhos lhes darão
a quem tem a Alma perdida,
resigna ao pó do chão
Pois tem perdida a Vida ...

Pois tem perdida a Vida
quem resigna ao pó do chão
e canta em tom de despedida!

E canta em tom de despedida
quem resigna ao pó do chão
jaz vencido pela Vida ...

Inserida por Eliot

⁠A Noite de Lord Byron -

Noite densa, obscura, um adeus,
esquecer-te para sempre, jamais,
que dor, sem ti - meu Deus -
não amarei nunca mais ...

Noite finda sem principio nem começo,
visses tu meu peito, desfeito eternamente
e voltarias sem demora! Saberias que pereço
e tornarias mansamente ...

Se cada fundo pensamento
que me assola nesta noite
pudesses conhecer levarias meu tormento ...

Mas ensurdeceste o Coração ...
... e deixaste que esta noite
me vestisse de solidão! Meu Amor ... em vão!


(Às Ultrarromânticas noites do Poeta Inglês Lord Byron e ao lado sombrio tão patente em seus versos)

⁠Transtorno -

A Solidão é densa pedra
onde afio a minha espada!
Estar vivo e não amar-te, quem me dera,
nesta vida que me mata ...

Há um pronuncio de morte
lá no sitio de onde venho.
Abandonado à minha sorte,
ter nada, é o único que tenho ...

Mudou a vida e com ela o meu lamento!
Hoje o poço é de água funda
onde afogo o meu tormento ...

Transtorno audaz e violento!
Sem ti, tudo em mim é escuridão,
chuva impelida, longínquo encantamento ...

Inserida por Eliot

⁠Minha Amada -

É densa a noite escura
mais escura a minha solidão,
solidão é falta de ternura
que trespassa o Coração ...

Minha fronte marmorizada
invadida de lamento,
uma Alma apaixonada,
um epitáfio, um tormento!

Minha Amada! Minha Amada!
Meu silêncio, meu quebranto,
de mim p'ra sempre separada ...

Meu segredo, minha ave, alada,
tão longe e tão perto, meu encanto ...
Minha Amada! Minha Amada!

Inserida por Eliot