Ricardo Maria Louro

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"A Lareira da Infância"

(EU)

Na casa do Outeiro, em Monsaraz,
junto ao lume que se ateia,
sentavam-se à conversa,
à hora da ceia,
meu Avô, minha Avó
e a Tia Josefa!
Era eu uma criança,
jovem entre velhos,
cheio d'alegria, Amor e Esperança!
Tanto calor que me vinha
da lareira da Infância!
Um leve odor ...
E a Tia Josefa, branca,
imponente, lânguida, serena,
sisuda, começava a conversa!

(PARA MEU AVÔ)

Ó meu irmão, que fizeste tu
da alegria que pela Vida fora
te conhecia?!
Às cores do teu rosto
que o Sol ardente te havia posto?!
Essa expressão, risonha e calma,
que me alembro, a força do teu corpo,
a Vida da tua Alma!!!
Onde, meu irmão?! Onde?! ...

(EU)

E estoira a lenha na lareira da Infância!
Meu Avô, atento, ouve a conversa,
e responde, fixando a Tia Josefa!

(MEU AVÔ)

Estou velho minha irmã!
O tempo passa ...
Mas como as bagas da Romã,
a memória fica junto ao Coração,
imersa, arreigada,
numa imensa solidão!
E ái do Coração! Ái do Coração!

(TIA JOSEFA)

É Verdade meu irmão! É Verdade ...
Fica a saudade... Nossa mãe, nosso pai,
já estão na Eternidade ...

(EU)

E a lareira da infância ardia,
queimava a lenha da saudade ...
Era lá que em criança
minha Alma se aquecia!
E minha Avó,
silenciosa que estava, ouvia!
Profunda, graciosa, sentia Esperança,
junto à lareira da infância! E dizia:

(MINHA AVÓ)

Ouve, meu Neto, um dia,
nenhum de nós aqui estará!
E a tua glória, será escrever em verso,
aquilo que nos ouviste,
junto à lareira da infância!
Mas escreve com Esperança, não te esqueças!
E triste, ou não, guarda sempre na lembrança,
a conversa da lareira, que ouviste
à hora da ceia, à beira de teu Avô, tua Avó
e da Tia Josefa!

(EU)

Em volta da lareira os três sorriam,
e minha infância, momento terno, era quente, com a Esperança, de quem sente,
que aquele instante podia ser Eterno! ...
Mas a Morte sempre vem! ...
É breve! E tudo leva!
Fica a memória na saudade
e a saudade nos meus versos!

É esta minha unica Glória!!!!

Ricardo Maria Louro
Na Casa do Outeiro em Monsaraz
Junto à Lareira da Infância
ainda ao lado da Avó.

Inserida por Eliot

⁠Maria João Quadros - "Tens azougue"

Quando te oiço ao cantar
a poesia mais bela
tem azougue o teu olhar
como a chama de uma vela!

Há azougue em tua voz
no teu corpo, em tua mão
és a voz de todos nós
que nos bate no coração.

E na alegria d'um abraço
é tão bom o que se sente
traz azougue cada passo
quando passas pela gente.

E na verdade do que és
fica amor em tantos lados
tens azougue, espalhas fé
Maria joão Quadros.

Inserida por Eliot

⁠- ⁠Lucidez ou Desatino -

Por momentos, por instantes
as horas felizes da vida,
- numa morte constante -
vi passar sem despedidas!

Passou o sonho e a vaidade
a verdade e o amor
até passou a saudade
do silêncio e da dor!

Passou a noite, passou o dia
e chegou a madrugada
mas aquilo que eu sabia
afinal não era nada!

Porque o livro do destino
- que Deus deixou aberto! -
só ele sabe do caminho
de quem pensa que está certo!

Ricardo Maria Louro

Inserida por Eliot

⁠Da minha voz -

Da minha voz cansada e triste
nasce um grito de amargura
que na imensidão persiste
e se transforma em água pura!

Da minha voz cansada e velha
nasce tudo o que não vejo
da melodia mais bela
à ternura de um beijo!

Da minha voz densa e gasta
nascem palavras ocultas ...
Do que fica, do que passa
apenas restam as culpas!

Nada mais me veste o corpo
quando for a minha hora
hoje vivo, amanhã morto
porque a morte não demora!

Inserida por Eliot

⁠Persegue-me a Sombra de um Pássaro -

Persegue-me a sombra de um pássaro,
voa em silêncio
bate as asas sobre as tardes fugidias
que se adensam
do nascer aos dolorosos poentes dos
meus dias ...

Persegue-me a imagem de um segredo,
fantasmas dos dias que passei,
das horas que vivi,
dos olhos de quem amei!
Sombras que me pertencem... agora...para sempre ...

E é chegada, enfim, a hora!

Mostrai os vossos rostos, os vossos risos
ou cantos de dor!
Arde em mim uma esperança ancestral;
ecoam os aromas, as vozes das mesmas gentes.
Não morreram! Estão em mim!

Então porque me persegue a sombra de um pássaro que voa em silêncio
e que bate as asas
sobre as tardes fugidias que se adensam
do nascer aos dolorosos poentes dos meus
dias?!...

Inserida por Eliot

⁠Àcerca de Deus -

Lembra-te que lá porque estás sozinho
não quer dizer qe não tenhas ninguém!

Inserida por Eliot

⁠NOSSA SENHORA DA SAÚDE DE ÉVORA
(do Convento de Santa Margarida à Igreja de Santo Antão)

Nossa Senhora da Saúde é uma das invocações Marianas atribuidas à Virgem Maria, sendo, sob essa designação, particularmente cultuada em Portugal a partir dos finais do Séc. XVI, sendo-lhe atribuida a intervenção milagrosa que levou ao fim de vários surtos de peste ocorridos em Portugal. No ano de 1578 a Ordem de São Paulo decidiu dar como Orago a todos os Conventos Paulistas Nossa Senhora da Saúde para melhor protecção haver por todo o pais. Lisboa iniciou grandes festejos em honra da Virgem que mais tarde vieram dar origem à Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde de Lisboa, actualmente sediada numa pequena capela na Mouraria. A poucos Kilometros de Évora, a caminho de Arraiolos, existia o pequeno Conventilho de Santa Margarida do Aivado, convento Paulista, que já tendo o Orago de Santa Margarida colocou no centro da Igreja do edificio uma imagem de Nossa Senhora da Saúde. Ocorria o ano de 1578. Contam vários autores como Frei Agostinho de Santa Maria ou o Pe. Jesuita Francisco da Fonseca que rapidamente aquele lugar isolado designado de Eremitério se converteu num verdadeiro Santuário alterando totalmente a pacata vida dos frades que por lá viviam. O Povo elegeu aquela imagem como Sagrada e milagrosa. De todas as partes chegavam romeiros e peregrinos para implorar a benção daquela Senhora. A cidade de Évora, contam os autores, nao lhe ficou indiferente. Uma lápide no topo da capela desse lugar ainda lá está para testemunhar a constituição de uma antiga Irmandade fundada pelos Lavradores da cidade no ano de 1724. O objectivo desta Irmandade era realizar a 8 de Setembro, dia que simbolicamente marca o nascimento de Nossa Senhora, a Missa e a Procissão em honra da Virgem dando apoio aos Peregrinos, doentes, e mendigos. Túlio Espanca descreve, segundo outros autores, a imagem como sendo uma imagem de roca com o menino ao colo. O tempo passou e a secularização dos bens da igreja expulsou os frades do Eremitério que se recolheram em Coimbra. A Irmandade fica profundamente abalada mas os mordomos de Nossa Senhora da Saúde, segundo o autor Gabriel Pereira, tão devotos da Virgem, resolveram no ano de 1816 trânsitar o culto para a igreja de Santo Antão dedicando a Nossa Senhora o antigo altar de São Roque à direita da Epistola. Conta Gabriel Pereira que desde então nunca se vira em Évora uma procissão tão magnifica e sumptuosa. À semelhança de Lisboa o Exército assumia a Virgem como Padroeira da Artelharia e os comerciantes como Padroeira do comércio. Então, em todos os primeiros Domingos de Julho, desde 1816, passou a desfilar pelas ruas de Évora uma verdadeira parada militar com Nossa Senhora da Saúde aos ombros. A festa viria a ser interrompida com a queda da Monarquia no ano de 1910, retomada em 1938 e interrompida novamente em 1974. As alterações politicas o forçaram. Desde então e num gesto de profunda devoção as fiéis Aias de Nossa Senhora da Saúde, Senhoras de Évora ligadas à Paróquia de Santo Antão, todos os anos desciam a Virgem do altar, adornavam-na, realizavam-lhe um triduo com missa e Unção dos doentes. Foi assim por mais de 40 anos. No ano de 2018 um grupo de jovens em parceria com o Reverendo Cónego Manuel Maria Madureira da Silva, Pároco e Reitor de Santo Antão retomam a procissão tentando imprimir-lhe parte da sua antiga Solenidade e tradição. Ainda em 2018, a 8 de Dezembro, D. Francisco Senra Coelho já Arcebispo de Évora assina o Decreto de Criação da Irmandade de Nossa Senhora da Saúde de Évora homolugando os seus primeiros
Estatutos. No ano seguinte, também a 8 de Dezembro, S.A.R. o Sr. D. Duarte Pio de Bragança, Duque de Bragança, Chefe da Casa Real Portuguesa, assina em Vila Viçosa o Decreto de Alvará que viria a conceder à Irmandade de Nossa Senhora da Saúde de Évora o titulo de Real Irmandade autorizando que se encime a Coroa Real Portuguesa sobre as Armas da Irmandade conforme manda a tradição. S.A.R. a Sra. D. Isabel de Herédia de Bragança, Duquesa de Bragança assume o lugar de Aia de honra de Nossa Senhora da Saúde de Évora. Desde então, Irmandades, confrarias, autoridades, G.N.R., P.S.P, Exército, pessoas e individualidades a titulo pessoal se dirigem às festas de Nossa Senhora da Saúde de Évora pela vontade de contemplar uma das mais belas imagens de vestir, com vestias de rica tecelagem com olhos postos no infinito levando Cristo no regaço. Neste ano de 2022, dois anos depois de uma forçada interrupção pela Pandemia que assolou o mundo, Nossa Senhora voltou a sair às ruas. Tiveram representação a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Évora, a Irmandade de Nosso Senhor Jesus dos Passos de Évora, a Irmandade de Nossa Senhora das Dores de Évora, a Confraria do Senhor Jesus dos Aflitos de Évora, a Real Guarda de Honra da Casa Real Portuguesa, a Comunidade Ucraniana Católica da nossa Diocese, o Exmo. Sr. Major General Director de Formação de Évora, o Exmo. Sr. Dr. Gil Borges director do Hospital Militar de Évora, o Exmo. Sr. Dr. Francisco de Brito Presidente de União de Freguesias do Centro Histórico de Évora e dois elementos da GNR a cavalo que encabeçaram a procissão. Presidiu à Eucaristia e Procissão Sua Exa. Reverendissima o Sr. D. Francisco Senra Coelho Arcebispo de Évora em comunhão com mais Sacerdotes e Diáconos, nomeadamente, o Reverendissimo Sr. Cónego Manuel Maria Madureira, Reitor, Pároco de Santo Antão e Capelão desta Real Irmandade, o Exmo. Sr. Coronel Padre Jorge Matos, Capelão Militar, o Reverendo Padre Ivan Hudz, Padre da Comunidade Ucraniana e o Reverendo Padre Geraldes. A celebração foi abrilhantada pelo Coro da Paróquia de Santo Antão que conferiu uma profunda dignidade à Eucaristia. O regresso de Nossa Senhora da Saúde às ruas de Évora era urgente e mais que urgente, necessário...
A Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde muito se orgulha e congratula por ter como Padroeira esta Augusta Imagem tão terna, tão doce, tão Cheia de Deus...

Que Nossa Senhora da Saúde de Évora nos proteja e guarde, hoje e sempre, em todos e em cada dia das nossas vidas.

Ricardo Maria Louro
Juiz da Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde de Évora

Inserida por Eliot

Da Arte de Ser e Não Ser -

Sou pintura incandescente
d'um Artista que não tem Alma
sou vontade permanente
que adormece numa cama!

Porque sou um ser perdido
sou um pobre atraiçoado
um triste que é vencido
pela morte apaixonado.

E sou a asa quebrada
de uma ave que não voa
a liberdade sonhada
de um cativo que soa.

Sou um quadro em vão pintado
numa tela já esquecida
sou o sonho inacabado
d'um pintor que perdeu a vida!

Inserida por Eliot

Eu sou a asa quebrada
de uma ave que não voa
Sou liberdade sonhada
de um cativo que soa.

Inserida por Eliot

Eu sou um ser perdido
sou um pobre atraiçoado
Sou um triste que é vencido
pela morte apaixonado.

Inserida por Eliot


Sou pintura incandescente
d'um Artista que não tem Alma
sou a vontade permanente
que adormece numa cama!

Inserida por Eliot

⁠Sou um quadro em vão pintado
numa tela já esquecida
sou o sonho inacabado
d'um pintor que perdeu a vida!

Inserida por Eliot

Sempre que morre um Nobre
com Ele segue parte da História
da sua Pátria
porque Ele é a própria História...

Inserida por Eliot

⁠Louvada sejas Tu, Maria,
porque do Teu Ventre brotou
Aquele que salvou o Mundo!

Inserida por Eliot

⁠- AVES PARADAS -

Aves paradas numa tarde que voa
oblíqua madrugada cheia de mãos vazias
silêncio que em meus lábios canta e ressoa
tudo fechado naquilo que dizias!

Tudo parado cheio de dor e espanto
a vida passando num dobrar de engano
na aridez do deserto, num mudo canto,
hora a hora, dia a dia, ano a ano!

E as forças de uma ausência revelada
geraram frutos para as mãos vazias
gemendo sob uma lágrima chorada ...

E a nós, desembarcados, nús ... maldizias:
não somos mais do que aves paradas
na tarde que passa voando de mãos vazias!

Inserida por Eliot

⁠Estrelas no Olhar -

Trazia estrelas no olhar
as esquinas de cada rua
os cantos de cada Alma
e ninguém podia imaginar
que um dia seria sua
a alegria, a paz e a calma!

E tanta vida por viver
nas teias que o destino dá ...
Na verdade de cada gesto
há sempre tanto por saber
vá cada um por onde vá
num silêncio manifesto!

E chega de viver a vida
como barcos ancorados
cheios de noite e solidão
essa mágoa concebida
dos nossos antepassados
deve sair do coração!

Que a vida gasta e sombria
imóvel e cansada
incapaz de amar alguém
vaga, triste e vazia
vento sobre água parada
nunca serviu para ninguém.

⁠Quando te cansares da Vida
e do peso que Ela traz
aprende a descansar
nunca a desistir!

Inserida por Eliot

⁠Aqui -

Aqui
encostado à madrugada
e ao silêncio
todo o meu ser se encontra

cheio de brocados
cheio de sonhos
cheio de abismos e nostalgias!

Aqui
frente a frente com o mar
não sei o que me espera
nem tampouco se viverei
perdi-me da infância
perdi a juventude
mas a vida ainda está Aqui!

Inserida por Eliot

ÉVORA -

⁠Ir àDescoberta de Évora é ensinar a todos os interessados, mais ou menos conhecedores da cidade, que olhem para Évora com outros olhos, que descubram nas actuais pedrarias, ruas e edificios quem, como nós, a já habitou, viveu e construiu. Outros Tempos, outras Eras, outras Idades, tudo ainda subjacente ao aqui e ao agora que vivemos. Pormenores que desvendam épocas agora encobertas pela actual modernidade mas tão presentes ainda.

Virgilio Ferreira que a habitou escreveu certa vez:
"Évora é uma cidade branca como uma capela. As veredas dos campos convergem para ela como os rastos de esperança dos Homens. E, tal como uma capela, Évora é habitada pelo silêncio dos séculos e dos campos que a envolvem ..."

Por sua vez, Florbela Espanca descreveu-a nos seus sonetos como "(...) Ruas ermas sob os Céus cor de violetas roxas ... ruas frades pedindo em triste penitência a Deus que nos perdoe as miseras vaidades."

Cecilia Meirelles, poetisa Brasileira que certa vez a visitou, chamou-lhe Évora Branca e disse que sentia "como se o escultor tivesse querido imortaliza-la. Porque há em Évora um silêncio de cetim, franzido apenas de repente pelo fernesim dos pombos, pelo frémito da água esverdeada ... amo a sobriedade gráfica das suas muralhas que caminham para longe como o dorso eriçado de um animal ante-diluviano, e as torres quadradas, e os parapeitos sobre os arcos, e o vulto maciço dos palácios ... tudo tem uma grandeza, uma dignidade que o cimento armado, a meus olhos, não consegue ter ..."

Miguel Torga cita-a: "Não tenho nas minhas veias, nem o templo de Diana, nem a praça do Geraldo, nem a brancura redonda da água das tuas fontes..."

Em Évora Romântica Ricardo Louro escreveu: E vejo o Templo, a Sé, em longas margens de sossego, na serenidade dos heróis, na tristeza das fachadas, na dolência dos jardins, na quietade dos olhares, na plenitude das gentes, que, pela vida, agora, tantos anos volvidos, ainda vão passando, serenas, imutáveis, imberbes!

Venha ao encontro de Évora onde tanta vida se já viveu, tanta vida se vive agora e tanta há ainda por viver.

Inserida por Eliot

⁠Nevoeiro dos Sentidos -

Os mortos dos meus mortos
trago nos sentidos,
num berço de saudade
os trago adormecidos.
Ai,saudade efemera sem paz
que vive em mim
pobre mortal de Deus nascido!

Minh'Alma sepultada
neste espesso nevoeiro
adormece os mortos
no frio dos meus sentidos,
mas se acordado
os sinto adormecidos,
despertam depois quando adormeço.

E em cada noite que me deito
liberto-me da matéria,
abraço-os, recordo-os...
Esvai-se o nevoeiro espesso
e numa imensidão aerea
sonho, acordo e adormeço.


"quasi madrugada"

Sinto-me um TODO enquanto Alma singular quando atinjo o além-forma. É o extase total desta minha Humana existência...

Inserida por Eliot

⁠Évora (Cidade onde Nasci)

Évora! Cidade onde nasci
e onde minh'Alma pereceu.
Terra de palavras agudas
e olhos que culpam
onde meu Coração se perdeu.

Évora! Ruas negras, escuras, escusas
sem nada ... de calçadas incertas
e vozes caladas que tanto sentiram
o penar dos meus passos.
Terra de pedras e punhais,
de farpas e de foices
onde sinto ainda o peso da solidão!

E só à noite, quando os Credos recolhem
e os Ecos se calam...aí Sim!... Évora...
posso ver o teu olhar, o teu encanto,
o teu perfil!

Não era tua a voz que gritava,
eram as vozes das gentes,
empedernidas, austeras!

Ah Évora, como é bom ter-te na noite,
no silêncio do teu olhar, no sussurro das tuas águas,
no calor das tuas ruas, nas Brumas da tua Alma!

Oh Évora, encanto dos meus olhos
que embala os meus sentidos...caminho-te...
meu berço de Paz na quietude criança...
e se um dia partir, sei!

Levarei em meu regaço tua Alma,
teu jeito de Flôr Bela,
teu olhar de menina e moça
num mês de Abril!

⁠Toma-me ó Vida
em teu regaço extenso,
em teu seio Sagrado e Oculto
num gesto longo e profundo!

Deus!
Vida implantada no meu Rio,
espiral de brilho e memória
onde a morte desvanece!

És Sopro!

Tempo,
Alento,
Vento ...

Inserida por Eliot

⁠De tanto esperar arrefeci:
Olhei em torno da Vida
e não te vi, senti que te perdi!
Corri, chorei, sofri ...

De tanto olhar ceguei:
Esperei perdido onde não sei
que o tempo parou em teu retrato
onde também eu parei.

De tanto Amar morri:
Chegaste, gritaste ... mas já não ouvi.
Era tarde! Estava longe, tão longe
que nem te vi ...

Ficou o beijo que me deste
e que trouxe em minha mão.
Talvez tivesse esperado mais
se conhecesse bem teu Coração!

⁠meio morto, meio vivo,
Amor-perdido, doer calado,
sem passado nem presente,

- ser sofrido!


meio aqui, meio nada,
Amor-sem, doer confuso,
ser distante, esvaziado

- de tudo!


meio cego, meio tonto,
ser que sente fora,
meio vazio, abandonado

- em luto!


Amor-confuso que não entendo,
tão louco, tão vencido,
repensar pensando, pensamento

- louco!

Inserida por Eliot

Louro -

⁠Sobre um ramo de Loureiro floresceu meu Coração,
nasceu densa, obscura, minh'Alma inspirada ...
Fiquei longe, na lonjura ... pena-de-Poeta,
linhagem d'oiro, geração desprezada!

Depois, gritei distante, fiquei a sós
e escutei ao longe, o Nome de meu Avô!
Ao ouvi-lo, escaldou-me o sangue na voz
por também Ser "LOURO", por lembrar que o Sou!

"Nobre-LOURO", teara-de-Poeta!
Raiz funda no mais fundo do meu Ser,
coroa-do-heroi, meu punho d'Asceta!

Não chorem por mim se Eu morrer!
Irei "coroado-de-Louros": nasci distante, cresci na dor, "morri Poeta!"
Minha Vida foi toda um bem-querer!



DISSE UM DIA O ORÁCULO DE KUNIAM SOBRE MIM:

23) "Subindo ao Loureiro"

" Se ascenderes ao palácio da Lua,
atravessando Loureiros,
não penses se o portal celeste
te será aberto ou não,espera,
de todos os lados chegarão boas notícias,
e no topo da montanha desabrocharão sorrisos como
flores ..."

Inserida por Eliot