Ricardo Maria Louro

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A Garça de Lamego -

⁠Eu quero ser a Garça de Lamego
aquele amor que começa e não acaba
ser o oiro que cintila o seu cabelo
um Romeiro que chega e não abala.

Eu quero ser a chuva que nasce da manhã
a erva que irrompe à deriva pelo campo
quero ser esta loucura que me é sã
em cada verso que nasce do meu canto.

Eu quero ser a morte com rosto de madeira
eu quero ser a vida com asas de andorinha
eu quero ser amado de todas as maneiras,
de todas as maneiras, não da minha .

Inserida por Eliot

De quem é esta tristeza? -

De quem é esta tristeza
que me invade os sonhos
num instante de silêncio
e fantasia?! ...

De quem é esta tristeza
pejada de vazio;
de quem?! ...

Traz vestes de queixume
olhos cansados
gestos de ausência ...

De quem é esta tristeza
que sinto quando me deito?!

Inserida por Eliot

⁠- Hebe Camargo -
(Se eu pudesse ...)

Se eu pudesse te abraçar novamente
e sentir teu cheiro
seria mais feliz por um momento.
Se eu pudesse ... mas não posso ser feliz!
Porque na morte tudo é natural.

Se eu pudesse tu serias realidade
junto a nós!
Mas na vida nem sempre há Sol...
Quem dera que o houvesse!
Por isso aceito a dor como verdade
e a verdade como destino.

Tudo em mim é cansaço!
É silêncio e nostalgia
solidão e desespero.
Se eu pudesse arrancaria a cor
ao Sol Poente só p'ra te abraçar
por um momento.

Fiz dos meus dias
a vontade e a saudade
entre o sonho e a realidade
de encontrar o teu olhar
de ouvir a tua voz.

Oh Hebe ... se eu pudesse ...
... quem dera eu pudesse!

(Em memória de Hebe Camargo)

⁠Dou Graças ao Mundo -

Dou graças ao mundo
pelos sonhos que não cumpri,
pela vida que não vivi,
pelas dores a que me dei ...

Dou graças ao mundo!

Dou graças ao mundo
pelas noites que não dormi,
p'los caminhos em que me perdi
p'las horas que me reneguei ...

Dou graças ao mundo!

Dou graças ao mundo
p'los instantes em vão felizes
p'los amores de matizes
que ao meu coração não dei ...

Dou graças ao mundo!

Inserida por Eliot

⁠⁠Saudades que Senti -

Tudo me lembra de ti
ao passar das horas vãs
das saudades que senti
na agonia das manhãs.

Ao passar naquela ponte
deixo Lisboa sem saber
se por trás de cada monte
o teu amor há-de viver.

Um silêncio paira em mim
como a paz paira no rio
e abandono-te por fim
com as mãos cheias de frio.

Na ausência em que ficamos
fica o meu amor que diz:
na vida que abraçamos
tudo me lembra de ti.

Inserida por Eliot

⁠- Deixo -

Às abandonadas horas fugidías
deixo mágoas cobertas de saudade
mais pesadas que as horas dos meus dias!

Deixo gritos, silêncios, intempéries;
a dor dos partos cheios de magia
que dão vida à vida de todas as mulheres!

Deixo a alegria de me encontrar na dor
quando navego nas suas águas pantanosas
sem vida, sem olfacto, sem tacto nem sabor!

Deixo enfim o que sempre tive horror
do que todo o Ser humano sempre fugiu
nunca encontrar na vida um amor!

Ricardo Maria Louro

Inserida por Eliot

⁠A 25 de outubro de 1951 adormecia em Versalhes coberta por um manto de saudade, coroada de tristezas a última Rainha de Portugal! JAZ p'ra sempre em S. Vicente de Fora ...
Descanse em Deus minha querida Rainha!

*Sobre a Rainha D. Amélia de Orleães e Bragança.

Inserida por Eliot

⁠Quando escrevo
sinto-me mais inteiro,
mais proporcional
à dimensão da
minh'Alma!

Inserida por Eliot

⁠Um Povo sem História
é uma gente sem Alma!

Inserida por Eliot

⁠Lá no alto ergue-se uma Cruz
onde por inveja pregaram Jesus!
A seus pés as Armas de Portugal
as Quinas da Nação para que lá
não haja mal ...
E eu de olhos fixos Nessa Luz
entrego-lhe a minh'Alma porque
o seu olhar me seduz!

Inserida por Eliot

⁠Quando a Morte vier
quero ser Alguém capaz
de ter sido Alguém!

Inserida por Eliot

⁠Eis uma casa fria
que a saudade ergueu
para depois da vida
repor na Morte
o meu desfeito lar!

*Sobre o Epitáfio de um Jazigo.

Inserida por Eliot

⁠⁠Meu Deus como a noite é longa;
como é longa a solidão dos que
não tem quem os ame ...
Imenso o abismo de quem não ama
nem vive por amor!
Punhal feito de dois gumes,
espada aberta feita de angustia
e de vazio ...
É fria a terra ... quente a morte ...
... distante a vida!

Inserida por Eliot

⁠- A Rainha -

Quando o Sol se deita na linha do horizonte
e a noite escura desce sobre a terra
nasce em cada coração, como numa fonte,
o doce olhar da Rainha de Inglaterra!

E Deus, tão perto, manifesta-se nos campos,
o povo, alegre, esquece as suas dores,
as aves despertam voando por cada canto
e a madrugada veste-se de flores ...

Que bela imagem nos vem ao pensamento
a Rainha trajada d'um silêncio permanente
emana uma paz p'ra lá do tempo ...

Sua Majestade vai passande levemente,
como seda esvoaçando ao vento,
e ao passar, passa acenando docemente ...

(Para Sua Majestade a Rainha Isabel II de Inglaterra)

Inserida por Eliot

⁠VERSOS DE ONDE A ONDE -

Eu Sou esse não-ser
já sem memória,
barco à vela que zarpou
sem História ...

Sou essa lonjura,
esse horizonte sem divisória,
Versos de Onde a Onde,
sem cuidado nem vitória!

Imenso fundo, desconhecido,
aquele a quem amamos,
presente ou ausente!

Tela-sem-cor,
ilusória dor-de-Amor: vertigem!

Entre nós tudo cerrado, mudado, em luto ...
Juntos e separados... real mas obscuro!

Encontro?! Desencontro?!
Falar é iludir,
não dizer nada: cansaço!

E as culpas da infância?
Lastro-de-medos, memória ...

Esse peso no mais dentro,
onde o que passa, fica,
deixa ferida ...

É lá que tudo ocorre,
é lá que o tempo passa,
é onde permaneço,
junto destes Versos,
de Onde a Onde! ...

Inserida por Eliot

⁠DUAS ESTRELAS -

No meu peito há dois lamentos
nos meus olhos dois silêncios
que me prendem à saudade;
duas histórias que passaram
duas vidas que deixaram
tantas horas d'ansiedade.

Minha Mãe o teu sorriso
de que tanto 'inda preciso
em horas tristes sem vida;
e meu Pai, o teu regaço,
aquele olhar, o teu abraço,
ao dizeres, minha querida.

Esta mágoa que hoje canto
será sempre um triste pranto
uma espada no meu peito;
porque dá e tira a vida
tanto amor sem despedida
que tristeza no meu leito.

Mas no meu triste horizonte
junto à voz de cada fonte
ponho a minha voz também;
no Altar há duas velas
no meu Céu há duas Estrelas
são meu Pai e minha Mãe.

Para o Fado...

Inserida por Eliot

⁠A saudade é a nostalgia que sentimos
quando recordamos aqueles que
partiram ...
A saudade não é mais do que a presença
da ausência!

Inserida por Eliot

⁠A Teus pés querida Mãe pomos
as horas que vivemos: os sonhos, as dores, as desilusões ...
Que Teus olhos, esses que trespassam
a linha dos poentes horizontes,
se inclinem para cada um de nós,
que Teu olhar posto nas curvas da
Eternidade possa abraçar os destinos
que vivemos ...

"Cheia de Graça Mãe Pia
defende-nos do inimigo
e na última agonía
achemos em Ti abrigo!"

Nossa Senhora ampara os nossos malogrados corações ...

Inserida por Eliot

⁠Quando a Luz do Sol
ilumina a Face de Maria;
Maria Ilumina os corações
dos Homens!
Porque só Ela é a Luz
do Novo amanhecer!

Inserida por Eliot

⁠AQUI ONDE RESPIRO -

Aqui onde respiro
nas várzeas do caminho
não encontro o meu destino
nem se ouve o meu suspiro!

Aqui onde respiro
neste corpo de mortal
não há vida, tudo igual
quero à morte porum tiro!

Aqui onde respiro
não há vida nem amor
só os braços de uma dor
onde chego e me retiro!

Aqui onde respiro
até o ar já me sufoca
vou-me embora, fecho a porta
eis meu último suspíro!

Inserida por Eliot

⁠ERVA DA FOME -

Sou Erva da Fome
que nasce da terra
da solidão que nos come
à morte que enterra!

Sou Erva da Fome
não sou Erva ruim
na esperança que dorme
tão perto de mim!

Sou Erva da Fome
que nasce e persiste
na dor que consome
faz de mim um ser triste!

Sou Erva da Fome
correndo vales e montes
e afogo o meu Nome
no silêncio das Fontes!

Inserida por Eliot

⁠- Alma por Alma -
(Fado Cravo)

No silêncio da minh'Alma
meu amor nada me acalma
vejo um rosto, oiço uma voz;
um olhar cansado e triste
desde o dia em que partiste
meu amor sinto-me só.

Vi passar outros amores
mas nenhum levou as dores
nosso amor parecia morto;
escrevi versos, cantei fados
e voltei para os teus braços
adormeci sobre o teu corpo.

Esperei por ti horas e horas
e do silêncio das demoras
não me lembro em tempo algum;
o meu corpo sobre o teu
faz com que eu seja mais eu
faz sentir que somos um.

E por fim Alma por Alma
só o teu amor me acalma
quando penso e por ti chamo;
nosso amor nasceu de novo
grito à rua, grito ao povo
grito ao mundo que te amo.

Inserida por Eliot

⁠Se a Vida quis assim -

Se a vida quis assim que hei-de fazer?
talvez já nem te lembres mais de mim!
se a vida nos é dada p'ra viver
só quero que ela seja um jardim ...

Não queiras, por favor,
fugir do meu amor
que eu vivo para o sonho de te amar;
só quero por ti viver
sem dor e sem sofrer
o amor que trago em mim para te dar.

Talvez o amanhã não seja leve
e o amor não nos traga mais ninguém
só quero que te lembres tudo é breve
que a vida vai passando e nós também.

Inserida por Eliot

⁠À Toa -

Silêncio meus poetas, canto-vos um fado
que nasce das minhas mãos, vazias e gastas
pois nada mais me liga, ao frio do passado
àquelas velhas mágoas, que choram as desgraças.

Que a vida quando dói, não pára de doer
e a Alma cansada, entrega-se vencida
digo adeus sem despedida, que fica por dizer
num cais d'águas paradas, tristes; proibidas.

Deixarei meu fado, nos braços da saudade
na memória dos teus olhos, feridos e vazios
sigo à mercê do tempo, do vento e da idade
com esperança digo adeus, e as mãos cheias de frio.

(Para o Fado Nóquinhas)

Inserida por Eliot

⁠A Rainha Eterna -

Passa o tempo, passa a vida e o destino ...
Passa a História; tudo vai passando
mas desde que nasci que vejo com carinho,
no trono, uma Rainha que vai Reinando.

Não sei que vos diria frente a frente
se a beleza de vossos olhos me tocasse
ficaria comovido, certamente,
desejando que essa hora não passasse.

E não há estrelas no firmamento
que de perto ou de longe, junto
ao manto da Rainha, não voassem com o vento.

Majestade ... parabéns por um caminho
cheio de Glória e de Triunfo;
setenta anos d'um Reinado ... um Destino!


(Poema para Sua Majestade a Rainha Isabel II de Inglaterra.)

Inserida por Eliot