As Três Marias
Ainda que o desânimo tente nos abater, não podemos deixar de continuar fazendo outras Marias Eduardas sonharem!
Não espere por Morfeu, faça como eu, reze um Pai - Nosso, três Ave - Marias e durma bastante de noite ou de dia! Beijos.
NOBRE POBRE
"Cidade satélite, um bairro sideral. Morada de (q)uês, (n)adas e (M)arias. Lotes amplos, harém retangular. Área nobre, de reis e abacaxis. Nesse, nove quartos de dormir. Banheiros equivalentes, suítes para todos os dezoito que ali residem. Os que ali residem: condôminos. Assinantes fiéis de faixas amarelas que anunciam, mensalmente, aluguéis. Desfrutam, uma vez ao dia, de seus chuveiros mornos. Jornada nas estrelas com mais de 12 horas - desfrutando o chuveiro dos próprios poros. Suor sem racionamento. Domingo, quinta e sábado não tem água. E a desafortunada que carrega o subúrbio na sua genética, em seu extinto de sobrevivência, sempre soube o que era economizar água e choro. A esmoleira de Direitos, generosamente, se põe a exemplo. Amanhã, acordará cedo, pegará os caminhos do carma. A água voltará meio dia, mas na casa da patroa vai dar para enxaguar os olhos. 'Clarinha' - a cadelinha - vai pro banho-tosa e as crianças para a natação. Com mais três giros no terço, logo Ave Maria manda a noite e voltemos para o nosso barracão. Lugar onde o luxo é ilícito e, água, também entrou pra oração."
Se tem vida Severina tem morte repentina
Se tem Marias...Josés ou João
Tem sempre um Severino precisando do pão
Cada um nasce de um berço
Na esperança de um novo começo
Vida ou morte é a cina
Matutina ou vespertina
Todos na luta
cada um com seu bordão
Mesmo em terra seca...
em meio ao sertão
ainda colhe seu grão
Andando nas ruas é sempre um mistério
Sabendo que mais cedo ou mais tarde
Seu destino é o cemitério
Morrer de sede...
Morrer de fome...
É isso é muito sério
seja qual morte for
Me assusto de horror...
Se tem vida ou está na lida
Cada dia a alma vibra
Pois mais um dia nasce e a morte se dibra...
> Depois de muitos meses indo na okupa das Marias, oferecendo suporte as crianças, manutenção do espaço e oficinas em zines, mais uma vez o assunto foi Igreja X Jesus. Só que hoje foi diferente, percebi que aprofundamos um pouco mais. Curioso saber que ela, de moikano, 18 anos, longe dos pais, residindo na okupa, com toda aquela marra secundarista e antifa vem me dizer, enquanto desenha um símbolo no seu fanzine, que até os 13 anos frequentavam a igreja, não por gosto mas porque sua mãe lhe obrigará. Ainda disse que até hoje a mãe é obreira, porém a ela, aquele formato institucional não a representava. Levei um susto quando souber disso, não por ela já ter frequentado uma igreja, mas por saber que mais um(@) jovem antifa já foi deste meio e pela falta de compreensão ou compaixão de seus líderes não permaneceram no Caminho.
ÀS MARIAS E OUTRAS MÃES
Demétrio Sena, Magé – RJ.
A estas horas, os meus irmãos estão nostálgicos como eu. Imagino-os, cada um em seu canto, remoendo um universo de vivências. Muitas e muitas, tristes; algumas alegres; mas todas envolvendo amor, esperança e uma luta insana pela sobrevivência e pelo “ficarmos juntos”, que era um bordão de nossa mãe.
Temos, de fato, este universo de vivências com nossa mãe. Mas o tesouro imensurável que nos restou de todos aqueles anos é a cumplicidade que nos envolvia. Entre choros, percalços, privações e muito trabalho, nós sempre tivemos uma relação intensa de amor, apesar dos momentos de revolta contra tudo e todos ao nosso redor. O amor intenso, a presença forte, a coragem e a determinação de nossa mãe, cuja única ambição era conseguir nos criar como pessoas de bem, preparadas para o mundo e aptas para sobreviver com dignidade nos transformou ao longo dos anos. A revolta foi permeada pela ternura, e o sofrimento nos deu experiência e força para conseguirmos nosso lugar no mundo graças ao trabalho e à criatividade que aprendemos a ter com a nossa Maria cheia de graça, para driblar as horas difíceis. Ela nos tornou vencedores.
As lembranças e a saudade não se limitam à data instituída. Mas a data instituída nos organiza dentro de um turbilhão de afazeres e até de outros afetos, para separarmos um dia dentro de um ano, de nos dedicarmos como em todo o mundo, especificamente às homenagens. É boa essa corrente, mesmo com a consciência da exploração comercial que nos remete ao consumo. Que faz o comércio e a indústria comemorarem não especificamente o amor às mães, mas o dia do ano que só perde para o natal, no que diz respeito ao lucro, o que não condeno, pois isso atende ao anseio dos filhos de mães vivas, a lhes dar um agrado como símbolo e demonstração de amor e reconhecimento.
Quando viva, nossa mãe conseguia nos reunir, nos últimos anos, a cada dia das mães. As reuniões se tornavam grandes festas, porque somos nove irmãos; todos com filhos. Alguns com mais de um filho. Outros com netos. Somando-se as esposas, não era necessário ter mais ninguém para encher e movimentar um ambiente. A grande alegria de nossa mãe nunca foi ganhar presentes. Ela nunca deu a menor importância para utensílios, bens, roupa nova e qualquer outro agrado material. Sua maior felicidade era ver todos juntos e nos encher de comida, como se para compensar os muitos anos de pouca, e às vezes, quase nenhuma comida, mesmo com tanto trabalho para que pelo menos o alimento nunca faltasse à mesa simbólica. Simbólica, porque poucas vezes tivemos mesa. Quando tínhamos, era feita por nossa mãe, de caixotes velhos de feira.
Desculpem se quase sempre os meus textos que tratam de mãe soam meio lamuriosos. Não é minha intenção. Até porque, lamentável, mesmo, seria não termos tido a mãe que tivemos. Hoje nem todos os irmãos conseguem sair de casa para se juntar em só ambiente com o fim de homenagear nossa mãe. A certeza de que não a veremos nos desestimula um pouco, e nos faz priorizar a homenagem presencial às mães de nossos filhos e, algumas vezes, às nossas sogras. Homenagens muito justas, porque todos nós nos casamos com grandes mulheres e, em maior e menor escala também filhas de grandes mulheres.
Neste dia das mães, além da homenagem à memória de nossa Maria, quero também homenagear a memória de outra Maria, mãe de minha esposa Eliana, por quem tive grande afeto, e a grande mãe que a Eliana aprendeu a ser com sua Maria. Esta homenagem se estende a todas as mães que fazem jus à maternidade.
Quantas Marias como eu sofrem hoje com a mesma dor de uma vida toda?
Marias que acreditavam em amores perfeitos, em felicidade para a vida toda, em família unida e perfeitinha.
Tolas.
A vida nos prega peças e as Marias que sonhavam tanto com seus amores, quantas vezes foram espancadas, quantas vezes choraram baixinho no escuro do quarto para seus filhos não verem seus olhos inchados?
Marias que perderam a vida quase toda cuidando de seus maridos que nunca lhe deram o valor merecido. Um presente no dia dos namorados ou até mesmo de aniversário?
Hoje Marias velhas, cansadas, tristes, desoladas da vida que perderam toda a luz de sua juventude sendo a mãe e mulher. Vivendo a vida que não era dela.
Hoje encostada de frente para o espelho só encontra à secura do tempo. O rosto trincado de tantas dores guardadas e noites mal dormidas. As Marias que lutaram tanto hoje choram por não ter vivido nada.
O que nos restou?
A cama vazia, o silêncio da casa, a solidão e o maldito espelho para rir de nós todas as manhãs por não termos lembrado dele quando realmente precisávamos.
Pobres Marias.
universalizar o amor
feito a luta
de maior valor
repararia
milhões de negras
que há ( Marias )
e nunca amou
Eu faço poesia assim
Hora vendo as estrelas
Observando as Marias
Olhando o Cruzeiro do Sul
É assim que faço poesia.
Abri a janela do meu pensamento só para ver você passar, passaram: Alice, Marias, Clarices e tantas outras que não posso mencionar, mas por maldade, você saudade não vi passar...(Patife)
ENTRE MARIAS E JOSÉS
A vida nos sorri tão rápido e assim como chegamos saímos, nossa estada aqui nos é dada na medida que nos convém cumprir o que a natureza divina nos predispõe.
Na eternidade somos lembrados pela importância que tivemos e pelos corações que na bondade tocamos.
Não chorem pelos que por hora partem, pois o adeus nesta vida é somente um até breve no mundo espiritual.
PROFESSOR MENDES
Fico imaginando quantas Marias eu sou, a paciente, que espera, que aguenta, que sorri chorando, que chora sorrindo, a que paga as contas, limpa as coisas, leva o lixo, que aguenta os trancos da vida, a sonhadora, aquela que as pessoas chamam de forte e alguns até admiram, e a que senta atrás
da porta do quarto e chora sozinha e ninguém vê.
A que ora, e busca a esperança na sua fé em Deus.
A que se arruma, salto e batom e sai pro mundo e a que fica em casa descabelada comendo pipoca e assintindo um filme...
Sou tantas e adoro todas que eu sou.
Agora? Sou a descabelada assistindo futebol...
Miramos nos andrés, joões e marias que através do equilíbrio nas rodinhas encontram equilíbrio na vida. Aprendem a se levantar e caminhar pois a queda, no skate ou na vida, é inevitável
QNM
meu endereço
onde padeço
onde me reconheço
quês, nadas, Marias
porquês
rua cheia de Guiné
vestibular pra não perder a fé
já tive cabelo bom
cúspide pra ser preto
y dipôs doutros entusiasmos
expecto somando desejo
ainda quando não percebido
mesmo que um lapso ríspido
me arrete
(desfibril-a-dor)
amanhã não sei se esqueço
s'eu ninar
ou rezar
é banzo - de qualquer
jeito
Estou grávida de Marias
À Querida Maria Taquara, minha irmã, meu anjo alado...
Estou grávida de Marias
Maria Estelar de doçura sem igual
Maria Solar de beleza universal
Maria Alegria acorde de melodia
Maria ousadia força motriz da magia
Maria Taquara eternidade de toda seara
Maria passado, presente futuro
Maria liberta de toda grade de todo muro
Maria feminina eterna flor que fascina
Mas há mentes doentes que inventam e profanam
São meros e insignificantes mortais
Construtores de moralidades insanas
Suas calças compridas tinham rendas e babados
Suas blusas floridas provocavam olhares embasbacados
Seus turbantes africanos tinham cores indecifráveis
Era pura alegoria, mulher que inspirava filosofia
Nasceu para ser rainha e iluminar travessias
Maria que transcende toda mera fantasia
Quando chegava às margens do rio para o banho de alquimia
Era reverenciada pelas ondinas do reino da sabedoria
Para demonstrar sua gratidão convocava a ancestralidade
Olhava para o céu, dobrava os joelhos e estendia as mãos
Entoava lindos cantos de amor, carinho e devoção
Até as águas paravam e rendiam a tamanha encantação
De volta, subia a avenida com sua sombrinha dourada
Era tão bela quanto Oxum com seus decotes ousados
Seus olhos misteriosos provocavam um rebuliço danado
Ah se alguém achar que estou mentindo
Convoco para um desafio com meu cajado enfeitiçado
Mas ninguém mexe com Maria, minha irmã, meu anjo alado...
Do livro: Deusas Aladas
Série: Minicontos
GUERREIRAS
As Marias fateiras do saudoso Araçagi, antagônicas ao imperativo machista, negociavam seus sonhos e fatos na feira livre de sua Esperança. Contra hegemonia...
PRAS MARIAS
Maria, Marias... poética, és poesia
Força no nome, as Marias caseiras
Das dores, as José, as de idolatria:
A Mãe de Jesus, Amém... Fé e valia!
Maria, de Fátima, Brasileiro, brasileira
São muitas, e todas com sua quantia
A da cidade, a caipira, a lerda, a ligeira
Mulher faceira, as Marias, no dia a dia
Cada Maria: as filhas, as mães, as tias
Família, vigor, amor, ternas melodias
Quem em casa não tem a uma Maria?
São versos na emoção, assim, escritos
Ditos, afinal, são de sentidos benditos
Vivas se dão!... nesta láurea melodia!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
22/03/2022, 05’30” – Araguari, MG
pra minha tia Maria de Fátima Brasileiro, nos seus 80 anos
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