Sombra
O medo é um mestre disfarçado.
Ele aponta onde ainda há sombra.
Fugir dele é fugir de si.
Atravessá-lo é nascer de novo.
A coragem não é ausência de medo, mas movimento apesar dele.
Todo medo vencido amplia o horizonte.
A devoção no amanheSer, disse;
...
Os dias são tênues, iguais à sombra.
Delicado, como roupas num varal.
Organizei um poema.
Mas o SER me obrigou a VIVER.
O destino não é estrada nem muro, mas a sombra que projetamos ao caminhar. Cada passo que julgamos firme deixa rastros de incerteza, e cada sorriso que oferecemos é um reflexo do vazio que tentamos ocultar. No fim, tudo retorna àquele lugar silencioso onde já existíamos antes de saber que éramos.
Clareira no Fim da Sombra
Há um túnel que a noite tece,
De asfalto frio e ar que pesa,
Onde o eco de um pranto crepita E a dúvida,sinistra, visita.
Os passos são de chumbo e pó,
Cada instante um eterno só.
O ar,um véu de algodão cru, E o silêncio,um pesado atlas mudo.
Mas segue, alma, não cries morada Nesta galeria escura e alongada.
Pois mesmo onde a visão se apaga,
A esperança,sutil, não se afasta.
Ela é o fio de luz que não se vê,
A respiração do chão sob os pés.
É o grão de areia que teima em brilhar No granito mais duro a sussurrar.
Não é um clarão, um sol repentino,
É antes um trabalho pequeno e divino: É a gota que a rocha fende,
O fio de voz que te diz:“Espere.”
É a flor que racha o concreto,
O abraço no desamparo completo.
É a cor que volta ao branco e preto,
É o mapa quando estás desacerto.
Avista! Lá adiante, um ponto, um grão, Não é ilusão,não é traição. É a certeza de que a noite é fase, E a claridade encontrará sua estase.
Não é o fim da caminhada, não,
É a clareira após a escuridão.
É a prova,calma e serena,
De que a luz,por mais que doa, é plena.
Então respira fundo o ar que avança, Cada passo é uma nova esperança.
O túnel termina,a luz te banha,
E a alma encontra a sua própria montanha.
Uma sombra cansada não hesitará em conduzir outras sombras à eternidade, pois na escuridão, a fadiga se torna liberdade.
Morte do Artista
Quando morre um homem,
a vida segue no sangue,
à sombra das gerações,
na memória que existe,
na existência suprimida,
no eco da lembrança que persiste.
Quando morre um artista,
seu corpo é palavra,
acorde metafísico,
sua ausência,
presença indomável.
E no silêncio do século
sua alma repousa
até que outra mão desperte o imponderável.
Sua obra vira fogo,
matéria inextinguível,
atravessa o tempo,
se faz eternidade.
Luz e Sombra da Alma
Há dias em que sou luz.
Ilumino tudo sem querer.
outros dias…
Eu sou sombra.
Me escondo de mim.
Faço o mal que não quero,
sem entender por quê.
O bem que desejo
fica parado na beira
do meu medo.
Sou cheia de abismos.
feridas antigas,
gatilhos que disparam sozinhos
quando menos espero.
não é drama,
é história mal curada.
E o que eu alimento em silêncio
cresce.
A raiva?
A compaixão?
A crítica?
O amor?
A alma é território de guerra,
mas também é jardim.
E se não cuido,
tudo vira mato por dentro.
O autoconhecimento não é bonito,
é rasgar a pele,
olhar os monstros nos olhos,
e ainda assim escolher
ficar.
curar.
voltar pra si.
Porque o mundo dentro da gente
precisa mais do que frases bonitas —
precisa de presença,
de coragem,
de recomeço.
Nascer de novo
não é sobre mudar tudo.
É sobre lembrar
quem se é
embaixo de todas as máscaras.
Sou luz.
Sou sombra.
Sou quem observa as duas
e aprende a viver
com inteireza.
CONCEIÇÃO PEARCE
MEMENTO MORI
Pensamos que a sombra se aproxima, Mas, na verdade, ela já nos envolve. O tempo que escorreu, não nos pertence mais, É da sombra, que tudo recolhe.
Os anos que respiramos, já se foram, Até quem éramos ontem, já se desfez. A vida autêntica é o presente que abraçamos, É o agora, o instante que vivemos de vez.
“Memento mori”, sussurravam os sábios antigos, Não só um lembrete da brevidade da vida, Mas que estamos desvanecendo, dia após dia, E o passado, nas mãos da sombra, jaz escondida.
Esqueça o que foi, o que já se perdeu, O passado não vive, não mais nos molda. Olhe adiante, viva o agora com paixão, Pois só no presente reside a verdadeira canção.
Roberval Pedro Culpi
Sombras
Descobri que sou sombra,
sombra dos meus medos,
da minha insegurança.
O que faço, outros levam,
o mérito, o brilho, o nome.
Fico com o resto, com o eco.
Sou sombra da minha própria mediocridade,
mas está tudo bem.
Meus olhos, há muito,
se acostumaram ao breu.
Aprendi a ser invisível:
a estar sem ser,
a falar e ser silenciada
por gestos sutis,
por olhares que não me veem.
Já não me importo.
Já não espero.
Já não pergunto
se aquele sorriso era pra mim.
Aprendi.
Aprendi a ser sombra.
