Há Tempos
Meus dias seguiam em tons de cinza,
Sorriso sincero há tempos não exprimia,
Chegou tímida pra colorir-me a vida,
De binkie em binkie resgatou cor a cor, as nuances dos meus dias.
Agora de saudade pinta o céu da minha vida,
Onde haviam nuances, agora restam borrões de tinta.
Há tempos que o bem
Não vence aqui
E temo o que ainda está por vir
Mundo louco
Só desamor, rancor e dor...
Pai nosso que estais no céus...
A história remete, há tempos, que a mulher, ao desfazer um laço familiar, mesmo com toda a crise de um relacionamento, era um ato constrangedor. A sociedade, até pouco tempo, calava-se diante de toda e qualquer forma de agressão e violência entre um casal.O silêncio da mulher, travado por diversas gerações, traduzia-se no cenário de manipulação, de tirar da mulher a esperança de manifestar o seu pedido de socorro às autoridades. Toda e qualquer forma de diálogo que a mulher pudesse apresentar e a tentativa de resgatar qualquer situação de desconforto era extremamente reprimida por parte daquele que detinha o poder econômico, pela submissão daquela que, frágil e dependente, não só financeiramente, como emocionalmente, já se encontrava literalmente vítima da dominação masculina.
Há tempos eu parei de me preocupar qual era a imagem que eu refletia, então passei simplesmente a cuidar de mim, pois não importa como me enxergam, o importante é a minha essência.
Há tempos de mudanças, momentos em que devemos buscar dentro de nós o melhor que podemos ser e deixar fluir essa nova vida.
Há tempos em que às vezes me sinto fora do mundo
Inadequada, estranha
Não compartilho de certas idéias, certas ideologias que regem esse mundo
Fico a pensar por tantas vezes e a refletir sobre esse assunto
Que muitas vezes me assusta, mas ao mesmo tempo me faz seguir adiante
A vida cobra-me atitude
Porque sei da minha responsabilidade sobre esse mundo
E minha alma grita por mudança, por renovação
Busco uma forma de expandir meu grito
Encontro nas palavras
Nela ganho forças, divido meus sonhos
Coloco os meus sentimentos, meus desejos
Minha indignação
Minha lucidez e minha loucura
Esta tem se tornado grande amiga e conselheira de madrugadas a fora
Tem me mostrado o seu significado, ao mesmo tempo a sua camuflada ausência
Pois o silêncio também tem sua forma peculiar de falar.
E assim caminho, observando
Refletindo nas palavras, refletindo no silencio delas,
Refletindo no efeito que elas provocam nesse mundo e nas pessoas.
Buscando respostas, trazendo respostas, nessa louca troca, entre saber e nada saber.
Nesse grande mistério entre ser mestre e aprendiz.
Há tempos atrás alguém me disse que sentia muita falta de A, B, C e etc. Percebendo que xx mal se escutava, tamanha a sua angústia, respondi-lhe brevemente, a fim de que, ao menos algumas poucas palavras lhe devolvessem um mínimo de calma. Falei-lhe que aquilo era apenas um momento e que tudo melhoraria. Pudesse ver xx novamente, dir-lhe-ia que ninguém constrói castelos no ar ou sobre a areia movediça. E que, por mais doloroso que seja e quando não há alternativas, melhor do que se agarrar a falsas presenças é agradecer pelas ausências sinceras. Nem sei se me entenderia, mas lhe lembro os olhos e o olhar, jovens represados não a pedidos. E represas humanas entre imberbes limites sociais é um dos principais ingredientes para geografias e histórias onde as pessoas são muito mais julgadas do que os seus próprios atos; talvez fatos...
E foi naquele de repente, que mais parece cultivado há tempos.
Eu fui no impulso, impulsionada pelo destino que já tinha definido tudo aquilo que temos hoje.
Eu me encantei com o fato de a gente dividir o café, o seu braço me envolvendo em frente a Tv, o seu jeito de acompanhar cantando a música no carro, de seguir meu olhar durante o trajeto até sua casa.
Me encantei com a sua falta de pressa no portão da minha casa, me repetindo abraços e beijos sem medo de nada.
Você me encantou sendo tão família assim, gostando de cachorros e com tanto jeito pra pegar bebês no colo.
Ah que coisa linda é você demonstrando amor pela sua mãe, e pra melhorar você cozinha bem, você me faz um bem danado.
A gente nem viu, e veio.
E foi assim que me encantei, em cada canto dos seus encantos me encontrei.
E há tempos eu preciso de um lugar-comum. Aquele bla bla bla infame não causou, e já estava me enjoando. Eu precisava sair dali. Peguei o carro e parti em fuga. Liguei o som. Aumentei propositalmente para não ouvir as lágrimas que vagarosamente começaram a cair. Comecei a cantar devagar e quando percebi estava gritando. Gritando e chorando, num desespero incontrolável. Parei subitamente de cantar, gritar e chorar simultaneamente com os pés no freio. Ninguém poderia suspeitar da minha fraqueza em lidar com certas coisas. Eu deveria manter sempre a postura ereta, os olhos brilhando e o sorriso colado à boca. Eu deveria provar a mim mesma e a todos que eu conseguira ser sempre assim, mas, há tempos em que o peso sucumbe e eu precisava parar. Fugir era minha especialidade. Tornara-me perita nisso. E foi quando me dei conta de que precisava voltar. O desespero nunca dura muito tempo. E eu sabia disso. E sabia que o mundo não iria parar para eu me refazer, embora soubesse que vez em quando era eu quem precisava parar para continuar vivendo nele!
Amadurecer é compreender que na vida há tempos bons e ruins. Um serve para lembrar que o outro existe e vice-versa.
Hoje abri a janela do meu quarto e dei de cara com um cenário diferente.
Há tempos eu não fazia isso. Há tempos que não observava esse cenário, nossa... como mudou.
As árvores cresceram.
Algumas pessoas que, antes habitavam o terreno, não estão mais lá. Está tão diferente...
Às vezes é assim: ficamos trancados nesse quarto, nesse nosso mundinho, sofrendo com dores antigas, rindo com palavras bonitas, porém vazias, enquanto lá fora tudo se transforma.
O que não havia nasce, o que nasce cresce, o que cresce muda...
Hoje percebo que não foi só esse terreno que mudou. Eu também mudei junto com ele.
Talvez eu não possa afirmar que o verde do mato que cresceu de forma grandiosa, seja a mesma quantidade de esperança que há dentro de mim.
Talvez aquele lixo acumulado no canto do quintal, seja o mesmo lixo que eu acumulo dentro de mim: sentimentos e desejos que não me fazem nem nunca me fizeram bem.
Talvez aqueles galhos de árvores que cobrem o telhado da casa, sejam os mesmos galhos que eu uso para me esconder de tomar certas decisões que precisam ser tomadas e que, por algum motivo, eu ainda não tomei.
Talvez aquele montezinho de areia e rocha que eu avistava dessa janela e que agora não está mais lá, sejam as mesmas barreiras que eu venho destruindo aqui dentro de mim.
Talvez as pessoas que foram embora da casa, sejam as mesmas que eu deixei partir enquanto estava trancado nesse quarto.
Mas talvez essas novas pessoas que, hoje passam por esse quintal, sejam as mesmas que eu estou me permitindo conhecer.
E talvez um dia, elas também irão embora, assim como as outras.
Tudo mudou. Menos a janela.
Ah, essa continua igual. É claro que a poeira foi acrescentada à moldura dela, mas ainda sim, é ela.
Tudo muda. Tudo se transforma. Tudo passa. Querendo a gente ou não.
Mas algo permanece. Sim, a janela.
Aquela janela continua lá, no mesmo lugar, às vezes, esperando apenas ser aberta. A janela das lembranças.
Essa menina não é desse mundo Há tempos não vejo tamanho talento Na beleza de um coração tão profundo Ela canta suave e doce como o vento Não perde nunca o brilho e o tom É linda e bela como só ela pode ser Ouvi-lá cantar, meu deus, que bom! Só quem presencia pode entender Queria ouvir sempre seu canto Nada me faria mais feliz no mundo Não existe, e digo, maior encanto Nanda, és mais maravilhosa que tudo
O CRISTO E EU MAIS OUTRO
Só há tempos confirmei
Em êxtase, no cimo de um outeiro,
Que o Cristo nasceu na mesma terra
Que eu, quanto sei,
Se a memória não me erra.
Numa rude manjedoura,
Lá no cimo do "monte do bicho",
Que em pequeno e por capricho,
Lhe construi no presépio de madeira,
Com mãos de artista de primeira,
Em recordação duradoura.
Já homens, eu e ele, ainda sem o outro,
Sentados à sombra dos pinheirais,
Imaginávamos o mundo dos mortais
Sem penas, nem dores e só amores reais...
..................
Depois, vieram algozes e levaram-nos
Sem julgamento, ao suplício final.
Chicotearam-nos,
Ridicularizaram-nos,
E cruxificaram-nos no alto do " monte do bicho"
Também por capricho.
Na pressa de completar o quadro:
Foram então buscar o "Gestas", o mau ladrão.
Deram-me o nome de "Dimas" o ladrão bom.
E ao Cristo, não deram nome, não.
Ele não precisava de graça, pois já nasceu Cristo
E posto isto,
Ele ficou na cruz ao meio.
Eu, Dimas, um dos ladrões, fiquei-lhe à direita
E o Gestas, o bebedolas da aldeia, mais a torto.
Porque ele gostava de morrer,
Dizia
E insistia:
Para ficar vivo, depois de morto!
(Carlos De Castro in Há Um Livro Por Escrever, em 15-03-2023
NOVOS TEMPOS VIRÃO
Há tempos atrás dos tempos,
O vento sussurrou-me ao ouvido:
" O sol vai deixar de brilhar!
A lua, viúva, de negro vai ficar!
A chuva, disse-me, vai mirrar!
Eu, por mim, estou a esvaziar!
O céu, vai cair a arder,
No leito seco do mar!
As montanhas irão desmoronar!
Os prados verdes vão crestar!
As árvores, de podres, irão chorar!
Ouvir-se-ão estrondos de terrificar!
Ficarão inertes as aves e os peixes
Sem ar, sem água, a agonizar! "
Carrancudo, perguntei ao vento:
" Ouve lá, ó vento, então eu quero saber:
Porque razão me estás a meter
Tanto medo de arrepelação !?...
Assim sendo, diz-me para onde vou,
Ou então!?...
Aí, o vento mudou de ouvido e segredou-me:
Alguns como tu, ficarão
Na nova terra que há de brotar
Das cinzas da ressurreição,
Onde não haverá castigo nem metas,
Apenas um tempo novo
Onde habitará um nóvel povo,
No promissor mundo dos poetas! "
(Carlos de Castro, In Há Um Livro Por Escrever em 08-05-2023)
Aprendi há tempos que um parâmetro infalível para avaliação de qualquer tese é muito mais simples do que se pensa: basta colocar toda reserva do mundo quando apresentada por um dos defensores do verde ou por qualquer combatente do vermelho e vice-versa.
Sonhador, suas realizações estão logo após as fronteiras, passe por elas sorrindo, há tempos avistadas, suas conquistas estão esperando por sua chegada.
Há tempos que parei de me preocupar em fazer escolhas. Fica mais fácil delegar tal mister à Vida, quando claramente me diz que o assume em me colocando em estreita sintonia com as dádivas que me havia reservado.
