Hoje abri a janela do meu quarto e dei... Jeozadaque Martins

Hoje abri a janela do meu quarto e dei de cara com um cenário diferente.
Há tempos eu não fazia isso. Há tempos que não observava esse cenário, nossa... como mudou.
As árvores cresceram.
Algumas pessoas que, antes habitavam o terreno, não estão mais lá. Está tão diferente...

Às vezes é assim: ficamos trancados nesse quarto, nesse nosso mundinho, sofrendo com dores antigas, rindo com palavras bonitas, porém vazias, enquanto lá fora tudo se transforma.
O que não havia nasce, o que nasce cresce, o que cresce muda...

Hoje percebo que não foi só esse terreno que mudou. Eu também mudei junto com ele.
Talvez eu não possa afirmar que o verde do mato que cresceu de forma grandiosa, seja a mesma quantidade de esperança que há dentro de mim.
Talvez aquele lixo acumulado no canto do quintal, seja o mesmo lixo que eu acumulo dentro de mim: sentimentos e desejos que não me fazem nem nunca me fizeram bem.
Talvez aqueles galhos de árvores que cobrem o telhado da casa, sejam os mesmos galhos que eu uso para me esconder de tomar certas decisões que precisam ser tomadas e que, por algum motivo, eu ainda não tomei.
Talvez aquele montezinho de areia e rocha que eu avistava dessa janela e que agora não está mais lá, sejam as mesmas barreiras que eu venho destruindo aqui dentro de mim.
Talvez as pessoas que foram embora da casa, sejam as mesmas que eu deixei partir enquanto estava trancado nesse quarto.
Mas talvez essas novas pessoas que, hoje passam por esse quintal, sejam as mesmas que eu estou me permitindo conhecer.
E talvez um dia, elas também irão embora, assim como as outras.
Tudo mudou. Menos a janela.
Ah, essa continua igual. É claro que a poeira foi acrescentada à moldura dela, mas ainda sim, é ela.
Tudo muda. Tudo se transforma. Tudo passa. Querendo a gente ou não.
Mas algo permanece. Sim, a janela.
Aquela janela continua lá, no mesmo lugar, às vezes, esperando apenas ser aberta. A janela das lembranças.