Contexto da Poesia Tecendo a Manha
Agosto
Vou tomar um banho
Longo
Para espalhar seu cheiro
Vou sentar-me à janela
Mirar o mar
Amar os momentos que passamos
Vou beber um rosé
Leve
Embebedar-me da
Sua ausência
Vou cultivar cada frase
Reescrevê-las em
Minha memória
E perguntar-me qual
É a urgência
Vou resolver minha criatura
E nesta curva
Fazer uma declaração
A um fantasma.
Vou acabar flutuando
Sobre a noite
Curvar-me
Entre o beijo e o amanhecer
E neste breve espaço
Sem mistérios dizer
O quanto te amei.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Aspiração
Já não quero
O cheiro do betume,
O cinza do concreto,
A estupidez cotidiana
Selada no desespero.
Quero a fuga prá Pasárgada
Ambição dos poetas
Esquizofrênicos da dor.
Já não quero angústias,
Espaços limitados,
Ruídos encalhados,
Mulheres ritmadas.
Quero abismos iluminados,
Aromas selvagens,
Melodias,
Procissões,
Liberdade e campo.
Já não quero
Vozes tépidas
Melodramáticas,
Seios camuflados,
Pânicos programados,
Anti-mundo.
No teatro mundano,
Sonhos aéreos
Quisera querer,
Utopias valiosas vadias.
Livro: Travessia de Gente Grande
Autor: Ademir Hamú
O Corredor
As tardes caíam cada vez mais longas, sem expectativa e numa falta de prosa desconcertante.
Já ia longe a guerra do silêncio entre o casal em sua primeira disputa. Era difícil aplacar a angústia do que ia acontecer, disfarçar a ansiedade da volta e representar que tudo vai bem ou ia bem.
A janela foi objeto do desejo de disputa.
Abre a janela, Ana, está um calor danado desse jeito não consigo dormir, o quarto está abafado isto só dá pesadelo. Ela retrucou:
Pesadelo são os morcegos que entram no quarto e ficam assombrando o meu sono. Passo a noite vigiando a janela, de sentinela, enquanto você se refresca e dorme. No outro dia fico exausta.
— Assim não dá, Ana você acende velas no oratório, fecha a janela e o quarto fica mais abafado do que igreja em dia de Semana Santa. Isto já virou tormenta na hora de dormir, perde até o gosto de se deitar. Suar na escuridão é triste.
— Gosto da janela cerrada, dá mais segurança...
Vou abrir, Ana. amanhã é dia de serviço, a esta hora ainda não peguei no sono... deixe a luz da lua molhar o seu corpo, soprar o cheiro da flor do pequizeiro a perfumar o quarto.
Empertigada, Ana levantou-se:
— Então fique aí com a lua, os morcegos e as formigas dos pequizeiros. Vou para o outro quarto.
— Você é quem decide, Ana.
No corredor, quando as tábuas estrilaram, já bateu arrependimento.
Ana mastigou o conselho da avó: “Nunca saia de sua cama a volta é mais difícil''.
E foi assim. Tião ficou no quarto do oratório, de cortinado, as melhores cobertas, com a luz da lua, de janela aberta. Ana penava no final do corredor em colchão de capim, suando de calor e medo, disputando espaço com as muriçocas. Toda noite planejava e ameaçava: vou lá no outro quarto; “Amanhã tiro o cortinado...” Mas clareava o dia e pensava: “Quem vai subir e pregar este peso nas alturas?"!
Não se conversou mais sobre o assunto. Os pequizeiros floresceram, cheiraram, derramaram seus frutos, caíram suas folhas e não conversou mais.
O inverno chegou, a janela cerrou e Ana emperrou no quarto do corredor. Tião apostava até quando?! Aqui neste sertão sozinhos era só esperar...
Agora quem deixava Ana de sentinela eram seus pensamentos, haja tijolo quente debaixo da cama para aquecer a solidão, além da trabalheira, dos dedos queimados, dos pés gelados a indecisão deixava o corredor da volta mais comprido.
Tião matutava: tinha que tomar atitude, Ana ia botar fogo na casa. Coitada! Moça da cidade não tinha costume da roça. Levantou-se, encheu-se de coragem, pegou a vela para atravessar o corredor. A cálida luz iluminou todo esplendor de Ana que de vela na mão também voltava ardendo de saudade.
Entreolharam-se e gungunaram:
— Oiiiii.
Cruzaram o corredor cada um em sentido contrário. Ana adentrou no quarto do oratório com cortinado e Tião no quarto do corredor com o colchão de capim. Sentou-se na cama desolado, contrariado, acanhado e deitou-se.
Palpitando de ansiedade Ana mal conseguiu sentar-se na cama: no instante sentiu o cheiro das roupas de Tião que exalavam da cama ainda quente o que disparou suas lembranças e encurtou o caminho da volta. Com as mãos e os pés frios da noite, com o coração ardendo de coragem, a chama da paixão iluminou o corredor e caminhou para junto de Tião.
No espaço exíguo da cama deitou-se com o coração apertado acomodando seu corpo ao de Tião. Ele entrelaçou sua cintura em sinal de reconhecimento. Ana com os pés gelados encostou seus pés ao dele para roubar seu calor. Ele a aqueceu e perguntou:
— Não estamos brigados, Ana?
Rindo afirmou:
— “Pés não brigam”.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Minha Sapateira conta
Minha sapateira fala
Por onde andei
Dos caminhos que percorri
Das estradas que caminhei
Minha sapateira lembra
Dos apertos que eu passei
Das bolhas que me machuquei
Dos momentos inesquecíveis que vivenciei
Minha sapateira guarda
Sapatos velhos e novos
Momentos e recordações
Passado e presente
E talvez possibilidade de futuro.
Minha sapateira fala, lembra, guarda e conta
Da vida que os pés transportaram
Dos pés que transportaram a vida, até aqui.
Conheci Mona Lisa...
Sim, andei pelo Louvre
totalmente lisa;
sem dinheiro no bolso.
Passeando com Van Gogh
divaguei pela a noite estrelada,
andando sobre um caminho
estreito de fibra ótica.
Mergulhei numa pequena tela
e, viajei o mundo...
Aprendi outro idioma,
conversei com Coralina.
Bastava-me uma pequena janela,
um ponto de acesso
e viajei por toda a Terra,
conheci todos os tipos de arte.
...Porque a arte estava
em todos os cantos,
em todos os sites e
em todos os links.
E assim a arte chegou
até nos barracos,
alimentando sonhos
e servindo de barco
para todos navegar.
Juliana Rossi Cordeiro
O seu amor é uma dádiva.
Amo quando você diz que me ama,
amo quando sorrir feliz
quando seu olhar me renova
sei que na vida sou só um aprendiz
e que o amor que me doma
é também a minha matriz.
A asa que me faz livre para voar
é a mesma que se abre para cuidar
de você e ser sua cura,
após as noites de trevas quero ser sua aurora.
DE:Resan'per Sorriso.
Quero falar nestes versos
Do meu grande amor
Bela por natureza
Singela como uma flor.
Cantar em poesia você
É o meu maior prazer
Nosso amor eternizado
Fazendo sempre feliz nosso ser.
Cantarei com o coração os meus versos
Que um dia trouxe o mar de minha Isa
Aqui no meu mundo lembra-me os astros.
Frida
Guia-me por tuas veredas,
Oh teimosa Dama da lua
Distante dos alicerces morais
Fizeste das tuas verdades
O sangue derramado ,
Pela tua pele nua.
Despida de pudores,
Dona do seu ser,
Pintantes em telas as dores
Suas dores, tão intensas no viver.
Verde, branco e vermelho
De todas as cores pintastes teus gritos
Gritos de uma sociedade enclausurada
Emancipada pelo teu olhar sentido.
Oh teimosa Dama da lua.
Tua arte vibrante permanece
Distante da beleza raza
Profunda em alma e Poesia.
Se ela pudesse te falar o que pensa
E o quanto ela quer te provocar de volta
Se ela pudesse dizer o que sentiu ao ouvir tua voz
E o quanto isso foi inquietante
Se ela pudesse sair dessa prisão
Ela faria tudo de novo, loucura por loucura, desejo por desejo
Ela te devoraria sem esperas
Roubaria teu ar sem receio
Contemplaria cada parte da sua geografia
Se perderia nas suas ondas
Em uma cadência arrebatadora
Até que o corpo e o tempo não soubessem mais
os limites do início ou do fim.
Coisa Nenhuma
Quem roubou
Tua risada
Meu bem
Diga
Que vou buscá-la
Para cobrir
Sua boca
Quem tirou
Tua espontaneidade
E hoje fica nu, encolhido
Diga
Que vou buscar
Outra roupa
Quem tirou sua dança
Ficas parado
Feito estátua de sal
Diga
Qual é a música
Vou tocá-la
Para ti.
Diga
Por favor
Quem colocou
O mar dentro
De teus olhos
Mas sou eu
A praia
Venha para mim
Não se afogues
No pranto
Diga
Diga
Porque eu
Te amo
Quero levá-lo
Ao meio da pista
Nu como estás
Para dançarmos
E recomeçarmos
Com ritmo
Sem lhe roubar
Nada
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Peço encarecidamente que me violentem
Sem culpa ou remorso
Com ódio
Repulsa
E o senso inquestionável de poder
Quebrem meus dentes
Queimem minha pele e meus cabelos
Impeçam meus acessos
Sem drama
Com fazem com as mulheres e os cães
Ascendo por sobre a pele grossa
Tenho a dor arraigada ao sangue
Então atirem
E tirem o pouco que sobra
E não deixem de fazê-lo
Não permitam que não doa
Para que eu não ouse esquecer
Nem por um segundo miserável
Que não sou igual a vocês.
Obrigado Mãe
Obrigado Mãe por tudo
por sempre cuidar de mim
Obrigado Mãe por tudo
você sempre estará guardada em mim.
Obrigado mãe por tudo
eu te amo muito
Obrigado mãe por tudo
você é o meu mundo.
Obrigado Mãe por tudo
pelas brigas, e reclamações
Obrigado Mãe por tudo
sempre será a minha expiração.
Obrigado Mães por tudo
que vocês fazem pelos filhos
O amor de vocês é muito grande
que sempre sobra um espacinho.
Não Cortem os Meus Cabelos
Thersila era linda, o conjunto fazia a graça da sua beleza e o que mais impressionava eram os seus cabelos, tão longos como as horas de nossas vidas.
Sua mãe dizia: “corte os cabelos, estão muito compridos! Fez promessa?" Mas, ela se calava e seus cabelos cresciam feito horas de espera: intermináveis. Cresceram... Cresceram... que para lavá-los ia até ao rio Corumbá, desatava as tranças o que levava horas, e deitava sua longa cabeleira no cascalho das águas do rio.
Neste instante, os cabelos encharcavam e tomavam o movimento das águas e mais pareciam galhos e gravetos esparramados pela chuva. Lavava, secava e perfumava seus fios e retornava à casa.
Sua mãe bradava: "Que é isso? Promessa?” E os seus cabelos ainda mais cresciam... cresciam tanto, que seu marido fez deles seu colchão e suas cobertas, apaixonado pelos longos fios sedosos e cheirosos.
Amanhecia emaranhado, que o prendia feito teias, para que não abandonasse o leito.
Conselhos não adiantavam: corte as pontas, da força!
E não entendiam. Thersila fez promessa? Todos ficavam impressionados com ela sentada na poltrona trançando os fios esparramados pelo chão.
Ela passava horas a fio a desembaraçar e ajeitar os fios na cama e cobrir seu amado, confiando no enlace da paixão.
Num dia de irritação, ele entrelaçado e embaraçado em seus fios, bradou e cortou os seus cabelos.
Thersila, nesse instante entristeceu, empalideceu e emudeceu.
Sentou-se num canto da sala, começou a tecer os fios cortados, como teias, num crochê complicado e os dependurava nas janelas, como cortinas.
Ele desesperado com a sua mudez, pediu:
— Fale Thersila, são seus cabelos que lhe fazem falta?
Ela então falou:
— Você cortou meus cabelos, junto deles a minha história. Agora teço com o que restou, teias, para que os fios não voem pela janela afora, como palavras perdidas de uma história de amor que levei anos e anos para contar e lhe ACONCHEGAR!
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Jardim de aparências
Seremos apenas rosas destroçadas
no meio a um jardim florido e feliz
Seremos rosas espinhosas e venenosas
em meio a pétalas tão cheias de elegância
Mesmo a minha mais singela doçura
Aparenta ser tão amarga diante a beleza do outro
E meus traiçoeiros espinhos se aparentam tão maiores
São tratados como um câncer das flores
Eu sei que neste jardim não há rosas perfeitas
E sei que não existem espinhos fatais
Mas a minha autodestruição sabota minha imagem
A alegria das outras ainda me condena no olhar.
Talvez seja eu o condenado e o condenador
@paulorecita
Navio Negreiro
Lá vem o navio negreiro
Lá vem ele sobre o mar
Lá vem o navio negreiro
Vamos minha gente olhar...
Lá vem o navio negreiro
Por água brasiliana
Lá vem o navio negreiro
Trazendo carga humana...
Lá vem o navio negreiro
Cheio de melancolia
Lá vem o navio negreiro
Cheinho de poesia...
Lá vem o navio negreiro
Com carga de resistência
Lá vem o navio negreiro
Cheinho de inteligência…
Aprecia-a… prova-a… usa-a… aplica-a, pois ELA; esse tem!
Por a ninguém tal ver, por querer mal;
Mas por tanta verdade, em tal haver;
Tem nela aquele valer natural;
Que em tão poucos de nós, tem bom caber.
O poder da POESIA…
Por não haver escrever que diga tanto;
Em tão poucas palavras, por sintético;
Tão sempre com um poder, dialético;
Tem em tal, um mostrar, com que me encanto!
Tal como, tem tal tanto, de quem a usa;
Por tanto amostrar: um desse, abrir de Alma;
Num nela recitar, que a mesma acalma;
Num ser, para a tal dita, a boa musa!
Que bela e pura é: a nua escrita;
Tão tida, nessa dela, mais valia;
Criada, pra a verdade; realçar!...
Sem ter, que a alguém temer, por destratar;
Permitindo um citar, na dela via;
Que em mais, outra alguma; pode ser dita.
Com um especial prazer;
Me ariando
Corri contigo na ladeira da razão
Fustigando me um vento ateu
Carregando todo peso sem dó ou perdão
Sem a resistência de meus ideais,
Num olhar "Sartreano" triste e elegante.
Agora é apenas eu e o futuro!
Meus métodos e manias,
A voz que ouvia
Da força estranha e contida,
Os palavrões e choros
O dom reprimido na gaiola de um sonho de liberdade
Nada importa mais
Agora é apenas eu e o futuro
Os julgamentos e erros do passado
As escolhas e os grandes momentos
A lembrança torpe da gozada amada abraçada
O mundo que não acaba nem começa...
E...começa e acaba a toda hora?!
E essa nova vontade que, não, me, salva...
Agora é apenas eu e o futuro
Não importa essa dor nas costas
Nem o quanto eu possa estar enganado
Nem homem nem menino eu me raio
A esperança apenas espera
Será seu o seu o próximo destino
Tudo é mesmo só isso?
Agora é apenas o futuro e eu...
COISAS DO MUNDO
Caralho,
Que mundo é esse
Parei esses dias para pensar
Quanto batalha tem nesse lugar
As coisas vão mudar
Tudo vai dar certo
Toda mudança é o início de uma nova esperança
Um novo começo
Um ponto de partida
Coloque uma vírgula
Peça ajuda se sentir que precisa
Confie no cara lá de cima.
PROVÉRBIOS 4
Os obstáculos param seu caminho
Te fazem chorar e não te deixam andar
O conhecimento te dará o melhor lugar
Para andar, caminhar e não tropeçar
Deixe as coisas pesadas,
Leve coisas leves, na sua mala
Educação, bondade e solidariedade
São peças chaves
A iluminação do bondoso é a confiança
Dos maus a falta de perseverança
Queda que não cicatriza e te faz aflita
Quem sabe em quem confia, leva como sabedoria
Cuidado com os pensamentos,
Atrapalham seu destino e tiram seu combustível
Como o avião que tem seu radar,
Seu coração busca algo para se apegar
REI DOS REIS
Chegou e durou pouco
Um mais quatro vezes oito
Alguns acreditaram naquele louco
Contra tudo e a favor de todos
Por causa de Judas foi morto
Maltratado e chicoteado, morreu calado
Foi colocado do lado de dois salafrários
Um perdoado e outro debochado
Aonde está o corpo?
Pensaram que foi roubado
O véu está rasgado
Está vivo e é nosso advogado.
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