Coleção pessoal de Eliot

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⁠Pedido -

Dá-me um pouco de amor
que o silencio já não basta
leva tudo, leva a dor
por onde a vida me arrasta.

Dá-me um pouco de Lua
que a noite não é minha
a culpa não é tua
perdi a Alma que tinha.

Dá-me um pouco de vida
porque a morte vai chegar
levará, de mim, perdida,
a luz do meu olhar.

Dá-me um pouco de paz
ó Senhor da Cruz de pau
pois de mim o que será
se o meu caminho for mau!

Dá-me um pouco de esperança
p'ra vencer a solidão
que me tira a confiança
e me afunda o coração.

Ó Senhor dos meus cansaços
ó Senhor do meu Destino
toma sempre nos teus braços
cada passo do caminho.

⁠Vejo no teu rosto -

Hoje vejo no teu rosto
tanto tempo que passou
tanta vida que viveste
tanta esperança que secou!

Hoje vejo nos teus olhos
tanta raiva do passado
tantas culpas que carregas
e convivem lado a lado!

E quanta Morte; quanta Vida
nos habitam sem piedade
nesta loucura sentida!

Mas como o sonho é maior,
a solidão e a saudade
dão lugar ao nosso amor!

⁠Olhos de Silêncio -

Nos meus olhos de silencio
há dois ecos de saudade
dois martírios consagrados
pelo peso da idade ...

Nos meus dedos levo a culpa
dos amores que não toquei
e se a culpa me matasse,
estava morto, eu bem sei ...

E porque fomos mal-amados,
nunca fomos bons amores,
só Poetas ilibados ...

Mas "ser Poeta é ser mais alto!"
É ser dono das minhas dores
quando aos versos nunca falto!

⁠Ninguém me diga nada -

Hoje venho aqui falar da minha mágoa ...
Da ânsia que me esventra e consome ...
Ninguém me diga nada!
Ninguém a queira entender, porque nem eu,
tampouco, lhe dei nome ...
Esta amargura de onde vem?! Não sei! ...
Mágoa, vazio, solidão ...
Talvez uma euforia a que me dei ...
Dor e agonia de um pobre coração - sem chão!
Porque habita ela em mim se a desconheço?!...
Talvez seja o principio de um amor, ou talvez,
novamente, a revolta de ter nascido!
A tristeza de me ver perdido,
num corpo que passa,
num mundo que em nada, por nada,
me abraça! ...
Pode ser tudo e pode se nada!
Por isso afirmo mas não juro! ...
Viver assim é tudo da vida quanto sei .
E se nada mais me é dado saber,
resigno e não insisto.
E não me questionem!!!
Deixem-me fazer o meu papel de louco ...
Não fui nada! Não sou nada! Nunca serei nada!
Porem, muito me agrada ser, nesta angústia de
ser tão pouco ...

⁠Convento da Orada -

Em plena planície Alentejana
há um edifício antigo que se ergue.
A paz que da fachada ele emana
não deixa indiferente quem lá segue.

Há nele um aroma místico de paz
que atravessa a nossa caminhada,
nas várzeas da solitária Monsaraz
alevantasse o Convento da Orada.

Intimo, extenso, pesado mas profundo ...
No seu silencio escutam-se as vozes
de mil frades perdidos pelo mundo.

E passa o tempo, a vaidade, a solidão,
só não passam os olhos tristes e ferozes
de D. Nuno, junto à cruz, em oração.

⁠Por Semear -

Aqui estou!
Tombado e inútil
ao relento dos meus dias ...

Perdido e vazio
sobre as águas da vida
às margens de um rio
que o destino me deu!

Estou seco! Sem nada!

Não tenho sequer
o abraço de um silencio
ou o beijo d'uma esperança ...

Eu sou esse Porto por achar,
essa vida por viver,
essa terra por semear!

⁠À Mesa da Vida -

Hoje comi cansaços à mesa da vida
bebi silêncios de folha caída
esperei um amor que afinal já não vem!

Ontem a minha infância que triste memória
parecia distante, tão longe essa história
mas sinto-me só, dos seus olhos refém!

Trago no coração tanta mágoa perdida
trago a minh'Alma à mesa da vida
não vejo o caminho, não tenho ninguém!

Ai os meus sonhos são tristes e vagos
folhas caídas à margem dos lagos
o vento as levou e a vida também!

⁠Só Isto -

Será que vim ao mundo p'ra ser só isto?!
Um filho do vazio sem tecto nem chão ...
Ser confuso sem saber se resisto
até que a morte me queira dar a mão!

Será que vim ao mundo p'ra ser só isto?!
Alguém que nada tem e nada é ...
Pois sigo o meu caminho e persisto
embora tenha mais cansaço e menos Fé!

Será que vim ao mundo p'ra ser só isto?!
Este tormento inútil e infinito
de soluços que tenho por castigo?!

E nada pode ser o meu abrigo!
Ninguém consegue ouvir o quanto grito!
Será que vim ao mundo p'ra ser só isto?!

Porque choras coração
Porque cantas a chorar
Que retalhos de solidão
Andas tu a namorar?!

Porque teimas incerteza
Em aninhar-te no meu peito
Tu semeias a tristeza
Ao teu gosto e ao teu jeito.

Porque escorres solidão
Pela vida num olhar
Tu queres ter uma afeição
É só cantas a chorar.

Não insistas coração
Em bater tão magoado
Que afinal a solidão
É mais um verso do meu fado.

"Porque choras coração"
IN FADO

⁠Imagens Inventadas -

A minha voz já está gasta
e a minha vida refém
e há uma força que arrasta
o meu corpo também!

E sou despido de todas
as imagens inventadas
levo a vida sem forças
sobre águas passadas!

Tudo em mim é inútil
porque a dor é maior
estar num mundo tão fútil
pejado de dor!

⁠Grito na voz -

A noite chega de longe
e traz um grito na voz ...
Um lamento de onde?
Vem do Rio até à Foz!

E eu que vivo tão só
procuro um amor profundo
e oiço esse grito na voz
por entre as paredes do Mundo!

É um lamento constante
que me parece estar só
na noite, fria, distante ...

E quanto dói o coração,
quanto dói a nossa voz
quando se veste a solidão ...

⁠Assim -

Tenho sede de amor
tenho fome de ti
em meu corpo de dor
os teus olhos vesti.

E vesti amargura
plantei-a em mim
esperar-te é loucura
nesta fome sem fim.

E vesti o vazio
como a noite que chega
vou morrendo de frio
esteja eu onde esteja.

No meu corpo de dor
na verdade senti
tanta sede de amor
tanta fome de ti.

⁠Num dia de ninguém -

Da vida que me deram
sobrou pouco para mim
só os sonhos que não quiseram
e o que resta além do fim.

Tantas vidas, tantas calhas
sem amor nem coração
que só me deram as migalhas
caídas pelo chão ...

E eu sozinho nesta escola
mendigando caridade
fui vivendo só de esmola
com destino à saudade...

Mas num dia de ninguém
numa triste madrugada,
prometi: Serei alguém
com tão pouco ou mais que nada!

⁠A Vida é mentira -

Tenho o corpo cansado
tenho os olhos despidos
trago o rosto molhado
tantos sonhos perdidos.

Trago o peito vazio
trago sangue e solidão
trago sede, trago frio
por sentir esta paixão.

E trago nada na mão
por nada ter junto a mim
já nem sinto o coração
talvez seja o meu fim.

E porque a vida é vazia,
tudo dá e tudo tira,
num impulso despi-a,
porque a vida é mentira.

⁠Triste Confissão -

Estou cansado da loucura
de um sentir que grita em vão
no meu peito que amargura
já não bate o coração.

Já não pulsa o meu destino
só há dor, contradição,
chorem pedras do caminho
que sou filho da solidão.

Há tanta gente na rua
procurando o que virá
também eu vou de Alma nua
caminhando ao Deus dará.

E se um dia tu souberes
que eu parti p'la barra fora
chora tudo o que puderes
vou sentir-te a toda a hora.

⁠Sou Cadáver -

Sou cadáver de um Poeta
a quem parou o coração,
sem ter nada, sem ter meta,
a caminho da solidão.

Sou cadáver de mim mesmo
sem vontade nem opção
e as palavras que escrevemos
nunca hão-de ter razão.

Porque os mortos já não dormem
os mortos já não sonham
aos cadáveres já não doem
aqueles que os não amam.

E aqui estou sem querer estar
só já vivo p'ro que der
e a quem me quer consolar
digo sempre, sou cadáver.

Silêncio que me abraça -

⁠Vislumbrei o teu olhar
por entre dor e escuridão
mas o caminho p'ro tocar
só podia ser o coração.

Por ali a solidão
parecia não ter dono
perdi de vista o coração
fiquei só, ao abandono.

E minha vida hoje segue
como segue tanta vida
ora triste, ora alegre
ora aqui, ora perdida.

Também segue o desespero
que se aninha a quem amar
e as horas que te espero
custam muito a passar.

Até a vida já não passa
nem a morte é certeza
e o silencio que me abraça
é mais triste que a tristeza.

⁠Eu Nasci -

Eu nasci do silencio das nortadas
que se adensa pelos campos solitários,
das tormentas, aguaceiros, trovoadas,
das tristes badaladas dos velhos campanários.

Eu nasci daqueles que nunca morrem
mas convivem com a morte dia a dia,
do silencio daqueles que não dormem,
das mães que os filhos choram, da poesia.

Eu nasci do Sol-Poente que desponta
a cada dia, orgulhoso, sobre o mar
e se deita, sempre, sobre as águas a chorar.

E tanta madrugada que a Minh'Alma conta
em que na demência dos sentidos me perdi,
apodrecido, jaz no ventre de quem nasci.

⁠Ainda Espero -

Ainda espero por ti
numa cama de cetim
em lençóis de solidão,
a minha esperança vazia
a minha história tão fria
sem Alma nem coração.

Tantas rosas proibidas
tantas lágrimas perdidas
há na dor do meu olhar,
numa cama sem ternura
estão meus olhos de amargura
em teus olhos a bailar.

Estes versos são um grito
uma saudade que agito
como as ondas, mar revolto,
do que fui e já não sou
do que dei e já não dou
são um grito, um grito solto.

⁠Amor sem nome; amor sem rosto -


Um amor sem nome
um amor sem rosto
chegou e levou-me
o coração do corpo.

Um amor sem fé
um amor tão só
se é verdade ou não é
vou prende-lo a nó.

E estar só o que é?!
Condição ao nascer
que vestida de fé
termina ao morrer ...

E o amor passou-me
tão perto do corpo,
um amor sem nome
um amor sem rosto.