Coleção pessoal de Eliot

441 - 460 do total de 1083 pensamentos na coleção de Eliot

⁠Eu:

- ... dizes não me ver há muito tempo
pois eu esperava não te ver nunca mais!


P.S./ A uma quina do destino ao reencontrar fortuitamente alguém que dizia que me amava e partiu sem despedidas...

⁠Numa Pátria de Poetas Desterrados -

Numa Pátria de Poetas desterrados
só se vê deambular gente proscrita
corpos frios em pedra funda,
voz dorida, cor do fado,
assim vivem tantas vidas ...

Eu lamento ser desterrado
também eu gente proscrita
minha cruz é pedra funda
minha voz calou o fado
e até minh'Alma está perdida ...

Dizem que a vida não acaba!
Que é eterna e não tem fim!
Mas que mentira tão piedosa!
Pois há gente que nos mata
com palavras, de uma forma fabulosa...

É solene o meu cansaço
é pesado o meu lamento
dou à vida o que não tenho
pois no peso do que faço
está a morte de onde venho ...

⁠O meu Corpo é um Navio -

O meu corpo é um navio
que se arrasta nas marés
pelos mares sem ter frio
à deriva sem ter Fé.

Os meus olhos dois lamentos
dois cansaços que me assaltam
dois martirios, dois tormentos
duas velas que se apagam.

Num caminho sem destino
dei-me à vida sem pensar
tantas dores no caminho
tanto espinho em meu olhar.

O meu corpo é um fado
que está preso à tua imagem
meu destino está marcado
teu amor é uma miragem.

⁠Ontem -

Ontem a Morte que parecia só miragem
é hoje um campo de papoulas carmesim
é os passos de um romeiro em viagem
nos últimos dias que o encaminham para o fim.

Ontem a tristeza que parecia não ser nada
é hoje a roupa que carrego sobre o corpo
do silêncio que fica nas paredes desta casa
ou dos olhos que se fecham no teu rosto.

Ontem a vida que parecia tão real
é hoje um acto de vazio e contrição
é um eco de amargura, um eterno vendaval
porque o Ontem, afinal, já não volta à nossa mão.

⁠Solidão d'Abutre -

Minha voz traz um lamento
que hoje afundo em alto mar
e uma dor cresce no tempo
deixa a morte em seu lugar.

Que nem oiço a voz do vento
só já resta de mim pena
p'ra fugir deste tormento
vá a vida a morte venha.

No Tarot saiu a Torre
com um pássaro apeado
um Abutre que não morre
comendo outro depenado.

E quem fica que lhe ocorre?!
Nada vale o qu'inda tenha ...
Como a sorte é de quem morre
vá a vida a morte venha.

⁠Ódio Cansado e Liso -

Odeio a Vida que Deus me deu ...
E odeio a Deus porque ma deu
sem lha pedir!

Nem um sonho, nem um AI,
eu sem nada, despido,
feito de gritos e de espanto,
sem mãe nem pai.

Odeio a Vida que Deus me deu ...
E odeio a Deus porque ma deu
sem lha pedir!

Nem um beijo, nem um canto,
eu sem vida, cansado,
feito de espinhos e de pranto,
mal-amado, mal-amado!

Odeio a Vida que Deus me deu ...
E odeio a Deus porque ma deu
sem lha pedir!

Nem um toque, nem um corpo,
eu sem ti, que mendigo?!,
pôdre na terra, morto,
ódio cansado e liso!

Odeio a Vida que Deus me deu ...
E odeio a Deus porque ma deu
sem lha pedir!

⁠No meu Corpo há um lugar -

No meu corpo há um lugar
onde alegrias se aninharam
onde amores se encontraram
onde esperei o teu olhar.

E na loucura de te encontrar
dei o corpo a tantos cantos
chorei dores, chorei prantos
na distância o teu olhar.

Cortei os pulsos ao Sol-posto
não me lembro de o fazer
só me lembro de te ver
a palidez, rubra, no rosto.

Mas um dia quis morrer
na minha cama d'ilusão
e dei meu corpo à solidão
morri cansado de sofrer.

⁠Cama Vazia -

Quando os corpos se penetram
mas as Almas não se encontram
os corações, no peito, choram
e os olhos não se enxergam.

Quando as Almas não se enleiam
nesse instante de paixão
só há silencio e solidão
e até sentem que se odeiam.

Que a paixão é um caminho
mas não chega, sem amor,
cada um fica sózinho
em lençóis de linho e dor.

E a cama fica fria
mais fria fica a vida
fica a Alma em vão despida
em cada cama vazia.

⁠Por Instantes -

No meu corpo, por instantes,
visto as dores de quem vive
num doer que é constante
por um amor que nunca tive.

Bailam dores nos meus olhos
como as flores pelo vento
como espadas e abrolhos
baila em mim o pensamento.

E bailas tu no meu cansaço
baila a vida e a saudade
no vazio do meu regaço
bailo eu com a cidade.

E verás, quando algum dia,
tu souberes que eu parti
como até na terra fria
esperarei, amor, por ti ...

⁠Não vale a pena amar Ninguém -

Não vale a pena amar ninguém
porque ninguém nos ama a nós
quando afinal se ama alguém
ficamos sempre mais sós.

Quando damos o que temos
a quem por nós não sente nada
até da vida nos perdemos
na solidão de qualquer estrada.

Que importa morrer de amor
quando damos o que temos?!
Ficamos presos numa dor
e onde vamos não sabemos ...

E passa a noite e a madrugada
recordando os olhos de alguém
esse alguém que não sente nada
não vale a pena amar ninguém!

⁠Cadáver -

Já não tenho lágrimas nos meus olhos
excessivamente abertos
para aljofrar o cadáver podre da infância!

Esse morto que não morre
esse vazio que não enche
essa espada, esse abismo
essa faca de dois gumes
ferida que não sara
sangue que não estanca
dor, angustia e solidão ...

Já não tenho lágrimas nos meus olhos
excessivamente abertos
para aljofrar o cadáver podre da infância!

Esse poço de água suja
esse olhar que não desolha
essa terra de ninguém
esse aborto que apodrece
dor que gera dor
mentira que me enreda
pobre sombra desmaiada ...

Já não tenho lágrimas nos meus olhos
excessivamente abertos
para aljofrar o cadáver podre da infância!

Esse rosto sem ternura
esse corpo mutilado
esse olhar pesado e cego
esse filho indiferente
órfão de alegria
sem mãe nem pai
numa tumba sepultado ...

Já não tenho lágrimas nos meus olhos
excessivamente abertos
para aljofrar o cadáver podre da infância!

⁠Os meus olhos bebem Fado -

Os meus olhos bebem fado
e o meu corpo solidão
ai de mim preso ao passado;
levo a dor na minha mão
deste Sol que está cansado
de nascer em dia vão!

A minha boca bebe fado
nunca mais verei o dia
só há sombras a meu lado;
já não sinto alegria
sou um pássaro errado
na rota da poesia!

E nesse longe onde fiquei
num jardim abandonado
dei-me tanto que nem sei;
se o poeta ao meu lado
foi verdade ou se o sonhei ...
A minha Alma bebe Fado!

Sou afilhado da Morte
Vizinho do desalento
Filho do cansaço
Enteado da solidão ...
Fui criado pela poesia
Rejeitado pelo amor
E sou pássaro sem ninho
Sou pedinte sem pão ...
E estas dores?!
Porque as tenho?!
Porque mas dão?! ...

Campo de Batalha -

⁠Sou um campo de batalha
onde a contenda é travada
e o meu corpo é a mortalha
de uma guerra inacabada!

Um sou eu desde que nasci
com um peso sem idade
outro o Poeta que recebi
e me castra a liberdade!

Dois que em não se entendiam
num confronto imortal
dois que em mim não percebiam
o quanto o corpo era mortal!

E como a lava de um vulcão
ou a cinza da lareira
resta nada e solidão
junto à minha cabeceira!

DIREI À MINHA LINHAGEM:

Jamais aceitem ruas, praças
Ou avenidas com meu nome.

Não queiram bustos e estátuas
Em jardins ou mesas de café.
Fujam de homenagens e medalhas
de metal. Tudo é vão!...

Em vida nunca me quiseram!
Depois de morto sou eu quem
Os não quer! E se assim não for,
Será apenas o meu nome
Ou o meu rosto que usarão ...

O Poeta não estará nessa mentira!

⁠Quando Passo entre as Gentes -

Quando passo entre as gentes
essa gente que não sente
quanto dói meu coração;
sinto o peso do Passado
como alguém que é exilado
no silencio em solidão.

Quando passo entre as gentes
sinto em mim que novamente
me condenam sem ter fim;
eu sou eu e hei-de ser
nunca me vão entender
por ser eu por ser assim.

Não é fácil ser quem sou
eu nem sei porque me dou
a quem tão perto não me sente;
visto a cor da solidão
como a dor de uma prisão
quando passo entre as gentes.

⁠Triste Fim -

Quando um dia a minha dor
já não for p'ra ti amor
um motivo p'ra pensar;
quero em ti adormecer
quero em ti poder morrer
digo adeus, parto a chorar!

Mas eu não posso partir
sem pensar no que há-de vir
lá longe dentro de mim;
é partir, é não te ver
nunca mais por ti sofrer
é p'ra nós um triste fim!

Numa tarde em que chovia
não era noite, era dia
alguém te disse que eu morri;
um do outro longe enfim
vais saber que mesmo assim
'inda espero, amor, por ti!

⁠Ai meu Amor -

Se o partir for
como te amar
ai meu amor
não me deixes abalar!

Se o morrer for
como adormecer
ai meu amor
como eu quero morrer!

E se o viver for
como acordar
ai meu amor
eu não quero voltar!

⁠Ao Acaso dos Sentidos -

Com a faca dos sentidos
faço um buraco no tempo
e dos sonhos esquecidos
nasce a dor do pensamento.

Há tantos corpos fechados
acrisolados no medo
tantos homens desterrados
por guardarem segredos.

Há tantos olhos de pedra
chorando lágrimas de cal
num silencio quem dera
fossem lágrimas de Portugal.

Há gente morrendo ao frio
com tantas facas por dentro
e alguém se atira ao rio
por viver no esquecimento.

Minha faca já não rasga
a raiz da solidão
a vontade já está gasta
e até eu já sou em vão.

Como silêncio que se aborta
há um tormento na voz
há uma faca que corta
e nos separa de nós.

⁠Quando o Amor Acontece -

Quando o Amor nos acontece
damos à vida outra vida;
o coração o reconhece
e a vida até parece
não passar tão de fugida.

Quem não ama não entende
que o amor é coisa rara;
e ai de quem nunca pretende
numa estrada que se estende
dar à vida mais que nada.

Mas quem espera sempre alcança
vai-se a dor e o quebranto;
e ai dos olhos de quem ama
quando o nosso nome chama
traz um brilho no encanto.

Quando a vida até parece
ser eterna despedida;
eis que alguém nos aparece
eis que o amor nos acontece
damos à vida outra vida.