Coleção pessoal de Eliot

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⁠De Noite -

Para lá do ponto sem retorno,
no último espasmo de silencio,
- quem podemos encontrar?!

Enleado em teias e lamentos
há solidão de afectos
que trepa sentimentos
como hera em pedra fria!

E há rosas entre silvas,
há perfumes pelo ar!
A luz do dia, a luz da vida
esbate o corpo, banha o mar!

Cai a tarde, vem a morte
chega a noite e tudo mói
fecha-se-me a Alma ...
... eis quando a solidão mais dói!

⁠A Força do Cão -

Esse cão que era vadio desprezado pelo mundo
rejeitado pelas gentes, cresceu, fez silencio,
triunfou ...

Foi além do que é pensável,
nada previa esse destino
foi além do que é possível
trilhou o seu caminho!

À margem da matilha que o pariu e rejeitou,
foi um cão diferente, sem regras nem tratados!

E foi condenado ... abolido ... rejeitado ...

Mas o ódio que o cercou foi a força que o levou
a ser hoje um cão de raça com aplausos e ancores!

Palcos, mentiras, ilusões ...

Que falsas soam as palavras que lhe dizem ...
Na verdade são os mesmos!
Agora que os atenta reconhece-lhes os olhos ...
Só que antes não o queriam, agora,
invejam o seu corpo!
Mas ele é o mesmo cão maricas que não
sabia ir à caça nem queria acasalar!

Afinal o que mudou?! ...

Querem aproveitar-se do carisma que ele tem,
do sucesso onde chegou!

Mas o ódio, a raiva e a solidão
que lhe deram tantas vezes,
puseram-lhe nos olhos a Força do Cão!!!!

Um passarinho viu Jesus
No alto da Cruz ...
Voou para lhe tirar um espinho,
Partiu a asa, caiu ...
Do alto da cruz, Jesus soprou,
O passarinho voou, e Ele, expirou!

⁠Amor e Solidão -

Na minha voz há um segredo
que não conto por ter medo
que não conto por te amar;
meu amor não é vaidade
meu amor é da saudade
que trago em mim do teu olhar.

No meu corpo há um cansaço
uma dor que quando passo
ninguém fica indiferente;
uma dor que se desprende
que ali mesmo até se prende
ao olhar de toda a gente!

No meu peito vai o teu rosto
na minha boca o teu gosto
levo em mim esta paixão;
nosso amor que se perdia
ao sabor de um triste dia
não foi amor, foi solidão.

⁠Estranho Contraste -

DIÁLOGO:

Celeste Rodrigues:

" - ( ...) e você sabe como eu tenho medo de morrer não é?!

Eu:

- Que estranho Celeste! A Celeste tem tanto medo de morrer, e eu, tanto medo de viver ...

Celeste Rodrigues:

" - Quem me dera ter agora a sua idade!!!"

Eu:

- E eu a sua Celeste! E eu a sua!!! ...

⁠Porque foges meu Amor -

Porque foges meu amor
aos braços desta paixão
e me deixas ao sabor
dos ventos da solidão?!
Porque foges meu amor
aos braços desta paixão!

Porque dizes meu amor
o nosso amor está cansado
que preferes esta dor
sofrer num quarto fechado?!
Porque dizes meu amor
o nosso amor está cansado!

Meu amor se tu soubesses
perder-te eu já não suporto
porque foges; não aqueces
o frio que veste o meu corpo?!
Meu amor se tu soubesses
o frio que eu levo no corpo!

Eu preciso de te ver
amor não sejas ruím
eu preciso de saber
se ainda gostas de mim!
Eu preciso de saber
amor, amor se é o fim ...

⁠Não se prendam à minha imagem.
Ela é uma mera "carcaça" que o tempo
se irá encarregar de apodrecer.
Leiam antes os meus versos.
É neles que íntima e verdadeiramente me podem encontrar ...

⁠Renúncia -

Num jardim abandonado
plantei dores, nasceu fado
entre espinhos e abrolhos;
tu partiste, meu amor
reguei teu corpo, na dor
com a água dos meus olhos!

Não consigo adormecer
como é que posso esquecer
que a ti me dei por inteiro;
mas não me quero lembrar
que à noite canto a chorar
sinto falta do teu cheiro!

Terás dor no teu olhar
quando me vires passar
pisando o teu coração;
que até as pedras da rua
sabem que a culpa é só tua
p'lo fim da nossa paixão!

E quando a morte chegar
talvez te possas lembrar
dos meus olhos sem destino;
já não terás os meus braços
e no vazio dos meus passos
seguirei outro caminho!

⁠Na Capela da Casa do Outeiro -

Na Capela da Casa do Outeiro
há uma coisa que é de véras singular,
uma Virgem, no altar, emana o cheiro
d'uma rosa, que alguém está prestes a cortar!

Do outro lado, o Senhor Jesus dos Passos
veste o roxo d'um lírio, pelo campo,
que à deriva, a cada canto, dá abraços,
a quem, como Ele, traz nos olhos dor e espanto!

Ao alto, numa tela, está o Senhor dos Martyrios
que imponente, na parede, dá a bênção,
iluminado no altar, pela graça de dois cyrios!

Na mesa, ao centro, está Jesus Crucificado
numa profunda e imensa solidão,
pendurado numa Cruz, triste, só e abandonado!

⁠Não quero mais -

Não quero mais do que a minha solidão
não quero mais do que é possível conhecer
os versos de que me alimento, como pão,
não quero mais do que é possível entender!

Não quero mais do que a vida pode dar
não quero mais do que tenho dentro em mim
só aquilo que o tempo a cada dia vai tirar
não quero mais do que fugir de um triste fim!

Não quero mais do que passar pela vida indiferente
não quero que falem ou digam - "está a mais!"
quero que saibam que de todos fui diferente,
tal desprezo, já não quero, não quero mais!

⁠Ruínas -

Deixo nestas folhas
a demencia da minh'Alma
paisagens adornadas
numa fúria que me acalma.

Deixo em cada linha
angustia, dor e solidão ...
Que essa furia de onde vinha
não trazia salvação.

Que tristeza tão profunda
em meus olhos solitários
como o choro quando inunda
o perfil de tantos lábios.

Cada um é um fantasma
de uma vida inventada
tanta gente que tem asma
que não diz que é mal-amada.

Ver na vida e na morte
a verdade deste mundo
é fazer de cada sorte
um diálogo profundo.

Os versos d'um Poema
dão forma ao seu corpo
linha a linha nesse tema
vai um sonho que está morto.

E essa Gente que os lê
que anda triste, aos caidos
não lhes sente nem lhes vê
a demência nos sentidos.

Ser Poeta é cansaço
é ter tristeza na mão
é criança sem regaço
um fruto podre no chão.

O Poeta não se entende
nem entende a solidão
solidão que não o vence
nem lhe dá qualquer razão.

O Poeta é Outono
é Inverno e amargura
nem a vida nem o sono
lhe tiram a loucura.

Ele sabe que o caminho
não é para os Profetas
segue veredas sem destino
como todos os ascetas.

Em diários de Poesia
seguem Rosas -de- Sangue
seguem noites sem dia
palavras de amante.

Coitado do Poeta
que chora dor aos molhos
até parece que uma seta
atravessa os seus olhos.

Poesia não é vida
Poesia não é Sorte
Poesia é dor perdida
nos braços frios da morte.

São penas d'Avezinhas
encadeadas de rimas
são pessoas, "coitadinhas"
que só vivem de RUÍNAS!

⁠Desabafo Profundo -

Passam dias que não vejo
o horizonte!
Passam horas que não sinto
a Luz da vida!
Não vejo quem me entenda
nem aceite ...

Que triste ser eu!
Eu por mim. Eu sozinho.
De mim a mim ...
Do berço até aqui,
daqui até à cova!
Minha angustia tão velha,
tão nova!
Tão perto e distante
daquela hora fria
em que nasci!

Levo aos ombros solidão,
o peso do Passado ...
Visto dor, culpas e cansaços;
levo pragas e lamentos
no silencio dos meus braços.

Meus olhos calados
num rosto adormecido
ausentes, fechados
num destino perdido!

Ninguém vê, ninguém sente,
ninguém, ninguém ...
E como dói este desdém!

Quando um dia eu morrer
terão pena, é verdade
mas nunca irão entender
o porquê de eu não saber
ser mais forte que a saudade!

Os mais iluminados
Estão pra lá deste mundo
E pensam que não fazem cá falta ...
Porque são tão fatalistas?!
Tem que ser assim?

⁠Adeus Mãe -

Adeus mãe, quero morrer
vou partir p'ra qualquer parte
vou-me embora p'ra esquecer!
Vou aonde?! Ninguém sabe!

Vou além do que é possivel
adeus mãe, quero morrer
este mundo é invisivel
quero dele me perder!

Nunca soube onde viver
nada fui e nada sou
adeus mãe, quero morrer
não sei bem aonde vou!

Já não quero o amanhã
o amanhã faz-me sofrer
minha vida foi tão estranha
adeus mãe, quero morrer!

⁠Estou de Volta -

Estou de volta!
Não sei se alguma vez parti ...
Estou de volta!
Fui amado, esquecido, fugi ...
Estou de volta!
No silencio das tardes
transparentes que perdi ...
Estou de volta!
Nem sei o que senti ...
Entre quatro paredes densas
numa eterna e profunda solidão,
estou de volta, mas morri!

⁠A Morte -

A morte é um campo de alfazema e alecrim,
um canteiro d'açucenas, rosas brancas,
traz um cheiro de malvasia e jasmim,
pairando triste de amargura, sobre as campas!

A morte é um anjo que esvoaça pelos Céus,
é um lírio, é um grito de vingança,
é a porta que nos leva um dia a Deus,
o silencio d'um adulto ou um choro de criança!

A morte é o claustro denso d'um convento,
a tela d'um pintor, pintada ou em branco,
o espaço que viaja, cada átomo do tempo,
é a pauta que se lê e dá suporte ao canto!

A morte é apenas o silencio da passagem,
destino que nos espera, ali, mais adiante,
todos a seu tempo, não é miragem,
verdade que nos despe, mais perto ou mais distante!

⁠Sombras Aflitas -

Trago o meu olhar vazio
no vazio da solidão
trago o destino marcado
e o meu corpo cansado
sem Alma nem Coração.

Peço à Vida coragem
peço à Vida mais Vida
que a luz do meu olhar
tal como as ondas do mar
por mim passa de corrida.

Na ausência do meu quarto
no silêncio desta cama
nas palavras que me gritas
entre sombras aflitas
está a dor de quem te ama.

Ponho os olhos no teu corpo
é um sonho, não me iludo,
tantas horas paradas
em palavras esmagadas
que me deixam quase mudo.

⁠Saudade que Agito -

Foste embora e morri
dia a dia não te vi
que triste é a nossa vida;
e na saudade que agito
a minh'Alma num grito
pede à vida outra vida!

Mas este canto na voz
não me deixa ficar a sós
e vai falando de ti;
coração do meu coração
que me grita em solidão
no mais calado de mim!

Nos poemas que cantei
quantas horas te esperei
só eu sei o que sofri;
contra ti e contra a vida
contra a dor da despedida
foste embora e morri!

⁠Eu:

- ... dizes não me ver há muito tempo
pois eu esperava não te ver nunca mais!


P.S./ A uma quina do destino ao reencontrar fortuitamente alguém que dizia que me amava e partiu sem despedidas...

⁠Numa Pátria de Poetas Desterrados -

Numa Pátria de Poetas desterrados
só se vê deambular gente proscrita
corpos frios em pedra funda,
voz dorida, cor do fado,
assim vivem tantas vidas ...

Eu lamento ser desterrado
também eu gente proscrita
minha cruz é pedra funda
minha voz calou o fado
e até minh'Alma está perdida ...

Dizem que a vida não acaba!
Que é eterna e não tem fim!
Mas que mentira tão piedosa!
Pois há gente que nos mata
com palavras, de uma forma fabulosa...

É solene o meu cansaço
é pesado o meu lamento
dou à vida o que não tenho
pois no peso do que faço
está a morte de onde venho ...