⁠Auto do desencontro - Quando o meu... Ricardo Maria Louro

⁠Auto do desencontro -

Quando o meu amor chegar,
se chegar e eu já tiver morrido,
esse alguém há-de amar
como se eu nunca tivesse existido!
Que talvez nem por mim sofra!
E como poderá sofrer se chegar
e eu já tiver partido?!
Destinado a encontrar tudo vazio ...
... de mim ... sem mim ...
Absorto! Alguém sem rosto, cujo corpo,
é morto!
Na verdade alegro-me por sentir que a
minha morte não traz pena!

Se eu morresse agora e soubesse
que chegavas amanhã,
partia sem demora,
só por saber que chegarias
e que meus versos se cumpriam!
Hoje morreria ...
Tu chegavas depois de hoje ...
Depois de amanhã nada acontecia ...
Tudo estático, igual, como sempre,
como dantes.

Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah ...
Deixem-me rir desta sequência ...
Ela foi a minha vida ... nua e crua ...
Para mim sempre se fez gente ...
Sempre se fez rua ...
Alguém bate à minha porta ...
Que faço?!
Acabo os versos?! Abro a porta?!
Ou adormeço simplesmente?!

Se acabar os versos quem bate à porta
pode partir ...
Se abro a porta quem sabe o que será?!
O tal Amor? A Morte? ...
Se for amor, não acabo os versos e a´
minh'Alma não se cumpre!
Se for a Morte, os versos serão cumpridos
mas p'ra sempre inacabados ...
Que faço?! Que faço?!

Alguém abriu a porta ...
Vou voltar-me para trás.
Se for o vento terminarei os versos
e o meu ser estará completo.
Se não os acabar sabereis que encontrei
o tal amor

ou

a Morte,
a Morte,
a Morte ...