Ricardo Maria Louro

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⁠Prece de Ricardo Maria Louro -

Senhor, chegou a noite inquieta e hostil
e só deixou em nós os restos da vontade.
Senhor, chegou a noite e a dor é vil,
tanta é a dor e a tormenta, a saudade.

Mas há ainda uma esperança, não findou!
Que desperte. Adormecida está a Alma!
A chama não é morta, apenas se ocultou ...
Senhor, chegou a noite e a dor é calma ...

A verdade é nevoeiro, é impulso,
e Portugal é chama sem aragem,
nevoeiro sem verdade, apenas luto!
Chegou a noite e Portugal é só miragem ...

Senhor, acorda as naus que pairam sobre as águas,
desperta a Alma desta Pátria em vão dormida,
as velas e os mastros, as proas dissecadas ...
Senhor, minha Terra é uma noite perdida!

Inserida por Eliot

⁠Ferida Aberta -

Trago uma Vida marcada
a sangrar dentro do peito,
trago uma Vida traçada
por um destino sem jeito!

Ai prantos, dores, lamentos,
delírios, sonhos no peito,
ai em mim doce tormento
desde a rua até ao leito!

Desde o leito até à morte
desde a Alma até ao corpo,
ai minha Vida sem sorte
e tua sorte em estar morto!

Na minha cama de nada
sangra dentro o meu peito,
a minha Vida marcada
por um destino sem jeito!

Sem jeito é o tormento
que arrefece o nosso leito,
o teu louco afastamento
ferida aberta no meu peito!

Inserida por Eliot

⁠Regresso à Solidão -

Vou alto! Tão alto!
Quão alto me encontro!
Pela Vida, sem asfalto,
poeta vivo, poeta morto ...

E batem palmas
aos versos que me rasgam ...
Tantas, tantas Almas
que me escutam e aclamam!

E por instantes, não estou só,
instante que será breve,
tão breve que dá dó!

Súbito, viram costas, fica nada,
e eu, novamente só,
que dó, regresso a casa ...

Inserida por Eliot

⁠Cristo Oculto -

Não consigo sequer lembrar
quantas vezes de esperança perdida,
só, queria morrer, morrer e matar
a minha Alma vencida ...

E aguardava ... o momento iria chegar!
O fundo do poço, o fundo da Vida,
aí, onde iria morar,
casa sem tecto, esperança tolhida ...

Mas eis quando percebia
que estava seguro
por algo que não via mas sentia ...

Suspenso no ar por duas mãos
(dois braços abertos, um coração)
penduradas por dois pregos!

Inserida por Eliot

⁠Aquém e Além Morto -

Há em mim
um vazio oblíquo,
sufocante ...
E tudo tão igual, em torno,
em redor ...
Eu tão louco, tão constante
no rasgar da minha dor!
Interrogo-a! Não responde!
E escorre-me um ardor ...
Um calor! Um calor!
Procurar a Vida? Onde?! Onde?!
Calçadas, ruas e vielas,
tudo ausente, tão longe,
tão distante.
E tudo passa em surdina ... tudo!
Nada há. Só silêncio.
Como eu. Calado.
E meu corpo é marcado!
Agruras e lamentos,
estradas sem destino,
cujo o destino é o nada.
Sou eu! Absorto!
Minha pobre e velha estrada!
Meu lívido abandono, sombrio,
meu destino, tão frio,
de aquém e além-morto!

Inserida por Eliot

⁠Avenida -

Percorro passo a passo
a avenida da solidão!
Estou só, tão só
no meu cansaço,
que deixo pelo chão,
pedra a pedra, num abraço,
o meu malogrado coração ...
E porque me terá a morte
tão esquecido?! ...
Que esta Vida é triste sorte,
e minha morte,
é na vida estar vencido!
Tão perdido! Tão perdido!
Sem norte! Sem sentido!
Na minha solidão,
na minha loucura,
pela avenida, passo a passo,
deixo triste o coração ...
Lastro de um pecado,
de um erro sem perdão!

Inserida por Eliot

⁠Retrospectiva -

Alembro-me senti-la, inquietante,
era pequeno, mal me via,
mas era já poeta, errante!
Era linda minha Alma - e sorria ...
Depois, pela vida fui crescendo,
junto a uma cova a vi rezando,
sua história, antiga, sepultada,
tanto tempo, ainda assim,
a vi chorando, chorando ...
Fui crecendo, crescendo,
e ela, triste, infeliz, sem nada!
Na juventude dos dias, como herança,
morrendo, morrendo ...
Pobre, infeliz e desgraçada,
uma criança, uma criança!
Aos pés de Deus ajoelhada
pedindo termo p'ró tormento!
Mas só em ataúde fechada
um dia finda o sofrimento,
acreditava!
Breves dias, longas noites ...
Em que as noites eram dias
e os dias tristes noites!
Pobre fado! Pobre fado! ...
Flor doce e desfolhada,
poeta, apenas, mais nada!
A sorrir na vida entrei,
sofrendo, austero a caminhei,
mas sei, sorrindo a deixarei ...
Porque à hora de partir
terei no fim a liberdade
que nunca nesta vida encontrei ...

Inserida por Eliot

⁠Canta Fadista, Canta -

Canta fadista, canta
que o teu canto é solidão,
põe a Alma na garganta
e a garganta no Coração ...

Que o fado na garganta
sangra a Alma em solidão,
canta fadista, canta
que esse canto é oração ...

Fado é solidão, canto peregrino,
uma Alma noutra Alma
é fado, é destino!

Destino ou maldição,
canta fadista, canta
que o teu canto é oração!

Inserida por Eliot

⁠Os Astros -

Dos Astros o movimento
é a força do meu andar
é saber deste meu tempo
tempo de estar e não estar!

Roda que roda no espaço
lastro d'um Astro a passar
no cansaço do que faço
só faço por me encontrar!

Encontro, perco, reencontro,
começo, termino e recomeço ...
Eis a caminhada, grau-a-grau, ponto-a-ponto!

E passa um Astro e outro Astro
para tudo o que me acontece,
tudo vai e tudo vem, só minh'Alma permanece ...

Inserida por Eliot

⁠Abnegação -

Como podes tu, ó oportuno amor,
querer viver arreigado no meu peito?! ...
Não me queiras, sou chama sem calor,
casa sem família, solidão sem leito ...

Vai p'ra longe! Foge do meu corpo!
Procura taças que te inflamem, ó eterna formosura,
não meu corpo que JAZ morto,
que vive e acaricia a desventura ...

Vai enquanto é tempo, ainda,
procura um peito de címbalos doirados
que te expanda e deixe de LOUROS coroado!

Que eu sou vitima do Fado! E em mim,
rodeado de insípidos tormentos, só há cardos,
volupias, agonias e lamentos ...

Inserida por Eliot

⁠Objectivo sem Meta -

Um dia chorarei a solidão
como alguém que se regozija e alegra,
cantarei a dor do coração
como um mal que já não pesa ...

E serei verso inacabado
que termina e não acalma,
serei um passaro alado
que dissolve a própria Alma ...

Casas e vielas, serras e arvoredos,
poetas, fados, flores e montanhas ...
Tudo em mim! Já sem medos!

Mas estou só neste sentir!
E junto a mim, só há lodo, cinza e lama,
cinza, lodo, pó e chama!

Inserida por Eliot

⁠Constatação -

Deixei a Alma na fonte
esquecida à meia Luz
esperando o teu adeus
como um Cristo no monte
no alto daquela cruz.

Deixei a Alma enterrada
entre escolhos, desventuras,
tristes, negras palavras,
- de mortos -, negras viúvas
carpindo nas sepulturas.

Trago a vida destroçada
como um grito em noite escura,
que a Alma, doce, pressentida
trazia a vida mal-amada
num Fado de despedida.


P.S.) Meu caminho é por mim,
em mim e até mim, de mim a mim ...

Inserida por Eliot

Alma -

⁠Sou Alma sinuosa
de cal e madrugada
de lirios, alabastros
camélia cor-de-cravo
terna, doce, imaculada!

De alfazema e alecrim
sou jaspe de tristeza
cansaços de poeta
sou fado de cetim
cabelo negro pelas costas!

Sou Alma, sou amêndoa
sou loucura, coração,
sou garça, corpo esguio,
sou ausência e lamento
sou eu a solidão!

Inserida por Eliot

⁠Destinos Cruzados -

Procurei-te sem descanso pelas tardes dolorosas,
por cantos, recantos e vielas,
procurei-te no cair das esperanças amorosas,
ao vê-las desmaiar do alto das janelas!

Procurei-te recolhido nas noites tenebrosas
que ondulavam de agonias meu quebranto,
procurei-te loucamente nas auroras graciosas
cobertas de alegrias e de espanto!

E nunca ... nunca te encontrei!
Meus olhos frios como espadas
não sabiam o que hoje sei ...

Afinal, também me procuravas,
no chegar das noites orvalhadas,
no cair das tardes luminosas ...

Inserida por Eliot

⁠A Alma e a Noite -

Mais um dia cumprido!
O Sol findou no horizonte poente
dos meus ais...
E a noite vai nascendo!
Voo de sombra doce, brava, silenciosa ...
Hora de medo e espanto ...
Mudez falada, esperança vã, tremor,
agonia, quebranto ...
E baixo os braços, inclino o rosto,
meu corpo de cansaços, feito de versos,
de rastos, procura a Alma sem descanso.
Mas só resta espasmo e quimera, saudade
e solidão ...
E a Alma ... e a noite ... adensam-se!
E pesa a vida... e ruge a morte ... e as gentes!
Presença intangível ... devaneio e desgraça!
Frio e remorso ferem-me os sentidos,
gritam em silêncio no eco desta praça ...

Inserida por Eliot

⁠Inesperado -

(Revendo alguém a quem amei...)

Entrei!
E à margem da esperança
estavas tu - sem mim...
Alguém a quem amei!
Fui ... passei ...
Fingi que não notei!
Sim. Amanhã talvez já seja tarde.
Mas hoje è cedo demais - ainda ...
Como te posso perdoar?
Esse asilo infame,
despojado ao abandono
a que me condenaste!!!
Eu quero! Mas não posso - ainda ...
E cai o muro da nossa Història.
E meus dias, breves,
fogem pelos dedos, como agora.
Esta hora ...
Este agora em que também estás,
mas que, breve, tão breve, findará ...
Fomos breves! Somos breves!
Mas é longo este breve exacto ...
Dois impossíveis que somos.
Sim. Amanhã talvez já seja tarde,
mas não esperes,
pois nunca pedirei ao teu Amor
que me aguarde ...

Inserida por Eliot

⁠Inscrição Duvidosa -

Sinto a Alma triste, embriagada
de um balsamo tenso e sem vida,
minha vida ao tormento vai rasgada,
vai oculta, rasgada e perdida,
dia, noite e madrugada!

Há dias que me enchem, que me vivem
de solidões lacústres e ardentes,
vozes tristes que me dizem:
" não almejes ò mortal o que não sentes!"
Velhas vozes do restelo que ainda nos maldizem!

E quando a morte me trouxer esse momento,
o de dormir sem saber onde acordar,
que não haja em meu ser ressentimento,
que não haja ao pè de mim triste-chorar,
que haja apenas liberdade e esquecinento ...

Não quero ao pè de mim ninguèm fingindo
que a dor lhe assalta a Alma ou o Pensamento,
quero gente ao pè de mim cantando e sorrindo,
num puro, sagrado e eterno sentimento!
Que eu me irei ao ceu, subindo ... subindo ...

Quero-me ir em silêncio ao marmore jazigo,
sem prantos, sem dores ou lamentos,
quero ir, contigo, a meu lado, dormido
em panos d'oiro e carmezim de cantos ...
Não abandones, meu amor, este meu sonho antigo!

Que a morte me leve a sòs sem ninguèm ver,
que nada me perssiga, nem pena nem adeus,
quero deitar-me no leito e adormecer,
rasgar a vida, morrer, subir aos cèus,
sem dor, silvas ou tormentos padecer!

Pois fiz da vida uma busca e fui aborto,
procurei saber e percorrer o meu caminho,
mas fui Alma que viveu alèm do corpo,
um fado, um poema, um destino,
triste sombrio e absorto ...

Sempre quis que a morte ao vir a mim
encontrasse alguèm sabido em liberdade,
procurei, estive aqui, disse não e disse sim,
pr'a que a morte à hora da verdade,
não viesse matar um morto ... e foi assim!

Inserida por Eliot

⁠Gostar -

Gosto de ti porque gosto,
como daqui até ai
ou dai atè ao Ceu
ou do Ceu atè ao mar
ou do mar atè ao fundo ...
Gosto de ti, simplesmente,
assim! ...
Sem principio nem fim ...

Inserida por Eliot

⁠Poemeta -

Quando eu nasci nada de novo aconteceu ...
Tudo compassado, inerte, tão igual!
Quando cheguei e vi - que vi eu? - nada! -
nada em especial, sò eu, de novo, chegado ...
Os vivos nao morreram, os mortos nao viveram,
nao houve chuvas nem vendavais ...
Foi tudo tão igual. E que destino será o meu? Pensei!
Até minha mae, àspera, disse:
"Já está! Nasceu!"
E eu que cheguei, lá fui, indo, solitário
ao Deus dará ...

⁠Fonte Cerrada - Maria -

Aquela gota de água que caia
deslizava serena como a tarde
dos olhos tristes de Maria
num Cálvario de saudade ...

Fonte que ninguém buscava,
água que ninguém bebia,
gota humilde que passava,
gota leve que caia ...

Cerrada fonte, sò e triste,
gota breve que jorrava,
solidão, somente, que persiste,
toda a gente se afastava ...

Fonte aguada d'olhar triste,
água pura, noute e dia,
gota fria que não viste
nos olhos tristes de Maria ...

Inserida por Eliot

⁠Recado -

Não queiras definir a vida,
subjectiva, indefinivel
em secreta mutação ...
Fechada num sonho ou ilusão,
não dá fruto!
Não lhe peças demais!
O que lhe queres está em ti!
Tu que a transfiguras ...
O a mais é nada! São mortos!
Rua pobre que habita a Alma ...
Pobre rua que habita os corpos ...

⁠Encontro Improvável -

O Fogo a Água e a Oportunidade
encontraram-se a um canto da Vida,
numa curva do Destino ...
A Oportunidade quis saber de onde vinham
o Fogo e a Água.
O Fogo afirmou vir das grandes guerras,
dos vulcões intensos, das quentes labaredas,
e até, da ponta de um fosforo!
A Água, por sua vez, respondeu, dizendo,
que vinha dos grandes mares,
dos curtos e longos rios, da chuva, e até,
da lágrima fria que escorre o rosto de toda a gente ...
E Tu Oportunidade?!! Perguntaram o Fogo e a Água.
Ela respondeu que também vinha de vários lugares.
Da Vida e do sucesso, de um Poeta, de uma Glória.
Contudo, uma diferença havia,
disse a Oportunidade, é que às vezes passo
e já não torno a passar ...

⁠Eu o Natal e o Tejo -

E hoje, aqui, só, frente ao Tejo,
nesta noite de Natal, pela madrugada,
encontro-me na Vida como sempre estive
e nela me senti - deserdado!
Triste, só e solitário. Sepultado ...
Vulto desgarrado, absorto e sombrio,
doente desenganado, pela esperança vagueando,
escorrido de ilusão, sem mãe nem pai,
filho das ervas, do pó dos mortos que morreram,
da terra e da angustia cilindrada.
Sem Pátria nem família, sem casa nem leito,
sem colo onde me acoite ou chão onde pisar.
Esta noite é mais longa do que outras. Do que todas!
Porque hoje não há nada! Nada! Só eu! Só!
Eu, o Tejo, a ponte e o Cristo Rei...
Tudo estático, incólume, parado.
Menos eu que desabei a última ilusão!
Matei a família que inventei. Virei costas à infância.
Sou órfão! Sou órfão! Mas quando é que o não fui?!
Se calhar no ventre de minha mãe ... e só aí ...
Único tempo de aconchego que tive alguma vez.
Não dado por ela mas pela sábia natureza ...
Haverá em toda a parte famílias reunidas!
Haverá braços estendidos, corações quentes,
lareiras à arder, sorrisos rasgados ...
... porque é Natal … porque é Natal!
Em mim e para mim já não há nada! Nada!
Só a Noite deslumbrante e o silêncio dos ausentes.
Minha família reunida ... é feliz ... sem mim ... sem mim!
Nunca me encaixei no seu destino!
Porque o meu nunca foi o seu destino
ou o deles foi o meu! Triste desencontro, o nosso ...
Não sei de onde sou, não sei afinal quem sou,
só sei que não sou dali, que não sou o que eles dizem!
Posso não ter nada mas tenho-me a mim,
e a Deus, e aos meus versos,
e ao meu destino que o deles não será! Por certo!
O que já é quanto me baste! Sou livre ... ao menos...
E Tu,Tejo das minhas ilusões que hoje me aconchegas,
leva este Natal ... afoga-o no mar!
Que eu, querendo ser alguma coisa, não fui nada!
Só aquilo que nunca pensei ser. Ironias e cansaços ...
E já foi muito ... já fui muito!
Agora não sou nada ... e já nada quero ser!
Só eu! Simplesmente! Assim ...
Porque nada ser (e aceita-lo) é poder e querer ser tudo!
Mas serei apenas o meu sonho! Já me chega! É ser muito!
Ser aqui e ser ali o que nunca irei ser
é ser muito ... é ser muito!
Não devia ter nascido! Era isso que sonhava!
Debalde ... é tarde ... aconteceu!
Viverei incumprido para sempre!
Fica o sonho e a vontade - num beijo ...
A Esperança que me assiste - de pé ...
Eu e o Natal - à Beira Tejo ...


24-12-2014

(No jardim da casa do Conde de Monsaraz, virado ao Tejo, na Rua Vitor Cordon ao Chiado em Lisboa … numa estranha, triste mas lúcida noite de Natal ...)

Inserida por Eliot

⁠Confissão -

Há em mim uma dor que se levanta
atando na minh'Alma muitos nós,
vai a Vida, nasce a Esperança de quem canta,
num canto que emudece a minha voz!

Ai rasgada solidão em triste verso
que a pena de uma ave me deixou ...
Lamento desde o ventre até ao berço
o destino que a vida me guardou!

Cai a Vida como névoa que se esfuma
protegida pela asa alvissima de um anjo,
dor que dor amplia e apruma
levando as penas brancas uma a uma ...

Inserida por Eliot

⁠Lembra-te que és pó -


Poeta, lembra-te que És pó,
noite e solidão ...
E é essa a tua glória!
Deixem passar ...
A cinza dos seus versos.
O lamento dos seus passos.
Que vá ... que vá ...
Cheio de noite e solidão!
É Poeta! E ali de fronte,
firme de que é pó,
sabendo que o é,
é frio e ilusão!
Deixem passar ...
A vida que o arrasta.
O tormento que o precede.
Que vá ... que vá ...
Cheio de noite e solidão!
É Poeta! É Poeta!
De onde vem, quem sabe?!
Onde vai, também!
Foi pó! É pó! Sempre será pó!
Poeta ... só ...
Deixai que passe ...
Acendei círios à sua dor
e façai silêncio
que seus versos já são gritos
que lhe bastem.
Óh Poeta! Lembra-te que foste pó,
que pó és e pó serás ...
Deixem passar, vai escrever,
não digam nada!

Inserida por Eliot