Ricardo Maria Louro

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⁠Silêncios e Punhais -

Quando frios nos separámos
entre silêncios e punhais,
solidões e vendavais,
soubemos que nunca nos cruzámos!

Minha Alma pálida, sombria se fez,
gelado gesto o teu abraço,
aquele que me deste, ultima vez,
triste corpo em meu regaço!

E fracassaram as promessas!
Do que agora estou sentindo
só tenho uma certeza, não regressas!

Hei-de para sempre lamentar-te,
e se um dia vieres ao meu encontro,
após tardos anos, sei que ainda hei-de amar-te!

Inserida por Eliot

⁠Último Momento -

Que pensarei no último momento
antes de morrer?!
Qual será o último sentimento
antes desse eterno adormecer?!

Ai quem dera à hora de partir
levar no coração como certeza
que pelo facto de simplesmente existir
este mundo saiu um pouco da crueza!

Será pretensiosa a minha esperança?
Ilusão, arrogância, tolice?!
Não! Quero que seja uma Herança

que entre escolhos aqui fica:
"Toma sempre e sempre em tuas mãos (alguém disse)
o destino da tua vida ..."

Inserida por Eliot

⁠Horas Ociosas -

Há horas que nos vivem
de tristeza e agonia, horas ociosas
que a ilusão nos perpetua! E as Almas sentem
tristes agonias, frias ilusões em horas mortas ...

Alta vai a Alma à hora da morte,
já o tempo, afoito, se lhe esgotou,
já se foi, despedaçada a sua sorte
agoirada por um corvo que ali passou ...

Grasnou! Grasnou! Soturno, austero ...
Noite densa, esvai-se a Luz
e o negro corvo poisa na mormória cruz!

Olhou! Olhou! Sombrio em desespero ...
Tlão ... tlão - no cemitério - não viu ninguém!
E num lento restolhar levanta voo e voa além ...

Inserida por Eliot

⁠Rejeição -

Quando chego, onde quer que seja, disfarço
um estranho mal-estar,
pareço bem, mas afinal, é falso,
na verdade, não sei como hei-de estar!

Encontro no olhar de toda a gente
o mesmo pensamento – “vai-te embora!”
Ninguém me vê, ninguém me sente,
e eu, tão só, saio porta-fora!

Não é mau ficar só, posto de lado,
chegar cansado, mal-entendido, caluniado!
Afinal, eu não sou igual a toda a gente

e a minha glória é ser diferente,
como Cristo, um rejeitado,
mas de quem se fala eternamente …

Inserida por Eliot

⁠Confusão -

Não sei em que estado me encontro!
Não sei se te desprezo, se te amo, se te quero …
Há em mim um estranho contraste, desencontro,
encontro, reencontro - não sossego!

E quem me falta encontrar
neste mundo de desencontros?!
Talvez alguém a quem amar
como em antigos contos …

Mas onde procurar?!
O amor não se procura – dizem as gentes –
há-de se encontrar …

Então há que esperar!
Mas até quando esperarei?! …
Vejo o tempo a passar … passar …

Inserida por Eliot

⁠O Poeta e Eu -

No silêncio da vida em redor, olho tudo,
nada já me apraz ou me convém,
ante os olhos seus, serenos e cruéis, fico mudo,
e até meu corpo fica morto, também …

Poeta que me vive e me consome,
sereno e tranquilo, meu delírio,
minha graça e desgraça, minha fome!
Deixa-me resignar! Estou cansado! Meu martírio.

Eu só queria ser vulgar …
Alguém que vive a vida e nada mais,
sem versos nem reversos, ser normal!

Mas sei que não partirás! Pois não
terias ninguém mais que te acolhesse,
e eu, ninguém mais no coração …

Inserida por Eliot

⁠Évora Morta -

Évora morta curvada à solidão,
ruas tristes, tristes ermos, calçadas e janelas
que na dolência, ao passar, ansiando por perdão,
gemem pelas horas a desgraça das vielas …

Évora morta deleitada à solidão
terra seca de melancolia
que o tempo leva pela mão,
na brancura, dia-a-dia …

Évora morta num silêncio que vigia,
num espasmo de quimera
numa noite que inicia … e quase desespera!

Mas quando manhã alta o Sol desponta,
Évora desperta, Évora amanhece,
para logo anoitecer, e voltar a ser, Évora morta!

Inserida por Eliot

⁠Vazio e Nada -

Já nada me espanta ...
Já nada me espera ...
Não há Vida nem esperança,
ter esperança quem me dera!

Já não estou em falta
com ninguém,
quimera, espanto,
desdém ...

Só há Vazio E Nada!
Ah se a morte viesse de mansinho
me pegasse na mão e me levasse

sem alardes nem bulício,
queria ir só, tão sossegado e calmo
como nunca consegui viver ...

Inserida por Eliot

⁠Dialogo Nocturno -

Meu Amor, chegaste?
Sim Amor, cheguei ...
E a candeia, apagaste?
Sim meu bem, apaguei ...

E a porta Amor, fechaste?
Sim Amor, fechei ...
E que bulício é aquele?! Não sentes?!
Não sei Amor, não sei ...

Talvez seja a Vida a bater à porta
ou os deserdados, sem tino nem História
que vivem lá fora ...

Sem tino nem História?! Mas quem são?!
Tolos, amigos, parentes, qu'importa?!
Ó Amor - importa! - vai dar-lhes a mão ...

Inserida por Eliot

⁠Da Janela da Casa do Outeiro -

Da Janela da Casa do Outeiro
avisto o cemitério
num doce entardecer, triste e derradeiro...
E há silêncio na aldeia, um eterno desidério!

Corre o vento, passam aves embaladas
voando ao Sol-poente...
E ao longe, na Serra da Barrada,
descansa o horizonte ...

Quando a tarde cai sobre Ela,
desperta em mim uma saudade,
uma vontade de ficar no alto da janela ...

No cemitério, movem-se os ciprestes por instantes
e até os mortos se alevantam
p'ra ver a tarde penetrante ...


(À Casa da minha Infância no Outeiro em Monsaraz)

Inserida por Eliot

⁠Ao Ritmo do Tormento -

Meu corpo. Mágoa. Quebranto...
Lôdo. Espuma. Sem Vida ...
Destino. Poema. De espanto ...
Silêncio. Esperança. Perdida ...

Saudade. Ausência. Solidão ...
Paixão. Sem fim. Amor ...
Deus. Ó Deus. Perdão ...
Pequei. Perdão. Senhor ...

Memória. Vai. Sê breve ...
Adeus. Adeus. Tormento ...
Parte. Esmorece. Sê leve ...

Tudo. Em mim. Desvanece ...
Nada. Em ti. É lamento ...
Minh'Alma. Parte. Perece ...

Inserida por Eliot

⁠A um Suicida -

Vai-se a esperança de um vão contentamento
quando a Alma tantos anos conservada,
numa hora heróica de coragem arrojada,
acredita resolver o que a perturba num momento!

E mata-se! Morre sujando as próprias mãos!
Malograda solidão que não quer ver ...
Um suicida não se mata porque sim ou porque não,
mata-se, porque afinal, não quer morrer!

Que doce desengano, estranha contradição,
ter coragem de matar o próprio corpo
só p'ra não viver a dor da ilusão!

Afinal, matar-se, é cobardia face à Vida
de gente tola que vive em solidão
alimentando um pensamento suicida ...

Inserida por Eliot

⁠Cansaço -

Estou cansado dos meus versos
sempre tristes sem sentido,
melancólicos, perversos
de um Coração frágil e perdido!

Estou cansado dos meus versos,
vou rasga-los um a um,
sentimentos controversos
já não quero ter nenhum!

Já não quero a solidão!
Estou cansado dos meus versos,
quero é ter um Coração ...

Ó Senhor que já nem rezo,
põe em mim a tua mão
que estou exausto dos meus versos!

Inserida por Eliot

⁠Do Esquecimento I -

Eu sou o que escrevi,
mas há como esquecer,
a morte, esse eterno adormecer
pode apagar o que vivi ...

A memória é coisa breve,
o esquecimento uma verdade,
que a terra seja leve
a quem parte sem idade ...

Eu sou, fui e hei-de ser,
devo dize-lo firmemente
que nem morrendo hei-de morrer!

Pois sou mais que o esquecimento,
sou mais que o ser que já não é
num eterno pensamento ...

Inserida por Eliot

⁠Do Esquecimento II -

Tudo o que nasce tem que morrer
mas na essência é eterno,
o que morre volta a nascer
e o que renasce é doce e terno!

Não há morte sem vida
nem vida sem morrer
não há morte perdida
ou consciência sem sofrer!

A vida é mais forte do que a morte
mais forte que o esquecimento,
o desespero e a solidão - é o mote!

Ainda que morto não deixarei de ser
pois sou mais forte que o não tempo
que para sempre há-de viver!

Inserida por Eliot

⁠Cabelos Brancos -

Minha vida foi difícil,
dura, fria, dolorosa,
mas foi também subtil,
eterna, gloriosa ...

Encontrei a calha do caminho
que Deus aqui traçou p'ra mim,
encontrei nos Astros o meu ninho
um caminho que não tem fim ...

Só no Amor não encalhei
com o caminho verdadeiro
e foi aí que me espalhei!

Os Astros e a Poesia levaram o quebranto
e trouxeram liberdade,
mas o Amor, deixou em mim Cabelos Brancos!

Inserida por Eliot

⁠Emoções -

Porque são tão frias as esperanças
porque é tão dura a incerteza
que no quebrar das alianças
se faz água mole em pedra densa?!...

Densa é a solidão!
Densa a vida sem Amor!
É densa a Alma sem perdão,
a Primavera sem calor ...

É assim a nossa vida
ora verdade ora mentira
que por nós é decidida!

E que dizer da ilusão?!
Nada que não seja visceral:
é ela quem dá vida ao coração! ...

Inserida por Eliot

⁠Acto de Contrição -

Hei-de amar-te sempre e sem pudor,
não sabe a Alma outra verdade,
amar-te além da vida e do Amor
amar-te além da realidade!

Amar sem fim, meu caustico instante,
num presente que é saudade
numa ausência que é constante
e só amar-te, liberdade!

Amo-te em toda a parte, simplesmente,
mas amar não é virtude,
virtude é esperar eternamente ...

És tu minha quietude!
Essa que me gela de repente
quando vejo que te amei até que pude!

Inserida por Eliot

⁠Lentamente -

Lentamente da tristeza se fez pranto
seguro e calmo como a Alma
e da Alma se fez canto
porque a tristeza era calma!

Mas lentamente a calma se perdeu,
a desgraça trouxe o drama
e ante os olhos meus, alguém morreu,
apagou-se a graça de quem ama!

Foi lento e triste que, calmamente,
da vida alguém distante,
aos poucos, se perdeu, lentamente ...

Ao longe, esse alguém parecia errante,
numa agonia austera e sufocante
que, pouco a pouco o consumia, lentamente ...

Inserida por Eliot

⁠Pedido -

Não me peças calma nem virtude,
nem pausa, nem silêncio. Que me dói a Alma,
que me dói o coração, profunda inquietude
na distância de quem ama!

Que meu corpo sobre o teu, num enleio,
procura amar o teu amor,
procura um porto no teu seio,
uma chama, um calor ...

Que na doçura dos sentidos
trocamos promessas e ensejos
entre gritos ressentidos ...

Tantos versos escritos e não lidos,
tantas horas tristes de desejo,
tantos homens por amar, perdidos ...

Inserida por Eliot

⁠Decisão -

Partiste sem quê nem porquê!
Triste devaneio, quase enlouqueci!
Sem ti, ceguei, esperar para quê,
se nunca mais te vi!

Sofri, esperei - tudo em vão!
Partiste, então, quase enlouqueci,
quase parou meu coração,
quase da vida me perdi!

E de repente alguém chegou ...
Outro olhar, outro gesto, outro Amar!
E esse alguém se declarou ...

Tremi! Tive medo! Mas pensei ...
Pensei, repensei e sentindo que te perdi,
decidi esquecer-te e aceitei!

Inserida por Eliot

⁠À Primeira Vista -

Que lindo, doce o teu olhar,
verde-claro como os prados,
lindo, doce esse lugar
que me deixa apaixonado!

Que lindo, doce o teu abraço,
como um fogo que consome,
arde, queima o meu regaço
quando penso no teu nome!

Que suave, leve a tua mão!
Teu sorriso de Cristal
fez bater meu coração ...

Que o paladar da tua boca
deu vida a minha Alma
meia viva, meia louca!

Inserida por Eliot

⁠Voz -

Certa vez, num tempo que não é daqui,
escutei perto de mim uma lânguida voz!
Alguém que antes nunca ouvi,
e que terna me disse:"Não estás só!"

Não era deste mundo
essa voz de oiro e de cetim,
tocou-me forte, bem fundo
e levou-me além de mim ...

Então prosseguiu:"As pessoas não
nos pertencem, fazem parte de nós!
Somos Unidades de Vida!" E tocou-me na mão ...

"Somos pedaços de Amor que algures se encontrarão,
à luz de um novo tempo, de vida e esperança
num Universo de Cristal e pura gratidão..."

(Para Maria Flávia de Monsaraz)

Inserida por Eliot

⁠Triste Perecer -

E amarrei um grito em mim
solto de vontades adiadas
que esbatem na Vida por aí
em bocas de Almas pouco amadas ...

Então, despertei cedo pela manhã ...
E o dia fez-se pranto,
o pranto esperança vã
e a esperança triste canto!

E longas agonias foram dadas
tantas horas diluidas
tantas vidas mal amadas ...

Já não basta adormecer!
Adormecer já não me basta!
Eu sou o Amanhecer ...

Inserida por Eliot

⁠Não interessa que o Homem se responsabilize pela sua Existência sem se debruçar sobre a sua Essência.
E não interessa que se debruce sobre a sua Essência sem se responsabilizar pela sua Existência!
Estamos e vivemos num mundo dual entre o Espírito e a Matéria, entre a Vida e a Morte, entre o Bem e o mal!

Inserida por Eliot