Ricardo Maria Louro

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⁠Vida Vivida -

Andei p'la vida fora e não lembrei
que a morte um dia vinha m'encontrar
não sei se alguma vez a desejei
que a morte é coisa certa há-de chegar.

Esquecida de que a morte também tinha
um voar de asas serenas de marfim
minh'Alma num feitiço que adivinha
só lembrava hora-a-hora quem perdi.

Meus olhos que são pedra e solidão
tão cansados, revestidos de cristal
não sei por que caminhos pisarão
só espero que adormeçam natural.

Eis quando pressenti que a morte vinha
e à luz do coração me despedi
sozinha numa cama que é só minha
morri, foi nesse instante que eu morri.

Inserida por Eliot

⁠Palavras -

As palavras que disseste por momentos
em horas de alegria ao coração
são palavras diluídas pelo tempo
esquecidas num passado em dia vão.

São palavras, meu amor, são só palavras,
são palavras tão vazias de sentido
as lembranças, de um destino, tão amargas
num olhar, hoje vazio, tão ressequido.

Tão longe, meu amor, daqueles dias
estamos nós, os dois amantes, tão perdidos,
sei hoje que as palavras que dizias
são palavras de um destino proibido.

O que faço agora Amor à solidão
que ficou na madrugada dos sentidos
esperando no meu leito uma afeição
dos teus olhos pela vida sem sentido.

Lágrima d'Amor -

⁠Por uma lágrima d'amor
estão meus olhos a morrer
minha triste e fria dor
pelo rosto a correr.

D'uma lágrima perdida
nasceu esta ilusão
numa lágrima sentida
afoguei meu coração.

Dos meus olhos se apagou
o chorar da solidão
no meu rosto deslizou
o final desta paixão.

As horas que vão passando
pela vida onde eu for
nos meus dias caminhando
só lembrando o meu amor.

Inserida por Eliot

⁠Se eu Pudesse -

Se eu pudesse tirar do meu sentir
esta forma, de sofrer, e de te amar
se pudesse deste amor querer fugir
tirava do meu peito, o teu olhar.

Julguei enlouquecer, quando partiste
sem ti, caiu a noite, a solidão
a dor em mim cresceu, e tu não viste
tal como um punhal, na tua mão.

Se pudesse mandar, e não sentisse,
arrancar, este penar, do pensamento
talvez que o teu amor, se ressentisse
como eu sinto, pela noite, este tormento.

Se pudesse, meu amor, ai se eu pudesse,
embalar este sentir que grita em vão
talvez o meu destino se acalmasse
quando um beijo vem do Coração.

Inserida por Eliot

⁠Tenho Pena -

Eu tenho pena de mim
por te amar tão loucamente
tu hás-de ser o meu fim
meu amor é para sempre.
Eu tenho pena de mim
por te amar tão loucamente.

Eu tenho pena de ti
por não veres que eu te amei
só sei que a vida perdi
ao perder o que eu te dei.
Eu tenho pena de ti
por não veres que eu te amei.

Eu tenho pena de nós
como um barco em alto mar
que agora vive mais só
por não ter o teu olhar.
Eu tenho pena de nós
como um barco em alto mar.

Eu tenho pena de quem
como nós não soube amar
mas este grito é de alguém
qu'inda quer por ti esperar ...
Eu tenho pena de quem
como nós não soube amar!

Inserida por Eliot

⁠Maré -

Quando um dia eu morrer
como os rios ao correr
quero ser espuma do mar;
hei-de ser um Céu estrelado
ser vento desnorteado
que me leve pelo ar.

Quando um dia eu morrer
e alguém por mim sofrer
quero o mar por sepultura;
a maré como um caminho
barco triste, tão sozinho,
que o infinito procura.

Quando um dia eu partir
direi adeus a sorrir
saberei como voltar;
voltarei em dia vão
no rimar da solidão
e na espuma do mar.

Inserida por Eliot

⁠À Deriva -

Recordo meu Amor aquele dia
tão longe das promessas que fizemos
recordo meu Amor o que dizias
os sonhos, as palavras que dissemos.

Das noites que passei em solidão
à deriva no pulsar da minha dor
das horas que sofreu meu coração
deixa que te lembre meu Amor.

Minh'Alma caminhando pelas ruas
foi vivendo esse desgosto que é só meu
erguendo minhas mãos eu toco as tuas
olhando o meu retrato vejo o teu.

Dois barcos sem destino, dois lamentos,
dois corpos à deriva pelo rio
dois olhos que não veem, dor, tormento
dois peitos que se amarram no vazio …

Inserida por Eliot

⁠Quadras de uma Alma despojada -


Num tampo de mesa fria
escrevi da minha solidão,
amargas dores que sentia
como espinhos no coração...

Nessa dor que remoemos,
nesse querer e nunca ter,
há sempre alguém que não temos
nessas horas de sofrer.

À mesa do que não temos
nem a vida nos diz nada
só lembrando o que perdemos
dessa vida já passada.

À mesa do destino
vai passando a nossa história
meus cansaços de menino
'inda me toldam a memória.

Estes versos, por piedade,
tem minha dor por filha,
nesta mesa, na verdade,
só o nada se partilha.

Num doer que não esquecemos
num esquecer qu'inda nos dói,
o porquê de não morrermos,
desta ângustia que nos mói?!

Se eu pudesse tirar da mente
esta dor que me esvazia,
não era o poeta que hoje sente
neste tampo de mesa fria.

Inserida por Eliot

⁠Retracto de Celeste -


És filha do Fado! Irmã do Tejo ...
Um verso de Poema! Uma guitarra ...
És silêncio de seda, Lisboa de mil beijos,
que sobre a vida se debruça e amarra!

És a glória do meu punho de poeta
que treme ao sentir o coração ...
És a cor de uma imensa aguarela
que alguém pinta ao vencer a solidão.

Teu cantar é de cetim, em mim, é saudade,
de Camões, a voz, num semblante Portuguez!
És poema inacabado, tempo sem idade,
que repousa no regaço da eterna D. Ignês!

Óh Celeste derradeira, Fonte de Leanor,
descalça pela cal da madrugada,
pisando lirios, alabastros, sobre a dor,
indo e caminhando pela vida, tão amada ...

tão amada ...


(Para Celeste Rodrigues)

Inserida por Eliot

⁠Quero Envelhecer -


Quero envelhecer!
Preciso envelhecer!
Sair desta nefasta juventude
que me queima a liberdade!
E poder te acompanhar ...
Sou jovem, prisioneiro
desta triste juventude.
Quão triste! ...
Quero envelhecer!
Preciso envelhecer!
Sair deste corpo
onde a beleza paga preço.
Tão alto! Tão alto!
Beleza e juventude -
- a minha solidão ...
Sou jovem - infeliz!
Por não ser eu - o que quero -
- quero ser ...
Juventude é violência,
velhice é silêncio e harmonia.
Calma quente em dia frio!
Quero envelhecer!
Preciso envelhecer!
E poder te acompanhar ...

Inserida por Eliot

⁠Meu Retrato -

Minha angustia sem fim
solidão que me prende
ai distancia de mim,
ninguém a entende.

Meu lamento sem tecto
minha casa sem porta
tao longe do afecto
sou filho que se aborta.

Ai loucura de quem
só vive de loucura
sou nada que vem
num passado que perdura.

Tão distante da Vida
tão frágil e forte,
ai esperança perdida
à espera da morte.

Minha infancia marcada
meu canto de fado
numa triste fachada
algures meu retrato.

Inserida por Eliot

⁠Infortunio -

Sinto não saber quem sou!
Porque habito neste corpo!
Porque vivo neste mundo!
Trago por ilusão uma ilusão
comigo ...
Não sou nada! E por nada ser,
nada posso ...
Nem bem, nem mal ...
Aonde ir ... não sei ... também!
Talvez peça demais à Vida!
Talvez lhe queira o que nunca
me dará!
Conhecer meu Ser sem fundo ...
Mas se a Vida me deu a Vida,
e isso é Grande, porque ma deu
infeliz e bloqueada, mal amada?!!
Melhor seria que ma não tivesse dado!
Não a pedi! Não a queria! ...

Inserida por Eliot

⁠Esperando por Alguém -

Vontade que me escalda!
Sentir teu corpo no meu corpo,
olhar teus olhos,
entre frémitos e espasmos.
Ai loucura dos teus dedos
percorrendo as teias longinquas
do meu medo ... eu desejo ...
ser noite, madrugada,
auroras floridas, radiantes,
de petalas no leito, secas,
perfumadas, debruçadas sobre o nada
que somos um do outro ...
... hora amarga, hora doce,
hora de espuma e de espanto!
Onde as linguas, humidas,
tecidas de loucura,
se erguem, tacteando a lucidez
do pensamento sem pensar ...

Inserida por Eliot

⁠Por trás de uma Moldura -

É longa a hora onde
começa a noite escura
e toda a gente se esquece
que o tempo nos adormece
num retrato que se esconde
por trás de uma moldura.

Passa o vento devagar
hora breve de ninguém
hora turva onde somos
lembrados, que já fomos,
quem o tempo nos quis dar
esperando por alguém.

Dança a Lua em dia claro
brilha o Sol em noite escura
num sopro que a Vida esconde,
nessa longa hora onde
fica o tempo que é tão raro
por trás de uma moldura.

Inserida por Eliot

⁠Há Noites -

Há noites esquecidas nos teus braços
embalando a solidão dos dias puros
suspirando de silêncio em meu regaço
nascem goivos dos meus passos prematuros.

Há noites que guardamos num só grito
à hora das mentiras de um amor
há palavras que nos deixam sem sentido
caminhando pela vida numa dor.

Há noites que nos deixam para trás
tropeçando no que a vida tem de duro
esquece-las quem me dera p'ra ter paz
pudesse eu apagar teu olhar puro.

Há noites, tantas noites sobre o dia,
e do dia, nada resta, só a noite,
um dia amei alguém que não me via,
e vivi, dias e dias sobre a noite.

Inserida por Eliot

⁠Infidelidades -

Dão-lhes uma vida
num mundo tão belo
mas deixam-na esquecida
numa arca de gelo.

Fazem covas na Alma
p'ra não serem si mesmos
mentem, dizem que amam
parecendo cordeiros.

Depois travam o Espírito
que se ergue na vontade
numa Pátria de Proscritos
num viver que é maldade.

Alegram-se de não saberem
o destino a seguir
vão vivendo sem quererem
fugindo sem pedir.

Penteiam na saudade
as Histórias do Passado
numa falsa Virgindade
de um Credo rezado.

Nossos crânios de vidro
estão prestes a quebrar
por sentimentos partidos
de tanto pensar.

E porquê viver a vida
entre gentes tão frias
minha morte é mais querida
minhas noites são dias.

Que só a morte me leva
à verdade e à vida
deste mundo de treva
desta gente fingida ...

Inserida por Eliot

⁠Da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo -

⁠Era cedo … madrugada …
Pelo ar tua mística Presença, Senhor...
Era cedo, tão cedo … havia névoa!

Mas depois daquela triste noite de vigília
em que o vazio e a solidão
fizeram eco em todos os olhares,
vieste Tu, Senhor, Renascido!

E a névoa dissipou …

A Morte, esse negro cortejo de sombras
p'ra sempre desvaneceu, p'ra sempre se consumiu,
surgindo eleita como a outra face da Vida!

Ressuscitou! Aleluia … Aleluia … Aleluia …

Teu Rosto, Senhor, era Luz,
teu corpo de silêncio, Paz.
E do silêncio dessa Paz
ecoava a Voz-de-Deus,
Sagrada, Divina, Intemporal …

“Eu não morri! Eu não morri! Eu não morri!”

E havia espanto …

Novamente o Véu do Templo se rasgou, desta vez nos corações …
Nada mais nos pode agora separar, Senhor, nada mais …

Porque Tu te revelaste por inteiro,
além de todas as palavras,
além de toda a saudade,
além do silêncio da Morte
na serenidade da Vida.

E a Vida, Senhor, p'ra sempre triunfou!
Aleluia! Aleluia! Aleluia!
Porque Deus Ressuscitou!

Inserida por Eliot

⁠Guitarra -

Uma guitarra gemia
a um canto da saudade
se cantava ou se sofria
ninguém via na verdade.

Numa viela sombria
há um canto peregrino
uma guitarra perdia
o pisar do seu destino.

E num cantar de solidão
há uma voz que se levanta
recostada ao coração
é uma guitarra que canta.

Traz uma glória perdida
nos braços tristes de ninguém
há uma guitarra sofrida
chorando triste por alguém.

Inserida por Eliot

⁠Tristeza Amparada (ser Poeta) -

Não sei se quero ser poeta!

Amparado ao ombro da solidão,
não sei se quero estar só,
nos braços dos meus versos,
nas rimas do meu fado,
num pensar sem coração ...

Não sei se quero este sentir d'água,
este estar só, acompanhado,
em dias angulares, de amargas culpas,
tão frias como o mar!

Que ser poeta é morte anunciada,
é saudade, turva saudade,
num peito a palpitar,
num corpo a bombear ...

E afinal a que me dei?! ...

Ser poeta é tristeza amparada!
Se a quero, não sei ... não sei ...

Inserida por Eliot

⁠A Sós com o Mar -

Nas descalças areias deste mar
recordo o mar que nunca tive ...
... meu sonho feito ao mar!

O destino que sonhei é longe do que sou!
P'ra outro destino não vou!
Dor, espuma, espanto na solidão das ondas
que esbatem nestas rochas!

Eu e Ele a sós! O mar! O mar! ...

É de pedra a minha dor,
é d'água o meu sonho,
meu corpo feito de pó,
minhas lágrimas sem cor ...

E há um pássaro que voa,
um Sol que se esmurece,
eis que passa uma pessoa,
viver assim, ninguém merece!

Inserida por Eliot

⁠Raiva e Solidão -

Trago em mim a solidão de um dia triste
trago a raiva de uma noite que não chega
trago a ânsia que me escorre, que persiste,
minha taça de veneno e incerteza.

Meu cálice de piedade e solidão
são as horas que te espero e tu não chegas,
a raiva que me aperta, amarga o coração,
derrama no meu peito flores secas.

É raiva, é loucura, é tormento,
desde aquela hora triste em que te vi,
um cavalo que me sulca o pensamento,
num galope, num passar, longe de ti.

Trago as dores de um poeta que se cala
trago em mim um sofrimento sem perdão
na distância dos teus olhos, que me embala,
agonia é silêncio, raiva é solidão.

Inserida por Eliot

⁠Destino sem Rumo -

A minha voz ao cantar
traz um lamento desfeito
é como as ondas do mar
que se enrolam no meu peito.

Canto um fado e outro fado
numa saudade sentida
trago o destino marcado
e a minha vida perdida.

Cantar é saber da vida
o que a vida sabe do mar
quando a vida está perdida
outra vida há que esperar.

À deriva p’la cidade,
procurando outro caminho,
não me deixo ter saudade,
quem se vai, segue o destino.

Inserida por Eliot

⁠Brevidade do Tempo -

A vida é breve ...
A vida é curta ...
E não há tempo suficiente
para perceber a ligação
entre todos os acontecimentos
que vivemos!
Há que decidir! Caminhar!
Ir em frente! Avançar!
Estar inteiros em cada instante
e em cada momento de vida
por onde passamos.
É só isso que nos resta.
Cada momento como sendo unico
e ultimo ...

Inserida por Eliot

⁠Meu Estar ... agora -

Agora só num mundo que me apavora ...
Agora só numa ângustia que me bebe ...
Agora só no pulsar da Vida ...
Agora só! Tão só! Que dó!
Dois lamentos, dois destinos,
dois corpos que se entrechocam
no passar das coisas vãs ...
Um é meu! Outro da vida!
Agóra só! Tão só! Que dó!
Nada é longo! Tudo é breve!
Como a morte que sucede
ou a vida que arrefece.
Agora só! Que dó!
À chegada e à partida - sou nó!
Tão só! Tão só!
E alembro os olhos verdes,
espelhados, sem fim,
de uma aurora que me criou!
De uma "velha" que me amou
numa infância JAZ morta.
Minha Avó! Minha Avó!
Que é morta - também!
Estou só! Tão só! Que dó!
Partiu! Não volta!
Minha Avó! Minha Avó! ...

Inserida por Eliot

⁠O Partir da Alma ... dialogo -

ALMA:

- No enlouquecer da tarde fugidia
quem me dera morrer no dia,
ir além, à bravura dos horizontes,
cortar a vida, atravessar as pontes.
Estou só na escuridão dos dias!
Tão só à Luz da noite.
Só há vazio e nada!
Tudo é turvo em meu redor.
É negra a hora ...
Vou-me embora ...
Vou-me embora ...


CORPO:

- E aonde vais ó Alma minha?!


ALMA:

- Não importa! Não importa!
Vou-me embora! Vou-me embora!


CORPO:

- E porque vais? Porque vais?
É mal da vida? É mal d'amar?


ALMA:

- Qu'importa? Qu'importa?
Vou-me embora! Vou-me embora!


Corpo:

- E onde está a esperança?
E onde está a vida?


ALMA:

- Está morta! Está morta!
Vou-me embora! Vou-me embora!


CORPO:

- E Deus? Que lhe fizeste?!


ALMA:

- Morreu! Morreu!
Vou-me embora! Vou-me embora!


CORPO:

- Nada há que te apegue à vida,
nada mais t'importa!
Então Alma, parte, é hora ...
... vai embora ... vai embora!


ALMA:

- Nada me deu a Vida!
Irei ... sem pena ... sem demora ...


DEUS:

- E eis que a Alma, nessa hora, partiu,
JAZ MORTA, JAZ MORTA ...

Inserida por Eliot