Passarinho Livre
PRESO NO PARAÍSO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
O passarinho está livre na gaiola. Mas está preso... na gaiola. Está livre do gato e do gavião. Do sol... da chuva. Livre até de ser preso em outra gaiola. Livre da liberdade.
Tem alpiste, água e remédio. Tem um senhor... um senhor que lhe dá o alpiste, a água, o remédio e a garantia de que o gato, o gavião, a chuva e o sol não o pegarão... muito menos a liberdade o pegará.
E o passarinho canta. Canta para o seu dono e senhor, que além de prover suas necessidades, garantir o socorro e as libertações, ainda lhe dá o direito de olhar o mundo e sentir o ar, mesmo sem poder explorá-los... avançar os limites das permissões espremidas. Ele apenas olha, e sabe que deve agradecer por tudo, esse tudo-nada, para não ofender seu dono e senhor, que sempre sabe o que é bom.
Hoje, o passarinho entende que esse é seu livre arbítrio. Não é livre... nem é arbítrio. Mesmo assim é seu livre arbítrio, depois do medo que aprendeu a ter das consequências de não ter medo. De ser livre. Ter arbítrio. Correr os riscos de ser quem é por natureza ou pelo pecado original de haver nascido.
Essa é a sua casa. Seu mundo; seu habitat. Sua prisão no paraíso... longe do seu ninho. A gaiola é o templo... a igreja do passarinho.
O passarinho na gaiola.
Ele observa o céu e canta com mais intensidade... seria um canto ou grito de socorro? Olho pro céu e sonho em ta lá, no alto, distante... Imagine quem tem asas. Nós realmente temos costumes estranhos ao engaiolar o que amamos. É o "tomar pra si" falando mais alto. O mundo interior ainda vai acabar muitas vezes, até que se entenda que não possuímos seres, e até mesmos os sentimentos vão embora. O sentir é livre. Depois disso, o mundo lá fora vai ser mais bonito... Mundo livre!
A maior besteira que eu fiz foi te deixar ir
Passarinho quando escapa da gaiola
Não volta, ele é livre pra voar
Mas se por acaso ele voltar
Já não é mais o mesmo
De saco cheio dessa vida mesmo... Mas quem sou eu pra reclamar!
Passarinho preso numa gaiola...
Mesmo a porta estando aberta não consegue voar
pois podaram suas asas...
Prender um passarinho na gaiola é como prender um grande cantor dentro duma cela e priva-lo da liberdade de cantar livremente.
Hoje o passarinho não pode voar
se perdeu nos pensamentos sem saber voltar
tá guardando todo o voo em seu peito
Té pensou que para voar não leva jeito
hoje ele não quer cantar também
amarrado em sua garganta está o canto que não sabe se é de mal ou bem
hoje o passarinho está sentado com um olhar arregalado
ele agora percebeu que o amanhã nunca foi seu
E se em seu peito houvesse forças voaria em disparado
mas agora por um instante se tornou um ser pensante, cheio de dúvidas, medos, incertezas
Se esqueceu da natureza da grandura do seu mar, das matas a beleza
hoje passarinho não quer voar...
E como que uma brisa boa em um dia de calor, vem a sua memória que seu canto ainda que contido é libertador
Ainda que com medo, ainda que com dúvidas, incertezas e talvez desespero por não saber como será
Ele decide que por hoje...
Por uma vez mais cantará com toda força
Voará pró e contra o vento
E fará saber por onde for
O quão precioso é o Viver.
oia oia, passarinho
o céu não tem caminho
a liberdade é o combustível
pra tua asa, passarinho
oia oia, passarinho
e se tu cantas pra mim
te faço um ninho no meu peito
e tu nunca mais vai longe assim
oia oia, passarinho
não entendo o seu pranto
pois pro passarinho livre
sua casa é em todo canto.
Um passarinho na janela
Era uma manhã como tantas outras, quando minha atenção foi capturada por um pequeno pássaro que, com graça e leveza, pousou na janela de minha casa. O passarinho, em sua serena vivacidade, parecia trazer consigo um mundo de reflexões.
Suas asas delicadas tocavam o vidro com a leveza de quem afaga o próprio destino, e seus olhos, dois pontos brilhantes, refletiam a quietude de um espírito livre, como quem tem um céu inteiro dentro de si. A presença daquele pássaro revelou-se como um oráculo silencioso, sugerindo-me que a vida, em sua essência, é uma eterna contemplação do invisível.
Enquanto o passarinho perscrutava o horizonte, pensei nas vezes em que nós, humanos, presos em nossas angústias, deixamos de perceber as belezas simples que nos cercam. Ignorância é acharmos que pássaros, só porque têm asas, não caem ou que nunca descansam nos tapetes de Deus durante o seu percurso. Essa liberdade não tem nada a ver com invencibilidade.
O pássaro, em sua graciosa indiferença, ensinava-me a arte da quietude, a contemplação do instante presente, a sabedoria de viver sem pressa.
E assim, naquele encontro fortuito, compreendi que a janela não era apenas uma barreira física, mas uma metáfora da alma, uma passagem para a introspecção e para o entendimento do nosso lugar no mundo. O passarinho, ao pousar na janela, não apenas a tocava, mas convidava-me a abrir as portas do meu próprio coração para as sutilezas da vida.
S. O. L. T. E. I. R. O
Sociedade Organizada Livre de Traição e Erros, total Independência, sem Remorsos ou Obrigações.
Sou um ateu libertado de uma fé vã. Livre e capaz de discernir-me sem a ajuda de um ser imaginário e fantasioso. Me valorizo e me sinto muito capaz.
Não preciso de qualquer conceito religioso pra ter boa conduta.
No princípio, tudo era perfeito e bom.
Tudo que era criado cumpria perfeitamente
seu propósito.Mas aconteceu o que nunca poderá
ser explicado ou entendido:
a criatura se desviou de seu propósito.
Esse foi o início do acaso,
esse foi o início do mal.
O mal e o acaso estão ligados,
mas haverá um dia em que tudo será
como antes.
Toda criatura cumprirá
perfeitamente seu propósito.
O criador nunca criaria o mal
para se ter liberdade.
Amar é dar liberdade
Não querer aprisionar
É oferecer o céu
Para a pessoa voar
Se é livre, o passarinho
Pode ir longe do seu ninho
Mas sempre irá voltar
Não nos basta a liberdade se não temos as condições necessárias para sermos livre. O sistema nos acorrenta a submissão, sonhar com a liberdade por rebeldia nos prende a consecutivos erros, ate cair em si, na depressão. O passarinho livre tem que buscar a comida todos os dias mas o de gaiola, não.
Nada além de uma fruta
― só uma ―
na árvore
enganando o vento
desacompanhada
no enorme galho
dona de si!
livre
― totalmente livre ―
sem vizinhos
sem riscos?
atrevido,
o pássaro
― solitário e solidário ―
ali fez seu ninho
adeus, solidão!
agora pode ouvir
o lindo canto
dum passarinho!