O Poeta e a poesia
Sou psicólogo porque sou poeta.
Sou poeta porque sou psicólogo.
Quem não consegue ler ou tentar entender um poema, não conhece a alma humana
Felicidade, profeta!
Sempre esteve em mim
Mas sempre fui poeta
Atrás d’outro Enfim!
Que coisa mais tardia
Chegar querendo cálculo
Da minha alegria
Se vivo ali no palco.
Choro, rio, jogo-me e sou
Nem plena e nem desatenta
Nem mesmo o que restou
Nem oito ou oitenta.
Entre as análises das dores
E das lições também dos risos…
Nunca deserto, nem flores.
Entre batimentos e juízos.
Nem tristeza e nem euforia,
Ainda que muito as seja,
Sou mesmo é a carniçaria
Aberta na bandeja.
E quando eu alcançar tudo
O que me dói nos rins,
Diga a eles que inda acudo
Meus saberes, nãos e sins.
Quando tudo fizer sentido,
Quando toda resposta houver,
Diga a eles que meu eu perdido
Inda lerá o que nem se é.
Fico mesmo é nesse papel
Branco, decalcado,
Nessa arte tão cruel
De tentar
Significado.
Fico mesmo é na importância
De fugir da infelicidade
Porque mais do que ser feliz
Ser poeta
É ser verdade.
" ESCRITA "
Um poeta, somos todos, do destino
que vamos nós rimando na emoção
de cada escolha feita, em decisão
dos versos sobre o tempo peregrino!
Assim, quer seja um poema, uma canção,
soneto curto aceito em desatino
nas frases da poesia de um menino,
um ode no saber de um ancião,
o fato é que se faz por obra-prima
em tudo que nas linhas ela exprima
por resultado de um viver humano…
Escrita eu dei à minha, com ternura,
por vezes na razão de uma alma pura
batendo um coração sujo e profano!
Sabe qual é a diferença entre um poeta e um homem comum?
Um homem comum vira poeta quando está apaixonado, mas um poeta vive eternamente apaixonado, portanto nunca será um homem comum!
Amor de um poeta
Hoje quero falar de sentimento,
Algo tão relativo
Quanto prazer e sofrimento,
Que nos faz instintivos
Quanto aos nossos pensamentos.
Falo agora sobre paixão,
Não confunda com amor
Nem compare com a dor,
Paixão nos deixa paranóicos
Quanto a nós mesmos,
Causa atos heróicos,
Nos fazendo escravos
De nosso próprio sentimento,
As vezes ele se torna amor
Depois de passar pela dor,
Tornando inexplicável,
Algo tão adorável
O amor poeta
É intenso e tranquilo,
E só quem o experimenta
Entende como é aquilo
Simples momentos
Se transformam em lindas palavras,
Escritas com sentimentos
São elas curtas e pesadas,
Pensamentos infinitos
Quanto a pronúncias simples e rápidas
Apenas quem já sentiu
Um verdadeiro e ligeiro amor,
Entende como carregar essa dor,
Por muitas vezes serem ligeiros
Acabam em apenas ensinamentos,
Pra que futuramente,
Aprendemos a amar
Oq um dia nos amou intensamente...
O poeta não escreve o que sente, ele sente o que escreve. Não vive de sentimentos, ele é o sentimento. Não tem que estar no fundo do poço ou no auge do êxtase, mas sua mente sim.O poeta não precisa sofrer de ilusões amorosas, de trágicas perdas, de amores correspondidos ou não. O poeta é uma esponja: consegue sugar e depois expelir através de letras tudo que por ele passa.
No caderno de um poeta, se encontram linhas e páginas, com versos e orações.
As guais expressam sentimentos e emoções.
Dias de alegrias, vontades e fantasias.
Tristezas, ou talvez profundas nostalgias.
Ser poeta
E mesmo se o mundo estivesse por um lapso,
Tenho certeza de que lá eu estaria,
Desejos e medos indo para o espaço,
Em mim, restaria a arte de fazer poesia
A poesia é como um refúgio,
Um vislumbre dos meus pensamentos,
Uma maneira de fugir desse mundo,
Uma libertação para os meus sentimentos
Ainda que a alegria eu não tivesse,
E mesmo se nada me pertencesse,
Um lápis e um papel seria o suficiente,
Para que a minha alma transparecesse
Ainda que a escuridão tomasse conta,
Toda angústia invadisse a minha mente,
A arte de escrever me consolaria,
Talvez seja isso que torne o poeta diferente.
A Poetisa
se apaixonar por uma poeta
tão gentil, pacata, seleta
num fio de dúvida se perguntar
o que será o entardecer
tornar tarde cada pedaço, traço cor
pele rosto, fogo, ardor
deixa eu arder em você
me deixa arder com você
e em tão pouco mirando universos
pois cada pouco se torna muito
cada palavra encontrada nesses versos
cada vez mais me perdendo do mundo
pegando em tua aspera mão
em cada traço me vejo
nos olhos tamanho é o brilho
as íris castanhas que revelam todo meu desejo
acendo o teu maço de cigarros
te contando sobre lindos textos
pela cintura te agarro
te beijo, te mordo, te pego, te perco
e do universo te trago
o poeta está cansado
todo mês a mesma coisa.
todo dia: tentativa!
erros e derrotas
todo dia: no caminho!
não parou um segundo
nessa luta interminável
entre a vida e a morte.
Um poeta nem sempre escreve o que vive.
Vivemos buscando mais e mais emoção que sejam o bastante para nós suprir de inspiração.
Um poeta sofre sem sofrer pois é o sofrimento que alimenta nossa ânsia por escrever.
Minha dor e paixão está em um filme que eu nunca vou viver ou em um livro que eu posso apenas ler.
ANJO-POETA
Raimundo era um homem simples,
– daqueles homens de fazimento –
com nome de santo,
que andarilhava pelo mundo
catando desperdícios em sacos de lixo.
Raimundo – que era filho do mundo –
tinha um trabalho invisivelmente nobre:
pobre, recolhia das lixeiras da sociedade
o entulho que a humanidade desprezava.
Catava entre velhas caixas de papelão
– e sacolas jogadas ao chão –
o lirismo do romantismo de outrora,
os cantos não percebidos dos passarinhos,
a beleza do nascer do dia (a aurora),
a imagem de Cristo no crucifixo,
as virtudes de amizades perdidas
que se amontoavam [no amor ferido do agora]
entre as sarjetas – das tantas ruas imundas –
que percorria durante os afazeres do dia.
E, das valas abertas que encontrava no caminho,
recolhia sempre, com muito carinho,
o silêncio das palavras carinhosas não ditas,
o perfume das flores reboladas ao solo,
o respeito vilipendiado, a coragem menosprezada,
a humildade e a perseverança desdenhadas,
a tolerância e a fé preteridas,
as rosas que cintilavam ao pôr do sol,
as palavras proferidas pelos girassóis amigos:
palavras que nunca foram ditas ou notadas
nos caminhos que se percorre na vida.
Ao final do clarão de um dia de trabalho,
Raimundo levava tudo para um terreno baldio,
e lá depositava em leiras tudo que recolhia.
Anos depois, Raimundo se foi...
Ele que não tinha nem beira, nem eira,
nem estudo, nem família,
morreu sem deixar um legado...
Ledo engano, velho desacerto!
Raimundo deixou um jardim plantado,
– um canteiro florido de amor alentado.
Foi ele um semeador
neste mundo louco em que se joga no lixo
a essência e a beleza da rosa-vida!
* * *
Inspiração
Inspiração, matéria prima do poeta
A quem, muita vez, não se mostra amiga
A este que deseja ser dos versos um esteta
E contigo andar de braços pela vida
Ele é teu súdito e de ti carente
Anseia, clama, roga e por ti chama
Na hora de compor é dependente
E é nesta hora que tua mão ele reclama
Disseste a ele, tomei conhecimento
Que tu inspiração és como o vento
Passas e trazes contigo os versos
Mas logo os varres se este for o teu intento
Disseste ainda e isto guardo de cor
Que nada é melhor e aí está explicado
Para compor, o poeta precisa estar de bem com o amor
Melhor ainda se estiver apaixonado !
Do livro Poemas de Paulo Guedes
O RIO DE MINHA TERRA
Passa um rio pela terra
De quase todo poeta...
Minha terra também tem um rio
Que passa e deixa lembranças,
Que passa e deixa saudades,
Que me inunda de amor
Pela minha terra
Toda vez que em seu manso passar
Molha-me o corpo e a alma.
Se o simples passar de um rio
Pela terra de um poeta
É poesia,
Que nome devo dar
A um rio passando
Pela minha terra
E pela minha vida?
Não sou poeta
Escrevo
só o que sinto
e devaneio.
Se é o suficiente?
Não sei.
Não sei
Sei apenas
que a poesia
nada me
cobra.
Não, não sou poeta.
Eliete Carvalho
Ser poeta é
traduzir em palavras
o que se sente,
se ouve,
se vê
ou se imagina,
na busca de um mundo
real ou fictício
que comova,
toque
ou envolva o leitor,
ou não.
Diante de nós,
temos apenas um céu aberto,
essa é nossa nova morada,
bem-vindo: dizia o poeta!
podes entrar...
O Pintor de poesias
Assemelha-se o poeta,
A um jeitoso pintor,
Que após desenhar a reta,
Faz um quadro de valor.
Enquanto o dotado artista
Pinta as cores de uma flor,
O hábil e audaz lirista
Acha a alegria na dor.
Imagens a tinta escreve
E a palavra pinta rima;
Mesmo um feito muito breve
Torna-se única obra-prima.
Risca, pincela, sombreia
Às letras mortas, aviva.
Zela, contenta, anima
Ao bom descanso convida.
Pensa, avalia, medita,
Às cores mortas, alegra.
Rima, argumenta, versa
À bela arte invita.
É o pintor de poesias
E o poeta de afrescos.
O feitor das alegrias
E dos autos principescos.
Vinde à agradável arte
Do espírito eloquente.
E pintai seu estandarte
Adornado belamente.
O poeta não precisa de barco para navegar
Do mar para mergulhar
Da luz para ver a claridade
Do amor para ter um par
Dos braços para um abraço
Da boca para beijar
Vejo-te como uma janela aberta,
como o sopro de um poeta.
Como o grito de um Rei,
e o bater de asas de uma borboleta.
És sempre tão silenciosa.
Te convidarias para experimentar um café ás três da tarde, numa quarta-feira, se pudesses.
Oh, liberdade,
Por que me soas tão quieta?
