Fado
Minha poesia
Minha poesia não é de fado
nem de medo, nem de tédio
minha poesia não é de hoje
aos que dela se alimenta
não trás culpa nem remédio
Minha poesia é riso ao que chora
minha poesia nunca foi despedida
minha poesia, inoportunamente fica
quando lhe pedem pra ir embora.
Minha poesia não é de angústia
nem de saudade dolorida
minha poesia vislumbrar o futuro
se agarra ao presente e dele suga vida.
FADO DA SAUDADE
Fado vadio, fado da saudade
Nesta noite fria bebemos um vinho
Um tinto maduro, amargo como a vida
Com o travo a alecrim, a rosmaninho
Ou talvez um bom vinho do porto
Na sala toca-se, canta-se o martírio maior
O fado de dor, da saudade meu amor
Choram as nossas dores ao som dos passos
Da vida feita em pedaços, melodia orvalhada
Refeita de felicidade, do passado, presente
Na sala o silêncio é total, nesta noite fria, já quente
O coração fala mais alto, segredos sem voz
Com o silêncio a tristeza cala-se, inibe-se de amor
Na rua escura ausente de pranto, não passa ninguém
Voz magoada, flor do deserto, de uma canção tão bela
Que nem às paredes caiadas, nem a Deus me confesso
Dos teus fixos olhos castanhos, já presos nos meus
Fado de lágrimas cansadas de quem já muito ama e amou.
Poesia é música de fado falado
que sai da alma encantando o coração
Poesia é um sentimento alado
que espalha iluminando a escuridão
mel - ((*_*))
"SÚPLICAS"
Fado das palavras....
Que dizíamos e já não dizemos
Palavras ditas, rimadas....
Amadas, odiadas tantas vezes
Onde floresce um jardim
De camélias que eu tanto amo
Jardim que está na nossa vida
Tão rica e perfumada
Cheia de encantos e desencantos
Por culpa nossa ou de outros
Alheios aos nossos sonhos
Á nossa vida, a tudo que é nosso
Fado que o vento varreu
As nossas horas que mudam de lugar
Poesia fingida dos olhos da alma
Onde morremos mesmo sem morrer
Chegamos a partir, mesmos sem partirmos
Mão noturna que escava o silêncio
Entre a singela chuva, que aldraba na lama
As brumas de um cavaleiro sem amada
Fornalha de pão quente no forno
Da imensa fome do impenitente mendigo
Entre segredos de amor já refletido
Surge o suplico e desprotegido
Da imperfeição que os nossos olhos
Nunca viram línguas no espelho
Queimados do impenitente tempo
Tantas vezes perdido por nós esquecido
Toupeira que escavava entre o silêncio
Dos nossos sentimentos impuros
Rasgados nas brumas
Do nosso inconsciente feito em súplicas
Fado das palavras de uma penumbra
Sombra chocalhada, abafada
Do nosso sangue que amadurece
Como as uvas morangueiro que bebemos
Já fermentado o liquido doce dos deuses
Branco, rosa, roxo néctar da perdição das almas!
CANÇÃO PRIMEIRA
Desse amor que agora vivo
No peito, que pulsa elevado
Que de perfeito em fado
Fez-se canto, amor, contigo...
E do distante que’u esperava
Fez-se flor nascido em rosa
Ao jardim que te rogava
Nos versos de paixão e prosa...
Um esplendor de sol tão cheio
Na noite casta, uma explosão
No sentir profundo coração
Nesse amor que te vivo e leio...
De perene um notar tão forte
De cânticos a canção primeira
Vejo em mim razão e sorte
Vejo em ti, de crescer roseiras...
Pétalas podem sem notar cair
Melodias podem ser em dor
Mas destino que provou de vir
É de eterno nesse meu amor...
Passa
o tempo por nós passa
passa o ser sem tempo
num delírio e arruaça
o fado sem passatempo
o futuro
longe ou perto
fácil ou duro
sempre incerto
e tudo passa
mágoas passam
a perda a caça
pessoas passam
é ventura é pura graça
a existência é oblação
a vida passa...
Luciano Spagnol
Arca
O fado é epílogo da saudade
Na sua rapidez, tudo passa
Amores, dores, rumores, fugacidade
Desenhando no rosto marca
Traçando na memória diversidade
Na vida fazendo fuzarca
Na alma bagagem e fertilidade
Passo a passo erigindo nossa arca...
Um dia a gente acorda, olha no retrovisor do fado, e vê que a distância é proporcional ao tempo. Aí você levanta e vê que o epítome nunca pode ser um passatempo.
Lá vou eu com a saudade na mão
Sendo levado ao sabor do fado
Respingando as lembranças pelo chão
Triste tormento este suspiro calado
Sorte
Nos sulcados do cerrado
Deslizam linhas do meu fado
Enrugadas, ressequidas
Nos devaneios perdidas
E de tão solitários dias
Mastigando os fardos,
em poesias.
São trilhas tão plangentes
De passos tão descrentes.
E desde então, caminho
Poetando, descalço e sozinho...
Luciano Spagnol
23/05/2016, 22'46"
Cerrado goiano
O Fado é espaço que meu espaço amplia,
Braços que meus braços aconchegam,
Olhos em que se perde o meu olhar!
Tino, desatino, destino, ilusão, desilusão,
A mágoa de um Povo, a Alma da Nação!
Meu engano, seu ato...
Foste meu tango, meu fado
Eras meu moreno, meu pardo
Meu tigre, feroz leopardo
Meu amor, conserto e estrago
Que me conduzia desde o tablado
A um céu de magia desencontrado
Vem e me devolve o chão roubado
Para que eu siga meu destino fadado
Príncipe mascarado de mil encantos
Que me lançou à sorte dos lamentos
Dos risos ausentes, a chorar pelos cantos
Num um palácio forjado de sonho inventado
Como chegamos a esse final?
Tudo o que era pra ser alegria, se fez fatal
Porque em ti, vigorou o irracional animal
Que trocou o respeito por todo um mal
Foi no coração que tudo findou
Sua valentia, insana e demente
Marcou mais que minha pele e mente
Foi ela a algoz do amor que uniu a gente
- VIANDANTE -
Ser poeta é meu fado
É tristeza, é solidão
Talvez seja um cansaço
A caminho do coração.
Desisti de saber quem sou
Nesta viagem errante
E não saber aonde vou
Faz de mim um viandante.
Vou dormindo o meu destino
Embalando a dor no peito
Como a vida d'um menino,
Recém-nascido, no leito.
As coisas são como são
E aceita-las sendo assim
É sofrer de mão em mao,
Chorar, chorando só por mim.
Bora tomar café e enfrentar o fado com fé!
Bora, ser feliz!
Aprendiz.
Afinal, doutrinar é dia a dia.
Então, Paz e Bem, harmonia,
e também amor sem tirania.
Pois assim, damos asas à fantasia
e a vida, rimada poesia...
BOM DIA!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
BANGALÔ
De canto a canto, a poesia
poetando,
se isolando, fazendo a travessia...
do fado...
E neste poético bistrô
o cerrado
e um bangalô
de moradia.
Conquistando sentido, sempre de partida.
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Cerrado goiano
- À TOA -
(Para o fado das Horas)
Se eu morrer de madrugada
Numa cama só e triste
Não te esqueças minha amada
Nem de mim te despediste.
Se eu morrer em noite escura
Numa casa sem janelas
Não te esqueças, com ternura
Junto a mim, põe duas velas.
Se eu morrer em dia claro
Numa rua da cidade
Esse dia será tão raro
Deixarei em ti saudade.
Mas não vou por ti morrer
Quero mais acreditar
Vou esperar, não vou esquecer
A promessa qu'irás voltar.
À ALMA DE MINHA MÃE
Partiu-se o cordão do amor absoluto
No meu desditoso fado então trincado
E as preces no rosário assim de luto
Rezam tristuras no chão do cerrado
Lacrimoso eu, debalde na dor soluto
Soluça a baixa deste relicário delicado
Minha mãe, tão jovem em seu atributo
Pôs suspiros no meu peito instigado
Tal um ramo que seca sem dar fruto
Em um outono tão frio e desfolhado
Assim, o meu afeto se faz convoluto
E na continha de saudade, ao lado
Das lembranças dum amor resoluto
À alma de minha mãe, louvor ofertado!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
