Crônicas
TEMENDO VOAR, VOEI PARA O RIO!
CRÔNICA
Voar é uma coisa complicada para muitos. Para outros não. Muitas pessoas sonham com esse momento.
Mas aí vêm o receio,o medo...a fobia; e paralisa o indivíduo.
Depois de alguns dias em que produzi o texto poético “Tenho Medo de Voar”, minha primeira vez chegou: voei, mesmo temendo voar!
No Aeroporto Internacional de Confins, prestes a partir pela primeira vez num vou com destino a capital carioca, presenciei in loco, um corpo de uma senhora sendo removido de uma aeronave em saco-plástico, pela equipe do Instituto Médico Legal (IML). A passageira em óbito, tinha vindo de um vou oriundo de Recife.
E a minha tensão ia aumentando gradativamente...
Também, Impactou-me um pouco, a passarela que vai da plataforma de embarque à porta de entrada do avião.
Aquilo me fez lembrar aqueles corredores dos matadouros, por onde passam os animais bovinos para serem sacrificados.
Pensei desistir, mas eu precisava mesmo partir: afinal de contas tinha o sonho de voar, e havia um evento muito importante que eu precisava estar presente.
Ganhei as passagens aéreas de ida e volta para o Rio de Janeiro do Dr. Péricles, via Dr. Wenderson; e aquela era uma oportunidade única de obter mais uma experiência de vida.
Apertei o cinto até o último estágio, e pedi perdão ao Pai, pelo meu passado pecaminoso...
Ignorei o perigo e meus temores... Desprendi meus pés do chão,e por um instante me fiz alado,e ganhei o céu do meu Brasil.
Nas alturas, aquele trem de longas asas,com a cara pra cima insistia em não parar de subir montanhas.
Eu estava preocupado com aquilo, e estranhei o comportamento do piloto que insistia naquele aclive.
Torcia para que o comante nivelasse a condução o mais rápido possível; pois meu coração não parava para descansar um só instante. Daquele baticum sem fim.
Um casal amigo, que estava ao meu lado ofereceu-me ajuda: me dando as mãos para me apoiar.
Dizem que do alto não é bom olhar pra baixo, mas arrisquei uma olhadinha discreta, e não era mesmo muito legal: a ansiedade só aumentava à medida que o avião subia o morro.
A baixo, um mar de espumas se formou; lembrou-me a poluição do Rio Tietê; e os quebra-molas, que havia no caminho, fazia o bicho pular seguidamente.
Ai meu Deus!...
Logo à frente,o piloto anunciou o pouso, mas não pousava; até achei ser propaganda enganosa. Mas, realmente ele ainda não tinha a devida autorização para isso.
Próximo ao destino final, o tempo não estava bom, e por duas vezes não se via nada em volta: a cerração não permitia.
Mas,tudo passou tão de repente!...
Até que a torre autorizou o pouso, e a luz no fim do túnel apareceu:
vi a cidade maravilhosa sob meus pés, dando as caras, e o ar da graça; o Cristo - como sempre - de braços abertos, pertinho da gente, quase ao alcance das mãos, nos desejava boas vindas.
Depois, fui informado por um amigo jornalista, que a pista do Aeroporto Santos Dumont, é uma das menores e mais perigosas do Planeta. Mas eu já estava em terra firme! Não senti muito o impacto da notícia.
Logo pensei comigo: se o processo de aterrissagem da nossa aeronave não funcionasse 100%, todos nós,passageiros daquele voo, estaríamos submergidos nas águas frias daquele Oceano.
Com a recepção e a bênção do Cristo que abriu os braços para o meu abraço, mergulhei na vida da cidade... Dioturnamente.
Na Urca, segui os passos de papai: andei no Bondinho do Pão de Açúcar. Vi o mundo de beleza que ele viu, e o mar lá embaixo; lotadinho de barquinhos brancos e Iates da nobreza, e a Praia Vermelha cheia de banhistas.
Passei lá pra molhar os pés e tirar uma foto.
Segundo informação veiculada nos meios de comunicação, neste mês janeiro o Rio, recebeu 2 milhões de turistas.
Fiquei hospedado ao lado da Linha Vermelha, que naqueles dias predominava o branco característico da paz.
Na Feira Nordestina, em São Cristóvão, ouvi diversos cantores interpretando o velho Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Genival Lacerda... Comi buchada de cabrito e matei saudade do meu Maranhão.
Eu vi nos ensaios carnavalescos, nordestinas (os), dançando que nem acadêmicos do samba, para imitar o carioca e fazer bonito no carnaval.
Deslumbrei-me com a maestria e beleza daquelas mulatas requebrando no salão com a maior desenvoltura e encanto.
Também tirei uma foto com o compositor e mestre do samba carioca, Arlindo Cruz,do Programa Esquenta da TV Globo, apresentado por Regina Casé.
Estive na casa do Imperador D. Pedro II (hoje, Museu Nacional), na Quinta da Boa Vista, e da janela - que ele gostava de ficar - contemplei a beleza do jardim, com plantas e árvores trazidas de sua terra natal - muitas delas plantadas por ele.
Na Casa das Beiras, a casa mais portuguesa do Brasil,no bairro da Tijuca,RJ,- em noite de gala acadêmica - ao ver e ouvir os grupos folclóricos de Portugal – e agora, como membro do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Lisboa, com o registro no Gabinete Real Português n° 6.907.8;
sinto-me, mais irmanado aos povos de além mar, e mais integrado do que nunca à Cultura Lusófona.
Numa manhã de lazer com os amigos da academia de letras, na beira d’água, no Leblon,vi coisas tão lindas!...Tão talentosas!...
Nas ruas, no calçadão e nas areias da praia, tomando banho de sol e de mar...
Depois de freqüentar o reduto do saudoso poeta Vinícios de Moraes - em Ipanema e mediações - não posso contestá-lo de que as moças de lá - em trajes de banho ou não - são mesmo cheias da graça.
Não devo deixar de propagar por onde for que "o Rio de Janeiro continua lindo!..."
O sonho também não deve morrer; e,só se perde o medo de voar, voando!
17.01.17
UM MOMENTO NO PARAÍSO
CRÔNICA
Por um tempo, não ouvi e nem inspirei as impurezas, sonoras e do ar, da metrópole; provenientes dos motores veiculares - na sua grande maioria -,no processo da queima incessante de combustíveis fósseis. Foi um investimento compensador aquele meu: estar naquele Parque Natural.Tudo era novidades por lá,mesmo sendo eu de origem interiorana,mateira.
Notei uma leveza em meu corpo!...E uma folga em minh'alma!... quando pus meus pés naquele santuário.
Provei do doce das frutas e do prazer das massas; e matei a cede na fonte da água da vida.
Abracei o jequitibá, e como os povos indígenas,naquele instante,fiz meus pedidos a Deus; e olhando para a copa do mesmo,me vi mais perto do céu.
Guardei em meu arquivo pessoal,o registro das imagens das palmeiras-juçara, que fornecem ao homem o palmito...
E as achei bonitas!...
Morri de dó delas, ao saber que, são sacrificadas por tão pouco!...
Recebi a paz do silêncio e o frescor da mata, em cheiro suave da terra molhada pelas águas, que regam aquele paraíso, nos períodos chuvosos.
Andei... Andei...O tempo todo; pisando em tapete de folhas das árvores que desprenderam dos galhos no tempo certo, e forraram o chão para mim.
Mas, o paraíso não estava completo: senti muita falta dos pássaros e de meus amores... que também alçaram voos para outros lugares... Andam arredios.
Conheci o pau-brasil que deu o nome ao meu país; revi o umbuzeiro,o pau-ferro...o jacarandá,o cedro; e no caminho, me encantei com a beleza das flores!... A densa floresta do Instituto Agronômico, some de vista e é um encanto só!...controla o microclima urbano e preserva a flora e a fauna; serve de lazer para a população e de estudos para a comunidade científica; dentre outras atribuições.
Sentindo meu organismo a implorar por mais energia; no turno da tarde,lanchei com os cursistas,coordenadores do BH Itinerante,edição XXXIII; e com os idosos - do grupo de trabalho -, rodeado de crianças por todos os lados,da Escola Santa Maria.
Dei pitangas aos peixes, que fizeram a maior festa; no lago turvo, pelas águas da chuva; vi minha canoa do tempo de menino, ancorada no porto da minha infância.
Beijei o coração de Cora Coralina,que estava em sua poesia, preso no saquinho de sementes, que ganhei da cursista Berta Vieira,minha eterna professora!
E quando a lua banhou de prata meu corpo inteiro;repousei no hotel das abelhas solitárias.
(24.11.16).
A Luta Nao Pode Esperar
Crônica baseada na morte do estudante de Matemática da UFG, Guilherme Silva Neto de 20 anos.
Por Josielly Rarunny
Imagine um jovem alternativo e revolucionário, desses que defende suas crenças, capaz de lutar até a morte. Literalmente.
Guilherme saiu numa manhã de quarta feira após uma briga com o pai, motivada pelo estilo do rapaz, causas sociais e políticas que Guilherme defendia.
O pai, engenheiro de 60 anos, conservador e depressivo não aceitava as atitudes do filho. Proibiu Guilherme de participar da tal reintegração de posse que ocupava universidades e lutava contra as propostas da PEC 241.
Discutiram. Discutiram feio por sinal. Dessas discussões onde se ouve gritos, xingamentos e ameaças. Saíram cada um para um lado.
Guilherme deu as costas e foi a luta.
Que a luta não pode esperar.
Quem sabe ele foi cantando a canção de protesto de Vandré.
Pra não dizer que não falei das flores.
A mãe na sala ao lado ouvia a discussão.
Em oração repreendia e preferiu não interferir.
Vai saber o que se passa no coração de uma mãe.
Aquela dor recolhida, aquele choro engolido, uma aflição que parece não ter fim. Um anseio de ver a paz reinando no almoço em família do dia seguinte.
Um almoço que não acontecerá mais.
O pai tinha o tempo de esfriar a cabeça ou sacar uma arma.
Advinha o que ele fez.
Voltou para casa.
Encontrou apenas aflição e oração em forma de mãe.
O filho não estava mais. Encontrou Guilherme numa praça perto de casa e disparou contra o filho quatro vezes. Houve tumulto e gritaria.
Guilherme conseguiu correr, mas o pai alcançou o filho e com mais disparos o matou.
E com o mesmo tempo que ele levou para sacar a arma, debruçou sobre o corpo do filho, talvez arrependido da besteira feita. Não quis ficar e lutar contra a justiça social e brasileira.
Que por sua vez nem é tão severa assim.
Preferiu antecipar o julgamento e a justiça divina.
Guilherme deu as costas e foi a luta.
Que a luta não pode esperar.
Quem sabe ele foi cantando a canção de protesto de Vandré.
Pra não dizer que não falei das flores.
Ninguém sabe, ninguém ouviu falar.
O que todos sabem é que ele foi.
Infelizmente, pra nunca mais voltar.
sobre asas da cronica
retruco em meus sonhos,
... pesadelos talvez que te agrada...
calo me diante teu silencio,
tento chorar em uma canção
que teu espirito respira
em tais formas e distancias
que nada torna se uma melodia,
sobre o luar sua face me encanta,
sempre digo que para sempre
é parte de nossos destinos,
para ainda poder viver seu amor.
mesmo depois de morte inevitável,
o desejo sobre o parador de nossas almas
atravessam os portais do tempo...
e olho nada mudou diante da primeira vez que a vi
nos notórios espaços escuro...
então deixe me nas profundezas do teu coração.
A minha teimosia é crônica.
Sim! Absolutamente crônica.
...ou você acha que foi com uma mente volátil e um caráter dobre que eu cheguei até aqui?
Sou a teimosia em pessoa.
Sou a teimosia enraizada.
Sou aquela mão que agarra um galho em meio a correnteza.
Sou aquela flor que nasce apesar do asfalto.
Sou onda do mar contra rochedos.
Sou a palmeira suportando os ventos.
Quem me olha e não me vê quer podar minhas raízes.
Quem me vê apesar da superfície sabe que há vantagens em tudo isso.
A minha teimosia é a raiz de uma personalidade forte, que sobrevive apesar da superficialidade que o mundo exibe.
Crônica " A Minha Verdade"
De Clara Albuquerque em 16/10/2015.
Superar? Ninguém disse que seria fácil ouvir um não da vida, mas ninguém disse que você precisava passar teus dias em casa chorando por isto. Ninguém disse que todas as pessoas do mundo seria obrigadas a gostar de você, aprenda que muitas pessoas vão te amar pelo que você é e muitas outras te odiaram pelo mesmo motivo. Não é possível agradar a todos, não é possível ser agradado por todos. Aprenda que é preciso aceitar cada NÃÕ da vida como uma forma de seguir por um caminho diferente daquele que você havia traçado. Errados somos nós que fazemos planos para a vida mesmo sabendo que os planos dela para nós são totalmente contraditórios. Pare com isso de achar que todo mundo tem que amar, que é só se apaixonar por alguém que este sentimento será será totalmente recíproco, não, não vai ser. Aliais, quase nunca é. Acostume-se. A vida te dará muito mais "nãos" do que sim. Aprenda que a maioria das pessoas irão te machucar, a maioria, eles irão te magoar, te fazer sofrer. Não dá pra dizer que a vida vai te tratar bem. Não, ela não vai.
Você vai apanha muito, até aprender a se defender sozinho. Chego com isso de achar que precisa de alguém para isso ou para aquilo. Você não precisa de ninguém, você nunca precisou e não há de precisar. Você só precisa de você mesmo, precisa acreditar em sí mesmo, precisa entender que tudo o que você deseja pode se realizar, mas para isso é necessário que você dê o primeiro passo. Não adianta ficar se lamentando se lamentando porque ouviu um não da vida. Meu bem, ela te dará tantos outro mais e se você resolver cair a cada um deles, vai ficar difícil sair do chão. Enxergue novas possibilidades, novos caminhos. Não se prenda a algo que não deu certo, coisas novas podem acontecer a todo momento, mas se você estiver focado demais no que aconteceu não terá tempo para enxerga-las. Enxergue tuas lagrimas, quem te ama que te ver sorrindo, não vai passar a mão na sua cabeça e dizer "tadinho". Não é de pena que você precisa, é de coragem para se reerguer. Para sorrir para o mundo e mostrar a todos que é sempre possível acreditar mais uma vez. Mesmo que sofra, mesmo que chore, isso não dura pra sempre. O que deve durar para sempre em nossa vida é a vontade de recomeçar.
Todos os dias é uma nova oportunidade de começar de novo.
"CUIDADO COM AS MÁS COMPANHIAS! ..."
CRÔNICA
Quis saber o seu nome, mas, ele gosta de ser chamado de “Carioca” então,não insisti. É mineiro de coração; aportou na capital mineira em 2003, vindo da "Cidade Maravilhosa". Conheceu Ilca uma linda mulher! que lhe deu guarida, no Bairro São Gabriel, Região Nordeste da Cidade, e conviveu com ela um ano e quatro meses; apartaram os pertences e seguiram seus destinos; ela ficou por lá e ele veio para o Céu Azul; onde caiu na graça de Eliete, viveram muitos anos felizes; mas logo ficou viúvo. Estabeleceu-se como administrador do Shopping Lixão - que funciona dia e noite à céu aberto, e constitui-se de objetos dos mais variados seguimentos, ganhados dos moradores da redondeza que ainda podem ser reaproveitados; revende e doa, faz qualquer negócio - na Rua Alvarenga Campos com a Jornalista Margarida Maciel.
Nunca mais voltou ao Rio, e não tem tanta saudade de lá. Fez muitos amigos por aqui - que faz questão de chamá-los de “camaradas”. Adora Minas Gerais: se deu bem demais da conta: com o povo, o clima a culinária e o lugar... "Posso voltar a minha terra a passeio, um dia, se tiver um bom dinheiro" - disse. Tem vergonha de voltar pior do que saiu.
Ainda há uns tios e irmãos em sua cidade de origem; mas nenhuma forma de contato manteve com eles nestes anos todos vivendo distante. Não faz questão disso. O Dionatas, seu filho de dezesseis anos, mora com a mãe no Bairro Gira Sol.
Deixou seu torrão natal depois que perdera seus amados pais: Dona Maria José Nilda da Silva e Seu Walteir José Felipe; a partir de lá para cá, Carioca passou a viver uma vida sem muito apego com as coisas materiais. É bastante solidário. Sempre compartilha com as pessoas alguma coisa que ganha; até eu já ganhei uma blusa de frio do Carioca.
A rua é o seu lar, e o céu é o seu teto; atualmente mora no 'cafofo' do quase xará Cremilson, que arrumou um lugarzinho que o abriga. Já caminhando para o meio século de vida jura de pés juntos que nunca usou drogas; apesar de conviver com usuários dessas substâncias alucinógenas, vinte e quatro horas.
Mas a cachaça é sagrada para ele. "Esse produto me deixa mais calmo; é o único vício que tenho".Confessa. Mas,surtou várias vezes.
Carioca não é de brigas, “sou da paz” não se cansa de bater nessa tecla. Mas sempre aparece alguma encrenca; como não é de correr atoa e, gosta das coisas corretas, acaba se envolvendo em alguma confusão. E vai resolvendo as questões como pode, na medida que vão surgindo; mas somente quando alguém o “ataca” como gosta de dizer. A última confusão que se envolveu foi com o Baiano a pouco menos de um mês; mas nada que uma peça de 8 não resolva. Machucou bastante o companheiro de bebidas,e não deu o golpe de misericórdia porque atendeu ao pedido do Cal,um de seus camaradas mais chegados; graças a Deus todos passam bem! Não guardaram máguas ou rancores, um do outro, e já estão conversando novamente e bebendo uns goles de “1113” ou, outras bebidas que apareçam.
Carioca salvou muitas pessoas na região onde vive: de facadas de tiros,engasgos,... afogamentos. Simão,Van Damme,Ronaldo, Josias... E bichos: como Gambás, pássaros... cães. Outro dia ele passou na minha rua com um sapo na gaiola - que havia livrado das pedradas e pauladas, de pessoas sem coração, quando se alimentava de mariposas que caíam ao chão, da lâmpada de um poste.
Nosso personagem principal conta com quase dois metros de altura e a única peça de roupa que ostenta no corpo é uma bermuda. Faça sol, chuva ou frio... Não veste uma camisa por nada nesse mundo. Um de seus admiradores o Gugu, achou bonito o modo de vida do Carioca; quis imitá-lo e se deu mal (apesar dos avisos contrários àquela decisão): começou a andar sem a camisa também, para baixo e para cima, lá ia ele. Experimentou morar na rua. Isso foi em Maio de um ano qualquer,que resolvera inventar isso.Não demorou muito teve que ser hospitalizado às pressas e ficou quinze dias internado - foi diagnosticado uma pneumonia aguda. Após a alta hospitalar desistiu do intento. E voltou pro conforto familiar.
Em São Gonçalo - Marambaia – RJ; ainda adolescente, Carioca saiu com seus coleguinhas: Ronaldo e Fernando (o Gabu) e cometeu seu primeiro ilícito: roubaram o galo de Seu Manoel – um ex-colega de farda de seu pai no Exército Brasileiro.
Carioca animou com aquilo e já prestes a sair novamente para mais “um corre” – um roubo...Dessa vez sabe-se lá o quê!
José Felipe seu pai, sabendo de tudo, deixara um recado com a esposa Dona Maria, que precisava conversar seriamente com o garoto Carioca. Que ao saber, prontamente se apresentou ao pai em seu escritório que ficava num quartinho nos fundos da residência de treze cômodos da família.
O velho era de pouca prosa com os filhos - com os de fora não. E nada passava despercebidamente naquela casa; a honestidade imperava debaixo daquele teto sob seu domínio. Seu walteir não admitia em hipótese alguma, coisas erradas. Carregava consigo a disciplina militar.
Com a sabedoria de um verdadeiro patriarca,não precisou bater, não adjetivou o seu filho de ladrão( ali diante dele de cabeça baixa pensando no pior); e nem sequer rememorou o fato ocorrido.
Simplesmente disse ao menino Carioca; quando batera na porta do seu escritório e disse: - pronto papai,à suas ordens!... Sentado em sua escrivaninha deu as ordens: - sabe o Tutti, seu galo de estimação? - a ave xodó do Carioca; pegou ainda pintinho para criá-lo,e tinha uma afetividade imensa com aquele ente querido; era só estalar os dedos e o bichinho vinha correndo ao seu encontro, de onde estivesse. - Pega ele pra mim agora!... Disse o pai.
- Sim senhor! Com muita dó pegou o galo e o entregou. Seu Walteir o devolveu em seguida.
- Agora leve-o ao Seu Manoel!...
Aí a fixa do Carioca caiu naquele momento!: Ia pagar o galo que havia roubado com os amiguinhos, com juros e correções monetárias.
Ao entregar o Tutti, com o coração partido, aquele bicho que ele mais amava; ouviu da boca de Seu Manoel a frase que mais marcou a sua vida e não saiu mais da sua mente: “ Cuidado com as más companhias!...”. Somente isto e nada mais.
A lição do pai, aliada as palavras de Seu Manoel, ainda estão fresquinhas na memória do Carioca até hoje. E por causa disso ele não mais colocou suas mãos no 'patrimônio alheio'. - Mesmo com toda a necessidade que têm passado.
(30.01.18)
MEU CÃOZINHO COR DE FUMAÇA
CRÔNICA
Desde cedo tomei gosto pelas cassadas, naquela época não era proibido isso; em São Raimundo do Doca Bezerra Jesiel,meu irmão mais velho, me levou para “faxear” pela primeira vez; – uma estratégia que consiste em se fazer uma picada na floresta, removendo-se as folhagens usando para isso os ramos das árvores; e, à noite, munido com uma lanterna emparelhada à perna, piscando-a, alternadamente,faz-se muitas idas e vindas - num sentido e noutro do trilho. Até se deparar com animais silvestres tentando atravessar o caminho.
Onde são interceptados e abatidos com tiros de espingardas de variados calibres. Onde meu irmão colocava o pé eu também fazia o mesmo – a lanterna era uma só, para nós dois;se acabasse a carga teríamos de fazermos uma fogueira e esperar o dia raiar. Naquela noite não tivemos sucesso e não levamos o pretendido alimento - a caça - para casa.
Mas as caçadas com os cães,eram mais interessantes e divertidas. E, numa destas, capturamos um filhote de cachorro-do-mato,segundo os colegas mais experientes. Não os deixei matá-lo: levamos para criá-lo em casa. Cor de cinza, ele; o bichinho era uma fofura só! Um xodó da gente.Tinha uma energia!....uma vontade de viver!....e, crescia que era uma beleza. A princípio só tomava leite na mamadeira, mas com o tempo começou a comer de tudo. Era vivedor. Até seu reinado desmoronar de vez; já grandinho ‘mostrou as unhas’ e a que veio: as galinhas começaram a sumir do terreiro e ele fora flagrado matando e entrando em casa com uma delas na boca. Aí o mundo desabou por cima dele e de mim: papai com um porrete na mão e sem um ‘pingo’ sequer de misericórdia, o seguiu; verbalizando: “Nunca criei uma raposa na minha vida e não será esta que vou criar-la no meu barraco”. Fiquei a chorar pelos cantos inconsolavelmente!...com o encantamento daquela pobre alma. Mas ele tinha toda a razão, em termos do bichinho ser mesmo uma raposa. Era a própria!
(14.02.18)
A CONVERSÃO DE JAMIL VIEIRA
CRÔNICA
A conversão desse obreiro se deu no início dos anos 1980. No período áureo da extração de ouro em Redenção no Estado do Pará. Jamil, juntamente com o irmão, Francisco Vieira Filho (Vieirinha), na companhia do pai, Francisco Vieira Sobrinho (Seu Vieira) como era conhecido; deixaram Campos Belos e foram se aventurar naquele garimpo.
Por lá, não demorou muito o pai de Jamil, o tio Vieira, já havia garantido, cinco quilogramas de ouro puro. Mas logo também, esbanjou todas as cifras monetárias proveniente da venda desse minério precioso, com mulheres e bebidas.
Seu irmão, o Vieirinha sofrera um trágico e fatal acidente...
Jamil contraiu febre amarela naquele Estado, e o seu quadro clínico piorava a cada dia; votando a sua cidade de origem, foi internado às pressas na Casa de Saúde em Campos Belos - GO.
“O culto hoje vai ser maravilhoso porque Jesus vai derramar do seu poder...!” – pensei o dia inteiro nesse fragmento de um hino da Harpa Cristã.
E fora mesmo: naquele dia houve pregação genuína, renovos espirituais e salvação de almas...
Depois do término do culto, estando eu com uma condução disponível, convidei a tia Lídia a fazermos uma visita ao Jamil seu filho. Ela de imediato aceitou o convite, e lá fomos nós... Levar também a saúde espiritual para aquela vida.
Fraco e com o amarelão característico da enfermidade, mas, ainda lúcido, falei lhe do amor de Jesus e deixei com ele o “Coração do Homem”; um livreto ilustrado que me acompanha até hoje. Que, com certeza já ajudou a salvar do pecado muitas almas, mundo afora.
Mostra desenhos representativos do coração do salvo em Cristo e do que ainda não passou por essa experiência.
Aparece o Rei Jesus reinando no coração do crente e o Rei das trevas reinando no coração do incrédulo.
Evidenciando que o nosso coração é mesmo um trono: há de reinar nele, um rei qualquer.
Nunca gostei de dizer a expressão: “Ganhei uma alma para Jesus”, como muitos evangélicos dizem. Prefiro dizer: “Ajudei a ganhar uma alma para Jesus.” Porque uma alma é tão preciosa que um só não dá conta de ganhá-la.
Milagres acontecem: Jamil recebeu alta hospitalar logo depois daquele dia que estivemos com ele no hospital, e correu para a igreja... E, nuca mais saiu d'onde o Senhor o chamou. “Bem aventurado aquele servo que, quando o Senhor voltar achar servindo assim”.
Enfim, aquela minha atitude era a ‘gota d’água’ que faltava na vida desse grande ser humano o Jamil, para que ele pudesse andar nos caminhos do Senhor.
A sua permanência, testemunho e frutos, na obra de Deus, é um motivo de orgulho para todos nós da família vieira. Que Deus o conserve no seu Santo caminho! Fazendo tudo aquilo que o Senhor mandou fazer.
(15.02.18)
PAPAI ODIAVA JOGOS DE BARALHO
CRÔNICA
Papai trabalhou como caixeiro ambulante por muitos anos; quando ainda residia no Estado do Maranhão, por volta da década de 50. Sua atividade consistia basicamente na comercialização de jóias de ouro e prata. Como pulseiras, cordões,colares,anéis,alianças,brincos e relógios de pulso e de bolso; Omega Ferradura, Mido... e outras marcas.
Vendia peças novas, e também recebia peças usadas nas transações comerciais que fazia; e como bom negociante não deixava escapar um bom negócio.
Suas mercadorias eram oriundas de uma ourivesaria de Fortaleza - CE. Que fabricava e fornecia tais acessórios a ele.
O trajeto das vendas, acertos de contas e reposição do estoque, e volta para casa, eram feitos em lombos de burros - animais muito resistentes às cavalgadas em longas distâncias. Daí o motivo de papai gostar de possuir bons animais de montaria.
Não é do meu conhecimento, dele ter feito seu trabalho acompanhado de outras pessoas. Exercera essa função, o tempo todo, no fio da navalha, sozinho.
Transportando uma carga valiosa daquelas e muito dinheiro em espécie; apesar de portar boas armas de fogo e brancas, e ser uma pessoa destemida; não lhe garantia muito, sua segurança. O perigo era uma realidade constante que não poderia ser negado.
A única vez que pôde contar com a companhia de alguém nas suas viagens laborais ao Nordeste do Brasil não teve Êxito: deu errado. Trata-se do Fausto Alves seu vizinho que, casado, pai de vários filhos e, desempregado; passando necessidades com a família, papai compadecido, tentou ajudá-lo.
Deu a ele arriado, um de seus melhores animais de montaria e o apresentou ao seu fornecedor no Ceará, garantindo a sua idoneidade. Onde, imediatamente, fora lhe concedido, uma enorme transação comercial de produtos de prata e ouro. Sem nenhuma garantia formal, como cheques, notas promissórias,duplicatas...Ou outras similaridades.
O empresário da capital cearense tinha apenas como garantia, somente a palavra do homem Natanael Vieira de Morais,meu pai, como garantia da transação. Nenhum cadastro sequer fora feito constando dados pessoais e transacionais do fiador ou do comprador. Um bom nome já valeu muito e ainda é a melhor coisa que se pode ter.
Papai explicou o serviço ao moço, e regressaram, cumprindo uma programação das festas religiosas que seguia rigorosamente, pelas cidades grandes e pequenas do interior dos Estados nordestinos do Ceará, Piauí e Maranhão.
Depois de alguns dias do regresso, e de muitas boas vendas realizadas...
Hospedando-se juntos, mas, atuando comercialmente, separados um do outro naqueles lugarejos festivos... Numa cidadezinha que não me lembro do nome no momento, onde as festividades aconteciam e impulsionavam a economia local; as vendas daquele tipo de produtos, naqueles dias, eram expressivas; e portanto, iam bem.
Papai nos dizia que naquela época as pessoas tinham o dinheiro, mas, não encontravam aquilo que desejavam comprar. Como um rádio um relógio, uma bicicleta ou uma joia.
Numa altura do festejo, apareceu o Fausto, ao papai, querendo um dinheiro emprestado que, segundo ele, serviria de troco, pois seu troco havia acabado. Ok! - Então Seu Natãn sem pensar muito concedeu - lhe um montante estipulado, para os repasses de trocos aos fregueses de Fausto. E, não demorou muito lá veio Fausto novamente com o mesmo álibi: querendo mais dinheiro para trocos. Aí papai desconfiou da estória e quis saber do que realmente estava acontecendo. Foi fundo nas investigações e descobriu:
Fausto já havia virado uma noite numa casa de jogos de cartas, e continuava envolvido até o pescoço naquela maldição. Em apostas vultosas em dinheiros; e já havia perdido o apurado de todas as vendas anteriores e todas as mercadorias que estavam sob sua responsabilidade.
Papai foi à loucura!...E pagou sozinho, aquela dívida. Para zelar do nome; e odiou para sempre jogos de baralhos.
(13.02.18).
NERO MORDIA ATÉ O VENTO, MAS MUDOU DE COMPORTAMENTO
CRÔNICA
Na cidade nem tanto, mas, na roça o ‘melhor amigo do homem’ era de muita serventia, principalmente para as caçadas. Hoje nem tanto, devido à proibição dessa atividade.
Seu Romualdo, feliz da vida com o cão que ganhara de Zé de Dôra, de Monte Alegre; viu papai e foi logo contando as boas novas:
- Seu Natãn: demorei, mas encontrei o cachorro dos meus sonhos. O bicho é bão demais!...
- Como o senhor soube disso?! Já fez alguma caçada com ele?
- Não, mas vou explicar pro senhor: tudo que ele ver pela frente, parte pra pegar; numa valentia!... Num respeita nada; outro diinha desses, ele fez uma bramura: botou um caminhão pra correr.
- Passou devagarzinho, um bichão desses de carregar boi nas costas (caminhão-gaiola), lá na frente de casa e ele latia com bravura aquilo; vançando nas rodeiras pra pegar mermo. O motorista teve que sair numa velocidade..., mais ele continuava vançando tentando rancar pedaços. E foi botar o bruta montes longe... bem longe. Voltou de tardinha morrendo de canseira. Agora veja o senhor, se ele enfrentou um aranzé daqueles... se pôr esse bicho no mato pra caçar, num vai sobrar nada que ele não pegue...
Mas Nero deu pra morder as pessoas. Crianças, idosos e não havia tamanho de homem, paus, pedras... Nada fazia Nero recuar. E os problemas de relacionamento com a vizinhança foram acumulando-se de tal maneira que dentro de pouco tempo Romualdo já queria ficar livre da fera que botara dentro de casa.
Estava determinado: Iria matar o Nero. Não aguentava mais aquele suplício. Mas Florisbela, a esposa, tinha amor pelo cachorro, e saltou na frente:
- Se você fizer isso, eu te largo na mesma hora! Bela não aceitava uma atrocidade daquelas. E, mais: quando o marido se ausentava da propriedade,não contando com mais companhias, se sentia protegida, tendo Nero por perto.
Mas Romualdo, com raiva, aproveitando que Bela estava pra casa da mãe, deixou o cachorro amarrado sem proteção de uma sombra, o dia inteiro; sem comida e sem água. Queria-lhe dar um castigo.
Ainda bem que apareceu alguém para salvar o bichinho daquele sofrimento! E Filipe fora o outro anjo da guarda de Nero.
Geralmente numa crise surge alguém com alguma ideia ou sugestão interessante para resolução de um problema. Filipe, seu velho conhecido, e proprietário de um terreno pros lados da Venerana; viu que poderia aproveitar o Nero nas caçadas que fazia por lá; juntamente com seus cachorros treinados.
E garantiu que, se ele lhe desse o cão, iria dar um jeito nele, e não morderia mais ninguém. Então Romualdo não pensou duas vezes: deu o Nero de presente ao amigo. E lhe entregou também um cambão para condução do cão pela estrada.
Alguns dias depois pela manhã, choveu. E, geralmente quando isso acontecia, os caititus iam fuçar a beira da lagoa, na mata remanescente, nos terrenos de Felipe; pra comerem os tubérculos dos pés de caités, abundantes por lá.
Então o Nero teve sua primeira oportunidade de dar um passeio e conhecer de perto os habitantes da floresta...ter contato com um outro ambiente. E foram para a caçada costumeira.
Seus colegas eram treinados, e conhecia cada palmo daquele chão e os bichos que moravam nele; mas, para Nero, aquilo era um mundo totalmente estranho. Os outros cães adentraram naquela densa florestal. E Nero não parava de pisar nos calcanhares dos caçadores - o tempo todo.
E por fim, pintou a primeira e única caça no trajeto dos cães farejadores de Felipe! Cãe!...cãe!...cãe!... Nero saiu derrubando tudo pela frente pra ver o que estava acontecendo. Se fosse uma caça pequena, só daria para uma bocada das dele.
Acuaram a caça, e os caçadores correram pra lá. Na cabeça de todos eram os caititus. Mas ao chegar ao local de difícil acesso, tipo uma gruta, ainda na mata fechada, avistaram uma imensa onça pintada que não crescia mais encima de uma rocha, e ouviram os gritos desesperados e doídos de Nero - vindo no sentido contrário do enorme felino que avista.
A dor de barriga de Nero, no momento que viu o bicho, foi tão intensa que era percebível pelo mau cheiro das fezes líquidas que vazavam sem parar, do seu intestino. Nero desapareceu na floresta escura; correndo e gritando até não se ouvir mais. Caim!...Caim!...Caim!...
Infelizmente mataram a onça; e ao regressarem à sede da fazenda, perguntaram por Nero, e contaram o que aconteceu. Ninguém deu notícia dele.
Penduraram o animal no alpendre, nos fundos da casa para tirara couro depois. Não demorou e Nero adentrou-se na casa, morto de cansado, com um palmo de língua de fora, procurando uma água, uma comida, na cozinha. Olhou pro quintal e avistou a onça pendurada... Deu novamente seguido gritos, pulou para trás e desapareceu daquela casa para sempre. Caim!...Caim!...Caim!...
Com uns anos apareceu na casa de Felipe o outro dono de Nero, Seu Manoel dos Reis, que morava a muitos quilômetros de distância, no Pouso Alto, trazendo notícias dele: - Nero apareceu lá em casa e não saiu mais. Está bem!... Todo mundo gosta dele! Ponderou o senhor. E continuou com os relatos a seu Felipe:
- Tá gordo que nem um capado; não ataca as pessoas e não late. É incapaz de ofendes uma mosca. Não vai ao mato por nada desse mundo, e o seu trajeto é da lagoa do caldo pro morro do pirão. Um AMOR DE CACHORRO!
Morder as pessoas inocentes, e o vento, é fácil, quero ver é encarar uma onça nervosa.
Ainda bem que Nero aprendeu com seus erros do passado! (15.02.18)
SURPRESAS AGRADÁVEIS, E MEU PRIMEIRO AMIGO DE 2018
CRÔNICA
Ontem 03.01.18, regressando das compras do início de mês, tive a grata satisfação de conhecer o nobre cidadão nevense, Edevalter Moreira - empresário supermercadista, da minha região.
Agora nosso conhecimento não é mais somente de vista ou superficial; mas, um relacionamento com mais intensidade e qualidade.
No encontro amistoso que tivemos gastamos um pouco de tempo, um com o outro, que fora muito proveitoso para mim e creio que para ele também.
Comungando dos mesmos sentimentos, emoções e ideários... a partir de então, nos olharemos com outros olhos. Os olhos da alma.
Parlamentamos sucintamente sobre uma temática: a nossa vida e obra.
O amigo Léo Serralheiro como é conhecido, fez uma ponte entre eu e Edevalter – ao compartilhar suas produções literárias no meu WhatzApp e informar a ele sobre meu perfil e material disponibilizado na Internet.
A nossa aproximação, contato e troca de ideias gerou esta crônica e resultou em uma boa amizade que há de perdurar à vida toda. “Quem têm muitos amigos pode congratular-se...”
Com a alegria de um adolescente deslumbrado e encantado com a vida, relatou-me em poucas palavras sobre sua trajetória no mundo das letras. Revelando-me como despertou o seu talento, na arte de escrever; adormecido dentro de si, por muitos anos – que fora despertado, aos poucos.
O conselho Divino é: “desperta o dom que há em ti!...” Muitos já tiveram a oportunidade de revelarem ao mundo, seus dotes; mas outros não. Edevalter segue esta orientação Sagrada desde que deu seu pontapé inicial em 2016. Quando produziu sua primeira frase.
Ao contatar-me pessoalmente com o amigo em questão, não demorou muito e eu já estava com seu caderninho, muito bem organizado nas mãos – onde descansavam seus belos textos originais. Manuscritos e digitalizados, recortados e grudados em suas páginas. “A primeira impressão é a que fica” pensei isso quando percebi a organização que têm com os seus escritos.
Uma surpresa agradabilíssima eu tive ao saber do gosto do Edevalter, a esse seguimento cultural! Bom demais lê-lo; e, ouvi-lo lendo-os para mim com muito prazer e ênfase, foi melhor ainda. Um produto muito bem trabalhado: Produções coesas, coerentes e contundentes...Reflexivas. Posso dizer que, Ribeirão das Neves é mesmo um chão que abriga grandes talentos.
Em dados momentos da nossa conversa, senti-me como uma pessoa muito especial: quando Edevalter interrompeu por alguns instantes o trabalho de sua esposa no supermercado da família, para me apresentá-la.
E ainda ficou radiante de felicidade quando o convidei a participar das reuniões mensais na Academia Nevense de Letras Ciências e Artes (ANELCA), na sede do município; - a qual sou acadêmico ocupando a cadeira numero 03,cujo patrono é J.G. de Araújo Jorge. Entusiasmado, confirmou presença no próximo encontro acadêmico que tivermos na referida academia. Como um bom sabedor que sou de que, todas as pessoas que escrevem, gostariam de ver seus trabalhos publicados e eternizados... O convidei também a participar comigo de publicações nas antologias virtuais internacional: a revista "Eisfluências" e o livro de antologia "Logos, da Fênix",com um texto em cada edição; que logo serão editados, em Lisboa – Portugal. Onde o aceitou prontamente.
Uma coisa é certa, eu e o meu mais novo amigo de 2018, temos algumas coisas em comuns: residimos no mesmo bairro, limítrofe ao Céu Azul; trabalhamos em atividades comerciais; descobrimos nossos gostos pela escrita, com nossos cabelos brancos; e, desejamos mais e mais exteriorizar e por no papel, nossos pensamentos de aprendiz de escritor. Pois, não conseguiremos mais viver d' outro jeito .
Ribeirão das Neves - MG. (04.01.18)
HÁ PODER NAS MÃOS, NOS OLHOS E NAS PALVRAS
CRÔNICA
Acreditem se quiserem, mas convivi com três testemunhas oculares fiéis dos fatos que discorrerei abaixo.
Quando Raimundão, amigo de infância e encarregado de papai no Maranhão e em Goiás; contou-nos, que Marieta - vizinha de fazenda –, com sua permissão, colhera algumas pimentas-malaguetas, numa pimenteira que fincou raízes próximo ao seu curral, e em seguida a planta carregadinha de pimentas havia morrido; a vontade que tive foi de trucá-lo: para não dizer com todas as letras que se tratava de uma grande mentira.
Há trinta anos depois num outro cenário geográfico distante, ao ouvir outros relatos de episódios similares, e, ligando uma coisa com outra, cheguei à conclusão que eu estava equivocado: Raimundão falava mesmo a mais pura verdade.
Pelo visto, isso pode acontecer realmente numa freqüência e regularidade que nem imaginamos.
Retornando à minha casa de uma atividade externa, passei na banca de revistas do amigo recente Reinaldo, no Bairro Sta Mônica; como costumo fazer.
Ele presta um relevante serviço ambiental voluntariamente; na região em que vive e trabalha. Cultiva viveiro de plantas - de todas as variedades - e faz doações às pessoas da comunidade local. E, tem uma relação harmoniosa com o Meio Ambiente que dá gosto de se ver.
Ontem, ao vê-lo, a primeira coisa que fora logo me falando foi sobre um episódio acontecido com ele, que ainda estava fresquinho em sua memória: uma senhora, indo ao Posto de Saúde Sta Mônica, que fica logo à frente do seu local de trabalho, bateu os olhos e elogiou sua linda mudinha de pimenteira de uns vinte centímetros de altura, num vasinho, que cultivava com carinho e todo cuidado do mundo; como faz com todas as outras mudas de plantas que cultiva.
Não deu outra: a plantinha de pimentas de Reinaldo fora nocauteada pelos olhos e pelas palavras daquela pessoa; e, não resistindo os ferimentos da agressão verbal e do olhar que viera sobre si - que parecia não ser um agrave por ser elogiosa até - veio a 'óbito'. Ele nunca havia visto uma coisa daquelas. E eu também não; e fui logo tratando de eliminar minhas dúvidas, quase que por completo, sobre estas verdades.
Naquele mesmo dia eliminei o restante das dúvidas que ainda perduravam em mim quanto os relatos acima.
Chegando próximo à minha casa, encontrando-me com Seu Nélio, e relatando o acontecido, disse-me que, com ele aconteceu o pior, quando deu uns limões a uma mulher, que achara aquelas frutas as coisas mais lindas do mundo. O limoeiro secou-se por completo no dia seguinte.
Não é de duvidar!...
É sabido que nossos olhos,nossas mãos e nossas palavras têm poder. Para o bem ou para o mal.
Mesmo achando ter um olhar bondoso ou por as mãos por necessidade e elogiar sem maldade; há momentos que não é bom arriscar um olhar,impor as mãos ou fazer qualquer comentário sobre determinada coisa. Pois,podemos ocasionar um efeito contrário e causar um dano – a uma pessoa,a um bicho... ou a uma planta - indefesa ou não.(17.01.18)
Cronica de uma escolha:
Ali esta o jovem indiozinho sem camisa
correndo com um tronco de madeira na mão,
brincando de mocinho e bandido, pique- esconde e bem escondido, sua vó sempre dizia este Baiano é um artista. O tempo passou o jovem indiozinho então cresceu, e junto com ele talento cênico meio que desapareceu, o talento pela poesia reaparece, e muitas donzelas apaixonadas hoje agradecem.
Crônica de uma prisão de muros agora caídos: Hoje acordei de um pesadelo inacabável nele alguém que podia fazer algo de útil estava aprisionado, prisão sem muros que me dilacera e sufoca, essa prisão que me
provoca e me condena, me faz tão pequeno, Sem insignificância nenhuma.
Não preciso disso para sobreviver, não quero isso para enlouquecer. Agora já acordado só tenho uma certeza será diferente, um ser
eloquente em busca de dias melhores.....
Crônica: Lembranças de minha avó Mulatinha.
São poucas, mas são boas as lembranças de minha infância. Essas lembranças me transportam para uma deliciosa viagem ao um tempo que não volta.
Lembro e muito da minha avó, ela tinha um cheiro peculiar um cheiro próprio, único e marcante que não se confunde com outro cheiro, um cheiro bom. E volta e meia eu sinto esse cheirinho gostoso, mas sem ter ela por perto. Tenho saudades do seu meigo olhar, e que apesar da avançada idade ainda sentia prazer em brincar.
Chamava-se Mulatinha: vó Mulatinha! Até esqueci que seu nome era Maria. Acostumei... Minha última lembrança são de seus cabelos branquinhos como flocos de algodão e que brilhavam como raios de luar. Não sei a magia das avós, mas sempre são queridas. Deve ser porque não querem ser mais mães, não querem educar e nem repreender; querem apenas ser amiga dos netos.
Não esqueço de minha avó: era carinhosa e sempre com um sorriso maroto como se tivesse compartilhando travessuras. As avós podem se dar a esse luxo. Dizem que elas deseducam os netos; tudo bobagem! Elas nos abraçam de amor. Um amor que hoje, já adulto, sinto saudades. Muitas vezes precisamos desse aconchego sem fronteiras e sem limites.
Lembro-me quando perdi minha mãe aos quatros anos, lá foi eu e meu irmão Nem, de mala e cuia para casa de minha vó, apesar de quase cega foi ela quem cuidou de mim e de meu irmão, por um bom tempo, depois meu irmão foi morar com meu tio Martin e eu ainda fiquei morando com ela. Que maravilha! Porém, tinha um defeito, vivia dormindo pelos cantos kkkkk. Numa destas 'dormidas', meu irmão e eu pegamos as tripas de uma galinha enrolamos no pescoço de nossa avó. Ficou um lindo colar. Mas aquilo quase a matou de susto, ficamos arrependidos, afinal não é moleza acordar com um colar de tripas no pescoço. Foi a primeira vez que ela ficou brava e falou serio.
Porém, no dia seguinte ao chegar da escola, minha patinete estava toda vestida com minha camisa e meu short, em cima da única cama da casa onde dormia nós três! E ela sorrindo, como se quisesse se desculpar pelo desentendimento do dia anterior.
Beijos, minha vó mulatinha, quem sabe um dia a gente se encontra num lugar bem mais bonito, onde você deve estar brilhando. Então poderemos brincar sem medo e sem contar mais o tempo; pedirei ajuda aos anjos para que me guiem por essa imensidão, e perguntarei, em cada canto, se eles não viram uma 'Estrela chamada MULATINHA' sapeca, com uma cabecinha branca e brilhando como raios de luar.
Saudades, vó.
Théo.
Crônica: O que você tem pedido a Deus?
Certa feita um menino em meio a muitas dificuldades começou a se queixar com Deus, cada dia as coisas se tornavam piores, quando ele achava que não dava para piorar mais, acontecia sempre algo muito ruim para piorar as coisas.
Quanto mais pioravam as coisas, mas este menino aumentava em fé, suas orações era cada vez mais veementes, mas suas queixas também ficavam mais fortes, parecia um ciclo sem fim.
O menino passava o dia pelas ruas da cidade pedindo dinheiro e comendo restos de comida, durante tempos foram estes os dias deste menino.
Em meio a este desespero, passou um carro importado ao seu lado, havia uma criança dentro do carro, feliz e radiante, bem vestida, corada, enfim, tudo o que ele não tinha, era a sua realidade.
Alguns anos depois o menino se transformou em um homem forte, cheio de cicatrizes da vida, muita coisa havia mudado em seu corpo, em sua volta, a única coisa que não mudara, foram as dificuldades!
Como fazia todos os dias, orava a Deus insessantemente, pedindo ajuda, mas parecia que não era respondido, porém sua fé continuava forte, ele tinha certeza que as coisas iriam mudar.
Assistindo um programa de tv, viu um grande empresário, extremamente rico, ficou impressionado com a reportagem, a casa, os carros, a fazenda, a família, tudo mais que perfeito, ao comparar com sua vida, achou que Deus era injusto, e numa oração feita com toda sua alma e seu espírito, pediu a Deus que lhe desse a sabedoria que aquele grande homem rico tinha.
Deus naquele dia concedera seu pedido!
O menino no dia seguinte havia percebido que tinha sido abençoado, havia algo diferente nele, as pessoas perceberam a diferença.
Num sonho, Deus se revelara a ele dizendo que tinha sido abençoado com a sabedoria daquele rico, o rapaz encantado, achou que seus problemas estavam resolvidos.
Alguns anos após o fato, o rapaz contestou Deus e começou a negar sua fé, pois continuava muito pobre e cheio de dificuldades, blasfemando, dizia que Deus havia lhe prometido sabedoria e não lhe tinha concedido, que tinha sido enganado.
Seus dias eram apenas para reclamar, se queixava dia e noite, até que numa noite, com muita chuva, o barranco ao lado do barraco onde morava, desmoronou, soterrado, agonizando, ele teve a certeza que Deus havia lhe iludido.
Chegando ao julgamento de Deus, Deus perguntou se ele tinha algo a falar a seu favor: O rapaz indignado, relatou sua história terrena, e ainda se justificando pela fé que havia acabado, cheio de razão e com sua lógica humana, dizia ser inocente, que merecia outra chance!
Deus em sua infinita sabedoria, lembrou os fatos como se fosse um filme, um flash back, o rapaz dizendo com toda sua razão:
- Está vendo SENHOR?
- Eu pedi sabedoria igual daquele homem rico, O SENHOR me aparece num sonho dizendo que havia me concedido e nada aconteceu!
Deus lhe respondeu:
- DE FATO LHE CONCEDI A SABEDORIA MAIOR DO QUE DAQUELE HOMEM RICO, PORÉM O QUE FALTOU PARA TI FOI ATITUDE!
O rapaz constrangido, pediu perdão a Deus!
Quando buscamos realizar sonhos, temos que além do objetivo e da sabedoria, é necessário muita atitude!
95% de tranpiração e 5% de inspiraçaõ!
O que adianta tanta sabedoria se não houver ação?
A fé sem obras é morta!
O que você tem pedido a Deus?
Batalhe, não fique esperando as coisas cairem do céu!
Crônica: Ailton sapateiro e a rua do socorro.
ALGUÉM AQUI LEMBRA DE SEU AÍLTON SAPATEIRO DO SOCORRO EM TIQUARUÇU?
– Oi, de casa! – gritávamos pela janela que dava para a rua.
– Instante só – vinha uma voz de quem parecia tirar um cochilo em outro canto da casa.
Estávamos de frente para a casa e ao mesmo tempo oficina de seu Aílton, sapateiro que há décadas se instalou na rua principal do povoado do SOCORRO, em Tiquaruçu, sua casa, continuava com o mesmo aspecto tosco de antigamente. A única que não recebia nenhum tipo de pintura ou reforma no meio das casas do lugar. Mas também um local onde funcionava o atelier de um grande artista.
Sapato todo esfolado, sem sola, com costura arrebentada? Seu Aílton tinha a solução. Bolsa de couro rasgada, sem presilha? Lá estava ele dizendo que dava um jeito. Quantas vezes vi seu Aílton resolvendo o que parecia ser impossível. Os sapatos chegavam em frangalhos e, dois dias depois, pareciam novos. Era trabalho feito com detalhe e precisão. E também alívio para clientes que resistiam a abrir mão de velhos e confortáveis calçados.
– Pois não, em que posso ajudar?
Era assim que sempre nos recebia seu Aílton!
Crônica de um domingo de praia.
Era certo, todos os domingos eu acordava as sete da manhã e chamava o meu amigo João de Dadinho para… Acordar!!! “Já vou”, dizia ele, “Já vou” e repetia isso quantas vezes fosse necessário até as 8 horas. Morávamos juntos, dividíamos uma kitnet em campinas de Pirajá. Neste intervalo - enquanto João se espreguiçava na cama – eu preparava a água oxigenada e o amoníaco. Todos - na nossa idade – diga-se de passagem, levavam esse “elixir” para a praia. Queríamos ficar com os pêlos loiros; só não me perguntem para quê? Acho que era moda. (os loiros pegavam mais mulheres e as loiras faziam mais sucesso) Quem tinha grana, não precisava se preocupar com isso, comprava pronto nas farmácias. Não era o nosso caso. Meu e de João é claro: dois duros. (Não importava) nosso desejo era chegar logo a praia de Piatã, onde encontrávamos os nossos conterrâneos de Feira de Santana, e alí, naquela bela farofa de frango e arroz, nos empanturrávamos até ficarmos “boiados”, como dizia a galera “das antigas”: boiados de prazer. E arrisco dizer, que a farofa, era de fato, o nosso prato principal. O nosso motivo maior. A força que nos impelia a estar alí todos os domingos. FAROFA! Ao sair, coloquei a água oxigenada e o amoníaco em um vasilhame de xampu, e partir com João para tomar o transporte no Largo de Campinas. Pegamos um Pirajá x Itapoã da ITT. Fui o primeiro a entrar. Sentei em um elevado, ao lado da cadeira do cobrador, e de lá fiquei observando João, que não conseguiu assento. João, ao contrário, foi pendurado na porta do buzu até a região de Jaqueira do Carneiro. O ônibus estava socado. E naquele dia parecia estar pior do que estávamos acostumados…De repente João olhou de maneira estranha para mim, fez sinal com os olhos de assustado e disparou: — Théo a água oxigenada! — Está ai na sua mochila, avisei sussurrando. — Eu sei mais está muito quente, ponderou. - É normal, concluir. E tomei a mochila no colo. Foi então, que percebi, a gravidade da situação. Tínhamos que tomar uma decisão rápida! e como dois criminosos estabanados, tiramos o saco com o vasilhame, e colocamos embaixo da cadeira do cobrador. Levantei do pequeno elevado e “me piquei” para o meio do buzu. “Tinha uma bomba loira comigo! e eu não queria, de maneira alguma, ficar com aquilo na mão!”. Uma senhora senta justamente no lugar onde estava. Pensei: “coitada, sabe de nada inocente”... e gentilmente pega as mochilas de duas garotas colocando-as despretensiosamente sobre o colo… A esta altura já estávamos na San Martins…De repente, ao passarmos em frente a garagem da São Luís - uma pequena explosão aconteceu embaixo da cadeira do cobrador. Uma explosão suficientemente forte para causar um transtorno dos diabos no coletivo. “A bomba loira!” pensei. Disfarçadamente olhei para o fundo do buzu e vi várias pessoas com espumas espalhadas por todo corpo. Não contei conversa! Pisquei para João, dei sinal com os olhos e partimos a mil entre solavancos e empurrões: “PeraíMotô! Esse ponto é meu!!!Gritávamos. E lá do fundo, para nosso azar o “terrorismo loiro”, era denunciado aos borbotões pelos passageiros: “Foi da bolsa dessa senhora”, gritou uma. “NÃO...as bolsas são dessas duas aqui!” disse outra, apontando o dedo para as jovens a sua frente. ”Como eu vou chegar ao trabalho agora desse jeito, parecendo uma maluca”, consternava-se outra. E enquanto isso, enquanto a espuma se espalhava sobre todos nós, eu e João, entoávamos um cem número de “Com licença! É aqui motô! E Pára essa zorra que eu quero descer!”. Moral da história: as vezes é melhor não sair loiro do quê queimado E finalmente chegamos a praia de piatã.
Domingo 23 de Novembro de 1986
O inacabado de cada um
Comecei uma crônica dessas há alguns minutos, mas não cheguei ao fim, foram algumas linhas de frustrações e experiências que não encheram uma mísera folha, e assim tive a ideia de criar a pasta dos inacabados e foi para lá que eu mandei alguns textos que não terminei, mas que merecem um segundo olhar, para lá também seguiu uma poesia sem a primeira estrofe, quem me dera se a vida tivesse uma pasta para os inacabados.
Nela eu colocaria quase amores que sumiram sem ponto final nem reticências, deixaria as discussões que não resultaram em conclusões, depositaria um pouco das expectativas que seguem sem desfecho, colocaria na minha pasta de experiências inacabadas todos aqueles “até logo” que falamos sem marcarmos algo em definitivo, ou ainda as conversas viscerais que abrimos mão porque corríamos o risco de parecermos chatos demais no meio da roda de amigos.
Na minha pasta de inacabados teria tudo, absolutamente tudo o que merece um segundo olhar, como aquelas opiniões sisudas demais, toda e qualquer certeza que julgamos ter deveria estar numa pasta de inacabados, porque se pararmos para pensar a própria vida estaria lá dentro, quer coisa mais transitória, incompleta, cheia de incertezas e inacabada? Acho que lá teria espaço suficiente para pessoas que julgamos cedo demais e que merecem um segundo olhar, ou ainda amores que por terem sido subestimados já que não cumpriam com as nossas idealizações foram vítimas do nosso olhar apressado deixando tudo o que poderia ter sido apenas inacabado.
Que lindo seria se aprendêssemos a reconhecer, se parássemos de colocar as pessoas na forma das nossas idealizações, porque assim a gente viveria mais experiências completas e menos inacabadas por medo do que vão pensar ou do que vão dizer. Se tivéssemos coragem de armazenar coisas relevantes na pasta de inacabados pediríamos mais desculpas e julgaríamos menos, atribuiríamos, ainda que em longo prazo, um desfecho para tudo o que poderia ter sido, mas não foi.
É por conta disso que aprendi a desconfiar das pessoas certas demais, não das seguras, mas das muito certas sobre tudo, pois se pararmos para pensar certeza mesmo não há nenhuma. Então tudo bem que eu não termine minha crônica, que a poesia fique sem a primeira estrofe e sem sentido, a vida também é assim a gente é que fica buscando sentido em tudo e tendemos a atribuir a ela os sentidos que melhor nos cabem, até mesmo como autoproteção.
No final a própria existência é a nossa pasta de inacabados e dá para voltar atrás, se arrepender, mudar de ideia, resgatar relações e romper com idealizações, porque não há caminho certo, nem portinha da felicidade, muito menos o mapa da mina e se não há mapas pouco importa o caminho, o que importa é manter-se em movimento e perdoar tudo o que ficou por acabar.
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