Calçada
Sentei numa calçada qualquer e me afundei numa melancolia de dar gosto, levantei meu olhar para o céu, invejando as nuvens que conseguem aparecer todos os dias de uma forma tão mágica. Quem dera eu fosse assim, tivesse meu brilho próprio para espantar qualquer mal que ousasse me atingir. Lamentável essa vida de solidão, lamentável ainda mais é a incompreensão das pessoas, que ao meu ver, parecem muito mais osso do que carne.
Reparei no balançar das folhas de uma árvore enquanto eu refletia. O quanto a natureza carrega um mistério só dela, e feliz era quem conseguia transpirar essa essência.
Dei de ombros e puxei um ar quente que tinha em suas extremidades uma poluição genuina, quase que imperceptivel. Mas como de costume, eu sentia intensamente todas as sensações que me eram involuntáriamente enviadas.
Fechei meus olhos e desenhei em minhas palpebras o contorno do seu rosto, pra que aquele frio dentro do espaço do meu corpo se aquecesse com a ilusão de que onde quer que você esteja, há alguma parte sua que sempre estará em mim.
Só me questiono, ou melhor, me contesto... Quem será meu cigarro? Agora que pretendo parar de fumar...
Deslizamento de terras...
Calçada esburacada.
Muito lixo.
Muito lodo.
Impróprio para a inspiração
e para pés descalços...
O GATO
Há um gato imundo na calçada, molhado, magro. Gato de rua. Gato como outro. Olhar sedutor de gato. Se ele tivesse sorte eu o levaria pra casa. Se ele tivesse sorte não estaria aí: imundo.
Enquanto o vento suave passa pela sua calçada,
Eu passo no meio da rua
em mim chega seu aroma
sinto de longe seu charme
meu corpo todo estremece
sinto me um moleque.
Este cheio de alegria,
por perto passa de minha pessoa
no entanto nem me da bola
penso imagino como se fosse bonito igual sua pessoa.
Com certeza me olharia,
por mim seus olhos muito brilhava
se encantava
até lhe daria uma bela cantada
pra sentarmos em alguma mesa
tomarmos algo comermos e ti pagaria a conta
como é gostoso ser moleque nesta hora.
Pulei do abismo, velejei mares profundos na busca de inspiração... Sentada na calçada um carro me molhou com a poça... E enfim se fez POESIA...
FLOR LILÁS
A flor lilás
que o poeta avista
do outro lado da calçada.
Á ornamentar o belo jardim
numa casa esverdeada.
Foi um dia plantada...
para depois de muito regada,
se tornar enfim,
presa de um namorado
para presentear a namorada...
Numa atitude inesperada
e uma mensagem declarada
de uma louca decisão
para no ritimo da emoção revelar a sua paixão.
Flor lilás
quanto bem faz,
Para a moça e o rapaz.
As vezes eu esqueço o quanto me tornei forte e torno a me enfraquecer sentado na beira da calçada de casa, acendo um cigarro pra pensar melhor... E como tudo pode virar ao "contrário" em instantes.
A vida é como uma rua, onde cada um se situa no meio, e a calçada de um lado é o amor e do outro é o ódio, e todas as outras pessoas passam por sua rua, mas independente do que façam é você quem escolhe qual o lado da rua em que elas devem ficar.
Eu amei os cachinhos da menina que vinha na calçada ao lado. Apaixonei-me pela voz da garota que me ofereceu doces - ela disse que ajudariam a pagar a sua formatura.
Hoje, já amei muitas vezes e tu não sabes como eram lindos os meus amores.
Apaixonei-me pelo andar de uma e o sorriso inebriante de outra. Foram breves, mas sinceros os meus amores.
Sou apaixonado pela beleza que só as mulheres têm. A capacidade de unir a delicadeza da flor com uma força que transcende a imaginação. Tanto poder me fascina.
Há pouco bebi da tempestade calma de minhas paixões e ainda me sinto embriagado. Aqueles olhos de menina decidida embriagam os distraídos e consomem os iludidos. Não seja como eu, não se afogue nesse mar de perdições.
Escreve meus versos na calçada enfrente da tua janela.
Achuva veiu e apagou, mas o sol pois no tue coração?
A garoa fez brilhar minha pele
Aumentei o calor dos nossos corpos
A fumaça subiu das calçada
E essa trama é de amor ou ódio ?
Já nem deixa e nem quero saber
Minha vida é um palco sem plateia
Se ela tiver que ser minha amante
Nada vai me distanciar dela
23
Chorando na calçada
Com as mãos nos bolsos
Porque ainda busco
O que procurar.
Vivendo emperrada
No meu calabouço
Porque não há ninguém
Salvo a nos salvar.
Enxugando a cara quando passam perto
Ela morreu em um incrível deserto
Que diziam ser casa
Para se encontrar.
Engolindo velas pelo passo certo
Apagando chamas pelo céu aberto
Ela não sabe mais
Como se queimar.
Pomada, pomada
E estão todos anestesiados
Ninguém conversou
Então
Ninguém achou
A cura para os mudos
Cansados.
Chegou a época de ouro
Da caça ao maldito tesouro
E o monte de luz veio
Para nos cegar.
Endurecendo de tanto sorrir
E esquecendo que só vale
O que, se for,
Nos fará chorar.
Chegou a fase do acerto
Pedra que todos dizem lapidar:
Mas ninguém tem coragem
De trocar sangue para ver durar.
Chegou a era do torto patrono
Nem mesmo ela pôde escapar da acidez
Ela quer tanto não errar
Que quase não sabe mais tentar
Aos 23.
Estão todos desaparecidos
De tão achados por si
E dizem ser amor-próprio
Sair cortando o que acudir.
Distante do precisar
Discurso de (des)querer
E a independência veio nos isolar.
Chegou a época da chuva
Eles abriram guarda-chuvas
(Ao meu redor)
Muito velhos para crescer
E acabam novos só para murchar.
(Vanessa Brunt)
Há alguns dias atrás, eu estava sentado numa dessas lanchonetes com mesinhas de madeira pela calçada larga, tomando uma cerveja, enquanto aguardava um sanduíche ficar pronto pra eu levar pra casa, quando de repente, avistei um casal com um carrinho de bebê vindo na minha direção. De longe, a moça que segurava um paninho amarrado à uma chupeta não me era estranha, e realmente me lembrei dela com muita facilidade quando se aproximou da mesa onde eu estava. Estava um pouco diferente, mais velha, com os cabelos um pouco mais claros que antigamente, mas continuava muito bonita, e automaticamente a reconheci. Ela sorriu pra mim, e tenho certeza que para ela também veio aquela conexão com o passado. Eu me levantei, a gente se abraçou, e sim, claro, aquela velha frase começou a conversa: "Nossa, quanto tempo!". Me apresentou ao marido, que empurrava o carrinho, um cara de um sorriso simpático e tranquilo, boa praça. Me disse que estava morando em Londres há não sei quantos anos, nos falamos um pouco, me mostrou o filho Lucas de 10 meses, e eles foram embora. Eu me sentei novamente e me pus a pensar e lembrar de alguns fatos passados. Me lembrei de um amigo que há muitos anos também não ouço falar. Me lembrei do Jhonny, lá da minha adolescência nos anos oitenta ainda. Jhonny na verdade era João, mas todo mundo chamava ele de Jhonny por se parecer tanto com o Steve Perry do "Journey", e sei lá, ele usava sempre a mesma jaqueta surrada de couro, alguma coisa remetia ele ao rock, punk, acho que todo mundo achava mais underground chamá-lo assim. Jhonny foi colega meu de escola, e amigo nas horas vagas. A gente sempre se encontrava, e ele era apaixonado por Elisa, a moça do carinho de bebê. É impossível voltar nos meus tempos de adolescência e juventude, e não me lembrar de quantas serenatas fizemos para "Lis", de quantas rosas roubamos nos quintais e deixamos na janela para ela, quantos bilhetinhos ajudei Jhony a escrever e ainda desenhava meus corações tortos, quantos planos os dois me contavam sobre ter filhos, comprar aquele som 3x1, aquela viagem pra Ubatuba que nunca aconteceu. Quantas vezes tanto Jhony quanto Elisa choraram um pelo outro no meu ombro e eu tinha de dizer: vai ficar tudo bem, quando na verdade, com o tempo, mal podia acreditar que jamais ficaria bem. Sabe, fiquei pensando sobre tantas coisas, tantos sonhos, tantas loucuras que fazemos em determinado momento nas nossas vidas, e que no fim, no outro dia, muda-se tudo. A vida segue, flui, os objetivos diversificam, as pessoas mudam, nós mudamos também, algumas vezes nos perdemos delas, mas sempre nos reencontramos em outras. No fundo, tudo se ajeita, tudo se encaixa dentro daquilo que mais precisamos no momento. Não sei por onde anda Jhonny, mas sei que pelo que sempre o conheci, ele está bem. Com certeza tem uma vida tão boa quanto Elisa, e de certa forma, me fez bem pensar assim. Me levantei, peguei meu sanduíche, paguei, saí de lá, parei na esquina, fechei os olhos por um milésimo de segundo e disse pro nada: Jhonny, segue firme ai velho, a Lis tá bem!
Ricardo F
Sentada na calçada
espero as estrelas que não sei se vêm
o vento paira sobre a solidão do jardim
pétalas de uma rubra rosa
tombam no final da tarde
e a noite em passos leves se impõe
com toques de poesia
