Um Estranho Impar Poesia
de profundis amamus
Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria
Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros
Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso
Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso
Seja o seu espelhar. Um reflexo de luz para a Vida. Sabemos não sermos perfeito. Mas podemos emanar luz e alimentar os corações dos nossos irmãos. Quanto mais luz Você reflete, mais leve fica seu espirito. E as densas brumas dos pensamentos sombrios. Vão se desfazendo como nuvens. E; de repente; Você fica tão leve. Que sente , que poderia, até voar. E assim o Amor se faz. E as coisas verdadeiras acontecem e permanecem em sua Vida. Como recompensa. transformando cada vez mais o seu Viver..
marcos fereS
Limitar-se a pouco, sussurros
e eu súbito penso: vírgulas
sim, quem sabe, de vez em quando
um belo ponto.
Escavar
em um fosso
um poço
para a água da chuva
meter a estaca em pé
para amparar
o novo damasqueiro
e o tempo que passa
enumerá-lo
escandi-lo
sem repetir a trama.
Nas tuas mãos
há um sol
não tão luminoso,
mas, claro e necessário
que calmo adormece
na sua luz opaca.
Não ajunte outro
te põe em movimento
e corre a dar às vinhas
a água que exigem.
Ontem trouxe para casa
um grande cesto de vime
cheio de damascos maduros
cor do sol
e mais doces que o mel.
Então a mim me olhaste
com um sorriso novo
aquele com que sonho
desde que estou no mundo.
Cheirava a giesta vermelha
a sálvia aveludada
a menta romana
a lavanda
a alecrim
que tem pequenas flores azuis
folhas delicadas
mas afiadas
como dentes de bebê.
Beijos
Procure embaixo de sua saudade,
um beijo meu.
Em algum instante da despedida
ele se perdeu,
mergulhado, talvez,
numa lágrima perdida.
Não possui nada de especial:
a dose de açúcar
que no beijo é natural,
a umidade das várias emoções.
Com uma certa tendência
a contravenções,
é melhor que seja procurado
em lugares proibidos,
onde ele pense jamais ser encontrado.
Carrega de um lado
uma meia-tristeza conquistada
nos desatinos de uma noite,
daquelas em que a lua vem quebrada;
do outro lado, um sorriso
de quem sabe como chupar estrelas.
Sobraram-lhe sequelas e aderências
das muitas experiências
de quem já foi bolinar o paraíso.
Se for capaz de encontrá-lo,
devolva prontamente,
pois é evidente a falta que ele faz.
Modernismo
No fundo, eu sou mesmo é um romântico inveterado.
No fundo, nada: eu sou romântico de todo jeito.
Eu sou romântico de corpo e alma,
de dentro e de fora,
de alto a baixo, de todo lado: do esquerdo e do direito.
Eu sou romântico de todo jeito.
Sou um sujeito sem jeito que tem medo de avião,
um individualista confesso, que adora luares,
que gosta de piqueniques e noitadas festivas,
mas que vai se esconder no fundo dos restaurantes.
Um sujeito que nesta reta de chegada dos cinqüenta
sente que seu coração bate mais velozmente
que já nem agüenta esperar mais as moças
da geração incerta dos dois mil.
Vejam, por exemplo, a minha cara de apaixonado,
a minha expressão de timidez, as minhas várias
tentativas frustradas de D. Juan.
Vejam meu pessimismo político,
meu idealismo poético,
minhas leituras de passatempo.
Vejam meus tiques e etiquetas,
meus sapatos engraxados,
meus ternos enleios,
meu gosto pelo passado
e pelos presentes,
minhas cismas,
e raptos.
Veja também minha linguagem
cheia de mins, de meus e de comos.
Vejam , e me digam se eu não sou mesmo
um sujeito romântico que contraiu o mal do século
e ainda morre de amor pela idade média
das mulheres.
''O brilho que perpassa
A grande escuridão
Que o Universo abraça
Não como um trovão
Que nos ares passa
As formas tão simples
Que giram pelo tempo
Nas deformações não males
Surgidas no tecido, como passatempo
Sem o brilho que o rei tem
A princesa não teria o seu
A escuridão do nada vem?
Como a noite, um ateu?''
Quadro
Construímos a ordem da mesa,
a folhagem da ilusão,
um festim de luzes e sombras,
a aparência da viagem na imobilidade.
Esticamos um branco campo
para que nele esplendam
as reverberações do pensamento
em torno do ícone nascente.
Então soltamos nossos cachorros,
incitamos a caçada,
a imagem sereníssima, virtual,
cai desgarrada.
Gotas
Se ferem e se fundem?
Acabam de deixar de ser a chuva.
Travessas no recreio,
gatinhos de um reino transparente,
correm livres por vidros e corrimãos,
umbrais do seu limbo,
se seguem, se perseguem,
talvez vão, da solidão ao casamento,
a se fundir e se amar.
Ilusionam outra morte.
Palavras a um habitante de Marte
Será verdade que existes sobre o vermelho planeta,
que, como eu, possuis finas mãos prêensíveis,
boca para o riso, coração de poeta,
e uma alma administrada pelos nervos sutis?
Mas no teu mundo, acaso, se erguem as cidades
como sepulcros tristes? As assolou a espada?
Já tudo tem sido dito? Com o teu planeta acrescentas
a vasta harmonia outra taça vazia?
Se fores como um terrestre, que poderia importar-me
que o teu sinal de vida desça a visitar-me?
Busco uma estirpe nova através da altura.
Corpos bonitos, donos do segredo celeste
da alegria achada. Mas se o teu não é este,
se tudo se repete, cala triste criatura!
Deixei a porta entreaberta
sou um animal que não se resigna
a morrer a eternidade
na escura dobradiça que cede
um pequeno ruído na noite
da carne
sou a ilha que avança sustentada
pela morte ou uma cidade
ferozmente cercada
pela vida
ou talvez não sou nada
só a insônia
e a brilhante indiferença dos astros
deserto destino inexorável o sol dos
vivos se levanta reconheço essa porta
não há outra gelo primaveril e um
espinho de sangue no olho da rosa.
Persona
o querido animal
cujos ossos são uma recordação
um sinal no ar
jamais teve sombra nem lugar
da cabeça de um alfinete
pensava
ele era o brilho ínfimo
o grão de terra sobre o grão
de terra
o autoeclipse
o querido animal
jamais para de passar
me contorna
uma sarjeta é o lugar onde se deixar uma menina
uma menina é um ser vivente, um ser vivente é esse
que se atravessa e mata e nunca existiu
não vou mais pisar a sarjeta de quando era uma menina
sob as mãos do pai, do outro e do outro
todo e qualquer desconhecido
um senhor me pergunta se foi um poema que se salvou
como sede de qualquer morada
o claustro, senhor, não pisar qualquer chão
ser encarcerada é um ótimo ataque, lê-se numa vala
O dia escorrega das mãos feito um peixe
que mergulha na terra trincada
sem se saber
sobrevivente único
desse rio temporário
que acabou de secar.
Que todo dia seca sob o sol do tempo.
Que a vida é
esse deserto em expansão.
Que a noite se aproxima e é fria.
E com que olhos nos espreitam os chacais.
sonhei um rio barrento - que corria às avessas
e invadia a casa
subitamente
tentava
com minhas garras
salvar coisas e gente
não conseguia
um leite condensado (eu dizia) um copo d'água
aquele livro azul
minha mãe
(são tantas as fomes)
part
ida
à espera e à deriva
como um lenço ao longe
a cena assina
sino úmido
lusco-fusco
som pregueado no branco
punho abrupto de pedra
réstia de tempo
que se engole
sem pressa
OS LOBOS NA ALMA
Os lobos que me rondam
A alma de um novo sentir
De negro luto me sinto
Estando eu já de partida
Depois de mim ninguém chega
Sou uma estrada que não acaba
A vida deu-me um pouco de tudo
Ou talvez um pouco de nada
Abro as portas de mim que me pertence
Numa solidão que me imposta
Deixo metade do corpo que resgato
Nesta estrada em que me assalto
Nas emoções em silêncio das letras
Que vou escrevendo escondida
Do resto do mundo entre os lobos
Como se fossem paisagem inacabada.
Ao menos farto de anos
comemoro os melhores dias nesta vida. Até que eu pisque um olho, acordado quem é já nasce pronto!
Sem deixar cair
o orgulho e a alegria de um brinde,
com vinho do Porto debaixo da ponte, outro brinde
a vida
que vivemos juntos!
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