Tenho Cara de Metida
PRECONCEITOS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tenho meus preconceitos. Devo confessar que, se todo preconceito fosse passível de ação judicial, os covardes, hipócritas e fofoqueiros me processariam com grande facilidade.
AS DEZ MAIS DO PRECONCEITO VELADO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
... Não tenho preconceito, desde que, eles lá, eu cá... vai que alguém ache que também sou.
... De minha parte, nenhum preconceito contra negros; no entanto, não quero ter filhos que mais tarde serão vítimas de preconceito.
... O problema com sua religião não sou eu; são a minha família e meus irmãos de fé.
... Gosto dela e não vejo nenhum problema em sua deficiência física; o problema, mesmo, é o que podem pensar de mim.
... Olhe, querida; eu a conheço e sei do seu caráter, mas nenhum rapaz direito vai levá-la a sério com esses cabelos vermelhos.
... Veja bem; não tenho nada contra piercings e tatuagens; mas você acha que alguma empresa vai querer contratá-lo assim?
... Nunca tive nenhum problema em conviver com pessoas dessa classe, porém você sabe; os outros falam.
... Desculpe, amiga; se você sair por aí com essa roupa, a galera vai rir geral.
... Sei que abraço não transmite aids, mas quem me vir assim tão íntimo poderá pensar que também tenho.
... Se eu ficar de amizade com gente do mundo, vai pegar mal pra mim diante da igreja.
... ...
Os outros... os outros. Terceirizar seus preconceitos é o golpe mais baixo dos preconceituosos.
A FORÇA DO NADA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tenho medos que o mundo jamais intuiu,
porque minhas coragens me pedem fachada,
minha estrada requer esse misto insondável
de verdades que servem pra se desmentir...
É que a vida não sabe o que fazer de mim,
por não ser o destino, este sim, é que faz,
tem a voz de comando e de assalto constantes
onde jaz a certeza que ostento e não trago...
Vim ao mundo pra ir, apesar dos entraves,
tomo naves de sonhos, o tempo as combate,
mas também auxilia com sua passagem...
Tudo quanto não tenho me chama pra lá,
pois o nada me ataca, me rapta e lança
em alguma esperança que ainda respira...
SABER MORRER
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tenho muitas vontades distorcidas,
levo muitos desejos infundados,
tantas vidas ocultas numa só,
lançam dados nos vãos de minha sorte...
Sonho e fecho meus olhos pra viver,
pra voar sem sentido e direção,
sem saber se a viagem vale a pena
ou se meu coração quer mesmo ir...
Levo tantas verdades reprimidas,
tenho tantos passados que me alertam
das feridas que ainda posso ter...
É preciso morrer sem apagar,
ninguém há de pagar pelos meus erros
nem sentir os meus pesos e pesares...
PRÉ-PARTIDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tenho muito a fazer em pouco tempo;
perdoar e pedir alguns perdões;
ter lições do que ainda não senti,
pra poder me sentir bem mais alguém...
Vejo a noite pesar sobre meu dia,
mas há muito a sonhar antes do sono,
há um mundo que o mundo não mostrou
ao meu trono de pura solidão...
Uma vida me chama pro que resta
numa vida que arruma os meus lençóis,
pois a festa passou do ponto alto...
Quero a minha verdade adormecida
ou aquela mexida em meus engenhos,
pois não posso partir tão incompleto...
REMORSOS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Todos os remorsos
que tenho na vida,
são de alguma loucura
que teve cura
e não foi cometida...
INEGOCIÁVEL
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tenho mais a querer do que todas as coisas;
coisas não me completam; são coisas e só;
são do pó do qual vem esta coisa tocável
que reveste o que diz que viver é bem mais...
Há um mundo sem ferro, argamassa e tesouros,
uma vida sem sedas, motores, status,
onde os ratos não podem roer o meu sonho
mais real do que tudo que se possa ter...
Mergulhei bem profundo pra chegar aqui,
pra saber como nunca se sabe de nada,
mas o pingo no i mora nesta ciência...
Hoje busco somente o que as coisas não têm;
ser alguém que se preza sem peso em moeda
e não vende as verdades nas quais acredita...
DONO DO MEU TODO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tenho fantasias inibidas de um atrevimento só meu. Uma timidez despudorada. Secretamente despudorada. Muitas vezes, meu corpo nada mais quer do que as carícias leves do vento.
Vem aquele desejo enorme de seguir uma estrada sem levar bagagem. Nem panos na pele. De não temer consequências, porque não haverá. Porque será transparente o sentido verdadeiro de um ato não tresloucado, por ser apenas libertário.
Para o que ouso idealizar, não haverá espadas nos olhos; nem cicuta nas línguas; nem pedras nas mãos de quem me vir tão eu. Tão dono do meu tudo e seu nada mais.
Nessas minhas fantasias, imagino que o corpo não agride. Que me atiro além da estampa e minh´alma veste a pele. Minha carne se torna uma vitrine sincera de quem sou por dentro.
Momentos meus. Do meu eu comigo e mais ninguém. Quando sou deus do meu mundo e toda lei é minha. Não tenho pecado, porque tudo posso no sonho que me fortalece.
EM CONSTRUÇÃO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Já não tenho certezas; isso é bom,
porque são as certezas que nos secam;
que nos tornam estátuas do saber;
tábuas frias de leis petrificadas...
Foi difícil saber que nada sei;
quanto mais incertezas, mais ação;
sei que morro, mas depois de viver
e levar os meus tombos por aí...
Era tanta certeza, que os meus braços
não queriam senão ficar cruzados;
os meus passos romperam com os pés...
Por não ter mais certezas digo sim,
vou ao fim que não vem pela metade,
quando minha verdade se constrói...
HUMANO CONFESSO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tenho me revelado como jamais fiz, às pessoas de minhas relações mais estreitas, duradouras e alicerçadas. Faz tempo que sinto esse desejo incontido de me desembrulhar completamente, para ser lido em cada linha; cada entrelinha; cada letra miúda. Nunca fui tão previsível nos enunciados do meu comportamento. Jamais me deixei ficar tão exposto a tudo e todos. Tão sem segredos ou véus. Tão livre quanto agora. Descarada e defeituosamente humano.
Cheguei a pensar que seria fácil... como não cheguei a pensar que sofreria perdas tão importantes, ao deixar de corresponder às expectativas de tanta gente sem mácula; sem defeitos... tão acima de qualquer dúvida ou suspeita, e que até então me via como mais um dos santos de sua facção celestial na terra. Pensei que todos ao meu redor tivessem lá seus defeitos; seus segredos não louváveis; manias menos ortodoxas. Esquisitices e pensamentos inconfessáveis até alguém se confessar, para todos terem coragem de fazer o mesmo e promover o carnaval das fantasias rasgadas.
Apesar dessa grande representação do reino dos céus na terra, com tanta gente que julguei ser como eu, tive a surpresa de conhecer algumas pessoas que são de fato como eu, mas me pareciam acima do bem e do mal. Poucas; bem poucas pessoas, mas bastantes para não me deixarem sentir uma solidão absoluta, sem paredes nem fundo. Como se vê, sigo em busca de minha espécie perdida. Meu grupo réu confesso. Minhas almas gêmeas deterioradas pelas vicissitudes humanas.
ILUSÃO?
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tenho a ilusão de um tempo em que o amor e a integridade não sejam hipocrisia, e ninguém precise confessar que não presta, para ser verdadeiro, admirado e ganhar bônus para continuar não prestando.
ESSÊNCIA, GARRAFA E ROLHA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tenho aqueles extremos, indesejáveis pra muitos, da confiança incondicional, desarmada, irrestrita, ou a desconfiança cega e sistemática. Da entrega ou do rapto de mim mesmo; a doação infinita ou a mais cerrada sonegação do meu todo, porque doar ou sonegar pela metade não completa os meus princípios.
Quem quiser minha essência, terá de sugá-la inteira e também acolher o frasco, pois são inerentes os meus lados. Minha cara não presta sem a coroa, e vice-versa. Sempre vou com fundo e superfície aonde quer que eu vá... e para quem quer que eu vá. Meu carinho não é diminutivo. Se não adoro, detesto, e se não atesto, jogo imediatamente fora. Nunca deixo para fazê-lo depois.
Foi assim que fui com você, que poderia ter sido assim, ou simplesmente o avesso, comigo: confiei sem escudo nem armadilha... entreguei sem freio... doei sem fim... fui essência, garrafa e rolha... tudo em um. Você não tinha o direito de se forjar e corresponder pela metade, à minha plenitude que morreu nos braços da ilusão de sua coplenitude.
TODOS NÓS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tenho tudo com isso, pois isso me cerca,
se me cerca me atinge no tempo imprevisto,
não ter nada com tudo que acontece ao outro
é um quisto escondido; pronto pra estourar...
Este aqui é meu mundo, meu povo está nele,
minha bolha não serve pra me proteger,
sem viver não se vive, como não se pode
com a força dos fatos que pesam na alma...
todos nós temos tudo com todos os nadas
dos que vão entre nós em estado de coma
pela soma dos nós que os apertam de morte...
nada vai nos fazer não ter nada com isso,
e ninguém é ninguém pra ter como ninguém
quem está no seu campo de alcance ou visão...
SAUDADE VAI E VEM
Demétrio Sena, Magé - RJ.
A saudade que tenho de você
não é bomba de gás lacrimogêneo;
não é gênio do choro obrigatório;
o velório de quem nunca morreu...
É um trauma que torno brando e bom
pra seguir e saber que o mundo pulsa;
vem no tom da vontade de viver
o presente, apesar do meu passado...
O presente, apesar do meu passado
vem no tom da vontade de viver
pra seguir e saber que o mundo pulsa;
é um trauma que torno brando e bom...
O velório por quem nunca morreu
não é gênio do choro obrigatório;
não é bomba de gás lacrimogêneo
a saudade que tenho de você.
IGNORÂNCIA COMPENSADA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
A única sabedoria que tenho, está na prática de abrir as páginas de minha ignorância para que os sábios, inadvertida ou generosamente, registrem seus saberes.
FORA DE MIM
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Perco todo esse tempo que tenho a ganhar,
quando sonho apressado e desprezo critério,
pois o mundo é mistério por ser desvendado
e voar nos exige visão de horizonte...
Já perdi muita vida por saltar no escuro,
por querer em excesso e me soltar ao léu,
rabisquei tanto céu e terminei no chão
do futuro passado, perdido e no fim...
Hoje quero conter os impulsos incautos,
o meu tempo de saltos avançou a idade,
mas às vezes esqueço que cheguei aqui...
E me perco nas perdas do tempo já gasto,
me devasto e jamais me replanto a contento,
porque tento correr para fora de mim...
MUNDO PLURAL
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Hoje o tempo é meu sócio na vida que levo;
tenho mundo cabível na concha das mãos;
dou aos nãos do que sonho a medida real
do caminho de flores, mas também de farpas...
Não farei latifúndio do espaço excedente,
plantarei onde os olhos, a semente alcançam,
porque gente precisa partilhar o chão
pra fazer o seu campo e trasladar o céu...
Aprendi a ter tudo sem que seja o todo;
que meu tudo é meu algo, basta que me baste
sem desgaste ou batalha de vencer alguém...
Vejo além o bastante pra saber parar
onde o mar adverte que pertence ao peixe;
onde o feixe de sonhos encheu a braçada...
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