Tag inteiro
Viu-se cansada de tal forma que teve náuseas, vertigens e calafrios.
Era a abstinência da essência que a visitava e desta vez tomava a forma de estafa.
Era preciso portanto, acreditar outra vez, e se entregar a vida até descobrir suas paixões.
Era necessário agora construir o caminho do seu autoconhecimento... sem pressa... desfrutando de cada pedacinho desta descoberta... Mas a pressa é pré-requisito pro nascimento hoje em dia, e desacelerar agora parece algo tão impossível que talvez abandonar a terapia e parar de vasculhar as gavetas emocionais seja a melhor ideia.
E assim, encolhida na cama com a folha de papel, ainda em branco a sua frente, ela sonha com o fim da náusea e da pressa. E faz isto sussurrando "Pessoa" por entre os dentes cerrados e com olhos semi abertos, protegidos dos raios de sol:
"Para SER grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és, no mínimo que fazes" (Fernando Pessoa)
[INTEIRO]
Vamos lá, decida quem irá se ferir primeiro.
Eu ou você?
Vamos lá, escolha a armadura
Mas não se esqueça de me deixar a escultura
Dos seu triste olhar.
Me entregue o seu peito dilacerado
E me faça se perder por entre seus dedos molhados.
Me deixe experimentar o cheiro do seu veneno
Só não me deixe pensar que você é meu por inteiro.
Só não me deixe pensar que estamos entregues por inteiro.
Não consigo fazer as coisas pela metade!
Não posso ser o seu meio amigo.
Não quero ser seu quase amor.
Nas minhas empreitadas, o meu coração está por inteiro ou lá eu não estou!
Pedro Marcos
INTEIROS
Só gosto do todo
Sem reservas
Sem pedaços
Já não quero nada partido
Sem meias verdades
Meias palavras
Meias certezas
Meias entregas
Nunca fui metade
Sem você sou inteira
Com você eu transbordo.
Momentos de silêncio, um carinho encontrado nessas raras passagens de tempo. Quando elas acontecem, percebo que é o momento de encerrar muitas coisas, absorvendo os ritmos naturais da vida. O ruído da natureza. O outono vem vindo e sinto que preciso descascar as camadas de peso que impedem meu caminhar. Em vez de querer voltar pra dentro, hibernar, um senso de renovação e abertura está florescendo, um anseio por mudança.
Mudança, palavra que excita a pronúncia. Grande, pequena, me põem em desalinho na ponta da agulha da caixinha de música. Eu nunca fugi para longe das mudanças, mesmo com ossos congelados, os braços sempre estiveram abertos.
Se eu estou com medo de alguma coisa? Arrependimento? Dar um salto de fé cega e não saber onde vou cair me assusta muito menos do que o potencial de um arrependimento. Jogar pelo seguro? Não, obrigada, a vida é inteiramente muito curta.
Então, esses momentos de silêncio são pura clareza para minha alma. Reflexões e devaneios amarrados com o fio das lembranças, um desdobramentos dos desejos de ser.
E, como se abrisse os portões do jardim, e ocupasse meus espaços com perfume, a novidade se instala em mim.
É preciso amar para sempre, amar perdidamente.
Ser amor a qualquer hora, ser amor de corpo inteiro.
Amor de dentro para fora.
Sei que não sou o cara mais romântico, mas sou o que mais ama, com toda a força do coração, no mundo inteiro.
Sou assim meio louco, meio quieto, meio desenrolado, meio calmo, meio sabio, mesmo assim com tantos meios, me vejo por inteiro.
Já pensei em abraçar o mundo inteiro. Mas pensei: Que bobagem, eu nunca conseguiria. Então, se cada um de nós abraçássemos o nosso próximo, o mundo todo se abraçaria.
Queremos o tempo por inteiro, utilizado ao limite, e nos tornamos ansiosos. Passamos a incentivar a cultura do “fast”. O fast food das refeições, o fast track das decisões, o fast love dos relacionamentos.
Por que é só com você e eu não consigo explicar por que te quero pra vida inteira. Só acontece contigo de eu querer viver a vida inteira.
O Artista
Desenhei-te por inteiro, saíste
perfeita, como és.
Sorriso largo faceiro nariz afilado,
queijo igual ao de menina.
Cabelos, até os ombros, pescoço longo
altivo.
Olho-te e procuro alguma falha,alguma
coisa que eu aja esquecido.
O artista põem de si no que faz
Te guardo em meu pensamento, desenhei-te
como se ali estivesses.
Como obra de arte está perfeito.
Para o artista tudo falta, falta a tua
presença, cuja ausência mata.
Falta o teu beijo,falta esse teu rostinho,
o amor que me das, o cabelo solto .
Falta dizeres "Te amo"com o teu jeitinho.
Sofre o artista quando de alguém gosta, e
é capaz de transpor para o papel o rosto de
quem ama, mas por castigo abraça-o a todo
instante, mas morre de amor, ali sozinho.
Roldão Aires
Membro Honorário da Academia Cabista de Letras Artes e Ciências
Membro Honorário da Academia de Letras do Brasil
Membro da U.B.E
