Coleção pessoal de sandro_paschoal_nogueira

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⁠Que lucrei, eu, Senhor com o tempo perdido?
Num e noutro despojo me achando o que a vaidade me propôs...

Nunca mostramos o que somos, senão quando entendemos que ninguém nos vê...
Mas se ninguém nos vê o que importa afinal ser ou parecer?

Escoar-se é um desperdício...
Assim como aprisionar o vento...
Pouco se ganha...
Tanto se perde...
Tantas coisas sem sentido...

Homem que sou...
Ó divina esperança onde estás que comigo brinca...
E não me convida à dança...

Tu que transforma os sombrios pedadelos em sonhos dourados...
Que nos inflige e nos obriga a levantar da cama...
Virgem de eterno devaneio...
Que hoje minhas mãos não alcançam...

A rotina é tão pesarosa...
As mesmas pessoas enfadonhas...
Dentro de mim, a noite escura e fria se anuncia...

Que me olhar não se perca...
Entre tantos outros que passam...
E farto de fadigas...
E de fragilidades tantas...
Que amanhã...
Em outro dia...
Então...
Eu floresça...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Há entre as pedras um murmúrio de queixume...
E nada mais se ouve ao longo das ruas...
Ocultos, na agonia das casas, velhas saudades de olhos que fitam o nada...

Apressa-te, amor, que amanhã eu morro...

Destila-se de lágrimas as preces e a profecia...
Do que outrora havia...
Do futuro que se avizinha...
Tremem mãos...
Escondidas nas cortinas...

No abismo do pretérito foram-se os dias...
Caminhantes se vão da terra...
Perdidos na própria sombra...
Levando consigo seus sonhos e histórias...
Deixando para trás...
Apenas algumas lembranças partidas...

Não demores tão longe...
Não se esconda em lugar tão secreto...

Anos após anos...
Seguimos aprendendo mais com os desenganos...
Meu ser traçado pelo som do vento…

Apressa-te, amor, que amanhã eu morro...
Amanhã morro e não te vejo...
Amanhã morro e não te escuto...
Não demores tão longe...
Não se esconda em lugar tão secreto...

Todos passam...
As pedras não...

Queixando-se dias após dias...
Por serem ignoradas...
Dos que ainda ficam de vozes amargas...
Urdindo a grande teia... Sobre nós a vida...
Não demores tão longe amor...
Que amanhã eu morro...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Graças a Deus que estou doido...
Que se sabe da vida?...
Dizem que finjo ou minto...
Eu simplesmente sinto...

Tudo o que sonho ou passo...
Nem sentes...
O vento levará os meus mil cansaços...

Ainda correm lágrimas...
Na soledade pensativa...
Escondida...
Disfarçada em sorrisos...

Sei que nada me é pertencente...
E lá fora na estrada...
Pensando coisas profundas...
Compreendo que sou livre...

Livre ando de enganos...
Mas de olhos postos nas coisas, distraído...
Aberto por um vento muito brando...
Acolhendo sempre um pouco de mim mesmo...

Mistério maior é este
que liga a liberdade e o homem...
Acendendo a Deus este segredo...
Fazendo-me feliz eternamente...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Preencher os anos que nos moldam...
A que destino...
A que ritmo, sem preço...

Co’as asas que lhes pôs benigna sorte...
Amigos da ventura...
Dos homens que não conhecemos...

Enquanto a turba ralha...
Somos nós as humanas cigarras...
Somos nós os ridículos comparsas...
Que atravessam o tempo...

Asas que em certas horas...
Erguem a um campo de maior altura...
E bebemos o doce vinho em nossa honra...

Que me importa que batam a minha porta...
Importa saber da importância...
Que entre nós, sem limite, vai lavrando...
Dia após dia...
Os múltiplos comprometimentos...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠De que te serve o mundo que desconheces?
Talvez, acabando, comeces…

Fazes falta?
Enfim fica triunfante da dúvida a tirania...
A sorte sem piedade...
Passando por ermas noites...
Renovando todos os dias...

Há momentos que são quase esquecimentos...

Prometem-me uns vãos cuidados...
Promessas de outros mundos perdidos...
E assim consigo...
Possuir em sonho o que morreu...
Fingir que tudo está bem...

Mas para quem finjo afinal?
Por que enganar-me nesse mal?
Medo do vazio...
Ou do que não é preenchido?

Mas olha, tal qual é...
Que pouco ou muito é dito...
Não sei se sei o que digo...
Tem hora que nem sei o que sinto...

O segredo da vida é a inquietação...
Ser isto ou aquilo ou então não ser...
Perguntas sem
resposta...
Onde em cada instante...
Pensar é não compreender...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠No declive do tempo os anos correm...
Por mero acaso, sem saber porquê...

E antes que a bruma tire o brilho de nossos olhos...
Antes que gritemos e ninguém nos escute...
Antes que minha ausência se prenda a sua pele...
Permita-me fazer-te com o pouco que oferece-me mostrar-te o muito que posso dar-te...

Não me deixe fugir com o vento...
Ou perder-me de ti em lamentos...
Quanto mais sabemos...
Parece que mais erramos...

Ninguém já soube o que é o amor...
Se o amor é aquilo que ninguém viu...

Se devagar se vai ao longe...
Devagar te quero perto...
Se pouco me dás...
Muito te ofereço...

Tenho visto muitas coisas...
Algumas bem estranhas...

Da vida pouco entendido ...
Mas és para meus sonhos...
Todos os encantos requeridos...

Selecionei para ti essa manhã...
Para dizer-te isto...

Não tenho como voar...
De asas feridas...

Dentro de mim se acanham as certezas...

Por onde vai a vida?
Sem ti...
Será tão mal gasta...
Peito aberto em mil feridas...

Que este amor não me cegue...
Sei que nada me é pertencente...

Mas a magia evoco...

Entre seus abraços...
Abandono o peso do caminho...
E em ti me aporto...
O que estava perdido...
Por fim encontro...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Talvez sonhasse...
Com um mundo mais culto ...
Porém menos chato...
Com pessoas que exercitassem o cérebro...
Com o mesmo afinco que fazem com seus músculos...
Diante os espelhos...
Entre as latrinas...
Nós diversos banheiros...

Ranger de nevoeiro...
Terra de escravos...
Roupas justas...
Espíritos vazios...
Para que prego?
Para quem falo?

No fundo da virtude...
A terra é triste...
Olhos opacos...
Sorrisos sem graça...
Mãos que gesticulam...
Sem nenhuma dádiva...

Tempos estranhos...
Tempos esquisitos...
E eu que a tudo observo e sinto...
Fico perdido...
Não me acho...

Eu cavo na vida a semente da libertação...
Esquivo- me de falsos abraços...
De nojentos apertos de mãos...

Partes perdidas de um só...
Que a razão despedaçou...
As aparências tornaram-se mais importantes...
Todos querem respeito...
Anseiam ao amor...
Mas estão todos perdidos...
Caminhando em direção ao abismo...
Cada um por si...
E tão só...

Deixo no ar...
Atrás de mim tão distante...
Os desejos de uma vida mais simples...

Plantar...
Cultivar e colher...
A verdade...
A sinceridade...
O amor tão escasso...
Hoje fadado ao fracasso...

Não há como encher a taça...
Tudo perdendo a graça...

A inocência é corrompida...
A dúvida disfarçada e mais sentida...
O purgatório decorado...
O túmulo é bem caiado...
Mas por dentro...
O mais fétido excremento...

Envelhecer é triste...
Não há novidade...
Tudo é tão repetido...
Até os sentimentos...
Nada se encontra...
Tudo é outrora...
Tudo já é perdido...

Há uma vaga brisa...
Soprada pela esperança de anos vividos...
Doçura dolorosa...
Independência da alma...
O mistério alegre e triste de quem chega e de quem parte...
De que sorri...
Enquanto a alma chora...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Um vento que soprava...
Testemunha de segredos da madrugada...
Promessas desconexas surradas...
Sob a calma das estrelas...
Entre as sombras de uma rua mal iluminada...

Um copo de bebida esquecido...
Enquanto o cigarro fumegava...
As horas loucas se perderam...
No ar onde a respiração doce arfava...

Óh...
A carícia da terra...
A juventude suspensa...
As coisas mais simples...
Sei que há diferenças...
Mas tudo se esquece...
Quando a gente se ama...

E já nada mais me doer...
Melhor até se o acaso...
Fizerem-me nessa rua deserta...
Encontrar você...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Original é quem se origina de si mesmo...
Que encara o abismo que o chama...
Que sendo de toda a parte
não é de lugar algum...

Que planta e colhe a própria sorte...
Que faz do choro o riso...
Que amplia seus horizontes...
Tendo o céu como limite...
Não se cansa...
E se cansa...
Segura o peso e segue adiante...

Original é quem enche os copos...
Sem perder o juízo...
Que tal como um gato possui sete vidas...
Não desprezando nenhuma em qualquer esquina...

Original é aquele...
Que foi expulso do paraíso...
Que lavra o coração...
Fortalece os sentidos...
Que acima de tudo não esquece...
Mas se compraz no perdão...

Original é aquele...
Que desce às ruas...
Como se fizesse amor...
Que em madrugadas solitárias e frias...
Encontra em si mesmo o próprio calor...

Original é aquele...
Que percebe as mentiras...
Mas que com elas não se deita...
Que enfrenta os medos e as dores...
Que não perde as rédeas da vida...
Que mesmo sendo sofrida...
Cultiva o amor...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Maldito é o homem que confia no homem...
Que aguarda uma palavra de consolo...
Que coloca em mãos alheias seus sonhos...

Maldito é o homem que tem esperança no bem inesperado...
Que descuida-se nos próprios cuidados...
Que vai dormir tranquilo aguardando que o seu vizinho o tenha em boa estima...

Maldito é o homem que acredita que para ser feliz...
Tem que chamar a atenção...
Que coloca como opção...
Entregar seu coração...
Aos falsos amigos...
Aos lobos famintos...
Às ocasiões sem sentidos...
Ao futuro que se avizinha...
Sem estar prevenido...

Maldito é o homem...
Cuja alma inocente...
Sofre constantemente...
Pela língua maldosa...
Das pessoas hipócritas...
Das pessoas vazias...
Que enchem os seus copos...
Que arrotam o que pensam...
Sem respeito alheio...
Que o olham de lado...
De modos esguivos...

Maldito é esse homem...
Que aguarda sob o tempo...

Mas que esse homem seja bendito quando se afastar dos aflitos...
Quando se afastar das gargalhadas altas e ruidosas...
E compreender que sendo comedido...
Confiando em seus sonhos...
Aprenderá que assim trançando seu destino...
Comprazendo em própria companhia...
Nunca estará sozinho...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Existem saudades e fotografias...
E palavras que eu amaria ter-te dito...
Existe o sono interrompido...
E a agonia entre lençóis revolvidos...

Ainda terei o alento diante o pranto derramado?
Diante as horas que não passam...
Diante o tamanho vácuo?

A lucidez de não chegar o tempo...
As horas pesando diante tamanho sofrimento...
Os dias que passam lentos...
As madrugadas tão silenciosas...
As horas que jazem mortas...

Estátua a moldar o vento...
Flor morrendo entre o lodo...
Deitando a sorte em agonia...
Diante os dias a grosseiro modo...

Estando agora mudo, surdo e cego...
O abismo clama minha alma...
Ah sem ti como é penoso viver...
Sem estar junto a ti agora...

Hoje não sou eu nunca por inteiro...
A vida perdeu a cor...
A alegria alheia me aborrece...
Nada mais sei o que fazer...

Vem...
Volta para mim e me ame...
Não me deixe assim tão opaco...
Preencha meu coração...
Que sem ti vive assim...
Tão fraco...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Antes certo que não se quisera passo, mas o silêncio...
Gente suja...
De pés feios...
Falando alto...

Embriagados com putas velhas...
Roupas surradas...
Cheirando a fumaça...

A noite decreta o cancro...
Qualquer música degredada em pranto...
Gargalhadas torpes...
Viciados da rotina...
Quem diria...

Um pensamento que não se esconde...
Nem mesmo disfarçados pelas bebidas pagas...
Das pedras que colho...
Só gente cambaleando...
Sujos...
Feios...
Excrementos de seres humanos...

Um só destroço...
Corpos fedidos e suados...
Rugas fundas...
Dentes tortos e amarelados...

Esquecendo para sempre as loucuras do vinho atrevido...
Falam cuspindo...
No Português errado...

Buscando distração...
Quem sou eu de fato...
Entre os porcos...
Um diamante jogado...

Meu Deus...
Meu Deus...
Tratar a todos com respeito...
No túmulo não há diferença...
Mas será que de fato..
O céu pertença a essa gente tal como rato?

Recolho-me em sonho e mágoa...
Óh tristeza descendo em meu olhar...
Sonho moribundo...
Gente feia...
Não há como se misturar...

Diz-se que a solidão torna a vida um deserto...
Mas antes só que mal acompanhado...
Posso ter respeito...
Mas amor é negado...

Sei que embora essa luz nem para todos tenha o mesmo brilho...
Tudo o que existe em nós de grande e puro...
Nem sempre esconde o lamento...
Dobrada é minha ventura...
Em poder escolher com quem convivo e me deito...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Misteriosa visita a quem aguardo...
Tua vontade que me bate...
Enrendando meus cuidados...

Um culto por mim cultivado...
Tão pouco de mim julgo que o mereça...
Antes que a noite desapareça...
Fazendo-me atrevido...

Fremente volúpia pecadora...
De lábios macios e tentadores...
Onde o amor repousa lascivo...
Onde conheço mil sabores...

Os rumores do mundo são esquecidos...
Quando em seus braços me perco e me acho...
Seus sussurros alongam meus ouvidos...
Que representam em terra meu paraíso...

Despojo-me dos pudores e me dispo...
O toque torna-se mais aflito...
Faço de minha alma uma lâmpada de cego...
E dou-me por rendido...

Assim a natureza fala...
As portas de ouro vão se abrindo...
Florida canção que nos deleita são os nossos gemidos...
E por fim...
Transfigurados de emoções...
Adormecemos sorrindo…

Sandro Paschoal Nogueira

⁠O veneno das minhas ironias...
Hás-de beber entre suas lágrimas vazias...
E hás-de encontrar-me em teu surpreso olhar...
A minha face fria...

O meu prazer de outrora...
Emigrou...
Partiu...
Não mais está com você...

Podes te dar por pago...
Que este é o preço da vida e todo o seu valor...
Amei-te em dolorosos delírios...
Mas já nada sinto...
Nada restou...

Que seja sonho apenas a esperança...
Agora eu bebo a vida a longos tragos...
Sigo meu feliz caminho...
Deixo-te como sempre quis...
Sozinho...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Grande ilusão morta no espaço tempo...
Do fundo do copo...
Disfarçando a espera de um qualquer sofrimento...

Pelas saudades que lhe aterram...
Procurando no amor a felicidade...
Entre conversas vãs...
Entre os descasos sem cuidados...
Pertencer a quem souber...
Apreciar os trejeitos...

No íntimo mais profundo...
Ignora o silêncio e o eco...
O que o coração murmura, a voz não diz...
Entorpecido sente-se feliz...

E vão-se em mar a fora...
Os sentidos embriagados e mal sentidos...
Que tudo é ilusão que esta alma sente...
Se nada há de novo e tudo o que há...
Sentir prazer em deitar-se com o perigo...

Que alguém lhe mostre a tua imagem, como tantos, sem sentido...
Sem expor à vergonha...
Sem alardear seus gemidos...

Pobre esperançado...
Que anda crê na ilusão…
Do amor…
Da fantasia...
Que nas portas dos bares aguarda...
Alguém a lhe acompanhar pelas ruas...

Tudo posso esquecer em minha vida...
As visões em minhas estradas percorridas...
Só não consigo me esquecer no entanto...
Dessa figura de alma nua...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Do rumor do mundo...
Meus pés vão fugindo...
Desfolham-se ilusões e vão-se sem apegos…
Quero mais óh Senhor...
Um sonho, paz e sossego...

Que sigam em mares amargos...
Ironias, falsos júbilos e descontentamentos...
Que singrem os tolos desejos...
E soprem novas esperanças...
Em meu coração tão ressentido...

Os meus vinhos por mim bebidos...
Em cálices aos céus apresentados...
Nas mesas de meus inimigos...
Tenham-me servido...
Para manter-me o coração alforriado...
E o espírito mais leve fazendo-me da ingratidão ter-me esquecido...

Que rolem e que finjam os mascarados...
Os incansáveis trabalhos não concluídos...
Os desejos gastos e os amores perdidos...

Os mistérios contra mim conspirados...
Não frutifiquem suas sementes...
E que em meus caminhos...
O amor seja sempre doce e clemente...

Se queres saber sua grandeza...
Saibas que nem tudo é perfeito...
Mas que nunca deves perder a pureza...
E que sonhar seja preciso...

Muitas vezes ansioso espreito sigo...
Por caminhos não percorridos...
Atento ao vento e ao seu conselho amigo...
Somos apenas nós...
Que traçamos nosso destino...

Mil vezes abro a boca…
E nada digo...
Outras tantas falo sem pensar...
Podes ser igual a todo o mundo...
Ou diferente como convier...
Só não podes nunca...
Perder a vontade de amar e viver...

Sandro Nogueira

⁠Má fada me encantou e aqui estou...
Imortal serenidade repleta de desejos e saudades...
Entrada livre para o desconhecido…
Meu Deus Tu não mudas o programa...
E a vida rápida escoa...
Tal qual apaga-se uma chama...

Voz com que te chamo...
Desencanto...

Meus olhos não Te vêem...
Solidão que de Ti espero...
Gemo e canto...
Como qualquer ninguém...

Teu grande amor que é Teu maior segredo...
Basta-me de enganos... Mostra-me sem medo...

Não posso mais...

Ando tão cheio de vazio...
Ouço meu coração ardente e solitário...
E não vejo em meus pares algum compromisso...

Estou no ventre da noite...
E tal como Lázaro caminho sem destino...
Uma nudez de abandono...
No fervor da espera...
De que tudo não seja só um mau sonho...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Ah quisera eu que as pedras não fossem mudas...
Que no fundo dos copos encontrasse as verdades...
Que as palavras fossem de fácil entendimento...
E que os amores não fossem desfeitos...

Quisera eu que meus pés descalços não fugissem...
Do tempo que a tudo destrói e forma fuligens...

Que as ilusões não se desfolhassem...
Que os sonhos não perdessem as virtudes...
E que amando só conhecessemos as verdades...

Às vezes uma dor nos desespera...
E a verdade nos engana...
Então o desalento clama...
E a vida queremos que encerre...

Então para que nunca nada se perca...
O desejo cultivamos mesmo amargo e rude...

E diante das auroras que se avizinham...
Para que o sonho viva de certezas...
Para que o tempo da paixão não mude...
Por bem vos quero...
E morro despedido...
Na esperança de um vão contentamento...
Em saber que nem tudo está perdido...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Não há papel que conte a minha vida...
Eu caminho por eles...
Eu sei que há diferenças
E ainda bem que as há...

O meu desejo canta...
Onde estás?

O vento levará os meus sonhos?
A noite cai de bruços...
Como existir esquecimento ?
Mas o que vejo?
A luz escurecer...
A amargura de olhar e não ver...
O ter e o perder...

Vago dia após dia...
Estranha quimera...
Estranhas fantasias?
Quais ruas escutam meus passos?
Quais estradas colhem meu olhar?

Aos solavancos do destino...
Onde estarão aqueles que me embriagam de calafrios?

Os ventos recolheram...
E diante de mim...
Até as estrelas emudeceram...

Em mim a vida força sua invasão...
De onde vem a voz que me rasga por dentro?
Sem luz nem eco...
De onde vem esse aperto no peito?

Entro abandonado...
Nesses muitos corações que encontro desavisados...
Mortos aos caminhos...
Por onde insisto e também sigo...

Não quero ser quem sou...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Percebo afinal meu pecado...
Em silêncio mais profundo...

Faria piedade a toda a gente...
Esta pena, esta dor...
Este é o preço da vida e todo o seu valor...

Horas que perdemos...
Vão pelo espaço acompanhando os astros...

E todo este feitiço e este enredo...
Na luta dos impossíveis...
Tão profundo meu segredo...

Das profundas paixões...
Dor infinita...
De guerra e amor e ocasos de saudade…
Da alma o profundo e soluçado grito...
De que fui para ti só mais um neste vasto mundo...

Hoje triste ouço a solidão...
Da luz que não chegou a ser lampejo...
Da natureza que parou chorando...
Diante meu descontamento...

A vida é assim, uma ânsia…

Fazes o bem...
Que terás o mal por paga...

E o sonho melhor bem pouco dura...

Por tanto querer-te...
Recebi amarguras...

Pouco antes...
Nada agora...

E a princípio não percebi...

Como chegastes...
Partiste...
Mas levastes um pouco de mim...

Na profundidade dum desencanto...
Fiz-te doçura do meu coração...
Não compreendestes...

Mudarás, todos mudam...

Mais tarde em tua vida, um dia, hás de tentar
revolver da memória este tempo de agora…

E sentindo então o vazio...
Lembrarás do deixado para trás...

Não se vive outra vez...
E o tempo a tudo vence...
Fostes embora...
Mas fiquei em paz...

Sandro Paschoal Nogueira