Retrato de Velho
Ser idoso não é e nunca vai ser sinônimo de preciosidade. Alguns idosos são apenas rabugentos. Preciocidade é usar o tempo a seu favor, crescer como ser humano, desenvolver-se espiritualmente, lapidar-se e extrair de si mesmo o melhor que um ser humano pode ter. Preciosidade é refinar o gosto com o transcorrer dos anos. É treinar o olhar para buscar nas coisas simples a beleza oculta da vida. Preciosidade é saber afastar as nuvens negras que se formam em nosso interior antes que se transformem em tempestade, é aprender a ordenar o caos e transformá-lo em calmaria.
Preciosidade é usar os obstáculos que o tempo impõe como instrumento de superação.
Preciosidade é desenvolver dia após dia a gratidão, o bom senso, a autocrítica e o amor-próprio.
Preciosidade é entender que o perdão liberta dos pesos e traz leveza à alma.
Preciosidade é cultivar afetos ao longo da vida com a mesma habilidade que se cultiva flores.
Preciosidade é desenvolver o bom humor e ser presença agradável entre os familiares e amigos.
Preciosidade é entender que os anos não precisam ser um fardo pesado que se carrega rumo à morte.
O Velho guarda-roupa
Após muitos anos parado, não apenas parado, diria até que estagnado no mesmo lugar, o velho guarda-roupa começava a ter um novo propósito, ele iria pra outro lugar, seria mais útil no novo do que onde está.
Desmonta-lo até deu um certo trabalho, mas era necessário para recomeçar.
Peça, por peça, tirando tudo do lugar, com tanta poeira ele está! mas até que o velho guarda-roupa útil ainda será.
Chegando no novo, dias, o velho guarda-roupa ficou parado antes de alguém o mesmo montar, novamente poeira estava à acumular.
Belo dia, ao acordar, pensando, o que mais esperar? esse velho guarda-roupa eu mesmo irei montar.
Mesmo achando que conhecia o velho guarda-roupa, imaginava que conseguiria de primeira e rápido colocar todas as peças no lugar, mas essa não seria a realidade para o velho guarda-roupa montar, só sabia de uma coisa, de baixo para cima deveria começar.
Colocando primeiro a peça a base, depois as laterais para firme começar ficar, na terceira peça, ops, isso está errado, deixa eu refazer, deixa eu recomeçar… refiz, agora está dando certo!
Peça por peça, o velho guarda-roupa o seu formato começou ganhar.
Coisas foram caindo, no decorrer do mesmo que estou a montar,
Sem manual ou instruções, como irei saber se certo está?
Vou insistir, esse velho guarda-roupa irei colocar no lugar.
Sorte eu estar com um parafusadora para me ajudar.
Mas caraca, esse velho guarda-roupa quanto trabalho está à me dar.
A chave de fendas a cair, aí… doeu, acertou meu pé, mas tão pouco parei para me lamentar, esse velho guarda-roupa precisava terminar de montar.
Quando me dei conta, sangrou, poderia até parar, novamente estagnar, mas continuei insistindo no velho guarda-roupa que eu estava a montar.
Foi me dando fome, tédio e cansaço, já estava horas sem parar… já estava confuso com peças colocadas e tiradas do lugar, pois um velho guarda-roupa, sem instruções não é tão simples montar.
Parei, me alimentei, respirei…
opa!
Vamos continuar…
O velho guarda-roupa, eu irei conseguir montar, foi-se ficando mais fácil, no decorrer do insistir, no decorrer do tentar, até porque sozinho, um guarda-roupa, nunca estive a montar.
Hora de colocar o fundo, para as roupas que ali irão entrar para trás não cair e ficar, ficou meio torto, deu errado, desfazer, refazer, vamos lá!
Estou quase finalizando o velho guarda-roupa que eu irei utilizar.
Para finalizar, a parte de cima que faltava, para finalmente terminar, pensei precisar de ajudar para acabar, mas tentei… Sozinho mais uma vez, sem desanimar, percebi que de tudo sou capaz , basta tentar!
Por hora pensei que tudo fosse desabar, pois não sabia um velho guarda-roupa montar.
Por fim, o Velho guarda-roupa está no seu devido lugar, montado, meio bambo, torto talvez, mas agora basta ele limpar.
Sobraram algumas peças, faltaram algumas outras também, ficou meio bambo, mas só por isso eu deixaria de o velho guarda-roupa utilizar?
O Velho guarda-roupa é útil, meio bambo, meio torto, até mesmo após dor me causar, o velho guardar-roupa dele saberei muito bem aproveitar.
Esse texto não é apenas sobre um velho guarda-roupa.
IG @rafalopespereira
Rafael P. Lopes 09/04/2024
No acumular das idades, o que mais se quer é sossego, alegria e tranquilidade. Se soubesse disso antes, queria ter sido velho mais cedo.
O Fim do meu Tudo
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Colchas desarrumadas,
Travesseiros ao chão,
Um bilhete mesa,
Tremor forte na mão,
.
Leio e releio atento,
Vejo turvo, úmido e sofrido.
Não há mais um alento,
Não sou mais seu marido,
.
E as juras, não eram eternas?
A juventude já me passou,
Mas viestes com suas pernas,
Nem afeto mais demonstrou.
.
Será que tens outro alguém,
Por que me abandonaste?
Não valho mais que um vintém,
Um frio bilhete deixaste,
.
A vida segue adiante,
Mas que vida, de quem?
Esse velho sofredor e amante,
Não quer mais ter outro alguém,
.
Aos prazeres rasos me entrego,
Aguardente e meu cigarro,
Sem destino sigo e me levo,
A vagar com o meu carro.
.
A menos notícias me dê,
Me faça entender por favor,
Ter certeza que não vou te ver,
Que acabou o eterno amor.
Tanto idoso quanto velho têm aspectos relacionados ao biológico.
No entanto, velho tem uma conotação pejorativa associada à perda de vitalidade, enquanto idoso está relacionado à idade cronológica.
Um Organismo Humano assume vários nomes ao longo do seu desenvolvimento.
Esses nomes são:
1. Zigoto.
2. Embrião.
3. Feto.
4. Bebé.
5. Menino.
6. Adolescente.
7. Jovem.
8. Adulto.
9. Idoso.
10. Velho.
A velhice em si não me assusta, o que me assusta é envelhecer só o corpo e ter uma alma jovem aprisionada em um corpo ancião.
Como quem finaliza um livro, ou encontra-se em forca, tenho alguns ditos sem sorriso, a expressar nas palavras deste miserável rebelde e delinquente, mas não pobre de espírito. Bem, quero aos que podem, que entendam: O máximo de liberdade que o ser humano pode aspirar - contando que isto não também lhe tenha sido tolhido - é escolher a prisão na qual quer viver. Sim, digo e posso repetir: Prisão. Pois nestes dias, pobres e podres dias, essa tal de nome Liberdade, nada é, que "sonho que se sonha só". Não, digo eu que, outrora senhorita, hoje sim senhora, pois está a ser viúva de maridos, transformou-se em simples miragem, uma pequena abstração. Oras, sem pudor ou receio, desafio-te com pés firmes, a contestar-te sobre a própria, sua e de outros tantos iguais, questão social. Basta que diga-me qual é a sua tribo e eu, sem utopias nem distopias, direi qual é o seu ajoelha-te. Concorde ou não, é somente a cláusula não assinada que você respeita, nunca a tí ou aos teus. Pois por fim, aos que dizem-se amantes desse decadente e decomposto conceito de liberdade, entendam: Só há liberdade se sua vida, e as de outrens, for produzida e protegida por você mesmo, jamais tomada, forçada ou imposta a ninguém. Seria eu só mais um tolo por ainda, neste dia cinza, ter apenas isto a dizer? Mais adequado seria, pela forca eu diria, um simples e singelo "Adeus".
Reproduza, restaure e traga de volta a realeza do antigo e simples, tudo que é bom pode voltar .
-Igo Couto
RUGAS
Pequenas estradas, pequenos caminhos Onde correm as lembranças do seu ontem....
Pequenos sulcos de espressões antigas Onde você encontra o reflexo de como era....
Eu as vi nascer no rosto dos meus caros pais... da minha gente e dos meus tantos amores
Nossas emoções,... felicidades.... dores...
Ali amei como sinais de sabedoria... Ali amei como símbolos de vida...
Ali descobri no espelho, no meu rosto....
Pequenos sinais de histórias da vida...
São os Fantasmas da... “ Juventude Esvaída”.....
Naquele cantinho do velho hospital,
a oito de Maio de sessenta e sete...
Levanta-te António, que a vida promete,
nasceste em Estremoz e em Portugal.
Terás nesta sina tudo o que encontrares,
num mundo cruel, fingido e oculto...
Serás um menino com olhos de adulto,
sem tempo na sorte, nem fé nos azares.
Aproveita a vida, esta breve passagem,
aguenta-te firme, recebe este ensino...
Calhou-te por sorte este teu destino
e um anjo da guarda cheio de coragem.
Na vida serás essa eterna criança,
vinda das estrelas acima da Lua...
Se um dia sentires que estás na rua,
volta ao teu ninho da Quinta da Esperança.
