Coleção pessoal de joaquimcesario

⁠Vou me fingir de morto
para você me notar,
pois o ausente dos retratos
é aquele que é mais lembrado.

⁠Vou te comer pelas beiradas, amor,
até chegar ao fundo quente do teu coração.

Mas quando eu estiver lá, amor,
não adianta insistir,
pois não vou sair não.

Vou usufruir melhor meus vivos,
antes que meus vivos sejam meus mortos⁠

⁠Vivo no hiato entre quem fui e o que serei.
Sou um ininterrupto intervalo no meio da memória e o sonho.

⁠O adulto é um menino no espelho

⁠A insônia é uma noite que não dorme em um quarto acordado

⁠Versos não são frases feitas com palavras, mas imagens impressas nos papéis, coladas com sentimentos.

⁠O HOJE ANTES DO AMANHÃ

Não vou esperar
as formigas em tua boca
carcomerem tua história,
hoje prefiro-te como agora:
incompleta imperfeita e inconcluída

⁠Vou revisitar meu baú de ossos
explorar todas minhas lembranças
esmiuçar os cantos e recantos da memória
pois um dia até ela haverá de não existir

⁠Não sou um ponto fora da curva
Sou uma curva fora da reta

⁠DOMINGOS

Ruas deitadas sobre o chão dos domingos
descançam do pisotear das multidões
que no atravessar corrido das esquinas
são indiferentes aos seus sentimentos

⁠A eternidade humana termina quando termina a infância

⁠Ouço com o ouvido direito, escuto com o ouvido esquerdo.
Todas as bocas têm sempre, no mínimo, duas falas.

⁠Que procura ouvido, deve manter a boca aberta.
Quem não precisa de ouvido, pode deixar a boca fechada.

⁠Quando quis brincar de Adão, Eva já tinha ido embora

⁠Vivo no intervalo entre a eternidade da infância e a durável mortalidade dos mortos

⁠Não posso ir além do meu passado, pois assim invadiria a privacidade da memória dos meus pais

⁠O brigar corriqueiro dos cônjuges são resquícios românticos de um amor inacabado

⁠Daqui a cem anos estarei morto, mas ainda continuarei sonhado

⁠Prefiro o medo de te perder, do que a tristeza de não de te amar