Retrato de Velho
Eu sou o retrato daquilo que às vezes está cheio, derrama ou encontra-se vazio. De barro, frágil e nascido da terra. Eu sou minhas próprias lembranças e às vezes as evidencio, apago-as ou deixo o sol brilhar sobre elas.
Cada retrato é uma perspectiva diferente do mesmo ponto, mas nossa essência é a mesma em todas as óticas.
Um povo saudável é o retrato da educação, da consciência limpa, da dignidade. O dia em que no Brasil a saúde passa a ser menos importante que a educação e a segurança, é o dia em que olhar para as próprias botas sujas é mais importante que erguer os olhos e ver toda uma nação mergulhada no crime organizado, no aparelhamento e na corrupção desmedida. E por fim dizer: Ele nunca Ele não, como se isso lhe enchesse a boca de algum valor moral.
Em um instante a vida passou. Aquele retrato empoeirado da estante garante um momento flagrante de um momento distante, flagrante o olhar saudoso daquele minuto que teima em parecer eterno. Em um minuto ganhamos, perdemos, as vezes distraídos demais não nos damos conta que Jajá passou e que agora ficou para trás. Queria ter o domínio do tempo, não me contento que o momento que não passa lento fique na memória, como um filme, uma oração, um acalento que acalma o coração. Átrio esse que hora acalma, pouco depois acelera, sofre as dores daquele minuto, daqueles conjuntos de minutos que chamamos de vida. Ah, e a vida, seria ela uma lição para doar completamente o melhor ao próximo enquanto estamos aqui? Instantes, aqueles que pedimos só mais um minuto, para olhar nos olhos, para as almas, compreenderem que a incondicionalidade da presença e do mero estar ali não tem preço. O minuto passa... Desliga o som, ouça a voz, deixa o celular, aprecie a vida perto de você, um dia seu maior pedido será não esquecer os instantes de vida, do cheiro, da risada, do tom de voz e nesse instante só restará saudade e gratidão a Deus por cada minuto.
O quarto parece apertado
E o retrato do mundo lá fora não me causa mais apreço, pois a janela da sala pra dentro revela uma realidade cruel...
Tamanha vilania aquele retrato fictício do meu mundo!
As vezes sinto falta da paz
Da velha paz eternizada de um velho quadro mentiroso que me aponta sonhos mortos
Que me aponta.
Eu me vi chorando e ouvindo Ney Matogrosso cantar “retrato em branco e prato” sem entender o porquê. Eu não sabia se chorava porque havia perdido o Rick, se eu o amava, se o queria, porque eu já nem sabia mais nada! Eu me sentia um lixo e nem estava de TPM para isso. Parecia que ele tinha ido para sempre e isso era muito triste. Eu abracei um travesseiro chorando e pensei que as palavras dele foram ásperas, foram rudes! Ney cantava e eu sentia que a música era para mim pois eu me sentia uma tola procurando o desconsolo que eu cansei de conhecer. Eu escrevia, eu trazia o peito repelto de lembranças do passado e colecionava um soneto, uma carta, uma porção de sentimentos e palavras. Eu negava o amor que eu sentia pelo Rick, evitava, mas parecia que ele voltava a me enfeitiçar como se eu fosse uma tola e não tivesse me imunizado para o vírus que era o amor dele. Eu não sei na verdade o que eu sentia pois parecia que eu sentia de repente todo amor e toda dor do mundo e isso vinha tudo de uma vez e caía sobre mim como se eu fosse acertada por um raio e isso me deixava subitamente tonta!! Eu não queria ficar com o Rick, mas não queria perde-lo, diário, e eu sei que você vai dizer que isso é egoísta, porque é! Eu o queria amarrado, preso a mim do mesmo modo que eu fui presa a ele por anos, mesmo sem eu querê-lo agora.
Retrato Espontâneo -
Num gesto suspenso e cansado
alguém surgiu ao longe
caminhando passo a passo
solitário como um monge.
Era alguém! Bem sei que era!
Alguém sem nada que nada diz
passando livido como a cera
por entre os outros infeliz.
Trazia olhar de prata
olhos negros cor de fado
alguém que a morte não abraça
um poeta já cansado.
Quem seria tal figura
que o destino ali nos deu?!
Olhei com olhos de ternura
e afinal aquele era eu! ...
Vejo o meu retrato: um menino pobre de Porto Barreiros que chegou a Goiânia num caminhão de mudanças. Penso que evoluí muito.Mas não importa o quanto eu tenha evoluído, eu continuo num caminhão de mudanças.
[Retrato II]
Em meio ao verde da mata
Teu cheiro doce se mistura ao amadeirado
O teu sorriso sequer se disfarça
Irradiante como o refletir do lago
E o público de gansos e patos
Que ao nos ver no anfiteatro
Gracitaram tão enlouquecidamente
Tamanha era a beleza da gente
RETRATO DE FRIDA KAHLO
Passeia o delineante pincel...
Por cima da tela em branco
E recria-se como num painel
A trajetória de dor e pranto...
Extraordinária mulher! Infiel...
No autorretrato... Seu encanto!
Na delicadeza do cru, cruel
Sem melancolia sem espanto...
Foi uma admirada guerreira...
Expôs a sua pintura pioneira
Lutou com as próprias armas...
Superando-se nos acidentes...
Entre amantes e inconfidentes
Viveu o glamour e os karmas...
(RETRATO DE FRIDA KAHLO - Edilon Moreira, Abril/2021)
Um dia seremos esquecidos, por um tempo um retrato visto, por outro tempo um item de arquivo e por fim mais um objeto perdido.
A felicidade e os sorrisos que vocês estampam espontaneamente, é o retrato mais belo e perfeito sem retoque.
"Amor abstrato,
Amor sem contrato,
Amor é um retrato
Pendurado no quarto
Prestes
a
cair
em
demasia…"
SOB UM RETRATO
Aqui tens amarelado, um retrato desbotado
Numa saudade que dói e na saudade versa
Em um silêncio mudo, contudo, encharcado
De memória, histórias, de casos e conversa
Foto piedosa, meiga, de um tempo passado
Ante o vazio do olhar, da atenção dispersa
Olhos amorosos, em um sussurro chorado
Ó contemplação de uma sensação perversa
Ante ele, recordando a tão doce formosura
Ente amado, as preces para a eternidade
Que o tempo leva numa nostálgica ternura
É que Deus, Ente, lhe doirou em santidade
Dando-lhe a paz e o caminho da alma pura
E cá eu vou carpindo sob a infinda saudade...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
13/09/2021, 10’10” – Araguari, MG
Sentíamos que éramos um retrato na parede, que ficava mais invisível quanto mais tempo passava naquele local.
A nossa a aparência física é o retrato desta época...Aquela que nossos ancestrais tinham há um milhão de anos atrás, era o retrato dessa mesma época.
