Poesia Carinho Machado de Assis
EU ME SINTO
Sinto-me como uma criança colocada a força em um balanço e presa nele, enquanto ele gira em torno de si mesmo sem parar.
Como uma criança que não consegue ver nitidamente o que lhe cerca, o mundo a sua volta.
Como uma criança sem forças para parar o balanço, mas exausta de tanto tentar.
Como uma criança com tanto medo dentro de si que não consegue gritar.
Como uma criança que tudo o que faz é chorar.
Como uma criança, esperando que alguém possa me salvar.
Como uma criança com um imenso desejo de que tudo apenas acabe.
Pandemia
O único proveito da pandemia
E o crescimento real.
Melhora a própria Vida,
E o todo. Porque; cada um,
é parte do todo.
Se não; é apenas uma penitencia
Coletiva, que o tempo se encarregará
De apagar. Porque, Vida e transformação,
só existe no agora.
Marcos fereS
(em tempo de corona)
às Musas não interessam
drenagens, deixam alagar livremente
com o que sobrevém: a água do instante
subjectivo
quando o poeta era uma fera luminosa
e Veneza, sobre a laguna, a porta para o Levante
com seu tráfego de peregrinos imateriais – que também traziam
as laranjas douradas, a seda, a musselina
porcelanas, aço, pimenta
incenso e alívios
a cidade detinha um colégio de sábios
que sabia, em dialecto próprio, ser a magia
este palácio mergulhado nos silêncios
meio submersos
e que apenas a ciência da leitura paulatina
poderá ser o escafandro glotal e sinal que soltará
da grosseria eloquente
o espanto oculto do poema
NEM TANTA COISA DEPENDE
preferes o canto, o lugar oculto
a folhagem, a sombra, o quarto, este
saco de trigo: ouro de um texto
sobre a velha escrivaninha do real
lá fora o clarão do arvoredo
atalhos para a tingidura da paisagem
cá dentro menos caminho, outro
panorama: a presença tão-só
desabitada de uma pessoa, mistério sem
atributo ou função
sempre a desfeita de um coração
o cultivo intensivo das figuras
e sobram tristeza e dias ao corpo que escreve
no calabouço de uma manhã muito larga
reluzente de gotas de mel
enquanto os gatos lambem o sábado
e sentado, sapo de ouro, permites-te pôr no mundo
(mas porquê) outro poema
ardia de amor pela casa
uma confusão de silêncios ou
dizendo de outro modo
afundava-se numa líquida recordação cardíaca
ocultos pólen pólvora fósforos
a má reputação dos dedos
paixão cartografada remota
toponímia de enganos
braço a braço crescia alto
o incêndio no interior do peito
deliberado ritual de lâminas e pele
a transparente certeza
da cicatriz
mas ardia de amor pela casa soturna
silêncio dando para o saguão luz muitíssimo
extinta por sobre a larga extensão destruída
morrer, principalmente de amor, é
uma compendiosa tarefa doméstica
dentro do coração antigo
serei breve
DEPOIS QUE ME PARTI
ilustração chã do planeta
pouco préstimo teve este aguaceiro
reservatório de enganos
em tão opaca agra e degredo, a poesia
escuríssima nuvem no-la encobre
nula grandeza a de um texto
vai pelas gentes com uns chorados
mais leves que ao vento canas
em que trilho, com que rastro
por que abertas
mal ter vindo, mal ter ficado
Todos os dias o rio é um violino sangrando muito. Constante negócio de navios interiores.
Tomar a rédea do teu nome ondulando pela tarde, circunscrevendo a luz. Eu, o medo, um negócio de importação de angústias. O amor é uma arma rude — moeda de troca de antagonismos ínscios. Um comboio de cansaço.
Devo dormir — garantir que o rio não arrasa a casa.
É o meu delírio sempre a horas certas dentro de um aquário híbrido. Estranhar ser pessoa. Estranhar ter crescido. Ter de ser crescida. Sem pele. Coleccionadora de vestidos que não posso vestir.
É incrível como a torre pode cair.
Devia, antes de saber se caio, demolir um assunto grande. Só para assistir à cadência. Como com as estrelas, mas sem desejar.
Não vai doer. É só uma luz muito aguda.
A minha esperança é azul. Propagação. Níveis do Inferno.
Flores de Jacarandá no chão.
Gostava de me decifrar. Perdi o relógio, perdi a caneta, não perdi o anel. Ele arde-me.
Era isso! A faísca. No caos, a faísca. Tu. Não esquecer.
Fazer ver a leveza da tempestade. Até doerem os dedos. Até chorar. Até rir. Até dormir descansada no teu peito azul.
Não há corpo igual. Não há cheiro nenhum no mundo que colmate o meu vício por ti. Não há tragédia igual. Drama incorruptível.
O tamanho de tudo, encaixe perfeito, a dimensão do conjunto e a distância entre opostos.
de profundis amamus
Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria
Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros
Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso
Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso
Estação
Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te
vou perdendo a noção desta subtileza.
Aqui chegado até eu venho ver se me apareço
e o fato com que virei preocupa-me, pois chove
miudinho
Muita vez
vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me eu e não apareci
embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante
como comboio e como subtileza
Que dê o nome e espere. Talvez apareça
you are welcome to elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
radiograma
Alegre triste meigo feroz bêbedo
lúcido
no meio do mar
Claro obscuro novo velhíssimo obsceno
puro
no meio do mar
Nado-morto às quatro morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar
Uma certa quantidade de gente à procura
de gente à procura duma certa quantidade
Soma:
uma paisagem extremamente à procura
o problema da luz (adrede ligado ao problema da vergonha)
e o problema do quarto-atelier-avião
Entretanto
e justamente quando
já não eram precisos
apareceram os poetas à procura
e a querer multiplicar tudo por dez
má raça que eles têm
ou muito inteligentes ou muito estúpidos
pois uma e outra coisa eles são
Jesus Aristóteles Platão
abrem o mapa:
dói aqui
dói acolá
E resulta que também estes andavam à procura
duma certa quantidade de gente
que saía à procura mas por outras bandas
bandas que por seu turno também procuravam imenso
um jeito certo de andar à procura deles
visto todos buscarem quem andasse
incautamente por ali a procurar
Que susto se de repente alguém a sério encontrasse
que certo se esse alguém fosse um adolescente
como se é uma nuvem um atelier um astro
Imortalidade
Sabem onde me encontrar
Qualquer vinda por aí
Tô sempre por aqui
Eu nunca estive lá
Ninguém foi me buscar
Procurei de Norte a Sul
Fui de Leste a Oeste
Sem nem saber por onde andei.
Eu me frustrava tão fácil quando menino
Essa coisa de "destino", não sei mais como seguir.
Hoje sou livre, sou palavra, sou escrita. Vivo poesia.
Sem trancas ou amarras
Enfim, que não seja o fim, não nasci pra seguir.
Muito menos para servir.
Me encanta o vento,
Ooo liberdade, pra isso não se tem idade.
Já não sou mais tão menino.
Sou a própria poesia, palavras vivem pra sempre...
Profetizadas em mentes
Que jamais se esqueceram delas.
Seja o seu espelhar. Um reflexo de luz para a Vida. Sabemos não sermos perfeito. Mas podemos emanar luz e alimentar os corações dos nossos irmãos. Quanto mais luz Você reflete, mais leve fica seu espirito. E as densas brumas dos pensamentos sombrios. Vão se desfazendo como nuvens. E; de repente; Você fica tão leve. Que sente , que poderia, até voar. E assim o Amor se faz. E as coisas verdadeiras acontecem e permanecem em sua Vida. Como recompensa. transformando cada vez mais o seu Viver..
marcos fereS
Não sei se lavo as mãos,
Ou esfrego o corpo.
Se me isolo então
E me entrego todo.
Talvez assim
cheio de mim
viva mais um pouco
Até voltar a saber
o que não fazer de novo.
André Luz
Fascínio
Lugar onde o ego se enrijece.
E nada mais, consegue chamar a atenção.
E a curiosidade, a vontade de possuir
Tudo e a todos, dá lugar a uma doentia,
Forma de estar.
Tudo o mais. Fica parado.
Dependendo da força que impulsiona,
A vontade fascinada.
Apenas se move em direção,
Daquele foco em que está presa.
E só consegue se libertar com o
Tempo. A vontade fascinada
É o grande aprisionador dessa era.
A visão e audição condicionado ao
Estado de belo e conforto.
Paralisa outras funções dos sentidos.
Daí a necessidade. Da Realidade
Permeando, os pensamentos considerados
Sensatos. Porque; para se fascinar, e viciar.
É rápido. Principalmente, para quem já
Nasceu nesta geração. O mundo se torna
Um imenso sonho. E a Vida apenas um filme,
Que se repete, em infinito epílogos.
Sagas, e episódio. Como; por milagre.
No próximo episódio. Os problemas
Vão se resolver. Mas não é isso.
A mente está em alta ilusão.
O vício, está instalado.
E a Vida prisioneira, em um
Quadrado , cheio de imagens e sons.
Inspira , que todos são verdadeiros
Artistas e importantes.
Mas, a Realidade; sempre foi difícil.
Por isso, salvávamos as consciências infantis.
Geração infantilizada. E tudo termina em X.
Depois, somente, arquivos, de um mundo que
Existiu. E que ficou enterrado nos escombros
Da sociedade em que o homem reinou por
Uns tempos.
Progesterona. Não é mais a força que manda no Mundo.
Mas a força da mente.
Porem ela encontra-se fascinada em frente ao espelho,
Que a colocaram. E precisa acordar , o quanto antes
Para a Realidade da Vida.
Senão o passar do tempo, será como um filme,
Assistido várias vezes, e que não encontra
Continuação. E a sensação de tédio,
É inevitável. Porque esqueceu a forma
De redescobrir o mundo a sua volta.
Marcos fereS
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