O Espiritismo na Arte Leon Denis
Havíamos nos encontrado numa terra abençoada, lá pelas tantas da noite. E lá pintamos mais o céu com a cor e tinta que escolhemos. Tocamos também um hino novamente. Tão belo assim nunca tínhamos visto. Ah, se fosse outro o nosso destino; queríamos estacionar ali. A gente sabia que acordaria logo pela manhã... ✨
A internet desacerba aos poucos letrados, o intenso analfabetismo funcional. Principalmente aos aposentados, que pelo gesto simples de gostar, copiar e colar confundem frases, pensamentos e textos oriundos de grandes obras literárias de autores com oportunos dizeres derivados de mediunidade psicografadas.
Erra completamente todo aquele que julga objetivamente nesta dimensão, o nascimento e a morte, como limites existenciais.
O baixo nível cultural e a falta de estudo geral do povo brasileiro tende a cristianizar a filosofia maçônica e a ciência espirita.
ANTROPOFAGIA, PUNIÇÃO E PROGRESSO NA REVISTA ESPÍRITA.
Autor Pesquisador: Marcelo Caetano Monteiro
Na Revista Espírita de 1866, Allan Kardec empreende um esforço doutrinário de alta precisão conceitual ao abordar temas sensíveis à moral, à antropologia e à psicologia espiritual de seu tempo. Entre eles destacam-se a análise da antropofagia, o esclarecimento semântico do termo “punido” e o chamado Exame Crítico sobre os Animais, todos articulados sob a égide das leis morais universais que regem o progresso do Espírito. Kardec não escreve para chocar, mas para depurar conceitos, libertando-os das leituras teológicas arcaicas e das interpretações passionais que obscureciam a razão espiritual no século XIX.
Ao tratar da antropofagia, Kardec não a reduz a um ato meramente fisiológico ou monstruoso. Sua análise é de natureza antropológica e espiritual. Ele a insere no contexto das sociedades primitivas, onde o instinto ainda prevalecia sobre a razão moral e onde práticas simbólicas eram confundidas com atos religiosos ou mágicos. Kardec demonstra que tais costumes não surgem do mal absoluto, mas da ignorância espiritual própria de estágios evolutivos iniciais. O ato antropofágico, sob essa ótica, não é defendido nem relativizado moralmente, mas compreendido como expressão de um Espírito ainda submetido às forças instintivas, anterior ao pleno despertar da consciência ética. Essa abordagem encontra respaldo nos princípios expostos em O Livro dos Espíritos, especialmente nas questões relativas ao progresso intelectual antecedendo o progresso moral, publicadas em 1857.
No que se refere ao uso do termo “punido”, Kardec realiza, em estudos posteriores à década de 1860, um esclarecimento de grande relevância filosófica e psicológica. A palavra, utilizada em edições anteriores da Revista Espírita, havia sido interpretada segundo a lógica do castigo eterno, herança direta da teologia dogmática. Kardec corrige essa leitura e afirma que, no Espiritismo, punição não significa vingança divina nem condenação perpétua. Trata-se, antes, da consequência natural e pedagógica da lei de causa e efeito. O Espírito sofre não porque Deus o castiga, mas porque colhe os frutos de seus próprios atos, conforme ensinado reiteradamente na Revista Espírita de 1860 e reafirmado em 1866.
Sob esse prisma, a punição é essencialmente educativa. Kardec exemplifica que um Espírito que tenha cometido crimes graves pode, em reencarnações subsequentes, experimentar provas menos severas, porém ainda corretivas, como aquele que, tendo sido assassino, renasce em condições morais inferiores para aprender, gradualmente, o respeito à vida e à lei. Esse processo não é regressão espiritual, mas reeducação da consciência. Psicologicamente, trata-se de um mecanismo de reconstrução do senso moral, onde o sofrimento não é um fim, mas um meio transitório para o arrependimento lúcido e a regeneração íntima, conforme os princípios expostos em O Céu e o Inferno, publicado em 1865.
No Exame Crítico sobre os Animais, desenvolvido entre 1860 e 1866, Kardec avança ainda mais ao enfrentar uma questão delicada para a filosofia e para a ciência moral de sua época. Ele questiona a natureza do princípio inteligente nos animais, evitando tanto o materialismo reducionista quanto o antropomorfismo ingênuo. Kardec afirma que os animais possuem um princípio espiritual em elaboração, distinto da alma humana, mas igualmente submetido à lei de progresso. Não há identidade entre a alma do homem e a do animal, mas há continuidade no princípio inteligente que se desenvolve gradualmente ao longo das eras.
Nesse contexto, Kardec esclarece que os sofrimentos no reino animal não podem ser compreendidos como punições morais, pois lhes falta a consciência do bem e do mal. Tratam-se de mecanismos naturais de aprendizado instintivo, indispensáveis à preservação da espécie e ao aperfeiçoamento das faculdades sensoriais. Essa concepção está em consonância com as questões 597 a 600 de O Livro dos Espíritos, onde se afirma que os animais progridem, mas não pela via da responsabilidade moral, e sim por experiências que lhes desenvolvem a inteligência rudimentar.
Assim, a Revista Espírita revela-se um verdadeiro laboratório doutrinário, no qual Kardec refina conceitos, corrige interpretações e consolida uma visão profundamente ética do universo espiritual. Punição, nesse sistema, é sempre consequência educativa. Antropofagia é expressão de um estágio evolutivo primitivo, não de uma perversidade essencial. Os animais, por sua vez, participam do grande movimento ascensional da vida, cada qual em sua escala e finalidade. Nada está condenado ao mal eterno, tudo está destinado ao aperfeiçoamento progressivo da consciência, porque a justiça divina não castiga para destruir, mas educa para elevar, e essa verdade permanece como uma das mais altas conquistas do pensamento espiritual humano.
A FORMAÇÃO HISTÓRICA DO CÂNON BÍBLICO E SUAS VARIAÇÕES TRADICIONAIS.
Escritor:Marcelo Caetano Monteiro .
Uma análise histórica e acadêmica, redigida em linguagem catedrática e isenta de juízos confessionais, cujo objetivo é esclarecer quais livros foram incluídos ou excluídos dos diferentes cânones bíblicos, por quais razões, em que contextos históricos e por quais instâncias decisórias, sempre com base em fontes reconhecidas pela historiografia e pelos estudos bíblicos críticos.
A FORMAÇÃO HISTÓRICA DO CÂNON BÍBLICO E SUAS VARIAÇÕES TRADICIONAIS.
A Bíblia Sagrada não constitui uma obra unitária concebida de forma instantânea, mas um corpus textual progressivo, formado ao longo de mais de um milênio, atravessando múltiplos contextos culturais, linguísticos e institucionais. Sua configuração atual resulta de processos históricos complexos, nos quais intervieram comunidades religiosas específicas, critérios teológicos, usos litúrgicos e debates hermenêuticos prolongados.
Do ponto de vista estritamente histórico, o termo “cânon” designa o conjunto de escritos reconhecidos como normativos por determinada comunidade de fé. Tal reconhecimento não ocorreu de modo uniforme nem simultâneo entre judeus, cristãos orientais e cristãos ocidentais, o que explica as diferenças quantitativas entre os cânones.
O CÂNON JUDAICO E A DELIMITAÇÃO DO TANAKH.
A tradição judaica reconhece 39 livros, correspondentes ao que os cristãos denominam Antigo Testamento. Esses textos compõem o Tanakh, acrônimo formado por Torá, Neviim e Ketuvim. A consolidação desse cânon ocorreu de maneira gradual, entre os séculos V a.C. e I d.C., sendo tradicionalmente associada ao período pós exílico.
Do ponto de vista acadêmico, não há evidência conclusiva de um concílio formal único que tenha fechado o cânon judaico, mas sim um processo de reconhecimento comunitário, consolidado após a destruição do Segundo Templo em 70 d.C., quando os textos em hebraico e aramaico passaram a ser normatizados como expressão identitária do judaísmo rabínico. Textos preservados apenas em grego, ainda que amplamente utilizados por judeus helenizados, foram progressivamente excluídos desse corpo normativo.
Fontes históricas e filológicas indicam que o critério central foi a língua original, a antiguidade atribuída ao texto e sua conformidade com a tradição mosaica.
A TRADIÇÃO CRISTÃ PRIMITIVA E A SEPTUAGINTA.
As primeiras comunidades cristãs, especialmente aquelas situadas no mundo greco romano, utilizaram majoritariamente a Septuaginta, tradução grega das Escrituras hebraicas realizada entre os séculos III e I a.C. Essa coleção incluía livros que não figuravam no cânon hebraico, posteriormente estabilizado.
Entre esses escritos encontram-se Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, Primeiro e Segundo Macabeus, além de acréscimos a Ester e Daniel. Esses textos passaram a ser lidos liturgicamente, comentados por teólogos antigos e incorporados à tradição cristã como literatura edificante e doutrinária.
O CÂNON CATÓLICO E A DEFINIÇÃO DOS DEUTEROCANÔNICOS.
A Igreja Católica reconhece 73 livros, incluindo os chamados deuterocanônicos, termo que indica textos cuja aceitação canônica foi posterior, mas não secundária em autoridade. A consolidação desse cânon ocorreu progressivamente entre os séculos IV e V, com referências explícitas em sínodos regionais e, posteriormente, foi reafirmada no Concílio de Trento em 1545/6.
* Concílio de Trento
O Concílio de Trento foi uma série de reuniões realizadas pela Igreja Católica com o objetivo de combater a Reforma Protestante e manter a unidade e o poder da Igreja.
O Concílio de Trento foi uma série de reuniões realizadas pela Igreja Católica, no contexto da chamada Contrarreforma Católica, para combater os efeitos da Reforma Protestante. Foi realizado entre 1545 e 1563 na cidade que dá nome ao concílio. Dele participaram diversas autoridades da Igreja, mas nenhum papa chegou a participar diretamente de uma sessão do concílio.
Em partes o concílio realizou seus objetivos, pois manteve a maior parte da Europa latina católica, além de transformar a América Latina em um continente predominantemente católico.
Do ponto de vista histórico, essa decisão não teve caráter arbitrário, mas respondeu à necessidade de uniformização doutrinária, sobretudo diante das controvérsias do século XVI. A Igreja justificou a manutenção desses livros com base em seu uso contínuo, valor teológico, presença na Septuaginta e recepção patrística.
A REFORMA PROTESTANTE E A REDUÇÃO DO CÂNON.
Os reformadores do século XVI, ao privilegiarem o princípio da autoridade textual hebraica para o Antigo Testamento, optaram por adotar o cânon judaico de 39 livros, totalizando 66 livros ao incluir o Novo Testamento. Os livros deuterocanônicos não foram inicialmente rejeitados como espúrios, mas classificados como úteis para leitura, embora não normativos para fundamentação doutrinária.
Essa decisão foi tomada em um contexto de crítica à tradição eclesial medieval e de retorno às fontes consideradas mais antigas. O critério central foi filológico e histórico, ainda que inevitavelmente permeado por pressupostos teológicos.
A TRADIÇÃO ORTODOXA E A PRESERVAÇÃO AMPLIADA.
As Igrejas Ortodoxas, particularmente as de tradição grega e eslava, reconhecem 78 livros, preservando um cânon ainda mais amplo, que inclui textos como Terceiro Macabeus, Salmo 151 e Oração de Manassés. Essa configuração reflete a continuidade do uso litúrgico da Septuaginta sem as delimitações posteriores impostas no Ocidente.
CONSIDERAÇÕES PAUTADAS EM INDÍCIOS ACADÊMICOS FINAIS.
Sob a ótica historiográfica, as diferenças canônicas não devem ser interpretadas como supressões ideológicas arbitrárias, mas como expressões distintas de processos históricos legítimos, condicionados por língua, geografia, tradição interpretativa e autoridade institucional. A noção moderna de autoria, fixidez textual e canonização formal não se aplica plenamente a sociedades antigas, nas quais o texto era sobretudo um organismo vivo, transmitido e interpretado comunitariamente.
Assim, a Bíblia, enquanto o mais difundido conjunto de textos da história humana, permanece também um testemunho eloquente da pluralidade de caminhos pelos quais a tradição escrita se consolidou, preservando no tempo a memória espiritual de civilizações inteiras e reafirmando que a história do
" sagrado" é, antes de tudo, a história da transmissão da palavra através dos séculos.
INFORMAÇÕES BASES:
A seguir Uma elucidação conceitual esforçada e rigorosa, em linguagem acadêmica e tradicional, explicando os principais termos utilizados nos estudos bíblicos, históricos e religiosos, com atenção especial à sua origem etimológica, sentido técnico e uso no campo científico, evitando qualquer viés apologético.
TEOLOGIA.
A palavra teologia deriva do grego antigo “theós”, que significa Deus, e “lógos”, que significa discurso, razão ou tratado. Em seu sentido clássico, teologia é o campo do saber que se dedica à reflexão sistemática sobre o divino, suas manifestações, atributos e relação com o mundo e com o ser humano.
No âmbito acadêmico, a teologia não se restringe à fé pessoal, mas constitui uma disciplina hermenêutica e histórica, que analisa textos sagrados, tradições religiosas, dogmas e práticas cultuais. Quando falamos em teologia bíblica, referimo nos ao estudo do pensamento religioso presente nos textos bíblicos, considerando seu contexto histórico, literário e cultural.
FILOLOGIA.
Filologia tem origem no grego “philía”, amor ou apreço, e “lógos”, palavra ou discurso. Trata se da ciência que estuda os textos antigos a partir de sua língua original, analisando vocabulário, gramática, variantes manuscritas e evolução semântica.
No estudo da Bíblia, a filologia é essencial porque os textos bíblicos foram redigidos principalmente em hebraico, aramaico e grego antigo. A filologia permite identificar alterações textuais, compreender expressões idiomáticas próprias da época e reconstruir, com o máximo de fidelidade possível, a forma mais antiga dos escritos.
SEPTUAGINTA.
O termo Septuaginta refere se à tradução grega das Escrituras hebraicas realizada entre os séculos III e I antes da era cristã, sobretudo em ambiente judaico helenizado. O nome deriva do latim “septuaginta”, setenta, em alusão à tradição segundo a qual setenta ou setenta e dois sábios teriam participado da tradução.
Do ponto de vista histórico, a Septuaginta é fundamental porque foi a principal Bíblia utilizada pelos judeus da diáspora e pelas primeiras comunidades cristãs. Ela contém livros e passagens que não constam no cânon hebraico posterior, o que explica sua relevância na formação dos cânones cristãos católico e ortodoxo.
CÂNON.
A palavra cânon provém do grego “kanón”, que significa regra, medida ou norma. No contexto bíblico, cânon designa o conjunto de livros reconhecidos como normativos e autorizados por uma comunidade religiosa específica.
Do ponto de vista acadêmico, a canonização não é um ato instantâneo, mas um processo histórico de reconhecimento progressivo, baseado em critérios como uso litúrgico, antiguidade do texto, coerência doutrinária e autoridade atribuída à tradição que o preservou.
DEUTEROCANÔNICOS.
Deuterocanônico deriva do grego “deúteros”, segundo, e “kanón”, regra. O termo indica livros cuja aceitação canônica ocorreu em um segundo momento histórico, embora sejam considerados plenamente inspirados dentro das tradições que os reconhecem.
Esses textos estavam presentes na Septuaginta e foram amplamente utilizados na Antiguidade cristã. O termo não implica inferioridade literária ou teológica, mas apenas um processo distinto de reconhecimento em relação aos livros protocanônicos.
APÓCRIFOS.
Apócrifo tem origem no grego “apókriphos”, oculto ou reservado. Historicamente, o termo designava escritos destinados a círculos restritos. Com o tempo, passou a indicar textos religiosos antigos que não foram incluídos no cânon oficial de determinadas tradições.
Na pesquisa acadêmica, os apócrifos são valiosos para compreender o ambiente religioso, simbólico e teológico do judaísmo e do cristianismo primitivos, ainda que não sejam considerados normativos por comunidades confessionais.
HERMENÊUTICA.
Hermenêutica deriva do verbo grego “hermēneúein”, interpretar. Trata se da ciência da interpretação dos textos, especialmente textos antigos e sagrados.
No campo bíblico, a hermenêutica busca compreender o sentido original de um texto, levando em conta o contexto histórico, o gênero literário, a intenção do autor e a recepção comunitária. Ela distingue a leitura literal, simbólica, histórica e teológica.
EXEGESE.
Exegese provém do grego “exēgéomai”, conduzir para fora ou explicar. Diferentemente da leitura devocional, a exegese é uma análise crítica e metódica do texto, com base em dados linguísticos, históricos e literários.
A exegese moderna procura responder ao que o texto significava em seu contexto original, antes de discutir aplicações posteriores.
TRADIÇÃO.
No sentido acadêmico, tradição refere se ao processo de transmissão de textos, interpretações e práticas ao longo do tempo. A tradição não é mera repetição, mas um movimento contínuo de preservação e releitura.
No estudo bíblico, tradição escrita e tradição oral caminham juntas, sendo fundamentais para compreender como os textos chegaram à sua forma atual.
CONSIDERAÇÃO.
Esses termos constituem o vocabulário técnico indispensável para qualquer abordagem séria e histórica da Bíblia. Compreendê los é reconhecer que o texto sagrado não surgiu isolado no tempo, mas foi cuidadosamente transmitido, interpretado e preservado por comunidades humanas concretas, cujo esforço intelectual e espiritual atravessou séculos e moldou a própria história da civilização.
A SEGUNDA MILHA E O PERDÃO EVANGÉLICO SOB A ÓTICA ESPÍRITA.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro .
A seguir apresentam-se os capítulos e versículos bíblicos mencionados, acompanhados de comentários interpretativos à luz do Espiritismo, em consonância com a Codificação.
Lucas 6:29 a 30.
“Se alguém te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. E ao que te tomar a capa, não impeças que leve também a túnica. Dá a todo aquele que te pedir. E ao que tomar o que é teu, não lho tornes a pedir.”
À luz do Espiritismo, este ensino não se refere à anulação da dignidade pessoal, mas à superação do instinto de revanche. A Codificação esclarece que a violência gera violência e que o espírito só se emancipa quando rompe o ciclo do ódio. Oferecer a outra face significa não reagir moralmente ao mal recebido, libertando-se das paixões inferiores. Trata-se de uma atitude interior de domínio sobre si mesmo, virtude essencial ao progresso espiritual.
Mateus 5:4.
“E se alguém te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.”
Este versículo, núcleo simbólico da chamada segunda milha, encontra profunda correspondência com o princípio espírita da resignação ativa. A Codificação ensina que as provas difíceis são instrumentos de crescimento e que o mérito está na forma como o espírito as enfrenta. Caminhar além do imposto representa aceitar a prova sem revolta, transformando uma imposição injusta em exercício voluntário de amor e compreensão. Não é submissão cega, mas elevação moral consciente.
Mateus 5:44.
“Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem.”
O Espiritismo aprofunda este mandamento ao explicar que os inimigos de hoje são frequentemente espíritos ligados a nós por débitos do passado e os possíveis amigos de amanhã. Amar o inimigo é reconhecer que ambos se encontram em estágios diferentes da mesma caminhada evolutiva. Orar por quem persegue é enviar vibrações de equilíbrio e romper laços de animosidade que atravessam encarnações. Aqui o amor deixa de ser emoção e torna-se ciência moral.
Lucas 23:34.
“Pai, perdoa lhes, porque não sabem o que fazem.”
Neste clímax do Evangelho, o Cristo revela a compreensão plena da ignorância espiritual como raiz do mal. A Codificação afirma que o erro é sempre filho da imperfeição e que ninguém pratica o mal com lucidez plena do bem. O perdão de Jesus não nega a falta, mas compreende a limitação do espírito humano. Trata-se do modelo máximo de indulgência, apresentado como meta evolutiva para a humanidade.
Filipenses 3:13 a 14 e 20.
“Esquecendo me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação.”
“A nossa pátria está nos céus.”
Sob a ótica espírita, essas palavras refletem a consciência da imortalidade do espírito e da transitoriedade da vida corporal. A verdadeira pátria é o estado de harmonia moral que se conquista pelo aperfeiçoamento contínuo. Prosseguir para o alvo é avançar espiritualmente, superando quedas e aprendizados de múltiplas existências. O Espiritismo confirma que o progresso é lei divina e que nenhum esforço sincero se perde.
Conclusão.
À luz do Espiritismo, ir além do que nos pedem é um ato de lucidez espiritual. Não se trata de aceitar a injustiça, mas de não permitir que ela se instale no íntimo como rancor. A segunda milha é o espaço da libertação interior, onde o espírito escolhe crescer em vez de reagir, compreender em vez de condenar.
Esses ensinamentos não exigem perfeição imediata, mas sinceridade no esforço. Cada gesto de perdão alivia o fardo invisível da alma. Cada passo além do orgulho aproxima o espírito da paz que não depende das circunstâncias exteriores. Assim, o Evangelho e a Codificação convergem para uma mesma verdade consoladora. O amor compreendido e vivido é o caminho mais seguro para a restauração interior e para a esperança que sustenta a caminhada humana.
O BOM PASTOR, A COLHEITA E O TRABALHADOR FIEL.
UMA LEITURA BÍBLICA À LUZ DA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
A expressão “Eu sou o bom pastor” situa-se no âmago da pedagogia moral do Cristo e encontra-se no Evangelho segundo João, capítulo 10, versículos 11, 14 e 15. Nela, Jesus não apenas se apresenta como guia espiritual, mas estabelece uma analogia viva entre o cuidado do pastor e a responsabilidade moral daquele que conduz consciências. O bom pastor conhece as suas ovelhas, vela por elas, antecipa perigos e, sobretudo, sacrifica-se quando necessário. Trata-se de um modelo de autoridade que não domina, mas serve, não explora, mas protege.
À luz do Espiritismo, essa imagem adquire densidade ainda maior. O pastor representa o Espírito que, já mais consciente da lei divina, assume compromisso com os que ainda caminham em graus iniciais de entendimento. Essa função não se confunde com privilégio, mas com dever, pois quanto maior o conhecimento, maior a responsabilidade moral. Tal princípio encontra respaldo em “O Livro dos Espíritos”, questões 614 a 621, quando se ensina que a lei de Deus se resume na prática do bem e que o homem responde pelo uso que faz do que lhe foi confiado.
Quando Jesus afirma “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos”, conforme o Evangelho segundo Mateus, capítulo 9, versículo 37, Ele desloca o olhar do indivíduo isolado para o campo coletivo da humanidade. A colheita simboliza o momento espiritual da Terra, madura para receber o ensino moral, enquanto os trabalhadores representam aqueles que se dispõem ao serviço desinteressado do bem. A escassez não é de recursos, mas de consciências verdadeiramente comprometidas.
Surge, então, a questão central. O que ocorre quando aquele que deseja servir ao Cristo com retidão não aproveita os ensejos oferecidos pelas analogias evangélicas. Aqui se impõe a enumeração das comparações utilizadas por Jesus, todas convergindo para a responsabilidade do servidor fiel.
Primeiramente, a analogia do pastor e das ovelhas ensina vigilância, cuidado e renúncia pessoal. Em seguida, a analogia da colheita remete à urgência do trabalho, pois o tempo oportuno não se repete indefinidamente. A parábola do trabalhador fiel e prudente, presente em Mateus capítulo 24 versículos 45 a 47 e em Lucas capítulo 12 versículos 42 a 46, reforça a ideia da constância no dever, mesmo na ausência aparente do senhor. Já a advertência “Dá conta da tua administração”, registrada em Lucas capítulo 16 versículo 2, amplia o sentido da prestação de contas para todos os recursos morais e espirituais confiados ao Espírito.
A imagem do sal da terra, exposta em Mateus capítulo 5 versículo 13, introduz uma analogia de natureza profundamente ética. O sal conserva, dá sabor e impede a corrupção. Quando perde suas propriedades, torna-se inútil. Sob o prisma espírita, isso significa que o conhecimento espiritual sem aplicação prática degenera em estagnação moral. Tal ensinamento é confirmado em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, capítulo 17, item 4, ao afirmar que o verdadeiro espírita reconhece-se pela sua transformação moral e pelo esforço que faz para domar suas más inclinações.
A própria formação natural do sal oferece uma lição silenciosa. Os depósitos salinos resultam de processos lentos e graduais, decorrentes da dissolução das rochas ao longo de milhões de anos. Essa lei natural do tempo e da maturação espelha o princípio da evolução progressiva dos Espíritos, exposto em “O Livro dos Espíritos”, questões 114 e 115, segundo as quais os Espíritos não são criados iguais em adiantamento, mas destinados a alcançar a perfeição por esforço próprio e sucessivas experiências.
No contexto hebraico antigo, o sal simbolizava aliança, fidelidade e compromisso moral. Toda oferta deveria ser temperada com sal, conforme Levítico capítulo 2 versículo 13, representando a incorruptibilidade do pacto com Deus. A chamada aliança de sal, mencionada em Números capítulo 18 versículo 19, reafirma a estabilidade da lei divina, que não se altera, mas se revela progressivamente à consciência humana. Essa permanência da lei moral encontra eco em “O Livro dos Espíritos”, questão 617, quando se ensina que a lei de Deus é eterna e imutável em seu princípio.
A parábola dos trabalhadores da última hora, narrada em Mateus capítulo 20 versículos 1 a 16, dissipa a falsa ideia de injustiça divina. O trabalhador não estava fora do campo, aguardava durante todo o dia no local de contratação diária, mas aguardava oportunidade que embora parecidamente tardia ela lhe chegou e ele fiel foi realizá-la. Segundo “O Evangelho segundo o Espiritismo”, capítulo 20, item 5, Deus considera a intenção reta e o esforço sincero, e não apenas a duração aparente do serviço. Cada Espírito é chamado segundo seu grau de adiantamento, sem privilégios arbitrários.
Entretanto, muitos trabalhadores, embora aptos, não são ou não se deixam aproveitar no momento da colheita. Por temor, orgulho ou apego a conveniências pessoais ou de daqueles que deviam mesmo lhes impulsionar onde mourejam , assim ambos acabam por comprometerem a própria tarefa. Assim, não é a ausência de capacidade que os inutiliza, mas a resistência moral, tal como o sal que perde o sabor por influência externa. Reflexões análogas encontram-se na “Revista Espírita”, ao tratar da responsabilidade individual e da influência moral dos Espíritos.
A formação da pérola, fruto de longa e silenciosa elaboração, oferece outra analogia instrutiva. Assim como ela não se produz instantaneamente, o Espírito não se aperfeiçoa em uma única existência. Esse princípio está claramente estabelecido em “O Livro dos Espíritos”, questões 132 e 167, ao tratar da finalidade da encarnação e da pluralidade das existências. Nada se perde do que pertence ao Espírito, pois as conquistas morais são patrimônio intransferível, conforme ensina “O Céu e o Inferno”, primeira parte, capítulo 7.
Dessa forma, o ensinamento “Vós sois o sal da terra” não se reduz a figura retórica. Ele convoca cada consciência à fidelidade prática ao bem, à coerência entre saber e agir, e à perseverança no serviço. O sal salga por natureza, assim como o bem se manifesta espontaneamente quando o Espírito se encontra afinado com a lei divina, mediante a reforma íntima contínua.
Assim compreendido, o Evangelho redivivo apresenta-se como chamado permanente ao trabalho consciente, no qual cada analogia de Jesus se converte em espelho moral. A colheita prossegue, os campos permanecem vastos, e o convite ao serviço fiel ecoa através dos séculos, conduzindo o Espírito, passo a passo, à sua elevação moral e à realização plena do destino que lhe cabe na ordem divina da vida espiritual.
EPÍSTOLAS TESTEMUNHAM A MEDIUNIDADE APOSTÓLICA.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
Segundo a exegese rigorosa de José Herculano Pires, apoiada nos estudos criteriosos do reverendo Haraldur Nielsson, as epístolas apostólicas constituem um testemunho histórico e doutrinário inequívoco da mediunidade primitiva no seio do cristianismo nascente. Longe de serem meros textos catequéticos, esses documentos revelam uma prática espiritual viva, orgânica e amplamente reconhecida nas primeiras comunidades cristãs. O termo charismata, traduzido de modo impreciso como dons espirituais, possui em sua raiz semântica o sentido claro de mediunidade, isto é, a graça ou faculdade de intermediar entre o mundo dos espíritos e o mundo dos homens, entendimento que se harmoniza plenamente com a leitura espírita dos fenômenos descritos.
Herculano Pires destaca que apóstolos como Paulo e Pedro relatam, com naturalidade e sobriedade, estados alterados de consciência que hoje identificaríamos como transe ou êxtase mediúnico. Essas experiências não eram episódicas nem excepcionais, mas integravam a vivência religiosa da época, sendo compreendidas como meios legítimos de comunicação espiritual. Os textos apostólicos, ademais, registram a coexistência de espíritos de naturezas diversas, bons e maus, superiores e inferiores, o que justifica as advertências constantes acerca da necessidade de discernimento e exame das manifestações espirituais.
No que se refere à terminologia bíblica, a análise filológica de Nielsson, acolhida e aprofundada por Herculano Pires, revela um ponto de capital importância. A expressão Espírito Santo, tal como cristalizada pela teologia posterior, não se encontra nos textos originais. A Vulgata Latina utiliza a expressão spiritum bonum, em plena correspondência com os termos gregos primitivos, indicando espírito de Deus ou espírito bom, sem a concepção dogmática de uma entidade única e exclusiva. No Antigo Testamento, fala se apenas em espírito e Espírito de Deus, sempre em acepção funcional e dinâmica, jamais dogmatizada.
Quanto à expressão dons espirituais, a situação é análoga. Ela surge apenas nos escritos paulinos, associada ao vocábulo grego charismata, cujo significado literal remete à mediunidade. Trata se, portanto, da faculdade concedida ao ser humano de servir como intermediário entre planos distintos da vida, concepção que se afasta radicalmente das interpretações místicas ou sacramentalizadas que lhe foram impostas posteriormente.
Os estudos de Haraldur Nielsson, reunidos na obra O Espiritismo e a Igreja, lançam luz definitiva sobre esses aspectos. Com autoridade teológica e rigor histórico, o autor demonstra que o termo transe tem origem bíblica, derivando diretamente de êxtase. Ele próprio registra a afirmação explícita de Paulo quanto à frequência com que se encontrava em transe, bem como o testemunho de Pedro acerca de experiências semelhantes. Ao comentar a advertência joanina para que se examine se os espíritos são de Deus, Nielsson recorda a exortação paulina de que ninguém, falando pelo Espírito de Deus, amaldiçoa Jesus, conforme se lê em 1 Coríntios 12:3.
A mediunidade, portanto, era amplamente utilizada tanto entre os judeus quanto entre os cristãos primitivos. Nielsson sublinha textualmente que, segundo a concepção apostólica, os espíritos podiam apresentar diferentes graus de evolução moral e intelectual. Essa pluralidade explica a necessidade das advertências apostólicas, uma vez que, nas assembleias cristãs, manifestavam se também espíritos inferiores, que buscavam amaldiçoar o Cristo para defender o judaísmo ortodoxo ou mesmo as religiões politeístas, igualmente afeitas à prática mediúnica.
Dessa forma, torna se evidente a inconsistência dos ataques dirigidos ao Espiritismo em nome da Bíblia. O texto bíblico, compreendido em sua dimensão histórica e espiritual, revela se como um livro essencialmente mediúnico. O Espiritismo, longe de temê lo, encontra nele um de seus mais vigorosos testemunhos na Antiguidade. O que se faz necessário é uma leitura lúcida, crítica e desdogmatizada, capaz de separar o elemento humano do elemento divino, rejeitando a aceitação cega e fanática que o consagrou, de maneira acrítica, como palavra literal de Deus.
A Bíblia, assim compreendida, adquire inestimável valor para o espírita estudioso, pois conserva, em suas páginas, a memória viva das manifestações espirituais que acompanharam a formação do cristianismo. Ela não apenas não contradiz o Espiritismo, como o confirma historicamente, exigindo do leitor maturidade intelectual e honestidade moral para reconhecer, sob a letra antiga, a perene verdade espiritual que atravessa os séculos e desafia as consciências a elevarem se pela razão e pelo discernimento.
A VIGILÂNCIA SERENA SOBRE O QUE JÁ FOI SUPERADO.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
A reflexão que afirma que alguém não deve tropeçar no que já está abaixo de si não é um chamado ao orgulho, e sim um convite à brandura interior. O que está abaixo representa etapas vencidas, dores que já compreenderam seu lugar e aprenderam a silenciar. Contudo, cada vitória moral é sustentada por uma disciplina fraterna, jamais por altivez.
Quando olhamos para o próprior caminho com humildade, percebemos que ninguém progride sozinho. Os aprendizados vêm do contato com outros seres, das circunstâncias que nos moldam, e da benevolência que recebemos em momentos de fraqueza. Portanto, manter vigilância não significa erguer muros, mas caminhar com cuidado para não ferir a si mesmo nem aos outros. É reconhecer que a alma humana ainda traz áreas sensíveis que precisam de cuidado, e que o progresso espiritual é sempre uma construção comunitária.
Já ensinava Allan Kardec que o avanço do Espírito se realiza pela educação contínua e pela caridade recíproca. Assim, mesmo o que já parece resolvido em nós merece atenção, não como ameaça, mas como lembrança de que somos seres em aperfeiçoamento constante. A fraternidade que exercemos com o mundo deve refletir se também em nossa própria intimidade, acolhendo nossas partes frágeis sem julgamento severo.
A verdadeira grandeza não está em se sentir acima de algo, mas em caminhar com serenidade, humildade e afeto, compreendendo que cada passo pode ser uma oportunidade de servir, aprender e crescer.
O ENVIO DAS OVELHAS ENTRE LOBOS SOB A ÓTICA ESPÍRITA.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
A passagem Jesus vos envia como ovelhas entre lobos, presente em Mateus 10:16 e retomada em Lucas 10:3, adquire no estudo espírita uma densidade ética e psicológica particular, sobretudo quando interpretada à luz da Codificação, tomando como referenciais fundamentais O Evangelho segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos nas traduções de José Herculano Pires, além do aprofundamento moral proposto por Léon Denis e pelas análises de Joana de Ângelis.
A imagem das ovelhas não representa passividade, mas moralidade ativa, conceito que Allan Kardec sublinha ao tratar da Lei de Justiça, Amor e Caridade em O Livro dos Espíritos, questões 873 a 879. Ali, a orientação central é a de que a verdadeira força espiritual se expressa pela retidão de consciência, pela superioridade moral e pela capacidade de resistir ao mal sem pactuar com ele. A vulnerabilidade da ovelha, portanto, não é fraqueza; é coerência ética.
Os lobos, nesta leitura, figuram as estruturas sociais e psicológicas que ainda se encontram dominadas pelo egoísmo e pelo orgulho, os dois vícios que, segundo Kardec (E.S.E., cap. XII), constituem a raiz das violências humanas. O mundo em que o discípulo se move é marcado por descompassos morais, pela tendência à agressividade e pela dificuldade de assimilação da mensagem do bem. Não se trata de demonização do outro, mas de diagnóstico ético.
É nesse ponto que a orientação prudentes como as serpentes e simples como as pombas assume seu lugar. No Espiritismo, essa recomendação harmoniza discernimento e pureza de intenções.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXIII, Kardec explica que a prudência não é artifício malicioso, mas sagacidade moral, isto é, a capacidade de ler as circunstâncias e não se expor inutilmente às ações daqueles que ainda operam sob o impulso da inferioridade espiritual. Prudência equivale a equilíbrio, autocontrole e avaliação responsável.
A simplicidade das pombas, por sua vez, ecoa o princípio da autenticidade moral: agir sem duplicidade, sem cálculo egoísta, mantendo a pureza de propósito. Léon Denis, em O Problema do Ser, do Destino e da Dor (edição de 1909), reforça que a pureza da intenção é o definidor da grandeza espiritual, pois é dela que nasce a força real do espírito em missão.
Quanto à promessa do " Espírito Santo" fornecendo as palavras certas no momento devido, o Espiritismo interpreta essa assistência não como revelação mística, mas como inspiração espiritual compatível com a vigilância moral do indivíduo. Kardec descreve este fenômeno em O Livro dos Médiuns, capítulo XXXI, ao explicar que os bons Espíritos inspiram, sugerem e orientam, mas não anulam a liberdade nem substituem o esforço pessoal. Joana de Ângelis, na obra Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, esclarece que essa inspiração encontra eco apenas em consciências treinadas no bem e na disciplina interior.
Assim, a metáfora bíblica, na ótica espírita, pode ser sintetizada em quatro princípios estruturantes:
Primeiro, a missão moral exige firmeza sem violência, coerência sem agressividade.
Segundo, o mundo social ainda é terreno de tensões éticas, exigindo do discípulo vigilância e discernimento.
Terceiro, a prudência é uma virtude estratégica, sem jamais descambar para a dissimulação.
Quarto, a inspiração dos Espíritos superiores é proporcional à elevação do pensamento e à retidão da conduta.
A VISÃO DO ESPÍRITO SOBRE O PRÓPRIO CORPO.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
O trecho de número 309 de O Livro dos Espíritos apresenta uma das mais significativas lições sobre a diferença ontológica entre o ser essencial e o invólucro material. Quando Kardec pergunta sobre a consideração que o Espírito nutre pelo corpo ao qual esteve ligado, a resposta é clara e despojada de sentimentalismo: o corpo é visto como veste incômoda, uma espécie de instrumento necessário, porém limitado, que cumpriu sua função durante a etapa terrena. A expressão veste desconfortável tem força filosófica, pois revela a consciência do Espírito diante da natureza transitória da matéria, conforme a tradição espiritualista e segundo a tradução criteriosa de José Herculano Pires.
A continuação aprofunda a questão. Indagado sobre o que sente ao contemplar o corpo em decomposição, o Espírito responde que quase sempre permanece indiferente, * esse quase sempre merece um estudo com uma percepção mais profunda dentro das obras Básicas * , pois aquilo que jaz não o representa mais. A decomposição se torna fato natural, não motivo de horror. É o reconhecimento de que o elemento corporal pertence ao ciclo universal das formas, enquanto o princípio pensante prossegue adiante.
Esse conteúdo permite duas conclusões essenciais. Primeiro, a libertação da matéria não implica desprezo, mas compreensão filosófica da sua utilidade temporária. Segundo, a recordação da existência corpórea se torna lúcida e serena, uma vez que o Espírito, liberto, percebe com mais clareza o papel pedagógico das vivências físicas no processo de aperfeiçoamento.
O LIVRO DOS ESPÍRITOS - QUESTÃO 627
CONHECIMENTO DA LEI NATURAL.
O item seiscentos e vinte e sete, inserido na Parte Terceira de O Livro dos Espíritos, trata da função esclarecedora da revelação espiritual na era moderna. A resposta dos Espíritos Superiores evidencia que, embora Jesus tenha apresentado as leis divinas em sua pureza, sua exposição recorria a parábolas e alegorias ajustadas ao contexto sociocultural do século I. Tais recursos pedagógicos, embora luminosos, exigiam interpretação. Por isso, na atualidade, torna-se imperioso que a verdade moral seja exposta de modo inteligível, universal e racionalmente aferível.
A missão dos Espíritos, portanto, não consiste em substituir o ensino do Cristo, mas em explicitá-lo, desenvolvê-lo e restituir-lhe a clareza primeira, afastando quaisquer leituras sujeitas ao orgulho, ao interesse ou à hipocrisia religiosa. Sua tarefa é abrir olhos e ouvidos, de modo a impedir que a lei divina seja usada como instrumento de dominação ou de justificativa das paixões humanas. É um trabalho de saneamento ético, depuração doutrinária e preparação da humanidade para o reino do bem anunciado pelo Cristo.
A revelação espírita, nessa perspectiva, é complementar e elucidativa: esclarece aquilo que permaneceu velado pelas circunstâncias históricas, restabelece o sentido moral da lei natural e reafirma que essa lei é amor, justiça e caridade em sua expressão mais elevada. Ao fazê-lo, devolve ao ser humano sua responsabilidade moral plena, pois não lhe resta o pretexto da ignorância.
O caráter essencial de toda revelação deve ser a verdade. Revelar um segredo é dar um fato a conhecer. Se a coisa for falsa, não é um fato e, por consequência, não há revelação. Toda revelação desmentida pelos fatos não é revelação; se for atribuída a Deus, e não podendo Deus nem mentir nem enganar-se, não pode emanar dele. Há que considerá-la como produto de uma opinião pessoal.
“A verdadeira tolerância para com o outro nasce do juízo lúcido em nosso íntimo, quando aprendemos a amar a nós mesmos sem alimentar a enfermidade do egoísmo.”
“Nenhuma dor é eterna. Toda sombra cede à luz do amor.”
Que saibamos, com coragem e ternura, olhar para dentro, reconhecer nossas sombras e acender em nós a chama da renovação. Pois a Reforma Íntima é o verdadeiro caminho da paz aquela que o mundo não pode dar, mas que o espírito em evolução pode alcançar.
