Literatura de Cordel

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⁠Livrai-nos de tudo
senhor!
Livrai-nos de ti,
também.
Ame-nos.
Ame!

⁠A ORQUESTRA DO INÚTIL

Às vezes, tento querer escrever o que esta sociedade pretende dizer, mas logo descobro que ela mesma já se perdeu na vontade de enunciar-se. Não há verbo que a represente, nem sujeito que se assuma. Há, sim, um murmúrio colectivo, um desejo de parecer pensamento. E escrever o que a sociedade quer dizer é como tentar traduzir o silêncio de um homem que aplaude porque os outros já o fazem. É tentar dar nome ao abismo quando o abismo, educadamente, nos pede um autógrafo. E depois só contamos. Contamos quantas horas restam até o próximo.

Há quem, por ofício ou desvario, destile notas como se o tempo coubesse inteiro numa só melodia. E fá-lo com tamanha urgência que o silêncio. E depois morre afogado na enxurrada de compassos. E assim, entre a batida e o aplauso comprado, ergue-se o trono de um Rei, não por virtude mas por volume, não por arte mas por frequência.

É nobre, sim, o timbre. E há talento disso ninguém duvida, mas até o ouro, quando em demasia, perde o espanto e vira moeda. E a sociedade de ouvidos embotados, aplaude por reflexo. Confunde constância com génio, e quantidade com legado. Ora, família, o excesso também é uma forma de desperdício.

⁠**Receita de fazer versos medíocres**
Esta receita é infalível
e todo poeta
que não tem leitura
nem troca versos com outros poetas
sejam eles vivos em livros
ou amigos que cantam...
Com ela
poderão fazer poemas
o tempo todo!
E é bem fácil de aprender:
Reclame de dor de amor em uma primeira frase
depois coloque palavras difíceis eruditas
até francês na segunda frase...!
Desde que rime é o que vale
e que pareça bem culto!
Na segunda estrofe diga esperanças
E rime tudo
não importa com quê
desde que eruditíssimo
E sucesso você vai ter!
Vai ganhar concursos literários
Vai sentar na roda dos novos escarnecedores
Vai até viajar a Europa!
Pois do culto ao culto
você deve participar
E mesmo que não tenha sentido
Rime rime tudo com o erudito
Pois mais vale a rima
na mediocridade
que a ideia boa na sanidade!

Inserida por bill_oliveira_william


Não espere poeta
que recebam a tua poesia
em braços acolhedores
a gente deste mundo
feito fosse o teu poema
um bebe recém nascido
e ainda sujo de sangue
chorando e querendo leite e embalo
Não espere que a coloquem
em carinho de respeito,
de quem toca uma alma
e acolhe sinceramente
Não espere poeta
que sejas acolhido
feito um bebe dolorido
de estar nascido neste mundo feio
e ter
perdido
suas asas
no quinto
partido!

Inserida por bill_oliveira_william

⁠" DUVIDAS "

Eu sei que tu duvidas! Mas, no entanto
o que é verdade está posto na mesa
e, se ainda existe dor, mágoa e tristeza
é hora de secar, de vez, o pranto!

Existe, neste história, amor, beleza,
momentos pra se recordar (e quanto)
e se houve, algum momento, o desencanto
não lhe roubou o ardor, tenho certeza!

Pra sempre é para sempre! Nunca acaba…
Se um dia uma paixão se vai, desaba,
eu sei que ainda lhe resta a própria história…

No entanto, tu duvidas! Veja! Aceite…
O que te foi, um dia, por deleite
pra sempre há de ficar em tua memória!



@poetaesoneto - @s.juniorpaulo
https://poesiaemsonetos.blogspot.com
https://aquisonetos.blogspot.com

⁠" ESCURA "

Foi longa, de minh'alma, a noite escura
a caminhar sem rumo, no deserto,
sem ver um horizonte ali por perto
que desse-me, pra todo o mal, a cura!

De sombras, caminhei, todo coberto
sem mais sentir em mim calor, ternura,
e fui me adoecendo em desventura
sem mais saber o que era errado ou certo.

Tremenda escuridão… Noites sem fim…
Não via mais uma esperança, enfim!
Deixei-me amedrontar por tal engodo…

E, d’alma, a noite escura fez-me ver
que não havia nada o que temer…
Comigo estavas, Tu, o tempo todo!

⁠" COMPREENDO "

Olhei a estrada inteira caminhada
agora que, do fim, chego mais perto
e vejo que escolhi meu rumo certo
em toda a decisão que foi tomada!

Nem tudo que se ama, a peito aberto,
irá conosco por toda a jornada!...
O amor não quer dizer, com isso, nada…
Apenas segue o rumo seu, liberto.

Bem sabe o que virá pra todos nós
depois de desatados esses nós
que foram, pelo tempo, nos prendendo…

A estrada toda olhei… O amor, a vida,
o encontro, uma união, a despedida,
e, com saber maior, hoje a compreendo!

Por que bonita, se coxa? por que coxa, se bonita?

Machado de Assis
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881).
Inserida por MinDias_029

Mais aproveita digerir uma lauda que devorar um volume.

Machado de Assis
A Mão e a Luva (1874).
Inserida por romuloalbuquerque

REENCARNADO

Na próxima, quem sabe, virei gato
e bicho de madame, estimação,
acostumado aos luxos da paixão
com que me servirão em fino prato!

Chamegos, no xodó, não faltarão
e sei que viverei em fino trato
pois a carícia é parte do contrato
que humanos, sem ressalva, assinarão.

Quem sabe, tu não me serás por dona
e me farás, de amor, tombar à lona
por entre beijos fartos e carinhos…

Assim, eu, reencarnado no felino,
enfim, verei meu sonho de menino
juntar, pela paixão, nossos caminhos!

⁠A ficção e sua irrealidade confundem-se com a vida real e sua surrealidade. No que há de mais comum e brutal, ambas não se diferenciam tanto — ao contrário, completam-se de forma absurdamente íntima.

Inserida por William-Shakespeare

⁠"AVENTURA"

A vida é uma aventura, a todo instante,
e cheia de surpresas pela estrada!
De garantias, não se encontra nada
que dê suporte para o que restante!...

Há quem lhe encontre pela madrugada,
no alvorecer do dia já reinante,
e há outros, tendo o andar já mais arfante,
que só no entardecer lhe dão morada.

Mas toda a peripécia vale a pena
se quem, os episódios seus, encena
com muito empenho, fé, força e paixão…

A todo instante a vida é uma aventura
e deve-se vivê-la com bravura
conforme o amor ditar no coração!

⁠" ARREBATOU-ME "

Levou-me a viajar por outros mundos,
por astros, por estrelas no infinito,
e constatei não mais estar restrito
pois que me haviam sonhos mais profundos!

E tudo se fez belo, mais bonito,
bem como, meus amores, mais fecundos…
Valorizei as horas, os segundos,
como algo eterno em mim. Isso eu admito.

Eu fui ao caos primeiro, à imensidão
que, origem, deu a tudo aqui, e então
se abriram, para mim, novos caminhos…

Por outros mundos fui, quando perdido,
vagando o medo, em meu sofrer, ferido,
até que arrebatou-me seus carinhos!

⁠"ALCANÇA"

Eis que eu estava bem, no paraíso,
em meio a encantos tais, da criação,
e tendo, o essencial, ali, à mão,
sem chuvas, sem tormentas nem granizo…

Mas eu olhava a vida à volta e, então,
não via o sonho que, hoje, exteriorizo…
Faltava-me o olhar, a voz, o riso,
que iria me encantar o coração!

Eu tinha tudo, mas não tinha nada…
Ninguém pra partilhar a minha entrada
com mesmo passo, fé, mesma esperança…

Eis que chegaste, então, na minha história
e tudo pôs-se em nova trajetória
porquanto o amor real hoje me alcança!

⁠"TERAPIA"

Eu sou de uma guerreira geração
que tinha de enfrentar, com garra, a vida
se ousasse ter a meta pretendida
que desse amor e paz ao coração!

Os traumas, qualquer marca recebida
por erros dados de uma educação,
tratávamos com fé, com comunhão
de amigos numa prosa concedida.

Porem tem-se, hoje, à mão, a terapia,
recursos dados na psiquiatria,
que ajudam a vencer tão triste estado…

Mas veja com quem abres teu segredo
que é bem comum, na escrita desse enredo,
ficar, da terapia, apaixonado!...

⁠"RETRATO"

Retrato, um pouco, do que deu-me a vida
e, às vezes, do que vejo ao dia-a-dia…
Da humanidade louca, essa euforia
em busca da alegria pretendida!

E falo com poesia a serventia
do amor, do que é paixão, da dor sentida,
de alguma mágoa que se fez ferida
a ser tratada à fé, com valentia.

Polêmicos se tornam certos temas
e, ilustrações, por vezes são problemas
pra quem espera haver respeito, trato…

Não julguem-me por tal exposição
e saibam que, de todo o coração:
os versos meus não são o meu retrato!

⁠"NÃO SABE"

Não sei se terei tempo! A vida é breve…
Num sopro e, tudo o mais, virou passado
deixando, o coração, desarrumado
e o que se fez por sonho, em nós, prescreve!

Talvez, do amor, não veja o resultado
pois nem toda a paixão, que o tem, se atreve
a dar continuação ao que ele escreve
ciente de que o caos o fez mudado.

Se viveremos o tempo exigido
até que o enredo se dê por cumprido
não saberemos nós momento algum…

A vida é breve, curta, passageira…
Por mais seja, a minh'alma aqui, guerreira
não sabe, do amanhã, dia nenhum!

⁠"CONFIES"

Te seguirei… Tu sabes! Por amor!
Qualquer que seja sempre o teu caminho!
Eu estarei, de ti, junto, pertinho,
a dividir de tudo: frio, calor…

O que estiver, de nós, em desalinho
iremos ajustar, sim, com primor,
e eu estarei presente, ao teu dispor,
te aconchegando a alma em doce ninho.

Somente por amor! Por nada mais…
Aportarei teu corpo no meu cais
o tempo que, em prazer, te refugies…

Tu sabes! Seguirei-te estrada afora
do entardecer até o romper da aurora…
Me creia, pois! Em tal paixão, confies!

⁠"SAI"

Tentou me converter pra sua crença
e me levar cativo pro convento
agindo na surdina, igual ao vento
chegando de surpresa, sem licença!

Mas sou macaco velho nesse intento
e já perdi, faz tempo, a inocência
porém muito aprendi sobre a prudência
de forma a me escusar do chamamento.

A dama que ache um outro pra sua reza
que um homem, sábio, santo, que se preza
não muda, a sua crença, assim, por nada…

Cruz credo! Saravá! Sai, tentação…
Sou homem, pois, de determinação
que só coloca os pés em santa estrada!

⁠" FOI-SE "

E lá se foi o tempo, a juventude,
os dias de seresta e serenata…
Perdeu-se a voz do sonho, da bravata,
o instante de fingir qualquer virtude…

A vida nos transforma, nos formata
e vão-se os dias mansos, de quietude,
ficando, para trás, força e saúde
conforme a idade chega, ainda novata.

Não há mais nada novo na velhice
se como o tempo nunca mais abrisse
as portas da curiosidade nata…

O tempo foi-se… Ficam suas marcas…
Lembranças, pouco a pouco, frágeis, parcas…
Na pele, as rugas… No cabelo, a prata!...