Lenda do Saci-pererê e suas origens no folclore brasileiro

Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

Um dos personagens mais célebres do folclore brasileiro é o Saci-pererê, também conhecido apenas como Saci ou Matimpererê.

Famoso pelas travessuras, rajadas de vento e assovios, o jovem que caminha em uma perna só já foi eternizado em inúmeras histórias infantis. Conheça a história e as características deste lendário personagem folclórico, as suas origens e um conto divertido sobre o Saci para ler com crianças.

Conto infantil do Saci-pererê para ler com as crianças

Era uma vez uma pequena cidade cercada por uma densa floresta. Lá vivia Lucas, um menino curioso e aventureiro. Lucas sempre ouvia histórias sobre o Saci-pererê, um garoto negro de uma perna só, que pulava velozmente com sua carapuça vermelha, fumando seu cachimbo. Ele era conhecido por suas travessuras e poderes sobrenaturais.

Um dia, Lucas decidiu explorar a floresta e, secretamente, esperava encontrar o Saci-pererê. Com sua mochila nas costas, ele se aventurou pelos caminhos sombreados da mata, imaginando se encontraria o personagem lendário. Enquanto caminhava, ouviu um assobio suave ao longe, seguido por um redemoinho de vento ao seu redor. Lucas sabia que o Saci estava próximo.

De repente, apareceu o Saci-pererê pulando em um só pé, com sua carapuça vermelha brilhante. Lucas ficou um pouco assustado, mas logo viu que o Saci tinha um sorriso travesso no rosto. O pequeno menino não resistiu e sorriu também. O Saci-pererê percebeu a curiosidade de Lucas e se aproximou.

"Olá, pequeno aventureiro! O que traz você à minha floresta hoje?", perguntou o Saci, com um tom brincalhão.

Lucas, fascinado com a presença do Saci, disse: "Eu sempre ouvi histórias sobre você e suas travessuras. Eu queria conhecê-lo e descobrir se elas são verdadeiras".

O Saci-pererê riu e respondeu: "Ah, as travessuras! Elas são parte da minha natureza, mas nem sempre sou malvado. Quer dar um pulo comigo?".

Lucas, animado, concordou. Ele pulou com o Saci-pererê, e juntos eles saltaram pela floresta, deixando um rastro de risadas e alegria por onde passavam. O Saci ensinou Lucas a assobiar como ele e a fazer redemoinhos de vento com as mãos.

A partir desse dia, Lucas e o Saci-pererê se tornaram amigos inseparáveis. O Saci ensinou Lucas a valorizar as brincadeiras, respeitando os limites dos outros. E, juntos, eles exploraram a floresta, espalhando diversão e risadas por onde passavam.

E assim, o Saci-pererê encontrou um companheiro em Lucas, e ambos viveram muitas aventuras naquela floresta encantada. Até hoje, se você for corajoso o suficiente para adentrar na floresta, talvez encontre Lucas e o Saci-pererê pulando e espalhando alegria, compartilhando travessuras inofensivas e amizade verdadeira.

A história do Saci-pererê no folclore

No folclore brasileiro, o Saci-pererê é um garoto negro que tem apenas uma perna e se desloca aos pulos, com grande velocidade. Ele fuma cachimbo e usa uma carapuça vermelha que é a fonte de seus poderes sobrenaturais. Segundo a lenda, quem roubar a carapuça do Saci passa a conseguir dominá-lo, já que ele é forçado a cumprir todas as ordens.

Habitando nas matas, o Saci visita as pessoas que moram nessas regiões e muita gente afirma já ter se encontrado com a criatura lendária. Ele pode se escutado, principalmente durante a noite, através de seus assovios e redemoinhos de vento.

Saci Pererê na Mata

Quando invade as casas, o Saci adora fazer travessuras: trançar as crinas dos cavalos, dar nós nos panos de prato, apagar o fogo ou sabotar as receitas, entre outras diabruras próprias de um menino mal-comportado.

Origem da lenda e as suas transformações

A lenda do Saci, assim como várias narrativas presentes no folclore brasileiro, é resultado da convergência de culturas que ocorreu no Brasil, durante o período da colonização.

Segundo aponta Luís da Câmara Cascudo, no seu Dicionário do Folclore Brasileiro, é só entre o final do século XVIII e o início do século XIX que a lenda começa a ser mencionada nas obras de importantes folcloristas nacionais.

No entanto, a figura do Saci já estava presente há muito tempo no sul do Brasil, integrando as crenças de várias populações indígenas da região. Estes povos foram importantes divulgadores do mito, que se espalhou gradualmente pelo resto do país e ganhou novas características.

O seu nome deriva do vocábulo tupi matintape're que está relacionado com o verbo “saltar”, em referência ao modo como o Saci se desloca. Inicialmente, era descrito como um pássaro, conhecido pelo canto que parecia um assovio e pelo jeito de ficar apoiado só numa pata.

Para estas comunidades, a sua aparição significava um encontro com o mundo espiritual ou uma visita dos antepassados que já tinham partido. Com o tempo, o Saci assumiu a forma humana, se tornando num menino com cabelos de fogo.

O enredo que se fixou na nossa memória coletiva revela influências europeias. O seu caráter travesso é semelhante ao de Kodolde, um diabinho alemão que adora pregar peças nos seres humanos.

Seus cabelos de fogo se transformaram numa carapuça vermelha, elemento que tinha uma conotação mágica em várias narrativas do folclore europeu.

Finalmente, a lenda passou a ter referências dos contos africanos, trazidas pelos povos que foram escravizados. Assim, o Saci-pererê se tornou um menino negro e passou a fumar cachimbo, já que o fumo era um elemento comum nas lendas do continente africano.

Representações famosas do Saci-pererê

Ao longo dos séculos, a figura do Saci começou a ser representada na literatura, na arte, no cinema, nos videogames, nos quadrinhos e em diversas outras mídias. O autor Monteiro Lobato, que chegou a conduzir um inquérito nacional sobre o Saci-pererê, escreveu diversas histórias infantis que incluem o personagem.

Além de ser uma presença regular da série literária Sítio do Picapau Amarelo, ele também passou a aparecer da televisão, no programa infantil com o mesmo nome.

Encarado com simpatia pelo povo brasileiro, o Saci-pererê ganhou até um dia comemorativo. Uma das datas que pretendem exaltar a importância das figuras folclóricas, o Dia do Saci é celebrado em 31 de outubro.

Poema sobre o Saci-pererê

O Saci-Pererê

Em um dia de Sol
Ele aparecei com uma perna só
Também só tinha essa
Mas corria depressa

Ele era inquieto
Subia até no teto
Pulava nas árvores
A fim de ver as árvores

Andava a cavalo
O que fazia um estardalhaço
Dava nó nas suas crinas
Para assustar as vizinhas

Ele queria entrar em uma casa
Só que a porta estava trancada
Pulou a janela
E machucou a canela

Ele fez um redemoinho
Para ventar um tiquinho
Apagou o fogo
E queimou o almoço

Foi embora
Com cara de boboca
Porque quase morreu
Com a bronca que o bigodudo deu

Fim

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