Escrever
Escrever sobre os seus olhos brilhantes
É tão fácil e tão presente.
Eles estão em minha mente
Como gente.
É um amor latente
Esses olhos que olham com os meus olhos.
Meus olhos gementes
Em seus olhos ausentes
Meu amor ainda ingente
E você fisicamente jacente
Te faço sempre presente
Vou escrever um conto; ando sem inspiração, mas tenho o mar e todos os seus mistérios; toda essa coisa grandiosa e o que inventam; as sereias, os tesouros, as ilhas misteriosas, os mundos perdidos... Vou escrever um conto... eu invento um amor; uma grande paixão... algo digno de Shakespeare; alguém que renunciou a não sei o que e se entregou de corpo e alma e me espera não sei onde... vou falar desse amor, olharemos o arco-íris e a neblina primaveril acinzentando a lagoa e o corcovado. toda a melancolia dos anos dourados que repousa no passado, mas nos incomoda como uma farpa entre a unha e a carne. Vou escrever um conto... eu invento um álien meio ianque, meio soteropolitano, dançando despido na calçada de Copacabana; lembrando o hit do Caetano, ''sem lenço sem documento"; dançando um axé, um xaxado, um samba-rock... qualquer coisa entre a preguiça baiana e a esquisitice americana. Vou escrever um conto sobre amores inesquecíveis, paixões impossíveis; gente que se jogou da ponte, se revolve nas águas e seus espíritos perambulam nas praias em noites de lua cheia... quem pode entender o amor? Vou escrever um conto sobre o que não conto pra ninguém, esse pavor, esse momento delicado, que expande o pânico com o terror de chacinas e ameaça eminente que nos torna refém de milícias e nos tortura com funk de apologia à droga, à prostituição e à violência. Toda essa violência propriamente dita e a violência estarrecedora da corrupção que nos venda à qualquer possibilidade de uma luz no fim desse túnel.
É preciso morrer
para escrever um poema
Renunciar ao paraíso
Jogar-se do vigésimo andar, beijar a naja
Ainda assim vale a pena...
Escrever agora é um hábito
É como tomar café com pão pela manhã...
eu sou metódico, sistemático...
talvez umpouco enigmático...
mas o que fazer com tanta sensibilidade
o que fazer com tantas possibilidades
o que fazer com a cidade
na palma de minha mão
o que fazer com o deserto
no olhar da mulher
eu bebo o meu café
e como o meu pão...
POEMA DE AMOR
Não é tão fácil escrever um poema
Escrever um poema não é tão fácil assim
Você reza três novenas pro santo do dia
E três novenas pra são Serafim
Pensa na namorada que um dia foi embora
Na solidão que invadiu os seus dias
Diga que tudo isso faz parte da vida,
Que no mais, tudo é belo, que tudo é alegria
Então comece falando da beleza do amor,
Do seu sorriso de luz e dos olhos de céu
E se a vida amarga um pouquinho,
Não chega a ser amarga como um copo de fel,
Fale da esperança que você tem,
E se não tem nenhuma, tem esperança de ter
E se você tem ou não tem tudo isso
Um poema de amor você pode escrever...
Eu vou escrever o teu olhar e essa coisa que me dá dó
como a calmaria sinistra do Guandu conduzindo dejetos,
presuntos e fetos sem nenhum B.O
mas me leva nessa dor, me leva nessa dor
que o mundo é pequeno e arbitrário
nada é tão bonito, nada é explicitamente
definitivo como num epitáfio
a felicidade flutua nas brisas e marolas,
mas o amor se perde na imensidão dos que tem asas;
algum dia estaremos sozinhos ao nível do horizonte,
sem perceber que o futuro chegou e o passado foi ontem,
mas as canções eternas serão nossas trilhas sonoras
um dia olharemos o rio como dádiva divina que enriquece a alma
Após terminar de escrever um livro, o escritor é onisciente em relação a sua obra porque ele sabe tudo o que acontecerá com os seus personagens.
Preciso escrever, preciso muito escreve, tenho que fazer isso simplesmente porque nada mais é o bastante, quero viver a palavra, quero ser e não apenas parecer
Hoje dia 31 de dezembro queria tanto escrever coisas bonitas, proativas, estimulantes e positivas, tradicionais para o embarque no novo ano e para viagem, mas bateu um grande vazio. Ano que se vai deixou cicatrizes. Se agora registro a vontade, acho que as palavras desejadas e adequadas ficam implícitas, e muito melhor que o triste silêncio. Feliz Ano Novo!
O gosto pela escrita, por escrever, por dar publicidade que pensa, que imagina, que sonha, mesmo que sejam até bobagens, mas ficarão para a posteridade, seu legado e única forma de imortalidade.
Acordar com a vontade de falar, de escrever tantas coisas de um sonho feliz - tão feliz que embaralha e enrosca, sem saber por onde começar, tamanha felicidade. Parece que a mente dá um nó, com o objetivo de guardar só para si, com absoluta exclusividade, um momento tão mágico e iluminado. Mas, pelo privilégio, com digno registro.
Escrever, para alguns, pode ser uma ponte frágil, tênue sobre um precipício, o único elo entre o ostracismo e o mundo real, utópico e também distópico, na tentativa de deixar um rastro de lembranças para o futuro, se houver.
POEMA PATOLÓGICO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Resolvi escrever uma história pra ti;
para tanto evoquei o fantasma de Dante;
já montei a fornalha no abismo que abrigo,
reservei numa estante o lugar mais sombrio...
Serás livro comido por traças e fungos,
teu enredo é destino dos que não têm luz,
tua cruz é viver pra contar um segredo
que não cabe nos olhos e ouvidos de alguém...
Viverei pra que um dia não tenhas vivido,
não encontres passado nem tenhas futuro,
sejas vaga presença no escuro das horas...
Minha calma se firma na patologia
de sonhar que meu dia traz a tua noite
ou a tua versão do juízo final...
PREFÁCIO DO QUE FAÇO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Às vezes me sinto incomodado ao escrever sobre temas como amor ao próximo, perdão, justiça, temperança... Reconheço imediatamente que, não tão depois, posso vir a contradizer tudo isso com uma prática desumana. Um não perdoar ou pedir perdão. Com a injustiça, o egoísmo e a indiferença que deprecio em prosa e verso.
Peço ao leitor de minhas páginas, que não me abandone por causa das minhas eventuais contradições. Pode até parecer hipocrisia, mas não é. O fato é que ao escrever como quem o faz para o mundo, escrevo para mim próprio. Tento me transformar em alguém melhor, e ao mesmo tempo, contagiar mais alguém.
QUALQUER POESIA
Demétrio Sena - Magé
Escrever um poema nos faz desguar
um riacho rebelde, uma foz inquieta,
no mistério profundo, insondável do mar
que parece viver pra servir ao poeta...
Ou lançar no infinito essa mágica seta
(que o silêncio conduz numa esteira de ar),
sem um alvo preciso pra chamar de meta
quem apenas fomenta seu dom de voar...
Mesmo assim, um poema nunca soa inútil;
pode até parecer desantenado e fútil,
entretanto algum verso vai ferir alguém...
Social ou político (tantos de amor),
com enlevo, ironia ou com senso de humor
tocará muitas vidas a força que tem...
... ... ...
Respeite autorias. É lei
O meu objetivo ao escrever minhas frases é ajudar pessoas a abrirem os olhos para pequenos detalhes que fazem toda a diferença.
Quando você morrer, vão postar fotos, escrever homenagens e dizer que te amavam.
Mas hoje… mal perguntam se você tá bem.
A verdade é dura: ninguém se importa de verdade até ser tarde demais.
Então pare de esperar apoio, aplauso ou reconhecimento.
Lute por você. Acorde por você. Vença por você.
Porque se depender dos outros, sua história termina antes mesmo de começar.
Seja sua própria força. Ninguém vai viver a sua vida por você.
