Dentes
Acredito que o sorriso mais bonito não depende dos dentes, mas sim do olhar
Acredito que por mais luz que haja, desde que tenha algo nesse lugar, haverá também sombra
Acredito que a felicidade é transmissível
Acredito que o corajoso é encorajado a ter coragem
Acredito que a inspiração são borrões disformes na mente, que, com o passar do tempo, são moldados
Tempo relapso , indeciso , sons estridentes dos ranger dos dentes ,do bater das botas , do estalar das madeiras do grito dos metais , filme de terror ? , não , apenas o inverno severo chegando ao píer .
Marinheiro tem de partir , antes que sua barca faça parte do cenário e se torne mais um monte de neve a ser varrido ao sol que vem tarde , ventos fortes cortam sua nau , o mar quase enrijecido se molda se estaguina ,trazendo a morte gélida a um homem que já cansado de viver ,ainda lutava .
Trancado na cabine pela neve apenas observa a escuridão , que o cerca ,porem com único feixe de luz , uma estrela ao céu. O tempo se deu por acabar ,a única coisa que deixou foi um sorriso congelado e a foto em sua mão gelada .
A noite não será mais solitária , o céu brilha mais forte ,surge uma nova estrela ao esperar do sol retornar , afim de um momento de descanso , para sozinhos novamente conseguirem estar.
Enquanto Ela Range os Dentes
Eu Espero os Fantasmas
Os fantasmas bebem comigo quando a lua vem
Eu abro a minha porta todas as noites
Eles aparecem e se apropriam das poltronas
coçam meus pés e bebem meu vinho
Não falam da vida os fantasmas
nem comentam as fotos que guardei
Eu me sinto bem com os fantasmas
Eles apenas gostam de ficar por ali
assoprando nas orelhas do cachorro
o cachorro se acostumou com os fantasmas
já não tira os chinelos das poltronas
percebeu o quanto os fantasmas são
importantes pra mim e o cachorro também
não quer me ver triste e eu sei que de
uns tempos pra cá o cachorro também ficou
dependente deles pois uiva de dia enquanto
eu leio Frost no telhado
o dia passou a ter 72 horas
o dia passou a ter grossos livros de poesia
o dia passou a ter Whitman, Thoreau e Bashô
o dia agora é um osso esquecido no assoalho
o dia agora é uma longa espera da noite
que é quando os fantasmas aparecem
Eu espero já sem muita paciência
não há nenhuma suavidade ou delicadeza em meus gestos
os fantasmas são a melhor companhia pra
quem descobriu que está realmente sozinho.
Os anos roubaram seus dentes, seus cabelos, seus amores, seus filhos, seus nomes... Recompensando-a com o vazio e a saudade
A obra do Mário Ferreira é como uma mulher lindíssima coberta de sujeira, com os dentes quebrados, os cabelos empapados de lama e esterco, vestida com sacos de estopa e, para a satisfação e lucro de aproveitadores, vendida no mercado de escravos.
Doces porquices
não me incomodaria de ser o fiapo de couve grudado nos teus dentes, não me importaria de ser a parte do sofá onde te sentas, não estaria nem ai, de ser a parte da roupa que gruda nas tuas intimidades, nem me importaria de ser o cotonete que entra pelos teus ouvidos, nem o suor das tuas axilas, o arroto da coca cola mal descida, ou os ruídos do teu desarranjo intestinal, nem o chulé do teu tênis depois da caminhada de duas horas, nem mesmo o palavrão trancado, quando pisam no teu pé, ou a baba da fronha no teu travesseiro, não me incomodaria com nada disso...mas na verdade o que eu queria, é ser os teus pensamentos quando não estás pensando em mim!
odair flores
"Mas a dor e o sofrimento são inevitáveis na vida, Antônio. No parto há dor. Quando os dentes de um bebê rompem a gengiva, há dor. Quando somos impedidos de realizar algo para força maior, encaramos o sofrimento. Um dia sofremos de amor, em outro, sofremos a perda de pessoas queridas. Dor e sofrimento fazem parte da vida, e o segredo está em como você consegue lidar com isso. Quer saber de uma coisa? São nos momentos de sofrimento que as pessoas mais se aproximam uma das outras. Não seria essa uma utilidade à nossa existência?"
Trecho do livro "A Menina e o Equilibrista"
OS DENTES DE JOÃOZINHO
Joãozinho apareceu no primeiro dia de trabalho com um par de sapatos maior que o seu pé. As roupas, bem largas, dançavam em seu corpo delgado. Ainda não havia recebido o uniforme azul para a labuta, e por isso precisou improvisar. Todo mundo reparou o seu jeito meio desconjuntado, mas ninguém comentou patavina.
No outro dia, já de uniforme e sapatos luzentes do seu tamanho, veio de cabelos bem penteados e unhas cortadas. Apresentava-se sempre sorridente e cortês, assim como havia aprendido em seu treinamento para ser um jovem aprendiz, e assim também como, decerto, ditava a sua própria natureza.
Os dias foram passando e todo mundo se afeiçoou ao Joãozinho. Um garoto de costumes simples e jeito humilde, mostrava-se sempre prestativo, educado, gentil e bem humorado.
Pele negra, estatura pequena, bastante magro, cabeça ovalada enfeitada de madeixas negras encaracoladas, mãos, pés e orelhas desproporcionais, Joãozinho no auge de sua adolescência, tinha os dentes grandes e brancos sempre ostentados em um sorriso.
– Joãozinho, você cuida muito bem desses seus dentes, hein? – Disse como forma de encômio, no intervalo do café.
– Sim, senhora, cuido sim. Na verdade a mamãe faz uma fileira conosco todas as manhãs e no fim do dia. Ela mesma escova nossos dentes.
Sem entender muito bem aquela resposta, continuei meus questionamentos:
– Como assim João? Você já tem 15 anos de idade, já sabe escovar seus dentes sozinho. Sua mãe não precisa mais te ajudar.
– Sabe, dona, lá em casa a água é difícil. E não temos escova de dente. Mamãe pegou alguns sabugos de milho, cortou assim ó (mostrou com as mãos vários longos cortes na vertical) e cada um de nós tem uma “lasca”. Somos doze, né…
Eu continuei ouvindo estarrecida, não imaginava que era aquela a realidade de Joãozinho.
– Dos doze, dona, dez já tem dentes, dois são muito bebês ainda. Daí mamãe guarda nossas “escovas” bem organizadas na beira da prateleira e cobre com um paninho bem limpo. De manhã e à noitinha ela nos coloca enfileirados por ordem de tamanho, e começa o trabalho do menor para o maior. Os pequenos, que não tem dentes, ela limpa direitinho a boca e as gengivas com um rasgo de fralda umedecida na água. Na sequência, ela vai pegando as nossas “escovas”, passando um pouco de sabão de coco na ponta e esperamos todos de boca bem aberta. Mamãe é muito inteligente, dona, ela nunca confunde nossas “escovas” para não correr o risco de pegarmos bactérias da boca um do outro.
Joãozinho descrevia aquele rito com uma absurda riqueza de detalhes, e com os olhos tremeluzindo de orgulho da sua tutora esmerada. E ainda teve mais:
– Ela escova nossos dentes, dona, pois pela manhã, por exemplo, só temos um balde grande de água para tudo. E mamãe, para não desperdiçar, faz o trabalho ela mesma, evitando que entornemos ou que um de nós use mais água que o outro. Ela pega o copo de ferver a água do café, enche, e faz com que aquela porção dê conta de todos os nossos dentes. Sabe, dona, sabão de coco não é muito gostoso não, mas olha o resultado (e arreganhou os dentões todo soberbo). Como sou o maior e mais velho, sempre fico por último, e às vezes saio de casa com gosto de sabão na boca, pois o que sobra de água para mim para retirá-lo às vezes é bem pouquinho.
Joãozinho relatou sua higiene bucal e a de seus irmãos com muito empolgamento e a mesma alegria estampada na cara, do começo ao fim. Pelo que se podia perceber, era um momento ímpar de união familiar e partilha, promovido pela mãe daquela trupe.
Após o seu relato, engasgada, não consegui falar muita coisa. Terminei o meu café, já frio, agradeci pela história em murmurejo e saí dali de volta para o meu gabinete de trabalho. Mas não consegui ficar sentada por muito tempo. Peguei a minha bolsa e avisei a minha secretaria que iria rapidamente a um supermercado nas redondezas.
No final do expediente, como era de costume, Joãozinho foi até a minha sala perguntar se existia mais alguma demanda para aquele dia, e, em caso de minha negativa, sempre se despedia com o mesmo mantra “deus te abençoe, te dê tudo em dobro e a faça sonhar com anjinhos, dona”.
Estendi a mão com uma sacola plástica com as compras recém-adquiridas e entreguei ao Joãozinho. Lá dentro quinze escovas de dente de tamanhos e cores variados, alguns pacotes de algodão, dois pacotes grandes de lenços umedecidos, cinco tubos de pasta de dente com sabores diversos, um vidro grande de enxaguante bucal e duas embalagens de fita dental.
– Toma João, coloca na prateleira da sua mãe.
João recebeu a sacola com uma interrogação na fronte. Abriu e espiou, matreiro. João não sabia o que fazer de tanta satisfação. Abriu, vislumbrou e fechou aquela sacola plástica um milhão de vezes, como se ali escondesse uma grande e reluzente barra de ouro. Ele não acreditava no que via. Não sabia se agradecia, se me abraçava ou se saía correndo dali para encontrar logo a mãe.
– Dona, isso é pra nós mesmo? É sério? – Perguntou, com os olhos marejados.
– Corre, João, sua mãe precisa se organizar para o ritual da tarde. – Respondi.
Joãozinho, se não bastasse, deixou a sacola sobre a mesa, e subitamente, ajoelhou aos meus pés principiando um Pai Nosso bem alto, com as mãos para cima. Tentei retirá-lo dali puxando-o pelo braço, constrangida, mas foi em vão levantá-lo. Deixei-o terminar a sua oração. Era o seu jeito de agradecer por aquele gesto tão ínfimo da minha parte.
– Deus te abençoe, te dê tudo em dobro e a faça sonhar com anjinhos, dona.
E aconteceu. Naquela mesma noite eu sonhei que estava no Céu. Doze anjos negros e lindos, cabelos pretos encaracolados, vestidos de branco, asas enormes, suspensos do chão, cantando divinamente em uníssono, alinhados, mostrando os seus sorrisos com dentes tão brilhantes que ofuscavam o meu olhar…
Tranquei atrás das grades dos dentes todas as palavras de amor que corriam pra te abraçar cada vez que você chegava, mas o coração teimoso grita o teu nome tão alto que tenho medo que você ouça.
Vou defender com unhas e dentes coisas que eu sei que não estão certas e justas, justo porque e pelo que sou, porque vivo na pele. (29/01/2018)
Começamos o dia bem hoje,lavamos o rosto,escovei os dentes,ordem decrescente,espírito vive livre,como o martelo que machuca,mas também pregar.
De sorisso no rosto ou cara fechada,
Eu sou eu mesmo
Eu sou eu mesmo
Eu sempre tento der eu mesmo.
O dia nasceu com o sol
O filho do proximo próspera
O meu filho viverá
O protegerei de todas as maneiras e formas
Mais ele aprenderá a andar sozinho
Com pé no chão
Nossa lema não é desmerecer ninguém
Pois cada um seu trabalho
Sua cria,pra cuida,
Pra amar por toda vida
Porque amor de pai e mãe
Nunca acaba,se eterniza.
Sol nos olhos
Bone na cabeça....
Semideuses
Me apresentem aos desafortunados
Alguém que tem metade dos dentes
Uma mulher que foi traída há pouco
Eu quero conhecer os descontentes
Nada contra a gente bem-resolvida
Mas vida monótona chega a minha
Faz tempo que tudo está em ordem
Preciso colher alguma erva daninha
Todo mundo é um enorme sucesso
Só convivo com homens confiantes
Todas as meninas parecem misses
Onde foram parar os seres errantes?
Amanhã o esgoto terá um bom odor
Não haverá mais sangue a derramar
Só restaurante com comida saudável
Mundo muito correto para se habitar
Não passo por nenhum ser humano
Partilho a calçada com semideuses
E somos incrivelmente semelhantes
Ainda germinam gêmeos siameses
Me olho no espelho e nada enxergo
Minha voz parece ecoar para dentro
Talvez eu esteja em outra dimensão
Porque tentei demais ficar no centro.
A beleza estampada na testa
Às vezes esquece-se de ser
Esquece de mostrar os dentes,
Esquece seu afazer
Mas todo homem tem seu ego
Seu fiel escudeiro
Seu Sancho Pança
Seu Dom Quixote alheio
Na rua que anda
Deixa pegadas roubadas
Lembrando de um tempo
Em que tudo era sinônimo de nada
E que a beleza era vista solta
E não como premio,
Que se encaixota
E que não se rende
