Coleção pessoal de Moapoesias

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⁠A lua, até que enfim,
(- Quem diria!)
vai pousar no meu jardim,
deslizando
em meu rosto
e abraçando meu
corpo.
Tão docemente
e amável!
Nenhuma outra intenção,
(lua que venero
e que me enche de paixão),
deitada comigo,
aqui no chão.

A noite despertará monstros adormecidos
O implacável ruído das carpideiras velará sonhos
Acordará morcegos para o banquete de sangue.
O escuro azul do véu que cobrirá a urna
Esconderá as marcas da dor.

O dia ameaçará adentrar as janelas
Cálido em amarelos claros
Com a força que desbota as aquarelas
Fazendo sombras e refletindo nelas
O tormento do sino sem badalos.

Abrira-se morada do sepulcrário
Furdunçará desautorizado o silvestre
Da forma que fizeram os plantonistas de janela
Na vigência ilibada de vida tida como equestre,
Licença concedida pelos céus ao dito salafrário.

Não. Sem bajulações de arautos
Nem piedade de falastrões
Bastará que conste nos autos
Que pela vida abominou as falações.

⁠O sol se pôs,
neste dia interminável,
de ruas infindáveis
e pessoas apressadas...
Escureceu.
Estrelas, lua e a
calmaria...
Me verei
no sono cansado
após
mais um dia superado.

⁠Rédeas
Seguro
as rédeas da vida
na penumbra
natural do anoitecer.
Amanheci faz tanto tempo…!
Léguas percorridas
marcaram o caminho.
inúteis mares navegados,
agora percebo:
- Nem toda onda é mar.

⁠Eternidades
Quase toda noite é escura,
mas há exceções.
nenhuma certeza é absoluta,
há variantes na imaginação.
Nem todo breu é sem brilho,
são diferentes as visões.
Quase todas as sentenças são definitivas,
mas há exceções:
­ Nada prende a inspiração
e, se há liberdade,
não existem, nem mesmo, prisões.
Almas não ficam sozinhas.
Existe a leveza do voo
e, se não bastasse,
são tantas as eternidades!

⁠Plurais
O tempo nublou
e a chuva virá
ao anoitecer.
Falta humanidade
e botes Salva-vidas.
Discursos plurais,
razões singulares.
Pobre gente!
Em mãos que metem a mão
o poder apodrece.
E o mal floresce.

⁠Lua
A lua se deita
na minha cama feita
e some, antes que amanheça.
Procuro-a na pureza dos bosques,
em réstias de luzes
e em folhas e selvas.
Avisto alguns bichos,
beirando as águas correntes,
em sonhos que a mata esconde.
Fixo o olhar sobre o rio
e a vejo ao fundo
toda nua,
toda lua.

⁠E partem
A senhora consciência noturna
se torna longa
no horizonte reflexivo.
Monossílabos sussurrados
de outra boca,
instintivamente,
convence as estrelas
A noite segue fria,
lenta
e muda.

⁠Sentença
Sentenciei a noite,
apaguei as estrelas,
escureci a lua
e proibi lembranças.
O mundo virou trevas.
Dizer é mais forte,
sentir é menos,
muito menos.
Dizer enfurece alheios,
desperta dormidos
e azeda.
Sentir é solitário.
Silêncio não dá eco
e assim, calado,
quase dormente,
meu eu me invade,
docemente
adormeço
- Há tanta suavidade em não ser!

⁠Pranto oculto
Por suas estrelas,
a noite é linda,
e a escuridão que
não se vê
é pranto oculto,
latejante,
vulto
que dói profundo.
Escala o mundo
… em vão.
É a estrela mais distante,
entalada na memória
e no semblante.
É como verso acabado
de amor sem amantes.
E a que brilha
é como a velha música
em notas da trilha,
algo grande que antes havia
e não há mais.
Por todas elas
a noite…
Às vezes escura,
às vezes bela.
É como a vida:
- Eterna espera.

⁠Temporal
O horizonte escureceu,
o vento rapidamente se levantou,
o sol partiu fugitivo.
A abelha abandou a flor.
Quase em desespero,
o pássaro iniciou
um voo longínquo.
E o vento
parece começar a despir tudo.
O tempo…
O temporal
tem força
e nunca é igual.
Tão bruto,
descomunal,
arranca placas,
espalha latas,
arremessa papéis.
Galopa medos,
anseios,
olhos cheios.
E, quando passa,
ainda fica para trás.

Sobre mim
Pingos de chuva
Guarda-chuvas.

Réstias de sol
Guarda-sóis.

Rosas dos ventos
Pétalas se abrindo
De um girassol.

⁠Visão
Vi a lua
entre árvores,
entre montes,
entre névoas.
Tão alta!
Não há pontes,
só o horizonte
vazio.
Quisera poder alcançá-la
e deixar marcas de pés
para marcar o caminho.
Tão distante!
Mas a vejo
e tocá-la
é um devaneio,
nada mais do que
um mero desejo.

⁠Distante
A gaivota pisoteia a areia
(Olhos flébeis)
Triste,
como os dias cinzentos,
na beira de um mar
que, distante,
ondeia sem rumo.
Há uma âncora enferrujando
os tempos
e o horizonte vai escurecendo.
O crepúsculo náutico
é tedioso.
A gaivota sumiu
-Mas há o barulho das ondas -
O mar parece adormecer.
Eu canto, solitário,
sem cantos de sereias,
enquanto meus olhos,
úmidos,
esperam o amanhã.
Moacir Luís Araldi
(Do livro Abstratos poéticos)

⁠Delírio
O píer fica imóvel,
enquanto o navio se afasta.
Vou ficando cada vez mais sozinho,
- Eu e o livro -
que agora, há pouco,
lia, ouvindo o barulho das ondas.
À noitinha, a neblina virá,
como sempre vem,
e mudará meus pensamentos.
Lembrar-me-ei das nuvens brancas
que abrirão o dia, amanhã,
e terei vontade de escrever
um verso nelas.
Mas o giz não alcança
e, se alcançasse, seria da mesma cor:
- ninguém leria.
Ideias são, por vezes, delirantes.
Eu morro, como morre a sombra ao anoitecer.
- É o destino –
Depois,
desapareço na imensidão das águas,
cavalgando ondas da imaginação.

⁠Nada
Há promessas
de eternidade,
mas...
- Nada resiste -
(Há falácias em tudo),
nem o corpo,
nem a alma,
nem a mente resiste.
Ante o corpo nu,
o desejo aflora
e vai embora.
Tudo
(À força da marreta)
sucumbe,
desanda,
desmonta.
Ao demolir-se,
ou se perde,
ou renasce,
em cinzas,
sobre as águas salgadas.

⁠De manhã
Ondas escondem
as cordas musicais
da sinfonia submarina
Na superfície,
o silêncio é melódico,
amanhecido,
só à beira mar.
E o verão acena
em despedida.

⁠A música
Entra na alma
e deixa a mente em rebuliço.
Estressa e acalma,
decepciona e encanta.
Viver é tanto
e tão pouco!
É só uma canção,
mas arrasta o mar,
mareja os olhos
e provoca lembranças.
Saudosas danças
puxa lágrimas,
estende a mão
e já não alcança.
Há o horizonte
para ser refeito.
Tantas montanhas,
dunas,
montes...
Já nada preenche,
não refaz.
Eram tantas,
mas tornaram-se jamais.
É só uma canção
com falsetes,
versos líricos
e amores em vão,
que se vão
como dançar num pélago...
É solidão
e passa.
Escurece
e perde a graça.
É só uma canção
que já não se canta.

⁠Seja via só de passagem.
Não plante futuros entre as pedras,
nem abane adeuses em cais,
em momentos sombrios.
Melhor ouvirmos o vento declamar
redemoinho-de-poesias
que enchem de alegrias,
mesmo que fúteis e vazias.
Sem medo de decepções,
mantendo o sonho bem vivo
e a felicidade em nossas mãos.

Exilados os dias:
- Self da vida
sem lume.
Paisagem atroz,
cheiro de pólvora
mata o ar.
Mundo órfão.
Dormem as borboletas.
Pedras endurecem o tom
e as areias desmaiam o chão.
Gotículas de silêncio.
O vento
pouco tem para balançar.
Aroma de chuva ausente,
o vaso vazio,
sedento de sementes.