Coleção pessoal de AndreAnlub
A tempestade não me assusta, e nem deveria! Já tive dias terríveis de sol. Se algo me causa temor é perder a inspiração e alegria, quando o sol toca e aquece meu rosto,
ou a água cai do céu no meu corpo.
Agora há o costume de seguir o próprio caminho, escolher as pontes e portas, ficar frente a frente com o vendaval, sem o aval alheio, sem olheiro, sem frase feita e sorriso banal.
Acabaram-se as abobrinhas em minha mente, nem se falarem hipoteticamente, só verei as bocas mexendo, sem som.
As gaiolas se abriram e voam os pássaros, voa à vida. Falham as bombas e pombas de branco se pintam. O mundo esquece seu eixo, gira em toda direção e, pira, sem nenhum desleixo, sem a menor ambição.
Pego minhas folhas e lápis, e debaixo da mesma lua de anos, escrevo algo realmente interessante. Depois, num gesto de saudação... Solto as letras ao vento.
Qual atitude seria mais certa, senão entregar-te ao próprio destino? Vai-te logo, fizeste o prólogo, sigo-te em linha reta, feito menino.
Vejo estática tua íris, por compreenderes tamanha epístola. Voas, feito águia, tão majestosa tal qual a vida.
Admiro da mesma maneira a pessoa imane, ou miúda, por fora; mas pequena no interior, desculpe o trocadilho, sinto pesar!
A cada toque meu na sua pele faz nascer galáxias, acordam os anjos, acalmam demônios, cantam gnomos, ponderam orações, surgem purezas, desfazem avarezas, abrolham razões... Mas se nada acontece, não interessa, pois o que apetece é tocar em você.
O orvalho brinca de tobogã, em uma enorme folha de taioba. Sei, sei que ainda necessitava de mais música, música boa, aquela apreciada pelos pássaros que dançam valsa com o vento.
Aquela fragrância de nova vida, da porta aberta do viveiro, batia nos orifícios do nariz; como coisa boa... Fubá fresquinho, coco queimado, doce broa... Acompanhada por um manacá-de-cheiro.
O calor que batia na alma, sem refresco, mais e mais quente ficava. Faltava isso, talvez aquilo, para montar uma elipse, envolta do desmesurado eclipse, de tal sol.
Hipnotiza-me sem a mínima hesitação, e com a carcaça não tenha perdão. Me molda e muda, me desvenda e desnuda, aperta tanto meu coração, que em seu transmuta.
E aquela velha inocência descabida? Deixe-a ir! Ela já estava sufocada com sua maturidade, com seu desenvolvimento e sucesso, com o balé dos estorninhos.