Poemas sobre o vento
DOCE DESCANSO
Numa estrada sem fim
atravessando o vento
paro para descanso
num pequeno estabelecimento
com um sorriso nos lábios
sou atendido de pronto
por uma menina morena
de tão linda, um encanto
como fosse passarela
entre mesas desfilou
seu corpo magro e bem feito
logo me conquistou
seus andares faceiros
meu café adoçou
seus olhares sorrateiros
minha alma alimentou
TEMPESTADES DE VERÃO
No começo o vento é fraco
Depois torna-se forte, destruidor...
Nas tempestades de verão a dor diminui
O ardil brinca com a razão
Ventos e chuva,
Solidão e silêncio
Em meio às tormentas
Obscuras do ser...
Findar da vida
Começo da morte
Nas tempestades de verão.
A última carta de amor
Sinto sua falta e as areias sopradas pelo vento frio batem em
meu rosto e acordo com as lembranças.
A chuva fina penetra em meu corpo e penso em seus beijos
tão quentes como ares do Equador.
Meu demônio infernal que arrasta meus dias em desejos
queimantes e fico cega.
Chamá-lo de meu amor é tão vulgar e abstrato e meu pensamento
se dirige a ti de forma tão concreta que sinto e quero sua
presença.
Fica tudo tão distante. Meu corpo, meu desejo, que nem as
cartas cobrem esta ausência.
Dizem que amores não tem corpo, mas do que é feito sua
intensidade sem seus contornos físicos,
perfumes perdidos sem seu cheiro?
E o vento apaga as palavras neste deserto de solidão e gasto
tanta pena e tinta e nem sei se verbos atravessam oceanos e intempéries.
Mas fica a força de meus punhos grafados, para contornar
seu corpo nesta carta.
Sob a neblina,
atrás da colina,
sopra o vento,
tornando-se ventania.
Logo o sol se anunciará.
Mas poderia ser chuvisco, chuva, temporal.
Pouco importa...
Tanto faz ser um dia de sol ou de chuva. Nada mudaria.
O encanto está em quem sabe aproveitar o dia.
O encanto está em quem sabe ver além da colina.
O encanto está em quem sabe viver cada dia.
Como se despertasse de um coma profundo.
Como se, de alguma maneira, perdesse a cegueira.
Como se reencontrasse a beleza escondida nas profundezas do próprio ser.
não me importo que o vestido
suba com o vento
até certo centímetro da perna
lembro-te que já disseste todos os fins
das coisas
aceito até os pardais
que chocam em contramão com
Bóreas
aceno às mulheres
nas varandas
e digo-lhes:
prendam bem a roupa no arame
ladrões há muitos
o meu vestido é uma bandeira:
agita sem rasgar
sem fronteira sem hino
recorta os flancos e funde nos joelhos
uma profunda melodia:
o mar na areia
mas não sou cacique
e o vento não me fala
não há um gesto de tréguas
e ainda tento
ainda penso agarrá-lo entre os dedos
ainda o procuro na gota de silêncio maior
vento, vem
vento, fica
mas só o meu vestido se espanta
e dança
contra a minha vontade
Meu coração é um violino.
Lá fora sopra o vento
contorcendo o mar.
Penso no infinito.
La fora passa o vento
digladiando com o mar.
A ideia é um precipício.
Por que há o vento
penso no princípio,
no sem fim, no caminho.
Triste verso que agora escrevo
(e que alguém vai lendo),
pensar é um abismo.
Sou pequeno bem pequeno,
mas minhas mãos tem gestos
que nunca terminam.
Quintal
sombra da roupa lavada
que o vento afaga
no varal
bacia secando
ao sol
espiando
o menino
que viaja longe
num caminhão
protegido
pelo irmão.
Infância e quintal
sinônimos de poesia.
A Taça
Lá bem longe, onde o horizonte descansa e o vento faz a curva e a vista nunca alcança e imaginação descreve, tem uma cidade e no seio dela há um mercado que vende todas as intenções.
Há cheiros saborosos, paladares indescritíveis e ideias nunca despidas e negócios sem questão de pendências.
As portas se abriam ao último vento frio das madrugadas e se encerravam ao findar e ao tremular a última questão.
Junto ao burburinho ela adentrou a procurar algo mais que o destino guardara e o desejo não lhe proporcionara. Revirou não encontrou e na saída viu uma velha maltrapilha com uma taça cravejada de pedras preciosas, bordada com filigranas de ouro.
Teve piedade e se condoeu por ela, velha, sozinha e na sua bagagem somente a taça.
Foi depositar uma moeda em seu xale esparramado pelo chão e a velha sussurrou.
— Não preciso de esmola.
— Então me vende esta taça quanto custa? Quero ajudá-la.
— Quero uma morte digna, um teto cheio de palavras amorosas, ouvidos curiosos para que eu possa contar minha viagem e mentes sem julgamento para desdobrar minha bagagem.
— Mas o que esta taça guarda em segredo para que eu possa levá-la e a você em minha história?
— Se beber o que ela contém, terá a solução de todas as suas perguntas.
Respostas que nunca achará em livros e a inteligência de ninguém vai verbalizar para acalmar seu coração.
— Vou pensar, consultar as entrelinhas, volto logo.
— Estarei aqui, pode ir à diversidade desse mercado que não vai preencher seu coração.
Caminhou lentamente de coração vazio entre as sedas macias e esvoaçantes do mercado. Não se encantou com as suas cores alucinantes.
Colocou nos dedos anéis fabulosos de pedras facetadas e lapidadas mas que não contornavam nem de longe as curvas de sua insatisfação.
Observou os mágicos, mas sabia de todos os seus truques. Comeu quando o estômago desejou, mas não houve surpresa no seu paladar.
Sentiu o perfume absorvido de toda a ciência e alquimia, mas seus cheiros não descortinam nenhuma lembrança.
Ficou cansada, tinha que voltar, sua ausência estava expirando, voltou à velha:
— Eu compro esta questão.
E foram para casa e a viagem apenas começou.
Todas as manhãs, em sua cama profundamente macia em sua tenda com tudo o que era sua conquista, abarrotada de troféus dependurados e perfumados e os dedos cheios de anéis diplomados, bebia da taça e sua mente se abria, clareava e tinha a solução de todas as questões.
Mas o tempo soprou e as dunas mudavam de paisagem e o que era ontem, hoje tinha outra face e o que era absoluto ontem, hoje de nada valia e as questões iam e vinham, passavam mas não encontravam repouso, resolução não terminavam, caiam feito goteiras, cada dia em lugar diferente.
Ela se irritou; tudo tinha que acabar. Queria um mundo soprando fresco em sua face, absoluto, sem discussão de nada.
Foi à velha reclamar.
— Bebo da taça velha, todos os dias e quanto mais bebo mais goteiras perturbam minha calma, você iludiu meus pensamentos e minhas melhores intenções, onde mora a solução finita de todas as minhas angústias?
— Você tem que beber da outra taça.
— Onde está a outra taça?
— Eu bebi tudo o que nela continha e a manuseei tanto que ficou gasta, fina, transparente, trincou as bordas e a haste
esfarelou e virou areia que o vento do deserto sopra.
— Velha você me enganou e me vendeu ilusão. Qual a verdade que mora nesta taça ou vai me vender à prestações? Vá ao deserto agora e diga ao vento para juntar todos os fragmentos e monte outra taça porque eu quero beber dela.
— Isto é impossível! Não posso recolher palavras de uma vida, não posso relembrar de todos detalhes. Na verdade tudo que bebi habita comigo, me escute.
— Não tenho tempo.
— Então não tem sabedoria, "o saber” leva tempo saber: é uma consulta longa e o diagnóstico, a conclusão, é sem tempo exato.
— E o que faço com a senhora, a jogo nas esquinas?
— Eu sou taça, a sabedoria que você tanto procura não vai acalmar suas decisões e não vai ser taça se não me escutar. Vai ser areia triturada do deserto e nem vai saber onde ficar quando envelhecer: vai vagar, perambulando, rodopiando feito areia sem dar a ninguém o seu recado.
Tem que reescrever e solucionar todos os dias. Todas as horas. E o mundo vem, pisa em cima de suas intenções e você novamente reescreve. Deixa seu rastro. Sua Verdade. Sua Sabedoria. Sua persistência.
Por que quem vive muito, rejuvenesce nos ouvidos de quem escuta.
E o ou vinte amadurece.
Alcança cheiros, sabores, paladares indescritíveis, amadurece na procura e aprende que além dessa taça existe outra e esta não está à venda mas dela todos podem beber se você tiver fé na sua sabedoria.
Dentro dela há a esperança que encurta todos os caminhos.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
“Tudo passa, tudo voa, a vida é vento, é brisa, aroma, pétala
de rosa que cedo tem viço e perfume e, a noite, murcha, perde
a cor num momento à-toa.”
Augusta Faro
Sem licença para voar - A rosa e o anjo
Num jardim onde a cidade passava havia uma Rosa, beleza
única, perfeita, reativada, aveludada, em haste cheia de espinhos.
Entender e recolher uma Rosa e se arranhar num caule
espinhoso para viver somente uma primavera de dias, era mais
fácil deixá-la se exibir no seu jardim, apreciá-la ao longe, do que se
espetar em dúvidas e lamejos.
E assim ficou a Rosa no jardim, ora botão, ora Rosa,
despetalando sozinha, exalando seu perfume em vão, presa em um
chão hermético e imutável.
“Rosa, Rosa, um dia você se apaixona.”
Não andava, mas o mundo se transmutava em sua frente, e
ela, opressiva, presa, escolhe e colhe.
Todos passavam desavisados e a Rosa escolhia.
Rosa queria asas.
E o jardim dizia:
”Para sair do chão, voar e conhecer outras flores, o canteiro
que Rosa fundou raízes em nada vai perfumar e vai esfriar. Vamos
revirar retirar suas raízes para encher e ocupar sua paisagem com
outra muda onde Rosa floresceu.”
Próximo, um anjo passava todos os dias, de asas abertas em
código de quem voou e aterrisou em turbulência, mas obedeceu às
ordens dos céus.
Rosa viu e queria as asas do Anjo.
Tentou impressionar, também abriu suas asas em pétalas
querendo alçar vôo, mas as raízes do jardim a seguravam e diziam:
“Se voar vai virar folha e pétala seca, vai morrer.”.
Todos os dias, todas as horas em que o Anjo passava, pensava
em se fazer presença, abria também suas asas em pétalas e exalava
seu perfume.
O Anjo não via, era mensageiro, carteiro, tinha dever e não
percebia seu perfume no burburinho do jardim.
Amanheceu.
Anoiteceu.
E a Rosa aconteceu.
Saiu do caule em madrugada esfriada, sem luta, abriu seu
tecido, suas pétalas, e as pregou em espinhos, como couro, para que
curtissem no choro do amanhecer, junto dos sonhos da noite.
No dia seguinte, ao florescer do dia, costurou seu tecido com
pistilos em pontos pequenos, juntos, ligando tudo ao imperceptível.
Revestiu-se daquele sentimento e foi comprar do Anjo uma
asa para voar.
Subiu aos céus, onde morava, com poucas e velhas moedas
caídas no jardim, mas com muito perfume. Ascendeu em seu vestido
longo exalando perfume, deixando todos extáticos e tontos com seu
cheiro, tropeçando pelo jardim.
Chegou aos céus e pediu ao anjo:
– Quero asas brancas como a verdade, impermeáveis como
folhas, longas como uma viagem e douradas como os sentimentos.
Ele a olhou. Tinha voz aveludada como seu vestido e um
perfume machucando seu coração. Se fechou e disse:
– Vendo asas, somente asas.
– Posso escolher?
– Não há o que escolher, só vendo asas. Você tem licença
para voar?
– Não, não tenho, mas o meu perfume tem e a imaginação é
dona dos céus.
– Não gosto dessa conversa, quero ver sua licença.
Desenrolou seu pistilo, os enrolou no dedo e as pétalas se
desprenderam, perfumaram, e ele se apaixonou com a verve de seu
flanar.
Ela tinha muitas asas, leves ao sabor do vento, mas sem
direção.
– Posso me aproximar? – disse o Anjo – Te faço uma asa, mas
quero de ti um beijo.
E o silêncio tomou conta daquele instante. E tudo que voava
e cheirava parou.
Ela ofereceu sua boca carnuda e ele a abraçou com suas asas,
e tudo virou ventania que se perdeu num beijo, num vento que
levava pétalas de Rosas como tivesse asas e licença para voar.
As pétalas voaram tontas como verdades reservadas, como
sentimentos feitos de um flanar desavisado, seco e dourado como
aspiração
“Várias pessoas que tiveram a experiência choravam
desorientadamente, pois amavam o amor somente,
sem achar alguém para receber tamanho afeto, que
labaredava, chamuscando cada junta de corpo, veia
por veia, músculos, ossos e tutano e, assim, todas as
moléculas moles e duras do corpo e da alma.”
Augusta Faro.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
porventura, sabes tu, a diferença entre o vento e as árvores cochichando entre si? é que o vento não susurra teu nome.
O Vírus do Amor
Manhã de outono , ouço o som dos cantos dos passaros e o soprar do vento ,Olhar fixo no firmamento, ao abrir a janela contemplo a cena mais bela . o sol radiante nascendo me leva a lembrar do magnífico sorriso dela.O galo canta , o dever diz levanta , mais o que de fato me espanta , é perceber como o jeito dela me encanta .Em minhas leituras pelas paginas do livro, surpreendido pela imaginação , me encontro com as travessuras e aventuras que fazem parte do plano de açao , Minha mente refém desta louca paixão.O contexto me sinaliza que devo ficar em casa ,me resta pegar a minha asa , movido pelo fogo que abrasa , e me deliciar no amor que nunca se atrasa.Em alta velocidade , os pensamentos a busca a fim de matar a saudade.Um pretexto aqui , ali e ainda outro acolá , bora a cidade atravessar , infectado pelo virus do amor , que mata se a distancia contunuar.O Dr. Coração receitou : Abraçar , beijar, tocar ,Sao medidas salutar , para o virus do amor nao matar,Tome na medida que for preciso , acrescente uma dose de riso.Não tem contra indicação , nem efeitos colaterais , fazendo assim o virus do amor nao matara jamais.
"entre formas, imagens e semelhanças
navegamos agora o ontem e o amanhã,
espalhados pelos ventos somos um
dentro de tua ciência maravilhosa"
FRÍVOLO
Manhã da roça
bacia de biscoito
vento solto
relincho de potro
sentimento afoito
tudo torto, tudo oco.
Barcaça das águas
fundo do mar morto
rabanada do boto
rosa do porto
olhos loucos
rebolo, tolo.
Pena de poema
tema treslouco
tudo ainda pouco
topada no toco
nesse ninho choco
... Tinoco, broco.
REMINISCÊNCIA
Pagina branca sobre a mesa
... Uma carta ao tempo
uma nuvem ao vento
rascunho dos sentimentos
... Alveja a saudade tesa.
Uma sombra ao chão
Olhos tristes, atentos
feitio de um pensamento
trilhos de contentamento
... Coração moda paixão.
Feito da imaginação
pautas cheias, poemas belo
esquecimento amarelo
passos treloso no castelo
... Mãos sofreguidão.
Antonio Montes
CONTRA GOSTO
Era tarde de agosto
tive gosto na farinha
mas veio o vento e me levou.
E com cara de desamor
na brisa d’aquela tardinha
meu olhar triste chorou.
Eu? Eu fiquei de contra gosto
com aquela migalha de troco
entre sopapo e assopro.
Barriga, seca em alvoroço
pequeno tempo tão pouco!
E a marmita seca no toco.
E a fome? No contra vapor
tremia a carne e as vistas
criava-se assim aquela dor.
O vento? A esse treiteiro
rodopiou pelo terreiro
e flertou ao mundo inteiro.
Antonio Montes
CANTO (soneto)
Na janela pro cerrado, solitário
O apressurado vento na fresta
Amigo de exílio, o meu cenário
Sibila, e teu sibilo me molesta
E, lá no ipê, alto, canta o canário
Ouvindo o canto de sua seresta
A saudade crê, no extraordinário
A alegria, no som, a alma atesta
Mas, poucos ouvem o meu dia
Calado e frio, numa poesia fria
Ajuntando o meu aflitivo pranto
E neste choro, um choro estridente
Que me faz chorar tão incontinente
Muitos pensaram que é meu canto
Luciano Spagnol
2016, novembro
Cerrado goiano
SEM RUMO
Veio o vento...
E as placas de latas
se foram...
despencadas, derrubadas,
sobre o chão
como se fosse agouro.
Sem direção...
Sem rumo e sem destino
perigo! Perigo?!
Hoje, tornou-se abrigo
Para onde vai caminhão?
Antonio Montes
VENTO FRESCO
O vento lento, todo fresco
sem falhas...
Farfalha as folhas da manhã.
... Manhã serena...
Toda condoída
cheias de pena!
Sem asas...
Não voa
mas movimenta idas e vindas.
Às vezes garoa...
com sua alvorada
cheia de vida!
Engravida-se do tempo
que sempre atento
com pouco tempo
parece lento.
Nasce o alvorecer
todo amarelo!
Tão lindo!
Tão belo!
Cheio de raios multicoloridos.
Os pássaros saldam-te
com seus cantos
e encanto de encantar.
Ecoando o seus chilreares
pelos pomares... E pelo ar.
Antonio Montes
VERÃO NO CERRADO
Um vento seco, no sertão ressequido
Mas, o céu está úmido, está aquoso
As nuvens cavalgando no azul vívido
As aves (andorinhas) num voo gostoso...
Pontilhando o céu com o seu colorido lívido
Ao som das cigarras num canto preguiçoso
É o verão dando as caras no cerrado árido...
Luciano Spagnol
Novembro, 2016
Cerrado goiano
CABEÇA DE VENTO
Cabeça de vento
voando aos sonhos
não pousa em seu tempo
nem vive tristonho.
Vaga aos sorriso
sem que sem pra que
com pouco juízo
sorrir pra valer.
Cabeça de vento
não pensa em mandões
não vive atento
e faz seus bordões.
Não preocupa com voto
nem com o amanhã
vive o hoje devoto
o seu tempo é divã.
Antonio Montes
