Vento
Eu vi todos os feitos que se fazem sob o sol, e eis que tudo névoa-nada e fome de vento.
Ec 1:14. (Apud Haroldo de Campos)
Eu e meu chapéu de palha
Vamos andando
Pela vida
E voamos no vento
Eu e meu chapéu de palha
Balançamos na
Corda bamba
E no fio da navalha
Eu e meu chapéu de palha.
👒👒👒👒
De cara para o vento, na chuva para se molhar, ninguém anda só. Somos donos da rua. É no tum-tum-tá do couro do pandeiro, é no zigue-zague do mestre-sala, no suor da dança em flor, nas saudações a deuses muitos, que chora de alegria a menina que não samba, mas está ali para sonhar. Que nunca acabe a festa, numa simples quarta-feira. Que dure a eternidade, essa vida em fantasia.
Chove muito.
O vento forte bate as janelas.
Olho a tempestade lá fora antes de fecha-las.
Talvez eu deva gritar seu nome.
Talvez o vento ouça a urgência na minha voz,
E a leve até você
Talvez eu deva sair correndo batendo os braços.
Talvez ele me leve até você
Mas pássaro não sou
Se pássaro fosse
Com essa vontade que me enche o coração
voaria por todo atlântico
E se preciso mergulharia o mediterrâneo
pra ver esses olhos brilharem com meus próprios olhos.
Eu fechei a janela e as cortinas, apaguei as luzes.
Sou apenas mais um jovem apaixonado descobrindo
Que o que eu quero nem sempre estará ao meu alcance.
Vou dormir na esperança de que um dia eu lhe alcance.
Na esperança de que o vento que passou aqui chegue até você.
Viver é mais
Mais que uma espera
É promessa
Deixar o vento bater
Naquela antiga porta
Que se mantém aberta
Por uma intensa convicção
No amor que nos protege
E desperta
Quando nos encontramos
Adormecidos para a vida
Viver é realidade
Vai além de uma quimera.
Gosto do sol
Que surge de mansinho
Só para iluminar
Gosto do vento
Que vem com seu cheiro
Aroma do mar.
Se está calor agradável é o vento, se no frio proporfiona sofrimento. Na angústia o amigo por perto, faz ameno o triste momento.
Tô deixando ir não porque não quero que fique não porquê quero que vá mas as coisas é como o vento nunca estara no mesmo lugar, eu já sofri muito não vou deixar de sofrer mas quando o passarinho querer voar nada poderei fazer
eu não vou ficar bem mas vou superar ou fingir pelo menos tentar o passarinho foi embora pra mim não voltou dizem que oque é seu sempre retorna e ele não retornou ofereci morada, natureza um jardim ele preferiu o ar poluido os predios e as fachadas não sei nada dele mas ouvi que tá com a asa machucada .
Poesia 1
Sonhos
Sonhos são feito fumaça,
feito nuvem quando passa,
arrastada pelo vento,
forte, fraco ou só um alento
que invade o pensamento
num segundo ou só um momento.
Sonhos são feito saudade
e 'as vezes, novidade
Inundando nossa alma
dando força, calor e calma
Nos fazendo pensar que a vida,
pode ser imaginada e vivida.
Sonhos nos trazem lembranças
e 'as vezes, também esperanças
De que algo novo pode ser produzido
ou, algo velho pode ser modificado
Pois, sem sonhos,
não prosperamos
Sem ter o que almejar,
nos paralisamos
Gosto de jogar palavras ao vento. Falar sozinha. Escrever. Expressar o que eu sinto e penso pro nada, pois as coisas irrelevantes da nossa vida ninguém precisa saber.
Entardecer no Pontal
Um fim de tarde na calmaria do Pontal
O vento paira sobre os coqueiros
O tempo segue seu curso natural
Em suas águas calmas segue o barqueiro
O céu, ainda azul, passam nuvens de algodão
A areia, já fria, é levada pelo vento
Grão a grão é levada sem direção
Conduzindo ao fim de tarde desse momento
O sol vai se despedindo de seu brilho
A noite vai ganhado vida a cada segundo
Como um trem seguindo seu trilho
Para que um novo amanhã surja nesse mundo
Quem poderá sopesar a dor, se entre as mãos fugiu de si o amor. Qual lenço ao vento vai ao chão, mais ainda desce o ser sem compaixão.
...não há ninguém, só o inverno de jardim negro, e a noite, e a chuva, e o vento,
um velho sueter aconchegado ao corpo, uma xícara de chá quente...
Apenas caem as gotas lá fora uma a uma,
dividem o frio de um poema terno,
Poeta e poesia são aconchegos do inverno.
VENTANIAS
Tão fraca essa chuva desacompanhada de vento
Proveio certamente de alguma nuvem dispersa
Fugidia da madrugada de alguma noite sem graça
Estanque sobre o telhado acima da minha cabeça
Não que não mereça que meu derredor se molhe
Com essa calmaria própria dos bem-aventurados
Porem estou acostumado a solavancos constantes
Tanto que me estranha tamanha bonança repentina
Sou eu afeito de trovões e ventanias da montanha
Que sacolejam e soçobram insanos restolhos de asas
Absurdamente inconstantes entre abas e serpentinas
Por isso a minha casa é de pedra incólume e bruta
Plantada sobre sólidos e poderosos alicerces da lida
Mas despreparada à suave nudez de uma brisa
A Taça
Lá bem longe, onde o horizonte descansa e o vento faz a curva e a vista nunca alcança e imaginação descreve, tem uma cidade e no seio dela há um mercado que vende todas as intenções.
Há cheiros saborosos, paladares indescritíveis e ideias nunca despidas e negócios sem questão de pendências.
As portas se abriam ao último vento frio das madrugadas e se encerravam ao findar e ao tremular a última questão.
Junto ao burburinho ela adentrou a procurar algo mais que o destino guardara e o desejo não lhe proporcionara. Revirou não encontrou e na saída viu uma velha maltrapilha com uma taça cravejada de pedras preciosas, bordada com filigranas de ouro.
Teve piedade e se condoeu por ela, velha, sozinha e na sua bagagem somente a taça.
Foi depositar uma moeda em seu xale esparramado pelo chão e a velha sussurrou.
— Não preciso de esmola.
— Então me vende esta taça quanto custa? Quero ajudá-la.
— Quero uma morte digna, um teto cheio de palavras amorosas, ouvidos curiosos para que eu possa contar minha viagem e mentes sem julgamento para desdobrar minha bagagem.
— Mas o que esta taça guarda em segredo para que eu possa levá-la e a você em minha história?
— Se beber o que ela contém, terá a solução de todas as suas perguntas.
Respostas que nunca achará em livros e a inteligência de ninguém vai verbalizar para acalmar seu coração.
— Vou pensar, consultar as entrelinhas, volto logo.
— Estarei aqui, pode ir à diversidade desse mercado que não vai preencher seu coração.
Caminhou lentamente de coração vazio entre as sedas macias e esvoaçantes do mercado. Não se encantou com as suas cores alucinantes.
Colocou nos dedos anéis fabulosos de pedras facetadas e lapidadas mas que não contornavam nem de longe as curvas de sua insatisfação.
Observou os mágicos, mas sabia de todos os seus truques. Comeu quando o estômago desejou, mas não houve surpresa no seu paladar.
Sentiu o perfume absorvido de toda a ciência e alquimia, mas seus cheiros não descortinam nenhuma lembrança.
Ficou cansada, tinha que voltar, sua ausência estava expirando, voltou à velha:
— Eu compro esta questão.
E foram para casa e a viagem apenas começou.
Todas as manhãs, em sua cama profundamente macia em sua tenda com tudo o que era sua conquista, abarrotada de troféus dependurados e perfumados e os dedos cheios de anéis diplomados, bebia da taça e sua mente se abria, clareava e tinha a solução de todas as questões.
Mas o tempo soprou e as dunas mudavam de paisagem e o que era ontem, hoje tinha outra face e o que era absoluto ontem, hoje de nada valia e as questões iam e vinham, passavam mas não encontravam repouso, resolução não terminavam, caiam feito goteiras, cada dia em lugar diferente.
Ela se irritou; tudo tinha que acabar. Queria um mundo soprando fresco em sua face, absoluto, sem discussão de nada.
Foi à velha reclamar.
— Bebo da taça velha, todos os dias e quanto mais bebo mais goteiras perturbam minha calma, você iludiu meus pensamentos e minhas melhores intenções, onde mora a solução finita de todas as minhas angústias?
— Você tem que beber da outra taça.
— Onde está a outra taça?
— Eu bebi tudo o que nela continha e a manuseei tanto que ficou gasta, fina, transparente, trincou as bordas e a haste
esfarelou e virou areia que o vento do deserto sopra.
— Velha você me enganou e me vendeu ilusão. Qual a verdade que mora nesta taça ou vai me vender à prestações? Vá ao deserto agora e diga ao vento para juntar todos os fragmentos e monte outra taça porque eu quero beber dela.
— Isto é impossível! Não posso recolher palavras de uma vida, não posso relembrar de todos detalhes. Na verdade tudo que bebi habita comigo, me escute.
— Não tenho tempo.
— Então não tem sabedoria, "o saber” leva tempo saber: é uma consulta longa e o diagnóstico, a conclusão, é sem tempo exato.
— E o que faço com a senhora, a jogo nas esquinas?
— Eu sou taça, a sabedoria que você tanto procura não vai acalmar suas decisões e não vai ser taça se não me escutar. Vai ser areia triturada do deserto e nem vai saber onde ficar quando envelhecer: vai vagar, perambulando, rodopiando feito areia sem dar a ninguém o seu recado.
Tem que reescrever e solucionar todos os dias. Todas as horas. E o mundo vem, pisa em cima de suas intenções e você novamente reescreve. Deixa seu rastro. Sua Verdade. Sua Sabedoria. Sua persistência.
Por que quem vive muito, rejuvenesce nos ouvidos de quem escuta.
E o ou vinte amadurece.
Alcança cheiros, sabores, paladares indescritíveis, amadurece na procura e aprende que além dessa taça existe outra e esta não está à venda mas dela todos podem beber se você tiver fé na sua sabedoria.
Dentro dela há a esperança que encurta todos os caminhos.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
