Textos sobre como Curtir a Vida
Sempre se disse, e não há como desmenti-lo, que a criatividade é uma das mais importantes qualidades do ser humano. Mas seu excesso produz como efeito colateral um impacto paralisante sobre as rotinas obrigatórias, que lhe é contrária, mas que se prestam a garantir a estrutura onde a criatividade floresce. Se abrirmos espaço somente para o novo trazido por esta, a rotina que a sustenta entra em arriscada paralisia que acaba por inviabilizar a ambas. Há que encontrar tempo, portanto, para não tratar a uma como tortura e a outra como compulsão.
Não há como discordar de Umberto Eco quando defende que as redes sociais deram voz a uma legião de imbecís que “antes falavam apenas num bar após uma taça de vinho, sem prejuízo para a coletividade". Mas há também que se considerar Max Ehmann, que séculos antes já nos lembrava de dar vez aos pobres de espírito, posto que eles também têm o que dizer. Na dúvida o bom senso nos pede ponderação entre levar a sério qualquer bobagem replicada muitas vezes ou assumir como premissa que tudo o que chega pelas redes não é digna de crédito.
Não ter receio de buscar a mudança como o melhor critério de avaliação nos previne da ameaça de transformar vícios em algo trivial e rotineiro. Ter coragem para trocar caminhos todas as vezes que se fizer necessário, e ser um camaleão que empresta à própria alma as cores que o ambiente aponta como as mais confiáveis naquele momento, ainda que incompreensível para o observador externo, é a única forma de manter-se fiel a minha própria essência! O ótimo de agora pode ser o péssimo de amanhã, e você será parte dele se recusar-se a olhá-lo de outro ângulo, de modo a perceber se ele continua ou não harmonizado com o melhor que quer para si.
Não é o igual, mas a novo que oferece sua diferença como acréscimo. A diferença é rica e a igualdade pobre, porque iguais não possuem a capacidade da mútua contribuição, mantendo-se estáticos como se descobriram, e alijados da evolução que o universo nos cobra como regra única e imutável! Tudo o que não muda, fenece! Assim, mesmo quando você não dá a mínima para a própria evolução, quando combate o diferente de si mesmo não sabe que está atentando contra sua própria sobrevivência. Desapareceremos todos – eu e você – enquanto insistirmos em rejeitar o diferente que fatalmente virá, na vã tentativa de transformar o igual em perene, tornar a mudança imutável, submeter às nossas microscópicas leis a lei maior do Macro Universo.
Fanatismo é como a peste: de altíssimo poder de contágio, sai matando tudo o que o indivíduo tem de melhor por dentro e por fora, via sentimentos e ações dos mais destrutivos. E mesmo após seus vetores se auto dizimarem, ela segue em seu processo de extermínio, vitimando outros pelo legado maldito das convicções equivocadas dos primeiros.
O pensamento expresso em prosa não tem compromisso com o lirismo – como num poema – podendo ser direto e preciso quando necessário, sem os aforismos da poesia. Não ficando atrelado aos arreios da forma, do estilo, da rima ou da métrica, segue livre para mexer com emoções e provocar reflexão no leitor pela identificação com algo que ele já sentia, e que apenas precisava ver traduzido em palavras para que se sentisse representado nele.
Como identificar alguém que se permitiu manipular? Basta atentar para o lema da bandeira levantada. Observando-a, é visível e consistente a sensação proporcionada de dejavú em cada novo integrante em ponto tal que as mesmas frases se repetem uniformes, sem a esperada variação de pessoas que pensam por si. Ouvida a última, vem a convicção de que há um padrão impresso em seus cérebros, desde a primeira.
A lisura não pode ser vista como uma vírgula a partir da qual se atendeu determinado público, se satisfez o chefe ou foi-se acolhido por Deus. Integridade real é aquela que se coloca como ponto final do posicionamento e à revelia de qualquer avaliação já que, com o foco desviado para quem espera por ela, tem seu valor mais subtraído do que legitimado.
Quando já se perdeu contextualmente a referência em conceitos como verdade e mentira, tanto faz o que você diga, pois cada qual seguirá pensando o que já consolidou para si. Desmentidos, nestes tempos, são mera perda de tempo e fonte de desgastes. Busquemos, portanto, ser fiéis apenas às nossas crenças, não importando quais sejam, sem a proposta de fazê-las valer aos demais. Com a perda total dos referenciais à nossa volta, os únicos a que devemos atentar são os nossos proprios valores. Esses, sim, são aqueles dos quais não podemos nos distanciar.
Sentir-me honesto, antes de tudo, é assumir minhas próprias dúvidas e enxergar-me como um eterno buscador, ainda que nunca chegue ao fim do caminho, antes de adotar verdades consagradas que meu íntimo não identifica como minhas. É não temer ser condenado por um ser supremo que, pela minha lógica, plantou-me dúvidas para que eu não aceitasse, sem questionar, as verdades de outrem.
Como pais, sempre cometeremos erros com nossos filhos e eles farão o mesmo com os deles, por conta da inexperiência da juventude quando os geramos, até a maturidade nos oferecer a todos uma segunda chance. Se as feridas de ontem, porém, não cicatrizaram, cabe-nos perguntar se este segundo tempo foi usado para corrigir o primeiro ou se seguimos repetindo os mesmos erros, mesmo sendo possível fazê-lo. Haverá, por certo, um ponto da estrada em que já não poderemos culpa-los por seu amor não ter resistido à inutilidade de tantas esperanças traídas, mas em qualquer caso nossa parte precisará estar cumprida.
Algo verdadeiro se propaga sempre por muitas fontes, bem como o que não se mostra autêntico não se repetirá por várias, preservando a íntegra do que se divulgou na primeira. Assim, cruzar as informações do maior número possível de origens oferece muito mais confiabilidade quanto à veracidade do conteúdo, seguindo-se a identificação das mais idôneas dentre elas antes de emprestar-lhe aval, acurando o senso crítico para não aceitar como real a que mais se identifique com suas próprias crenças.
Estou consciente do quanto minha impaciência com a ignorância alheia possa ser vista por muitos como soberba. Mas também sei que ela não é direcionada àqueles que não tiveram acesso à instrução, mas aos que se esquivam do tipo de análise que não imporia barreiras nem a uma ameba desidratada.
A verdade se apresenta como um modelo retratado por diferentes artistas: por mais que as obras mostrem a mesma pessoa, cada pintor dará ao quadro seu toque pessoal e lhe emprestará estilo próprio, ao final do que se terá sempre múltiplas versões para uma mesma realidade; e mesmo que o tenham feito em um mesmo momento o que chega ao público nunca será igual, já que visto por diferentes ângulos conforme a posição dos retratistas. E ainda a quem depois aprecia a obra cabe interpretá-la à luz do seu próprio entendimento, abrindo um leque infinito de visões em que nenhuma expresse necessariamente a realidade do modelo. Apesar disso muita gente confunde com ela a sua versão pessoal, colocando-se pronto a destruir quem não concorde.
A tirania de direita jamais se mostrará como alternativa de combate à tirania de esquerda ou vice-versa, pois que ambas se mostram igualmente aviltantes e contrárias à dignidade humana, independente de qual seja alçada ao poder. Daí que a batalha do homem livre – que lhes oporá uma resistência ferrenha e incansável – será sempre a travada entre a liberdade e a opressão, entre seus valores e a concupiscência, e não entre os extremos que se enfrentam, já que estes passam, e o que permanece é sua consciência.
Definir-se como de esquerda ou de direita já representa, por si só, flutuar numa folha que carrega formigas à deriva, dependendo do lado que o vento sopra, jogando-as de um lado para outro ao sabor das correntes que ele cria e desfaz sucessivamente. A mesma direita que chega como solução é a que conduz militares à mais torpe e cruel das ditaduras, e a mesma esquerda que muitos veem como libertadora, via de regra termina numa cúpula do poder que subjuga uma legião de miseráveis submetidos à sua tirania. A única forma de estar à salvo é permanecendo fundeado pela âncora do bom-senso a uma distância segura das inconstantes e revoltosas correntes dos “ismos”. De sua bóia firmemente presa ao fundo é possível tanto impedir que alguns barcos naufraguem quanto não afundar com os que fingem não ver o furo no casco.
A percepção da realidade não é uma escolha, mas um despertar espontâneo e automático como o que nos é oferecido todas as manhãs, após uma noite de repouso obrigatório: os olhos se abrem e somos avisados pelo cérebro de que acordamos. Porém, fica na decisão de cada um erguer-se ou aceitar o convite da preguiça para voltar a dormir por quanto tempo consiga. Mas a paciência da mente cósmica também é limitada: em dado momento terá que decidir entre levantar-se ou aceitar o coma de modo irreversível.
Houve uma época em que apegar-se a convicções imutáveis se mostrava como sinal de se ter a posse da Verdade. Em nossos dias, porém, apenas exibe seu defensor como afundado numa ignorância à prova da verdade em permanente construção que vai se revelando à medida que a humanidade avança, e onde o Conhecimento, a cada novo momento, atinge patamares nunca antes alcançados, só restando a alguns acabar pisoteados pelo futuro.
Tomam-se ideologias de esquerda ou direita como guardiões dos ideais mais nobres da humanidade, quando na verdade passam por ali atores de todo tipo que não só esquecem rapidamente do que os levou até elas como desmentem com seu exemplo as ideias que supostamente os teriam inspirado. A única escolha que jamais nos decepcionará será sempre a bandeira da honra e da licitude em lugar das flutuantes e voláteis ideologias dos fanáticos, pois que não fica sujeita às correntes de ar que as jogam a todo momento de um lado para outro.
Dou meu crédito e profundo respeito a pessoas de convicções fortes como resultado de um longo processo de análise das antíteses filtradas por sua inteligência, que as conduz invariavelmente a um equilíbrio responsável em suas conclusões e empresta consistência e confiabilidade às idéias que defendem. Quanto menos doutrinárias ou dogmáticas forem, mais isentas e confiáveis se farão suas análises, pois que não estarão sujeitas aos moldes de suas próprias crenças. A maturidade me encontrou como um livro aberto desejoso de se manter fora das tribos e longe das mentes fracas que se deixam convencer sem refletir por si mesmas, das que constroem “verdades” sobre idéias de outrem que vão incorporando à sua lista de bandeiras sem nunca terem-nas submetido a nenhum tipo de filtro. São movidas pelo mero prazer de repassar “filosofia de papagaio”, em que não há critério nem responsabilidade para com os efeitos que produzem. Teses conscientes não dependem de bandeiras ou correntes para se disseminarem: elas se impõem por si mesmas, mas entre as pessoas que farão a diferença.
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