Textos de Morte de Filho
ÚLTIMA VEZ (soneto)
Tal dia, marcado, será derradeiro
Sem eco, sem contenda, e paz
Tão segredado, de saber ineficaz
Que bom é se manter cavalheiro
E neste exato momento, fugaz
Que o é, no silêncio de mosteiro
Apagarás da vivência tal letreiro
E o já, egresso, não suspeitarás
Um dia, o gesto será só roteiro
Instantes do palco, por detrás
E na pena a tinta sem o tinteiro
Última vez, suspirada cor lilás
Desfeito e desnudado useiro
Nada mais terá regresso, jaz!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
"Não me digas que a tua hora chegou,
Tu tens ainda muito a viver.
Não vais já! Ninguém te chamou!
Ainda nada terminou.
Não me faças sofrer!
A vida não está acabada!
Ainda que não esteja a cem porcento
Não chegou a abalada,
Não estás na chamada.
O teu nome não vai com o vento!
O barqueiro sombrio
De ti nada vai levar.
Apesar deste grande frio,
Vive a vida com brio.
Tudo vais ultrapassar!
Cantigas leva-as o vento,
Também leva as palavras más.
Ainda haverá muito tempo
Onde irá passar este tormento.
Esperemos pelo bom que a vida traz!
Quando um dia eu desaparecer
Por entre a sombra da madrugada
É sinal que não irei saber viver
O resto da vida que tinha guardada
Se um dia tudo acabar
É porque a minha vida não faz mais sentido
Quando deixar de cantar
É porque estou perdido
Ajudai-me nesta aflição
Esta dor não era merecida
Está a parar o meu coração
Já tenho a vida mais que vivida
A minha estadia por aqui está acabada
Apesar de tudo, tenho tido muita sorte
Uma grande sorte destroçada
Já não consigo mais ser forte
Quando eu morrer
Por mim vós não chorais
Todos devem saber
Que fiz tudo até já não poder mais
QUE ESTRANHA NATUREZA
Estranha natureza esta a tua
Que me roubas os sonhos
Que banhas a minha alma em sangue
Tirando-me a luz, fazendo-me gritar
Afasta-me esta dor, suplico-te
Acorda-me deste sonho maldito
Donde estremeço, vislumbra-me de mim
Fazem-me voar para além do vazio
Nas tuas mãos, encontro o xaile do caminho
Onde a vontade abraça o meu lado selvagem
Estranha natureza esta, que persegue-me
Enlouquece-me e rouba-me os sonhos
Banha-se no meu sangue e arranca a minha alma
♔
Lança da morte, punhal ferido de espinhos numa flor
Sem medo, sem temor, amor que abraça-me
Que foge comigo, devassa-me os sentidos
Entranha-se na pele, como um grito colorido
Voz rouca de um eco que acompanha-me
Esquizofrênicos sentidos de lembranças
Feitos de vozes, gritos, gemidos, suspiros
Que iluminam de esperança as lágrimas caídas
De uma quimera fora do tempo esquecido,
Vivido de dor, fogo interno neste inverno antigo
♔
Neste mundo existem mulheres amadas
Violadas na mente, violentadas na alma,
Castradas no corpo, sem voz, sem liberdade
Acorrentadas em dor, cansadas, tristes
Desesperadas, mal amadas, laços atados, em nós de ferro
Mãos geladas e frias, feitas num mundo cruel.!
Condor
Quero eclipsar a minha existência
E quero-o já... não é um pedido,
É uma ordem que me anda a deixar insolente.
Quero ir para o lado de lá do teu sentido
Dar sentido à minha vida.
Quero ser uma pena na bigorna do forjador.
E que ele não perdoe das suas mãos a minha demência.
Esta sentença de estar onde não estou,
Esta injunção que me obriga a ser quem não sou,
Pois não é mais da ausência a minha dor.
O Anjo do Abismo com sua gadanha
É presença que ao meu lado se senta.
Ouço o sobrevoar silencioso do Condor
Só ele me acalma a alma.
Enquanto ele inalar o meu padecer,
Enquanto ela pairar sobre minha cabeça,
Eu sei que não estarei só.
Porque é para o lado de la
Que eu quero ir... e quero ir já!
Quero ser o litígio entre ambas as partes,
Ser acuso de não ter cumprido o compromisso,
Quero que as cabeças que me andam a atormentar
Sejam mutiladas por Excalibur.
Ordeno sair de dentro de mim.
Irei fazer escorrer meu sangue ladeira a baixo,
Trocar a minha alma pela epifania
E vou querela a toda a hora
Sem demora nem mania,
A toda a hora!...
Ordeno eu ao mais alto dos altos
Que seja agora.
Que seja neste minuto.
Troco o meu lamento
Pelo teu estatuto!
Transforma-te ó Tempo,
No mais bruto forjador,
No cavaleiro de maior talento
E ordeno a Excalibur
Acabar com este momento
Decepar esta minha dor
Onde eu só sinto sofrimento!...
Ouço o alento do bater das assas,
Vai pousar ao meu lado o Condor...
Já não lamento!...
Um tentativa em exonerar da minha imaginação, da minha alma se assim me atrevo a dizer, a dissertar aquilo que de mais profundo imagino pairar sobre muitas consciências humanas, ao se aproximar o momento de uma morte anunciada. Por mais difícil que seja de me pronunciar desta forma tenho que ser fiel àquilo que sinto e deitar cá para fora tal como sinto ao imaginar esse momento.
Apenas um segundo
Foi naquele minuto que eu soube
Que não poderia mais te amar
Foi naquele minuto que eu soube
Que ao fechar meus olhos não poderia mais sonhar
Foi naquele minuto que eu soube
Que aquele abraço seria o ultimo
E que seu sorriso de esperança
Com o tempo se dissolveria
Seria apenas uma doce lembrança
Foi naquele minuto
Que cada dia da minha vida
Veio em mente
Cada sentimento, cada sensação
Estilhaçando como um copo de vidro
Caído contra chão
Mas foi naquele segundo
Que meu olhar se chocou contra o seu
Perdida em meio aquele falso mar
Confortada em seus braços
Parei de me preocupar
Ali, mesmo que por um milésimo
Seria meu lugar
decesso...
[...] pra que sofrer com despedida
se quem parte não leva nada
e quem fica... tem a medida
do tempo, na sua jornada...
todos nós temos o preço
no feito, partida e chegada!
"A vida e um ato e a morte o recomeço"
então, que tudo seja camarada!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20 de março de 2020 - Cerrado goiano
Hei de por ti
Eu quero tudo .
Nao me contento com nada.
Nada que não seja junto a ti
Amante, amiga, eterna namorada.
Quero este domingo azul
E com voce ver o céu da madrugada.
Caminhar sobre a praia completamente nús
Contemplando a aurora da vida e mais nada.
E estar sobre ti num eterno deleite
Não vejo forma mais bonita de morte
De em teu belo corpo poder me perder
E novamente encontrar-te no meu tão belo norte.
Ceifar-te-ei aos poucos, (dias todos)
Para que de mim nao se vá as pressas,
Pois se de amor hei de morrer num instante
Nao ha mais nada que eu queira e resta
Quero beijos, quero abraços, teus risos
Quero sonhos, tua loucura, infinitas horas.
E derepente num domar de um sono eterno, dormir
Quero um sonho de amor que me leve.
Willas Gavronsk 16.10.19
CERTEZA DO FIM
Há dias penso.
Há noites em claro
Peno nos dias diurnos
No escuro, um descaso.
E que escuro tão medonho
Nao mais pareço a nada
Sera isso uma fase?
Talvez o pesar de um último passo?
O que isso que espantas
Se mais nada temo a viver
Eis-me aqui um fraco distante
Buscanso sem saber decerto o que.
Temo a vida à fora
Por àqueles que persistem a mim
Por ora, vivo a demora,
Mas ja me é certa a certeza do fim!
Willas Gavronsk
A vida não é justa não, é para fazer nascer, crescer e fortalecer...
A vida é a comunhão, a comunicação, a intercessão a orientação.
A morte também não é justa, porque morrer é embrulhar a vida e reduzir ao pó, é o descaso do amor, é o enfado da dor é estragar, é extinguir.
A escada sempre mostrou o caminho,
mas quem queria seguir?
Só o tempo seguia.
Sempre correndo demais.
E correram rios, automóveis e touros.
Estourou a epidemia.
O mundo parou!
A bolsa caiu!
Os esquilos pularam feito loucos.
O ar enfim, respirou!
O barulho era de silêncio.
As baleias dançavam com graça e liberdade.
As horas passaram a cair feito chuva.
Era tanta hora que ninguém mais sabia o que fazer nas horas livres.
Onde não chovia, as horas ficaram curtas demais.
Ninguém mais respirava
Faltavam horas...
Naqueles dias todos choraram.
Tanta gente morreu... não havia mais hora para viver.
Escassez das Horas
Palavras em Pedaços
Revinda
Vim morrer em Araguari
Cidade sorriso, eterna
Que a mocidade é daqui
E o meu berço governa
Em uma banda a revinda
Na outra a fonte fraterna
Entre ambas a falta ainda
De a história que hiberna
E sinto, sinto: ganas nuas
O sentimento na berlinda
A ternura vagar pelas ruas
E rir. Antes que tudo finda
Vim morrer, no aceitar vim
Cá para as bandas das gerais
Vim. Outrora chama por mim
E, e por fim, não chama mais...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03/04/2020, 08’01” – Cerrado mineiro
Encrespado Aureolo
Bloco de vida coisa que é dura.
Costura de agulha sem ter saída.
Nó de tristeza, embelezas a natureza,
Agarras-te aos vãos das manhãs,
Pois tecidos te envolvem a beleza.
És o ar rarefeito no meu peito,
Sabor a café e saliva que rejeito.
Musa toda assim delicado deleito,
És quem os meu olhos saboreiam,
Pele quente que ferve como efeito.
De leve suspeitas da mocidade,
Sinto encrespado aureolo que sabe,
Ao toque do lábio seco de inverdade.
A tensão sobe para mil sem fim
E eu no teu ventre afundo de mim.
Minha morte lenta meu medo cerrado,
Onde me enrolo, me excedo, me advenho.
Meu respirar venta no teu corpo molhado
E a cadência do teu coração tenta,
Percutir o auscultar do teu afago.
Que é ser só breve este momento,
Não pequei ao tragar-te o rebento.
Em ti eu sou a ternura do castigo,
O som que salivo e estremece por dentro,
O intimo ardor que partilho contigo.
Tragarei de ti inacabados amanheceres,
Tal como a agulha costura os doces plangentes,
Que a tua natureza pura de incastos prazeres,
Debita em mim dos teus segredos vigentes,
Que curo com a dura doçura de a mim tu te cederes.
Foi de tanto acreditar que perdeu a fé
Foi de tanto esperar que perdeu a esperança
Foi de tanto querer ver que pensou estar cego
E assim vai indo em há decepção
É hora de mudar seu rumo
Escolha outra direção
Não existo futuro certo
Tudo é um talvez
Se entregue arrisque-se e se não der certo
Comece tudo outra vez...
Estou plenamente ciente do que está acontecendo com o mundo.
Saber o que estar por vir é uma espada pesada e esperar com fé ainda é o melhor escudo.
Se preparar para luta é preciso.
Mesmo sabendo que não haverá surpresas. O desfecho é muito confortante.
Sem dor, sem calos, sem sangue.
Só uma nova vida onde antes só havia morte.
Esperar impacientemente a paciência, deixar no passado todo o presente.
Existir, sem ao menos ter sua existência.
Poder ser igualmente diferente.
Essa é a lógica da contradição, completamente incompleta,
Sem sentido, mais tendo razão,
em um mundo de pensamentos onde só os fortes entenderão.
O dilema da galinha e o ovo,
Dividindo opiniões por terras, mares, nações...
Aqui o novo se faz velho e o velho se faz novo.
Um lugar onde fraco se faz forte, e o azar da lugar a sorte.
Onde a opinião é dividida.
Vida... Morte.
O Invisível
O invisível sentimento de impotência
Carência, demência, sub-existência
Gosto amargo na boca, pena e dó
Que coça a garganta, corda e nó
O invisível está lhe observando
Abençoando, julgando e devorando
Eviscerado no conforto da nostalgia
No deja-vu singular d´outro dia
O invisível é a mascara do doente
Quente, indiferente, inconsequente
Asfixiado na verdade ou na mentira
É a hora do óbito que alimenta planilha
O invisível no caos da sua vida é pressão
Ação, reação, frustração e obsessão
Na sua partida inesperada e imprevisível
Aponto meu olhos para você, O invisível
O Trono
Então vi um trono branco e o que estava assentado nele,
de quem diante do qual, fugiram a terra e todo o céu,
e não se achou lugar, para os que fugiram dele.
Forte é a sua gloriosa presença, e o seu majestoso eu!
E vieram os mortos à sua presença tanto grandes,
como pequenos, e abriram-se os livros registantes,
e todos foram jugados pelas, coisas, neles escritas.
O mar entregou o que as águas tinham em si escondidas.
E todos os seres foram julgados pelas suas obras,
e também a morte e o inferno por Deus foram julgados.
E no lago de fogo foram eles, por ele lançados.
E assim a morte foi para todo o sempre vencida,
O diabo também, não teve nenhuma mais investida,
nem do mal, não houve mais nenhumas sobras!
Entre quatro mil estrelas
Aqui o lugar é lindo
Tudo é leve e mais fácil
Não significa que não da saudade
Porque quando o peito dói
E o coração aperta
Tudo fica difícil novamente.
Sei que ai tambem não está fácil
E as vezes essa dor que te consome
É a mesma que também me faz chorar
Mas como sempre dizíamos
A vida não é fácil
E quem disse que seria?
Faz um tempo que andei distante
Tentando não me prender aqui
Mas não consegui.
Há pessoas na vida que um simples adeus não basta
Nunca bastará
E por isso todas as noites quando voce se deita fazendo perguntas para a lua
Ali estou eu, entre quatro mil estrelas
Brilhando de saudades sua.
Quando você mais precisou, eu não estava lá,
mas vi sua partida e senti sua despedida.
Viajei a noite toda nas suas asas e o firmamento era o meu chão,
não queria voltar sem você, não queria largar sua mão.
Impossível não sofrer em cada lembrança,
isso acontece mesmo, todas às vezes que o sonho volta.
Aquela noite nunca passou, ela jamais passará.
O olhar na porta do quarto, na boca o som da angustia
Sem querer eu disse adeus
E a vida segue....
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