Quarto Privacidade
O quarto era pouco revelado
pela penumbra,
minha mão que escrevia
poesias em sua cintura,
nem se importava
pela roupa jogada nessa altura.
Ela que estava de olhos serrados,
prestes a entrar no teu sétimo sono.
Ainda falava comigo,
de voz abafada pelo peso do sono,
mas carregada de carinho.
Me pedia cafuné,
no meio de todo
aquele cabelo de pé.
Sinto que eu tô curado,
mas não vivo,
como se eu fosse um ser maldito
que foi amaldiçoado a nunca ser vivo.
Sinto que meus traumas tão me acorrentando
e me puxando cada vez mais forte e profundamente.
Meu cérebro não define o que eu devo fazer,
vou de instinto,
mas nunca dá certo —
eu sempre volto ferido.
Hoje eu odeio todas as rosas do campo,
porque uma delas me espetou,
como se o espeto não ficasse na ponta do dedo,
e sim preso dentro do meu peito.
Tô ficando mais chato,
e menos feliz.
Minha mentalidade me usou de refém,
pra no final puxar o gatilho.
Todos veem meu sorriso,
mas não o que o palhaço vive sentindo.
Se as minhas feridas fossem externas,
eu seria só um pedaço de carne morta.
Por dentro, sou só isso mesmo.
Escrevo e fujo da realidade...
E, de novo,
eu finalizo o verso
sem sentido de verdade.
Tempo perdido que não volta mais.
Aqui sozinha no meu quarto e ninguém mais.
O clima lá fora está frio.
Névoas a esvoaçar, mas não me importo com a neblina já que é assim a me agradar.
Apesar da algidez do dia ouço cachorro latindo, crianças gracejando, gangorra da praça a ranger.
E eu aqui pensando o que poderia ser melhor sem meu aparecer.
Nas ruas há também uma quantidade de ruídos equívocos que perpassa. Produziu-se pois uma mudança durante estas últimas semanas. Mas onde? É uma mudança que não se fixa em sítio nenhum. Fui eu que mudei? Se não fui, então foi este quarto, esta cidade, esta natureza; é preciso escolher?
Jamais abandone o quarto de oração (Mateus 6.6), talvez você não escute a voz de Deus, mas Ele esta atento a sua (Salmos 34.15).
CAROLINA MARIA DE JESUS
Minha vó foi escravizada
Nasci com 7 irmão
E como fica alimentação?
Eu não tinha, não
Nasci, no meio da minha mãe sem nenhuma alfabetização
Mesmo assim escrevi
Aquela minha tal situação
Miséria, e o que vive
Bruxa, foi o que eu ouvir
Sem nenhuma explicação
Sei ler, e escrever
Então bruxa eu virei?
Mas não tem nada a ver,
Minha mãe é preta, e foi acusada
Nem preciso falar que quase foi condenada.
E claro que minha vida não acabou por aí, pois na favela vive
É esse não é meu fim, meu nome você vai ouvir por aí
Porque livros escrevi
E você vai lembrar de mim.
Um quadrado sem cor, uma luz amarela que aquece tudo ao seu redor, uma arara sem vida e que não canta, um descanso ao meu corpo exausto, enquanto você relaxa sentado. Mas isolada sem carinho, abraço a minha própria companhia, um véu e disponibilizado para me acolher discretamente em seus braços, sinto a melodia que soa agora aos meus ouvidos, como um bálsamo acalentando minha alma no imenso vazio, me perco no sonho de ir ao sol, aquecero coração ainda gelado, mas se no caminho encontrar as estrelas me envolvo com sua poeira brilhante e enfim consigo serrar as janelas que abraçam mundo. Deixo você me guiar pela noite.
PERCURSO
É agradável contempla -lo,
no despertar da manhã,
ora tímido, ora ousado.
Espreguiça- se... levanta.
Discreto, invade meu quarto:
audaz, aquece meu leito.
Hesitante, me fascina
com seu jogo matutino.
Ah ! Quantas vezes, eu o vejo
fitando-me ardentemente.
Os seus lentos gestos trêmulos,
ofuscam - me ao meio- dia.
Quando chega o entardecer,
veste -se, com novo tom,
altivo ou triste. Assim parte.
Maravilhada, vejo-o
lentamente, declinando,
numa linha do horizonte.
Rubras sombras vagueiam
no silencioso céu...
eu, você
aqui, tudo fechado
suando, amando
falando do quanto
nos encaixamos,
e combinando
já o próximo encontro
dos nossos suspiros
silenciosos e nervosos
corpos apaixonados,
só nós.
relatos do meu, nosso quarto 🤍
Amarelo
São poucos os registros, tanto em fotos quanto em vídeos, mas guardo comigo momentos, aromas, sons de amarelos vívidos;
Da janela do quarto entram os primeiros raios de sol, tocando, desenhando, dançando sobre o cabelo, rosto, pescoço e por fim corpo inteiro,
Da janela do quarto é possível ouvir o mar, sentir a brisa adentrar,
Da janela do quarto pode-se ouvir os sons de beija-flores, bem-te-vis e sabiás;
Nas escadas da casa um som fica cada vez mais próximo quase que fazendo uma melodia com os pássaros cantando lá fora,
O gato, com seu miado indo despertar aquele ser que te ama, assim o dia começa com sons de amarelos vívidos.
É melhor envelhecer e morrer sozinho em um quarto cheio de lembranças do que se trancar e não ter nada pra lembrar.
Não importa o tamanho, o conforto do quarto onde tu dormes
Mas o do teu coração, onde dormem teus sonhos e amores...
Que são o luxo dum homem humilde!!!
Não diz que acabou
Porque só de pensar já dói
Eu sozinho nesse quarto sem você
Só com o cheiro de nós
Deus tem um quarto dentro da minha casa. Ele tem a decoração mais linda que eu já vi. Ele me ensinou a projetar o amor e a construir novos mundos, um mundo melhor. Ele segura a minha mão e nunca solta. Ainda bem!
Quarto da bagunça
Tudo foi amontoado, como um quarto da bagunça e que toda vez em que abrimos esse quarto para guardar mais uma emoção, mais forte precisamos segura-las para finalmente conseguir fechar a porta.
Se paredes ouvidos
Línguas deportam
Na senzala do armário, olfato
Para por entre cortinas, ver
De nossos livros, puro tato.
Adormecer!
Meu quarto
No teto do meu quarto
Havia minha goteira
-Mas que grosseira!
A goteira latia.
A goteira pedia
Por um pouco de moradia
Mas não poderia,
Poisme incomodaria.
