Poesia do Carlos Drumond - Queijo com Goiabada
(DE) PRESSÃO
Eu sei que:
Quando já não ouves
A voz do vento,
O chilrear das aves do céu,
O amor a cair levemente
Da razão do teu lamento
Como se fosse um véu
De noiva de neblina
Por estrear,
Ou cavalo à solta sem crina,
Dois bailarinos sem dançar...
Eu sei que:
Quando não desvendas
O mistério do teu eu,
Como nuvem presa no céu,
Prenhe sem chuva de rendas...
Eu sei que:
Quando choras, por chorar,
Sem ritmo, ou emoção natura,
Os teus olhos só podem mostrar
No mapa do teu rosto à procura
De lágrimas secas por achar...
Eu sei que:
Sofredor amigo, quase meu irmão;
Eu sei que estamos os dois
No agora e num depois
Vivendo,
Sofrendo
E chorando,
Esta imensa (de) pressão.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 25-11-2022)
ACOLHE-ME
Abre-me a porta do teu lar
Suspenso num tempo de encantar.
Ó lindo passarinho,
Dá-me a entrada estreita do teu ninho
E deixa-me deitar nesse maciinho,
Quentinho,
Tão fofinho,
Dos cobertores
Tecidos por ti, com amores,
Dos pedacitos das flores,
De ramos e das palhas multicores.
Acolhe-me, ó passarinho:
Estou a ficar já tão velhinho...
O meu lar é maior que o teu
Mas tão triste, como eu,
Ó passarinho.
E eu queria:
Será assim tanto mal,
Irmão passarito,
Passar contigo num grito,
O meu tão aflito natal?
(Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 28-11-2022)
"...Tenho-me as avessas desse imperial saber.
Desaprendi certezas revestidas do absoluto.
Busco o ainda não fossilizado,
Como os afetos que se deixam impregnadosna querência da alma..."
"...Trago em mim um desoculto apreço de desejar-te,
Mesmo quando me falta teu lábio tecido na palavra.
Insisto em desapressar o tempo e a esculpir tua memória..."
E no encontro do romântico com o seresteiro acabaram-se as flores e as janelas estão fechadas para as serenatas.
A escolha é de cada pessoa, estar disposto a viver no alto da eternidade ou no alto da sociedade? Há uma diferença em viver abundante ou viver exuberante.
A encontrar um lugar para sorrir e não chorar? Basta nas manhãs ver o sol nascer, o campo florir e os pássaros cantar.
O MEU JARDIM
Tantas flores tenho nele dos meus amores.
A Abelha azul,
Que tem que estar virada a sul;
Agapantas
E Cardos sacripantas;
A Sábia ananás
De um vermelho voraz;
A De Jerusalém
Amarela, só por bem.
A da Sapatinha da judia
Descendo quando subia.
A Vi burno
De um branco em verde soturno;
A Alfazema,
Que tem odores de poema.
Amores perfeitos,
Que para mim,
Que não sou flor nem jardim,
Sempre foram imperfeitos.
Senhores, do mundo imundo
Onde me afundo:
Será culpa de mim?
É que eu nunca tive um jardim!
Nem flores,
Nem amores.
Sempre e só, me tive a mim!
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 02-12-2022)
O complexo da vida está em reconhecer o que é necessidade, por que todos passam a vida em prol de adquirir alguma coisa ou alguém.
O grande sabor da vida é partilhar com alguém o melhor do que não se espera, surpresas boas, nos fazem pensar e refletir sobre a questão simples de amar o próximo.
A compreensão de pessoas depende da realidade que elas transmitem e de quanta transparência podem ser.
Nunca faça aquilo que para alguém pode parecer uma conquista real sendo para você só parte de uma fantasia comercial.
Tudo é uma questão de educação de berço, onde você tem fé e a usa com seus direitos e deveres ou diz ter para usar sobre seus interesses.
"... Sou péssimo em recomendar metades.
Apraz-me pretender atingir a inteireza.
Elevar-me a completude do sentir e bem dizer de sua amplidão.
Almejo postular sua infinitude, como tecelão do tempo que não esta à beira
da impermanência do fazer-se..."
In Fragmento Texto: Do Contamento do Sentir
OLHOS SEM LÁGRIMAS
Ai, se eu tivesse lágrimas para chorar...
Mesmo agora a brotar
Como duas fontes fortes, sem parar:
Eu inundaria os leitos
Secos dos rios,
E os peitos
Sem leite para amamentar
Os filhos com fome, já frios.
Ai, se os meus olhos
Sem escolhos,
Quisessem agora chorar
Copiosamente,
Amargamente,
Como ondas de fúria que brotam do mar:
Eu, regaria as flores do meu coração
Da paixão,
Tão tristes, tão coitadinhas
Cada vez mais a mirrar,
A secar,
Pobres tristinhas.
Ai, se eu tivesse outra vez lágrimas,
Já nem sabia chorar!
Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 05-12-2022
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