Poesia Completa e Prosa
Ao pé dum calvário
De uma rosa, uma pétala pendia inerte
E, incerta, murmurava então: "Será que vou?"
Súbito veio o vento, e a pétala lá voou,
Abandonada às dúvidas que o medo verte.
Dir-se-ia que, naquele terrível cenário,
Repousara ela, tímida, ao pé de um calvário.
Suspensas estão
as Três Marias
no céu de veludo,
O místico olhar
se mistura
ao venturoso luar,
ao impossível
e ao maior desejo
que tive notícia.
Para você que
não sei como
se encontra,
Devoto o poema
infinito da ribeira,
Ninguém há
de nos separar
mesmo até que
a gente queira.
Prevejo o destino
nos colocando
no amoroso
e sublime caminho,
Porque de olhos
fechados sinto
que existe um
mistério inefável
já sendo celebrado.
"Eu era tempestade, você veio, sou calmaria.
E hoje? Sou tempestade.
Eu era frio, você veio, sou calor.
E hoje? Sou frio.
Eu era tristeza, você veio, sou felicidade.
E hoje? Sou tristeza.
Eu era escuridão, você veio, sou luz.
E hoje? Sou escuridão.
Eu era solidão, você veio, minha companhia.
E hoje? Sou solidão.
Eu era algo sem rima, você veio, sou poesia.
E hoje? Não tenho mais rima.
A saudade é minha sina.
Ah, aquela menina.
Você veio, você se foi.
Hoje só me resta na memória as lembranças do que eu era antes de nós dois..."
Oh era uma primavera
de folhas de peles selvagens e flores de cobalto
enquanto cadillacs caíam como chuva entre as árvores
encharcando com demência os relvados
e de cada nuvem de imitação
escorriam multidões múltiplas
de sobreviventes de nagasaki desasados
E ao longe perdidas
flutuavam xícaras
repletas com nossas cinzas
Em toda a minha vida jamais deitei com a beleza
confidenciando a mim mesmo
seus encantos exuberantes
Jamais deitei com a beleza em toda a minha vida
e tampouco menti junto a ela
confidenciando a mim mesmo
como a beleza jamais morre
mas jaz afastada
entre os aborígenes
da arte
e paira muito acima dos campos de batalha
do amor
15
Correndo risco constante
de absurdo e morte
toda vez que atua em cima
das cabeças da audiência
o poeta sobe pela rima
como um acrobata
para a corda elevada que ele inventa
e equilibrado nos olhares acesos
sobre um mar de rostos
abre em seus passos tIma via
para o outro lado do dia
fazendo além de entrechats
truques variados com os pés
e gestos teatrais da pesada
tudo sem jamais tomar uma
coisa qualquer
pelo que ela possa não ser
Pois ele é o super-realista
que tem de forçosamente notar
a verdade tensa
antes de ensaiar um passo ou postura
no seu avanço pressuposto
para o poleiro ainda mais alto
onde com gravidade a Beleza
espera para dar
seu salto mortal
E ele um pequeno
homem chapliniano
que poderá ou não pegar
aquela forma eterna e bela
projetada no ar
vazio da existência
Aquela "fosforescência sensual
na qual se deliciava minha juventude"
jaz agora quase atrás de mim
como uma região de sonhos
onde um anjo
de hálito ardente
dança como uma diva
por veias estranhas
pelas quais o desejo
perscruta e lamenta
E dança
e dança ainda
e ainda avança
Não sei andar na chuva
muito mais que o tempo, dividir um guarda-chuva
atravessar sem medo, queda longe da parede
pega pela mão, a formiga
na outra, carrega-o
– tempo de costas
alguém disse: não sei andar na chuva
sendo um a menos
estampido são os gritos
no ritmo dos passos
alguém repetiu: eles eram muito felizes
ela, quinze anos
ele, os mesmos quinze
dividiam no guarda-chuva
a mesma tempestade
o riso insolente
o silêncio na xícara de café
beija o inverno delicado
não havia mais ninguém na casa
além do talher empoeirado
ainda da última visita
de um marido morto
a música que faz chorar
hoje só esconderijo
impossível viver numa casa onde não faz calor
frágua que forja lágrimas
onde a chuva não caminha
como dói a paisagem
quando o olho morre aberto
fica no meio um abismo vermelho da saudade
para entrar no sonho
e esperar que aconteça um milagre
Último poema
Nestes lugares desguarnecidos
e ao alto limpos no ar
como as bocas dos túmulos
de que nos serve já polir mais símbolos?
De que nos serve já aos telhados
canelar as águas de gritos
e com eles varrer o céu
(ou com os feixes de luar que devolvemos)?
É ou não o último voo
bíblico da pomba?
Que sem horizonte a esperamos
em nossa arca onde há milénios se acumulam
os ramos podres da esperança.
há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade
dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice
conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo
dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente
sem que nenhuma ternura nenhuma alegria
nenhum ofício cantante
o tenha convencido a permanecer entre os vivos
Recado
ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte
vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer - vai por esse campo
de crateras extintas - vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite
deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo - deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração - ouve-me
que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna - o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite
não esqueças o navio carregado de lumes
de desejos em poeira - não esqueças o ouro
o marfim - os sessenta comprimidos letais
ao pequeno-almoço
As mãos pressentem a leveza rubra do lume
repetem gestos semelhantes a corolas de flores
voos de pássaro ferido no marulho da alba
ou ficam assim azuis
queimadas pela secular idade desta luz
encalhada como um barco nos confins do olhar
ergues de novo as cansadas e sábias mãos
tocas o vazio de muitos dias sem desejo e
o amargor húmido das noites e tanta ignorância
tanto ouro sonhado sobre a pele tanta treva
quase nada
Acordar tarde
tocas as flores murchas que alguém te ofereceu
quando o rio parou de correr e a noite
foi tão luminosa quanto a mota que falhou
a curva - e o serviço postal não funcionou
no dia seguinte
procuras ávido aquilo que o mar não devorou
e passas a língua na cola dos selos lambidos
por assassinos - e a tua mão segurando a faca
cujo gume possui a fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais - nada a fazer
irás sozinho vida dentro
os braços estendidos como se entrasses na água
o corpo num arco de pedra tenso simulando
a casa
onde me abrigo do mortal brilho do meio-dia
Ofício de amar
Já não necessito de ti
Tenho a companhia nocturna dos animais e a peste
Tenho o grão doente das cidades erguidas no princípio
De outras galáxias, e o remorso.....
.....um dia pressenti a música estelar das pedras
abandonei-me ao silencio.....
é lentíssimo este amor progredindo com o bater do coração
não, não preciso mais de mim
possuo a doença dos espaços incomensuráveis
e os secretos poços dos nómadas
ascendo ao conhecimento pleno do meu deserto
deixei de estar disponível, perdoa-me
se cultivo regularmente a saudade do meu próprio corpo.
Encrespa
Conte a história que quiser...
mas basta ler o meu cabelo
para saber quem é
a resistência
a voz que clama
a mulher da guerra
a mulher que luta contra tudo e contra todos,
a que sangra e proclama...
a preta de passado incerto,
certamente mal contado!!!
cada fio do meu crespo
para cima
para os lados
para frente
para baixo
para o mundo ...
alisado,
cacheado,
crespo todo
entrançado
na tua frente...
uma história,
uma multidão de ancestralidade...
uma raiz...
um conto
contado erroneamente pela mão branca...
Porque incomoda
ver as pretas
assumirem
sua raiz
na história,
na cultura
na escola,
na tv,
na casa da sogra,
na elite,
na suite,
na boutique
e no seu friz
encrespando poesia na veia da sociedade!!!
O céu deste
entardecer
parece até
um chiffon
multicor
esvoaçante,
E como um
beijo a noite
no cânion
nos deixou
perto de Órion;
Não sei se
é imaginação
minha ou
se foi a Lua:
Algo vem
me dizendo
que és meu,
e eu sou tua.
Neste peito
que é oásis
e paragem
romântica,
a existência
do teu amor
vem sendo
uma miragem.
Perdão por fazer parte do crime que aos poucos ceifam sua vida.
Escrevo para minha pátria.
Ela é analfabeta.
Pura e reta.
Foi ela que disse a mim.
Foi assim, vou contar.
Meu Brasil se referiu ao madeiro.
Eu vi uma luz através do candeeiro.
Iluminou minha mente.
Eu indecente meio fuleiro.
Quis ouvir a voz.
Então diz meu Brasil.
Eu carrego a cruz por ti.
Meu povo me chicoteia.
Não entende minha bondade.
Quinhentos e vinte anos eu jorro fartura.
Mas o caráter da maldade.
Este é o homem a grande figura.
Tende a mim crucificar.
Não sei até quando suportarei.
Não sei se renascerei.
Então eu disse;
Perdão por fazer parte do crime que aos poucos ceifam sua vida.
De certa forma acho que já peguei chicote.
Bebi água do seu pote.
Fui alegoria e fui xote.
Mas amanhã, vou dar pinote.
O que pensa o povo dessa poesia.
Oh causadores da morte.
Giovane Silva Santos
Para você oferto
o sutil poema
da Via Láctea,
todas a vezes
que estou
perto ou longe
do que nos afasta,...
Quando a Lua
se ergue diante
da tua fronte
que é o Universo
avistado no alto
de um monte
e que reflete
nos bosques;
Apesar deste
tempo ruim,
tenho todas
as razões
para te adorar
nestas noites
que você está
para chegar,...
Só quero que
saiba que
todas as cenas
sempre são
e serão motivos
para a tua imagem
jamais se apagar.
No teu íntimo
sou a tua
Lua muda
e imensa
em terra
estrangeira,
a minha presença
te entretém
a noite inteira.
Surjo sempre
quando te falta
a esperança
de vencer
a escuridão
que sei que
você se encontra;
No céu cruzo
os morros
beijando as matas
para sossegar
o teu coração,
contigo estou
por cada estação,
na tua oração
e em cada canção.
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