Poesia Completa e Prosa
Boneca de Pano
Que tal ficarmos na nossa?
Que tal fingirmos tudo?
Será que fazer vista grossa
vai silenciar o sofrimento não-mudo?
Sou marionete num jogo adulto,
vejo cordas a sufocar corações em luto.
Enceno a peça teatral perfeita
onde não sei pra que fui feita.
Todas vezes que o vigário traiu
fui atriz secundária;
a principal foi ilusão em navalha
e, a mensagem, mera falha.
Mas me libertarei.
Despedaço, destruo, desintegro
o frágil pano do qual me criei.
A coisa q mais me fascina é o romance,
Quando vejo um casal,
Quando ainda era romântico.
O romance é a fé do ateu.
O romance carrega a harmonia da vida
A essência da vida
É Deus fazendo balé.
O romance vem da alma da gente,
É de onde aquece a vida.
O romance é o pai do coração
Vivo e delicado,
Com o cheiro gentil
Cor de fazer sorrir.
O romance é a coisa mais bonita que o ser pode ofertar.
Se alguém te propõe um romance
Não ouse negar,
Nem tão pouco desperdiçar.
O mar é mágico...
A inspiração vem numa boa
de barco, de bote de canoa...
Vem como dote nas lufadas
nas fragatas e vela abanadas, na âncora afundada, carregada pelas correntes...
Vem de repente nos mastros ao vento, nos rastros dos cometas, nos braços fortes, nas areias das ampulhetas...Vem com as vagas em milhões de dobraduras, nas conchas das mãos cheias de mariscos, vem nas flâmulas estampados nos emblemas e nos coriscos, vem no tom das águas salgadas nos dilemas, nos marítimos ritmos das celeumas...
Vem de todo lugar, vem cá do som dos poemas...
Eu tô bem, eu tô zen
Tô me afastando de tudo que não me faz bem.
Tô me afastando de tudo que me faz de refém.
Tô me apaixonando por coisas que eu não fazia.
Tô me apaixonando por boas companhias.
Tô me aproximando de novas viagens.
Tô me aproximando de novas paisagens.
Tô me aproveitando de tudo que essa vida tem.
Tô me aproveitando para ser feliz também.
Tô até me entendendo mais ...
Tô até te entendendo, mais...
Ultimamente só quero me ver bem.
Tô feliz, tô tranquilo, ah eu tô zen,
aproveitando o melhor que a vida tem.
Pequizeiro no caminho
Há um pequizeiro ali
No cerrado, solitário
Onde canta a Juriti,
Num doce cenário...
Onde o vento, venta bom
Onde o tempo tem razão
E o coração cala no tom,
No horizonte do sertão...
Cá tudo é calma, espera
Quem testa, a alma adoça
O gosto é de quimera,
E o povo, gente da roça...
Na poesia, agridoce canção
Deste seco chão, de cheiro
De primavera, de inspiração,
No caminho, há um pequizeiro...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Setembro de 2018
Cerrado goiano
SONETO DE CARNAVAL (de outrora)
Distante da folia, o cerrado me afigura
A saudade como um saudoso tormento
Lembrar dela é uma sôfrega tal tristura
Esquece-la é nublar o contentamento
Ausentar de ti é a mais pura amargura
Todo momento é gosto sem fomento
Máscaras sem brilho nem alegre figura
Uma fantasia no samba sem afinamento
E no saudosando os tempos de outrora
Enquanto fugaz vão-se os anos, enfim
O que tenho pra agora, só silêncio afora
De toda a diversão a quietude em mim
É regente, pois já não sou parte da hora
E meu carnaval vela o traje de arlequim
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Fevereiro de 2017
Carnaval
Cerrado goiano
CANTANDO O CERRADO (soneto)
Essa vossa árida serena formosura
Que as exibe, és casta e tão tanta
Tanto mais a cena vossa apura
Quanto mais os olhos prende e encanta
Mostrais vossa diversidade em tal ventura
Com uma graça igualado duma infanta
Que põe alfim alguma desdita e tristura
E o espanto se aumenta ou se aquebranta
De tal beleza entrajais, oh vária flora
O meu enlevo, de guita tal tecendo
E destecendo o desencanto, um engano
Que, se ei perdido o extasiar outrora
Agora és só elogio os faço dizendo
Pra asinha referir-te como tal soberano
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
Paráfrase Abgar Renault
Jeitinho brasileiro
Com alegria no coração
E na mão o pandeiro
Sorrindo mas devendo um dinheiro
Esse é o jeitinho brasileiro
Querer estar bem e desejar o mal alheio
Esse é o jeitinho brasileiro!
No domingo churrasco é certeza
Olha só que beleza!
Odeia manifestação
Mas não entende o porquê de não receber o dinheiro
E se o egoísmo fosse tangível,
Só seria algo visível se fosse em dinheiro
O mesmo já existe,
Ah, o jeitinho brasileiro...
Que reclama de todos os políticos
E mesmo cortando fila por aí se sente um crítico!
É difícil falar de algo que sou
Somos na verdade, brasileiro
O que não nos diferencia do mundo inteiro
Que só corre atrás de dinheiro!
- Oliveira RRC
EXISTO
Estou no meio do caminho,
E não posso voltar atrás,
Tento seguir a estrada,
Mais ela é longa demais,
A dor é grande e bate em meu peito,
Não sei se sou capaz de prosseguir,
Olho e olho, nem tenho mais onde ir.
O tempo passou,
O que antes me assustava,
Hoje já não me assusta mais,
O que ontem eu temia,
Hoje me fortalece mais,
A dor que antes me abatia,
Não passa de uma coisa incomoda e passageira.
Desprezo tudo de lindo que me disse um dia,
Eram palavras frias e vazias,
Aliás o que queria de mim?
Eu já não existo,
E na angustia de não existir,
Acabo fingindo existir,
O que de mim já não sobra,
Senão apenas a pele de minha existência,
Fraca e continua como minha respiração,
E o leve bater do meu coração.
Logo eu não existo mais.
BEIJO DO MAR
Sou poeira de um sonho que tive,
No qual o mar, vinha me beijar.
Poeira de areia,
Fina que lhe escapava entre os dedos.
Em um sonho,
Que sonhei a muito tempo,
No qual você, vinha me amar.
Ao acordar suada,
Pude sentir, ainda em meus lábios,
O doce sabor úmido dos seus beijos.
Mais mesmo ao acordar,
Percebi que o sonho, tinha sido,
Sonho dentro de sonho.
E que talvez você nunca saberá,
Do amor que sinto.
Talvez em sonho seu,
Você descobrirá, o doce sabor,
De me amar.
REMENDO
Foi o devaneio que guilhotinou
os sonhos. Os fez sem aparato
E se estão intactos, aqui estou
invisível no evidente anonimato
Desenhei quimeras com giz
sem tronco, cabeça e braços
Colhi amor que ninguém quis
pra remendar os meus pedaços
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
SONETO DA RAZÃO
Na prepotência do querer ser altivo
Que arde na desavença em chama
E queima no ódio que não se ama
Acinzentando num desafeto cativo
É um tal sentimento insano, adjetivo
Que então contamina a alma na lama
Do egoísmo, que o zelo nunca clama
O acolher nos abraços, e ser passivo
Que devoto tanto, esse, que flama
A injustiça, num arbítrio explosivo
Tiranizando o viver em um drama
Onde há razão no ato opressivo?
Quando o Verbo, oferta proclama:
- Amar com amor para estar vivo!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
Jamais lembrarei as palavras ditas
saídas como vômito
de algodão-doce
sem filtro
feito flechas
tentando cegar aqueles olhos de capitu
que me petrificavam
e me botavam a falar
como doida
ou criança com sono,
quizás.
Fechou-se o bar.
E aquela rua tão movimentada
de dia!
Parecia viagem
parecia outra cidade.
Eu prometo que não dormiria
por mais que meus olhos pesassem
não os fecharia.
eu ali, inerte, dura
resistindo aos apelos de Morfeu
deitada de frente a ti
a contemplar tua insônia
fazendo-lhe mil cafunés
você pedindo imobilidade
eu respirando o cheiro forte da química
do teu cabelo em minhas mãos
É verdade «que um baixo amor os fortes enfraquece»
mas também o grande amor torna ridículos os grandes,
pois o amor é, em energia material sobre o mundo, um roubo — apesar
de, em sensações, ser magnífico. 0 amor será útil internamente,
mas externamente não carrega um tijolo.
Disso nunca tive dúvidas.
A vida, é certo, não será um sítio excepcional para as paixões.
Nos países humanos, o amor mistura-se muito
com palavras equívocas.
0 fogo que existe numa lareira, por exemplo,
é um fogo servil, cultural, educado.
Uma coisa vermelha, mas mansa,
que nos obedece.
Só é natureza, o fogo na lareira,
quando, vingando-se, provoca um incêndio.
E o amor assim funciona. Mas é preferível o contrário.
chororô
o cerrado chora
chororô
chove lá fora!
é chuvarada, sinhô
18horas: melancólica hora
e eu também tô:
- chorando...
pobre pecador!
que no peito vai gotejando
uma tempestade de amor
de chuva e choro infando
lá fora chove, e eu sofredor!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2019
Cerrado goiano
SEM NINGUÉM SABER
Não gosto de fazer poemas que remetam à morte
Porque detesto que os meus amigos lembrem-se
Que um dia também poderão morrer
Prefiro que cantem as melodias alegres
E leiam sobre amores e saboreiem as dádivas da vida
Instigo para que brindem as alegorias
Mergulhem na fantasia de que são todos eternos
Infinitamente abençoados pela eternidade
Em resposta ao zelo existente que para comigo têm
Os meus amigos e a fraterna amizade que nos convêm
Não tem tamanho nem cabem dentro de covas
Por isso jamais extirpa nem deteriora
E na minha hora em que sozinho eu partir
Sairei à francesa em silêncio enquanto festejam
Para que ninguém note a minha dor por ir sem querer
Partirei calado sem ninguém saber
TEMPORAIS
Toda vez que perco o horizonte
Creio haver um mar a minha frente
Tão longe de mim equidistante
Como as rosas de um jardim
Ou uma nuvem passante
Que se desmancha insana
Por entre respingos de lama
Ou alvas fronhas de algodão
São aguas verdes revoltas
Remexidas pelos mesmos ventos
Que soltos conduzem minhas barcas
Serenas cada uma a seu porto
E as nuvens aos seus tantos
Destinos e encantos
Revestindo travesseiros
Sobre as camas da paixão
Todos esses travessos romances
Atravessam-me intensos
Ainda que de mim jamais saibam
Porque nunca mais retornam
Porque se tornarão propensos
A viajar outros céus e mares
Esculpindo suas torres imensas
Apesar dos temporais
A DOÇURA DA TUA VOZ
A doçura da tua voz
É feitiço colado em mim
Canção que tanto desejo
Tempestade em minha veia
Suor denso da libido
Vendaval de vermelha areia
Remoinho no deserto
Do coração em devaneio
Eu sou destemido andarilho
Incerto andejo sem eira
Sertanejo inseparável
Da seara do teu encanto
Matuto das velhas minas
Lavrador desse rochedo
Tangido na insistência
De colher esse teu beijo
A ternura fez de mim
Poliglota destas letras
Intérprete dos teus sonhos
Cancioneiro dos teus versos
Aprendi teu idioma
Falando em teus ouvidos
Decifrando teus anseios
E beijando a tua língua
Assim me tornei poeta
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