Poemas Nordestinos
Um dia na areia branca
Escreverei seu nome com o pé
Te darei os caracóis
E a onda que vier.
E nas ondas do seu cabelo
Assim como em suas curvas
Deslizarei os meus dedos
Pra sentir sua fofura.
E naquele sal e água fria
Vou te beijar e abraçar
E até te conquistar
Usando minha poesia.
Um sopro, onde o vento não passa...
Há dias, em que a África mora aqui
Em outros, fica logo ali, depois do jardim
É e foi sempre e sempre assim
Seja sob a lua, sob o sol, sob a chuva
Não é difícil de se aperceber ou encontrá-la
Basta tirar do horizonte o olhar e mirar
Nas crianças nordestinas: anjos sem asas!
Nascidas guerreiras, já quase em partida
Encolhidas em colos, sedentas de vida
De saia , saltava
Sorria , como Deus dizia
Aquela menina
Não era Maria
Pois não era Santa
De pernas bambas , dançava
Se sacudia
Era arretada
Cabra da peste que pense
Que ela é boba , inteligente
Como a gente
Sempre sorridente , ardente como
O sol de meio dia
Essa moça era seca , mas brotava
Entre suas pernas , um rio que só
Um bom moço saberia nadar
Danada ela , sabia o que queria
Mas , não sabia quem queria
E , quem diria , ali naquela via ,
Sempre havia , alguém que a queria ,
Mas não existia aquele que a teria.
Só posso dizer
que minha vida está completa
e nada mais me importa,
quando eu escrever certo
por linhas tortas.
Já não queima o que em mim brasa,
já não arde a chama que em mim restou.
Já não pássaro o que em mim asa,
já não tem raiz o que em mim voou.
Já não lágrima o que em mim vaza,
já não vaza o vazio que ficou.
Já não canto o que em mim casa.
Moro em mim, mas não estou.
Sinto que algo em mim nasce,
preciso entender o ser que crio.
Já consultei o meu abismo,
estou em paz com o meu vazio.
A dor que trago comigo
quer abrigo, está no cio.
Vida simples.
Assim é o nosso viver
a barriga as vezes contesta
com pouco pra se comer
a esperança é o que resta
mas tenho orgulho em dizer
sou pobre, mas sou honesta.
Minha manhã.
Assim começa esse enredo
depois do cheiro de Afrodite
por entre o verde do arvoredo
que o nosso Senhor permite
e um cuscuz de manhã cedo
para abrir nosso apetite.
Nosso valor.
Não me considero pobre
trabalho desde menino
quando o coração é nobre
não tem medo do destino
pois na luta se descobre
o valor de um nordestino.
Tem muito disso.
O cabra passa um mês no Rio
vai morar numa maloca
descobre que se iludiu
e volta falando carioca
chia mais do que pavio
e pergunta ô Thi Thiiio
tem cuxcuxx e tapióóóca.
Cada calo.
Na garupa de um cavalo
na enxada no sol quente
todo dia brota um calo
todo calo é diferente
mas a raiz do nosso talo
não se tora no batente.
Sem diferença.
Mesmo boa a vida é dura
reclamar não tem por quê
toda essa arquitetura
Deus fez com tanto prazer
pôs beleza e deu cultura
e fez cada criatura
do jeitinho que fez você.
Saga.
Lugar de povo valente
de sangue de Virgulino
todo amigo é um parente
na vida de um nordestino
onde se planta a semente
das rédias do seu destino.
Carne de charque.
Isso é carne de primeira
nenhuma outra me seduz
ponta de agulha dianteira
é melhor que a de avestruz
gostosa com a macaxeira
e perfeita com o cuscuz.
Luta.
Essa é a nossa conduta
nós somos um povo fiel
se a vida é uma disputa
nós jamais seremos réu
o nordestino vai a luta
não espera cair do céu.
Nossa culinária.
Tem coisa boa no Sudeste
no Centro Oeste também
pelo Sul onde se investe
churrasco é o que mais tem
mas a comida do Nordeste
não perde pra de ninguém.
Vida simples.
Minha vida não é precária
dinheiro nunca me ilude
se não tem reforma agrária
por aqui sobra saúde
não tenho conta bancária
mas sou rico de atitude.
Esperança.
Há dias que a gente chora
as vezes por desengano
dá vontade de ir embora
ou viver como um cigano
mas tudo tem sua hora
porque a esperança mora
no coração do ser humano.
Chapéu de couro.
É gente forte feito touro
não tem medo do destino
se falta água no bebedouro
sobra a fé no ser Divino
é respeito que vale ouro
e eu tiro o chapéu de couro
pra esse povo nordestino.