Os 16 poemas mais lindos e marcantes da literatura brasileira

Adriano Padilha
Adriano Padilha
Mestre em Comunicação, Arte e Cultura

A literatura brasileira está recheada de belíssimas obras dos mais variados e talentosos artistas. Foi difícil, mas conseguimos reunir alguns dos poemas mais lindos e marcantes da literatura nacional.

1. Soneto de Fidelidade (Vinicius de Moraes)

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.

Sem dúvida um dos poemas mais famosos e lindos da literatura brasileira! O eterno “poetinha” (Vinicius detestava o seu apelido) se transformou em sinônimo da figura tradicional do boêmio apaixonado.

2. Ora direis ouvir estrelas (Olavo Bilac)

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

Além de ser conhecido pela criação da letra do Hino à Bandeira, o carioca Olavo Bilac também é considerado um dos principais poetas nacionais do parnasianismo, representado pelo soneto XIII do livro Via Láctea que, embora não seja um dos seus mais populares é, sem sombra de dúvidas, um dos mais belos!

3. Canção do Exílio (Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Nesta obra icônica, o poeta maranhense Gonçalves Dias expressa todo o seu amor pelos pequenos e intensos valores naturais brasileiros, enquanto esteve ausente do país (estudava em Portugal). Os seus versos se transformaram no mais forte poema nacionalista do Brasil!

4. José (Carlos Drummond de Andrade)

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Graças ao poema de Drummond de Andrade – outro que está no rol dos mais populares da literatura nacional – surgiu a famosa gíria “e agora, José?”, utilizada ainda hoje para expressar a indecisão perante situações difíceis.

5. Amor (Álvares de Azevedo)

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!

Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!

Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!

E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Considerado um ultrarromântico, Álvares de Azevedo é um poeta típico da segunda fase do Romantismo Brasileiro, também conhecida como o “Mal do Século”.

Amemos! Quero de amor  Viver no teu coração!  Sofrer e amar essa dor  Que desmaia de paixão!

Mesmo abordando o lado mais trágico e pessimista do amor, o autor não deixa de conquistar os corações e almas daqueles que leem a sua curta, mas intensa obra (Álvares de Azevedo morreu com apenas 21 anos, vítima de tuberculose).

6. Timidez (Cecília Meireles)

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…

– mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…

– palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

– que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…

– e um dia me acabarei.

Além de poetisa, Cecília Meireles também é conhecida por seu incrível talento como pintora! Os poemas da artista abordavam os principais temas do simbolismo e do parnasianismo, como os conceitos da morte, do amor, do eterno e do efêmero. Os poemas infantis de Cecília Meireles também são perfeitos para ler com crianças e introduzi-las à literatura brasileira desde cedo.

7. Versos Íntimos (Augusto dos Anjos)

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera

Toma um fósforo, acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa ainda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga.
Escarra nessa boca que te beija!

Este é um dos poemas mais conhecidos do poeta paraibano, considerado um dos precursores do movimento simbolista no país. Seus versos são cheios de críticas ao egocentrismo da sociedade de seu tempo, e são admirados tanto pelos críticos literários como por meros leigos.

8. Que este amor não me cegue nem me siga (Hilda Hilst)

Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.

Que este amor só me veja de partida.

Como falar de amor é sempre bom, incluímos na nossa lista a escritora brasileira Hilda Hilst com destaque para seu lindo poema, publicado na obra Cantares do sem-nome e de partidas. Nele, a autora explora o lado obscuro que nos é causado quando amamos. Seus versos são como um clamor por um amor que não a cegue, como ela revela nas primeiras linhas do poema.

9. Seiscentos e Sessenta e Seis (Mario Quintana)

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas…
Quando se vê, já é 6.ª feira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente …

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

O multifacetado poeta, escritor, tradutor e jornalista Mario Quintana era conhecido por seus versos simples e cheios de metáforas. Em um de seus poemas mais famosos, Seiscentos e Sessenta e Seis, ele brinca com a ideia do número seis e seus significados.

10. Incenso fosse música (Paulo Leminski)

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além

Um dos poetas mais celebrados da história recente da literatura brasileira, Paulo Leminski continua encantando uma nova geração de leitores e amantes de poesia. Seus versos recheados de trocadilhos e brincadeiras foram inspirados, especialmente, pela cultura japonesa e os curtos poemas chamados haikai. O poema Incenso fosse música é um dos mais conhecidos do poeta marginal, que escreveu outras centenas de poemas curtos que se tornaram clássicos.

11. Casamento (Adélia Prado)

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

O delicado poema Casamento contém alguns dos versos mais celebrados da grande poetisa brasileira Adélia Prado. Ele foi publicado pela primeira vez no livro Terra de Santa Cruz, em 1981, que ganhou projeção internacional. O estilo de relatar cenas do cotidiano de maneira lúdica em seus versos é uma das características mais conhecidas da escritora.

12. Aninha e Suas Pedras (Cora Coralina)

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

“Remove pedras e planta roseiras e faz doces.”. Este poderoso e delicado verso encontrado em Aninha e Suas Pedras revela uma grande parte da história da poetisa brasileira Cora Coralina. Seu nome de batismo era Ana Lins dos Guimarães Peixoto. Ela era doceira e tinha como hobby a escrita desde a adolescência. Seus trabalhos começaram a ser publicados quando a goiana tinha 76 anos de idade e ganharam projeção mundial. Cora Coralina é uma daquelas autoras que podem ser lidas com crianças, para introduzi-las ao maravilhoso mundo da poesia brasileira.

13. Catar Feijão (João Cabral de Melo Neto)

1.

Catar feijão se limita com escrever:
Joga-se os grãos na água do alguidar
E as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre

um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.

Sem sombra de dúvidas, Morte e Vida Severina é a obra mais conhecida e celebrada do escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto. Quando lançado, foi uma revolução no movimento conhecido como regionalismo. Um outro poema de destaque do autor é Catar Feijão, que carrega alguns dos elementos mais conhecidos de sua forte escrita.

14. Os Sapos (Manuel Bandeira)

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...

Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi: - 'Meu pai foi à guerra!' - 'Não foi!' - 'Foi!' - 'Não foi!'.

Vou-me Embora pra Pasárgada e Os Sapos são talvez os mais celebrados poemas de Manuel Bandeira, um dos maiores nomes do modernismo brasileiro. Declamado pelo também poeta e político brasileiro Ronald de Carvalho durante a Semana de Arte Moderna de 1922, o poema é um grande marco de uma revolução artística que aconteceu no Brasil no começo do século XX.

15. O Navio Negreiro (Castro Alves)

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...

O trecho acima faz parte do poema O Navio Negreiro, do poeta baiano Castro Alves. Este importante texto faz parte do épico poema Os Escravos, lançado pela primeira vez em 1883. Alves foi um grande nome do movimento abolicionista no Brasil e usou seus versos para denunciar as atrocidades cometidas pela escravidão no país. O poema não fala de amor ou de coisas belas, mas é um belo marco na literatura brasileira e deve ser lido por gerações a vir, para nunca esquecermos a história do povo brasileiro.

16. O Apanhador de Desperdícios (Manoel de Barros)

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros escreve sobre a natureza como se ela fizesse parte das suas palavras. Neste poema, o escritor refere que, para ele, as coisas que importam são as pequenas. O som do canto dos passarinhos vale mais que muita coisa para o poeta.

E então, concorda com a nossa lista? Compartilhe com a gente os poemas que VOCÊ considera os mais belos da literatura brasileira!

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