Poemas de Dostoiévski

Cerca de 150 poemas de Dostoiévski

A alma dele é uma tempestade. A inteligência o prende. Há nele uma grande ideia e não resolvida. Ele é daqueles que não precisam de milhões, mas precisam resolver uma ideia.

Mais tarde perceberás. Não fizeste como eu? Tu também saíste fora do comum... Tiveste essa coragem. Destruíste uma vida... a tua (é tudo a mesma coisa!). Pode viver em espírito e compreensão, mas terminarás no Mercado de Feno... Mas não podes ficar assim, e se continuas só, perdes a razão, como eu, também. Agora pareces uma louca. É preciso portanto que caminhemos juntos, que sigamos pela mesma estrada! Partamos!
(Crime e Castigo)

Fiódor Dostoiévski
Crime e Castigo

Pois se eu vejo a estupidez dos outros, por que
não procuro ser mais inteligente do que os outros?

Não, a vida não me foi dada senão uma vez, e não quero esperar esta felicidade universal. Antes de tudo eu quero viver, do contrário seria melhor não existir. (Crime e Castigo)

O mistério da existência humana não é apenas manter-se vivo, mas encontrar algo pelo qual viver.

Fiódor Dostoiévski
Os Irmãos Karamázov, São Paulo: Editora 34, 2008.

Como os anos passam depressa! Que fizeste durante esse tempo? Chegaste realmente a viver ou não? Que frio faz neste mundo, basta que passem mais uns anos para que chegue a espantosa solidão, a trémula velhice que traz consigo a tristeza e a dor. O teu mundo fantástico há de perder então as suas cores, murcharão e morrerão os teus sonhos, e como as folhas amarelas que tombam das árvores, também eles se desprenderão de ti.

Fiódor Dostoiévski
Noites brancas. São Paulo: Editora 34, 2009.

Que importa a vida real? Nós vivemos uma vida tão ociosa, tão parada, tão desprezível, estamos tão descontentes da nossa sorte, tão enfastiados da nossa existência!

Caminho sem saber se caí na podridão e na desonra ou na luz e na alegria. Eis aí onde está o mal, pois tudo na terra é enigma.

O grau de civilização de uma sociedade pode ser medido pela maneira como tratam seus prisioneiros.

Fuja da mentira, de toda e qualquer mentira, particularmente de mentir para si mesma. Vigie sua mentira, examine-a a toda hora, a cada minuto. Fuja também à repulsa, tanto aos outros, quanto a si mesma: aquilo que a senhora, em seu próprio íntimo, acha ruim, já se purifica pelo simples fato de o haver notado dentro de si mesma. Fuja igualmente do medo, embora o medo seja apenas a consequência de todo erro. Nunca tema sua própria falta de coragem na tentativa de conquistar o amor, nem mesmo tema muito os próprios maus atos que aí tenha cometido.

Fiódor Dostoiévski
Os irmãos Karamázov. São Paulo: Editora 34, 2019.

A tirania é um hábito com a propriedade de se desenvolver e dilatar a ponto de tornar-se doença.

No nosso planeta só podemos amar sofrendo e através da dor. Não sabemos amar de outro modo nem conhecemos outro tipo de amor.

Posso testemunhar que, no ambiente mais ignorante e mesquinho, encontrei sinais incontestáveis de uma espiritualidade extremamente viva.
O segredo da existência humana não consiste somente em viver, mas ainda em encontrar um motivo de viver.

Um sonhador - para explicar-lhe mais concretamente - não é um homem, fique sabendo, mas uma criatura de sexo neutro.

Os grandes pensamentos originam-se mais de um grande sentimento do que de uma grande inteligência.

Pois que em nosso século todos se dividiram em unidades, cada um se isola em sua toca, cada um se afasta do outro, esconde-se, esconde o que possui e termina ele mesmo por afastar-se das pessoas e afastá-las de si mesmo. Acumula riqueza isoladamente e pensa: como hoje sou forte e como sou abastado! Mas o louco nem sabe que quanto mais acumula mais mergulha em sua loucura suicida. Porque se acostumou a esperar unicamente de si e separou-se do todo como unidade, acostumou sua alma a não acreditar na ajuda dos homens, nos homens e na humanidade, e não faz senão tremer diante do fato de que desaparecerão seu dinheiro e os direitos que adquiriu.

Se alguém me provasse que Cristo está fora da verdade, e se realmente ficasse estabelecido que a verdade está fora de Cristo, eu preferiria Cristo à verdade.

Quando é preciso, afogamos até o nosso senso moral, a liberdade, a tranquilidade, a consciência até, tudo, tudo, vendemos tudo por qualquer preço!

Não, o homem é vasto, vasto até demais; eu o faria mais estreito. Até o diabo sabe o que é isso, veja só! O que à mente parece desonra é tudo beleza para o coração.

Sentimos que, por fim, essa mesma fantasia que parece inesgotável, há de esgotar-se na sua eterna tensão, pois vamos nos tornando mais viris e amadurecidos, e superamos os nossos antigos ideais, que se desvanecem e se reduzem a palavras e a pó. E, se depois não houver outra vida, temos de nos pôr a reunir os restos desse entulho para com eles voltarmos a refazê-la. E, contudo, nossa alma reclama e anseia por algo completamente diferente. E em vão o sonhador remexe nos seus antigos sonhos, como se ainda procurasse no rescaldo uma centelha, uma só, por pequena que fosse, sobre a qual pudesse soprar, e com a nova chama assim ateada aquecer depois o coração enregelado e voltar a despertar nele o que dantes lhe era tão querido, o que comovia a nossa alma e nos arrebatava o sangue, aquilo que fazia subir as lágrimas aos nossos olhos e que era uma ilusão tão bela.